segunda-feira, 30 de abril de 2018

Triplex de luxo? Polícia Federal até desconfiou de "discrepâncias" nos valores, mas decidiu não investigar a fundo

Fogão de R$ 9 mil? Microondas de R$ 5 mil? Armários de R$ 380 mil? A realidade do triplex é outra, e nem era necessário esperar o MTST ocupar o imóvel para descobrir isso por meio de imagens sem retoques. Um relatório da PF, de 2016, já alertava para "possíveis discrepâncias" e "dificuldade" em enxergar parte dos valores contratados no projeto

Jornal GGN - A recente ocupação do MTST no triplex do Guarujá trouxe à tona uma discussão sobre como a Lava Jato, em conluio com a velha mídia, tentou criar no imaginário popular a ideia de que trata-se de um imóvel de luxo, totalmente reformado e mobiliado com dinheiro desviado de contratos entre OAS e Petrobras - imputação que a Lava Jato não conseguiu provar, apesar de ter levado Lula à prisão.
A maioria dos grandes veículos de comunicação nunca ousou fazer como o MTST, mostrando detalhes do triplex por dentro, em vídeos e fotos sem retoques. Abandonando a apuração in loco, a imprensa assumiu o risco de ser parcial quando foi abastecida com informações obtidas junto a uma das partes do processo: a que estava interessada em ver o petista atrás das grades.
A título de exemplo, em janeiro de 2016, com "investigadores" como fonte, o Estadão emprestou sua credibilidade à fake news sobre o triplex luxuoso, divulgando que a geladeira comprada para o apartamento custara R$ 10 mil. O microondas, R$ 5 mil. O forno elétrico, outros R$ 9 mil. No "mercado de luxo", a OAS teria até encomendado uma "escada em caracol" por R$ 24 mil.
A realidade no interior do triplex, como se vê nas imagens do MTST, é outra: o imóvel em estado de deterioração possui em sua cozinha modesta um fogão de piso com 4 bocas, comprado lá em 2014. Segundo um laudo da Polícia Federal feito março de 2016, o mesmo eletrodoméstico custava menos de 10% do que informou o Estadão: R$ 845,00. O microondas, R$ 574,00. A escada em caracol? Nunca foi instalada, mas seu valor entrou na conta que Lula foi obrigado a pagar.

