terça-feira, 12 de novembro de 2024

POR QUE OUVIR UM PODCAST DE UMA HISTORIA TÃO HORRIVEL?

 

Antes de ir ao ar o primeiro episódio do podcast Caso K - A História Oculta do Fundador da Casas Bahia, organizamos dois eventos de escuta do podcast, um presencial e um online, exclusivos para os nossos Aliados, que ajudaram a financiar a produção. 

Em um desses eventos, uma das nossas apoiadoras, a Elis, nos disse que se perguntou “por que as pessoas iriam querer ouvir um podcast sobre uma história tão terrível?”. 

Essa reflexão tem me acompanhado nos últimos dias e me ajudado imensamente a pensar nas ações de divulgação do Caso K (valeu, Elis!). 

As pessoas precisam ouvir essa história porque ela diz muito sobre nosso país e suas estruturas de poder. Samuel Klein manteve um esquema de exploração sexual de meninas por décadas porque era um homem poderoso. E explorava meninas pobres. As pessoas precisam ouvir essa história porque ela foi omitida por décadas. As pessoas precisam ouvir essa história porque cada vez que falamos dela, recebemos mais e mais e mais relatos e informações. As pessoas precisam ouvir essa história para que ela não se perpetue. Importante lembrar aqui que Saul Klein, filho de Samuel, recentemente foi condenado por manter um esquema de exploração sexual semelhante ao do pai.

Um exemplo de porquê contar essa história é importante foi o que aconteceu depois que publicamos a primeira reportagem sobre o caso, em 2021. Após a publicação, a Família Klein decidiu suspender as atividades do Instituto que levava o nome do empresário e promovia atividades na área da educação. Além disso, mulheres se reuniram na frente da sede das Casas Bahia, em São Caetano do Sul, em manifestação para pedir que a rua com o nome do empresário fosse rebatizada, assim como um centro médico público que o homenageia. Motivado pela reportagem, o Ministério Público do Trabalho também abriu inquérito para apurar a relação das Casas Bahia com as denúncias. Na época, o então vereador Toninho Vespoli (PSOL) propôs um PDL que retirasse o título de “Cidadão Paulistano” concedido em homenagem a Klein em 2006. 

Baseada nas revelações da Pública, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL), apresentou um Projeto de Lei para alterar o prazo prescricional para a reparação civil das vítimas de crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes. O PL foi aprovado na Câmara no final de 2023 e aumentou para 20 anos o prazo para ações reparatórias que tratem destes crimes. Pela proposição, o prazo começaria a ser contado quando a vítima atingir 18 anos.

Samuel morreu impune, mas as sobreviventes de seu esquema perverso seguem vivas, provavelmente sendo bombardeadas por incontáveis anúncios da Casas Bahia em todas as mídias, assim como eu e você. As pessoas precisam conhecer e ouvir as histórias dessas mulheres.

Foi por isso que a gente decidiu fazer esse podcast, que vai muito além do que a reportagem foi. Nesta produção em áudio, conseguimos trazer novos relatos, novas investigações e novas entrevistas que mergulham mais fundo neste esquema. 

Os quatro episódios desta primeira temporada contarão como as acusações contra Samuel Klein envolvem camadas de violência, medo, manipulação e um jogo de poder e influência. Este podcast também é uma história sobre o papel da imprensa e do Judiciário brasileiro – uma verdadeira história de Brasil.

Por isso, não deixe de ouvir esse podcast. 

E também não deixe de apoiar o jornalismo independente, que não tem medo de investigar empresas e empresários, e que luta para pautar o debate e causar impactos reais na sociedade. Contar essa história só foi possível com o apoio do público, mas ela não termina aqui. 

Queremos seguir investigando essa engrenagem de poder em uma segundo temporada, e também fazer com que esses primeiros episódios mobilizem o público e cheguem em quem tem o poder de tomar decisões. Mas precisamos de você para fazer isso acontecer. 

Torne-se um Aliado da Pública e faça parte da denúncia de um dos maiores escândalos empresariais do país. Doe agora e financie mais ações de interesse público.

QUERO FAZER PARTE DISSO!
Um abraço,

Marina Dias
Diretora de comunicação da Agência Pública

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