Dois anos depois da matéria, com Lula às vésperas de ser julgado em segunda instância, o mesmo jornal divulgou outro texto, entitulado "Por dentro do triplex", onde consta link para o laudo da PF de 2016, com os valores empregados pelos procuradores de Curitiba na denúncia apresentada a Sergio Moro.
Comparando o relatório da PF e a denúncia do Ministério Público, é possível detectar uma omissão por parte dos procuradores: eles não inseriram na peça que foi levada a julgamento os trechos em que os peritos que visitaram o apartamento alertaram para "possíveis discrepâncias" e "divergências" entre o que constava no orçamento da reforma e o que, de fato, parecia ter sido realizado.
No relatório, a PF escreveu que, por considerar uma tarefa muito difícil, não averiguou se os valores que constavam em contratos e notas fiscais referentes à reforma, que estavam em posse da Lava Jato, correspondiam aos serviços no imóvel em termos quantitativo e qualitativo.
O laudo falava em "dificuldade" em enxergar parte das melhorias que foram contratadas, e deixou claro que, mesmo diante dessa percepção, a PF assumiu os documentos recebidos dos investigados como se fossem verdadeiros, e se limitou a listar no relatório o que encontrou na vistoria, sem fazer comparação com preços de mercado. Os federais deixaram a cargo dos donos da acusação a iniciativa de solicitar uma perícia específica para isso, o que não ocorreu.
A questão é delicada porque, no final das contas, o MPF imputou a Lula um triplex de R$ 2,4 milhões, em valores atualizados. E na sentença de Moro, este problema ganhou uma dimensão ainda maior quando o juiz descontou o montante de um suposto "caixa geral" de propina da OAS com o PT, no valor de R$ 16 milhões.
OS NÚMEROS DA CONSTRUÇÃO E REFORMA
A Lava Jato condenou Lula por um triplex de R$ 2,4 milhões. Neste valor estão inclusos R$ 1,147 milhão do imóvel, mais R$ 926 mil da reforma e outros R$ 350 mil em móveis e eletrodomésticos, que totalizam outros R$ 1,2 milhão.
Os R$ 1,147 milhão sairam da diferença entre uma cota parte que dona Marisa Letícia tinha junto à Bancoop (e que lhe daria direito a um apartamento no Condomínio Solaris) e o valor médio do triplex em 2014, que era de R$ 926 mil. Ou seja, naquele ano, o imóvel teria custado a Lula, nas contas da Lava Jato, R$ 717 mil.
Na denúncia, os procuradores atualizaram todos os valores para o ano de 2016, por isso o valor de R$ 717 mil saltou para R$ 1,147 milhão.
Nos valores de 2014, a reforma custou R$ 777 mil e as aquisições junto à Kitchens e Fast Shop, R$ 293 mil (descontando um calote que é abordado mais abaixo).
A TALLENTO
A Tallento - empresa que ajudou os procuradores, com documentos e delações, a sustentar que o triplex havia sido "customizado" para o "cliente" Lula - só havia trabalhado em parceria com a OAS construindo stands e apartamentos decorados. Jamais havia feito, a pedido da empreiteira, qualquer reforma de interiores. Ainda assim, curiosamente, ganhou o direito sobre a obra que seria destinada a um ilustre ex-presidente.
Segundo os autos, a Tallento foi indicada por um funcionário da própria OAS Empreendimentos, e emitiu notas comprovando o recebimento de R$ 777 mil para fazer a obra em 3 meses, entre julho e setembro de 2014.
Apenas a leitura do relatório da PF e da denúncia do MPF é insuficiente para decifrar como exatamente a Tallento empregou os recursos orçados para a reforma.
O relatório da PF informa apenas que a maior parte desse valor foi usada na "execução de serviços de cobertura", provavelmente relacionada à área do deck com piscina. Além disso, estaria incluso nele a compra (tomada da GMV, uma empresa de Curitiba) e instalação (da TNG, de São Paulo) de um elevador privativo, que se deu entre outubro e novembro. (Ele não aparece em alguns vídeos do MSTS, mas no do UOL, sim).
Na página 115 da denúncia há uma lista genérica com os serviços que teriam sido feitos em cada cômodo do apartamento, sem valores correspondentes.
No laudo pericial, a PF escreveu que algumas "obras descritas nos orçamentos elaborados pela empresa Tallento sejam de dificílima constatação".

Quanto ao que conseguiu identificar na reforma, a PF destacou a "instalação de um elevador hidráulico interno ao apartamento, instalação de pisos rodapés, pintura geral, construção de uma cobertura metálica no último pavimento, e a alteração de leiaute [sic] com remoção e a inclusão de paredes escadas, fato que ocasionou acréscimo de área útil privativa."
Sobre o valor alto, a PF anotou que poderia estar relacionado a uma série de fatores "desconhecidos", como "pressa na execução da obra pelo contratante, marca da empresa contratada que está associada ou não garantia de qualidade da obra. possível relacionamento prévio entre as empresas ou interesse em estabelecer algum tipo de parceria, bem como habilidade negociar ou outros aspectos de difícil ou impossível mensuração, que são fundamentais para definição dos preços."
Por conta disso, o valor que caracteriza o triplex como luxuoso, na mídia, "não foi objeto deste laudo". A PF preferiu não "comparar os valores pactuados entre as empresas a preços praticados no mercado da construção civil", sustentado que tratava-se de uma negociação entre empresas privadas.
"Assim, os peritos focaram em identificar efetiva execução dos serviços orçados. (...) Independente de algumas divergências detectadas entre quantitativos orçados e executados, ou de alguma possível discrepância entre os valores dos serviços contratados com os de mercado, custo estimado da reforma efetivamente aplicada no imóvel corresponde aos valores negociados entre as empresas efetivamente pagos conforme as notas fiscais constantes. Portanto, valor contratado de R$ 777.189,13 considerado pelos Peritos como valor estimado da reforma."
KITCHENS
A Kitchens, empresa que fez os móveis, cobrou R$ 320 mil por armários de cozinha, área de serviço, 4 dormitórios, 2 banheiros um lavabo, além da churrasqueira. A FastShop emitiu notas que somam apenas R$ 7,5 mil em eletrodomésticos.
Nas mãos dos procuradores, os valores foram atualizados para R$ 342 mil e R$ 8,9 mil, totalizando R$ 350 mil.
Uma arquiteta consultada pelo GGN, que preferiu não ser identificada, analisdou as imagens feitas pelo MTST e pelo UOL, e avaliou que os móveis pareciam de "baixo padrão", "com acabamentos que parecem ser de construtora. Apenas pessoas que não podem investir muito mantém esses acabamentos."

O relatório da PF, de 2016, já mostrava o estrago nas prateleiras instaladas acima da churrasqueira e sinalizava uma série de estragos que não deveriam existir se o projeto fosse de "qualidade", pois incluiam infiltrações internas e externas em áreas que deveriam ter sido impermeabilizadas, segundo o projeto.
A Kitchens foi escolhida, de acordo com o MPF, porque havia feito a obra do sítio de Atibaia.
Os documentos da Lava Jato mostram que, embora ela tenha cobrado R$ 320 mil pelos móveis, ela tomou um calote de cerca de R$ 33 mil da OAS, e acionou a Justiça por conta disso. Ainda assim, o valor global do contrato foi contabilizado no custo final do "triplex de luxo" e cobrado de Lula.

Isso mostra que a tática da Lava Jato para inflar o preço do triplex foi a de recolher as notas fiscais e comprovantes de pagamentos que atestam a relação comercial entre a OAS e empresas escolhidas a dedo para a reforma e decoração; somaram tudo, sem apurar a fundo, e depois atualizaram para valores de 2016.

Dinamarquesa

Em Copenhague, os anarquistas ditam a ordem

por José Gabriel Navarro — publicado 30/04/2018 00h30, última modificação 27/04/2018 17h18
Na capital dinamarquesa, uma comunidade autônoma ocupa um antigo distrito militar há quase 50 anos e define suas próprias regras

Luis Antonio Carrasco/Creative Commons
Christiania
A entrada da "cidade", hoje ponto turístico de sucesso
Em Copenhague, entre as ruínas do muros de uma antiga base militar, ergue-se Christiania. Em um dos principais acessos, um grande aviso esclarece: “Quem ultrapassar as muralhas deixará a União Europeia para trás e entrará em outro território, uma nação à parte desligada das divisões geopolíticas tradicionais”.
Desde os anos 1970, quando a base deixou de fazer sentido para o governo dinamarquês, a região é ocupada por anarquistas, na esteira de movimentos da contracultura que se espalharam pelo mundo em meados da década anterior.
“Muitos ainda enxergam Christiania como área rebelde e desregulada no coração da capital, onde a ilegalidade e o comércio de drogas prosperam”, afirma Chris Holmsted Larsen, professor da Universidade de Roskilde. “Mas eu, como a grande maioria, a entendo como algo singular, criativo e valioso no meio de uma sociedade altamente regulada e um tanto quanto entediante.” 
Christiania autodeclarou-se cidade livre em 1971. Desde então, a convivência entre os moradores do enclave e os habitantes de Copenhague viveu altos e baixos, até se tornar mais pacífica a partir de 2007, quando foi assinado um acordo entre a zona anarquista e o governo, definindo termos para o pagamento de contas de luz e água e impostos, a coleta de lixo e o repasse de imóveis, entre outros temas práticos da vida em sociedade.
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Ainda assim certos problemas persistem. Há pouca transparência e muita dúvida sobre os escolhidos para viver numa das propriedades coletivas. Sem falar no intenso comércio de drogas, que gera acusações de que o crime organizado domina a região. Entre os muros, o consumo de maconha é onipresente e livre.
“Há muitas contradições. Tem gente que mora lá e vive uma vida profissional fora da comunidade e sem qualquer envolvimento do ponto de vista político”, reconhece João da Mata, doutor em psicologia e em sociologia que trabalha com uma terapia anarquista chamada Soma há 30 anos e visitou Christiania na década de 1990.
“Mas a potência do local reside na resistência em se manter por tanto tempo como espaço de convivência e produção à margem do Estado e do capitalismo dinamarquês. Ela tem provado ao mundo ser possível viver numa sociedade sem autoridade constituída, sem delegação de poder por meio de mandatos e eleições. A cidade livre da Dinamarca criou um experimento social definitivo contra a ideia hegemônica de que os indivíduos se autodestruirão se não existir um controle estatal.”
Acácio Augusto, professor do Depar-tamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo, concorda: “Experiências longevas como esta mostram que a anarquia não é uma utopia, um projeto de futuro, mas uma prática do presente, um horizonte alargado diante do fatalismo estreito da vida sob o Estado e o capitalismo. É a efetiva realização da revolução permanente. Não se trata de dominar os meios de produção, mas de autogerir a vida, inventar outros meios para a vida livre”.
Christiania
Não há poder público em Christiania. As propriedades e as decisões são coletivas (Kieran Lynam/Creative Commons)
Independentemente do contraste entre a ordeira Dinamarca e a libertária comunidade instalada em sua capital, ou mesmo das disputas legais e burocráticas que eventualmente ocorrem entre elas, Christiania talvez seja tão bem-sucedida e duradoura justamente por ter surgido num contexto cultural conhecido por primar pela organização.
“Ela tem suas próprias regras, determinadas pelos seus conselhos administrativos. E os dinamarqueses têm, lenta, mas decisivamente, passado da hostilidade à aceitação positiva do direito de Christiania existir”, observa Larsen.
“As decisões tomadas sempre por consenso podem parecer difíceis para nós, brasileiros, acostumados ao poder da maioria sobre a minoria”, diz Da Mata. “Mas, para os habitantes de lá, o consenso só é impossível quando existe autoritarismo, quando alguém tenta impor uma opinião sem dar abertura para outras ideias aparecerem e até prevalecerem como melhor solução.” 
Os inúmeros grafites, os produtos à base de cannabis, as bicicletas com caçambas acopladas – produzidas pelo núcleo lésbico da ocupação e populares em toda a Copenhague –, e os shows grátis ao ar livre, com público cada vez maior, parecem indicar que, se há mesmo algo de podre no Reino da Dinamarca, não se encontra em Christiania.

A bolha financeira está para explodir

Drummond, na Carta: os EUA viciaram o mundo em dinheiro! ​
publicado 30/04/2018
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O Conversa Afiada reproduz trechos de reportagem de Carlos Drummond na Carta Capital:
(...) Na raiz do ceticismo quanto à possibilidade de uma retomada consistente da economia mundial está um endividamento público e privado colossal, segundo o Fundo Monetário Internacional, que na quarta-feira 18 alertou: "A dívida global atingiu recorde histórico e os governos devem começar a reduzi-la já". Em 2016 o FMI contabilizou 164 trilhões de dólares e a situação das economias avançadas em termos de nível de endividamento em comparação ao PIB é pior que a dos países de baixa renda. O valor corresponde a 225°/o do PIB mundial, segundo informou a publicação Fiscal Monitor da instituição na edição de abril, um acréscimo de 12 pontos porcentuais em relação ao recorde anterior de 2009 logo após a eclosão da crise financeira mundial. "Essas constatações e o ciclo de negócios significam que os governos deveriam construir 'amortecedores' e cortar a dívida pública para enfrentar "desafios que virão inevitavelmente no futuro", alertou Vitor Gaspar, diretor do departamento de assuntos fiscais do FMI. A superação do impasse é mais complexa e arriscada, entretanto, do que sugere a recomendação do Fundo, asseguram vários economistas.
(…) Após a crise de 2008, que foi um desdobramento das políticas monetárias e fiscais insustentáveis seguidas pelo Fed dos Estados Unidos e outros bancos centrais nos principais países industrializados, disse Hannoun, os integrantes do G-7 à exceção da Alemanha continuaram a implementar políticas fiscais frouxas e assim aumentaram as dívidas dos governos. Em consequência, a dívida do governo sobre o PIB no ano passado atingiu 221% no Japão, 157% na Itália, 124% na França, 121% no Reino Unido, 105% nos Estados Unidos, 97% no Canadá e 72% na Alemanha. "A situação remete a 1971, quando o presidente Richard Nixon suspendeu unilateralmente a conversibilidade do dólar americano em ouro, início do exorbitante privilégio estadunidense de imprimir sua moeda e com ela pagar mercadorias e serviços importados. Foi assim que os Estados Unidos se tornaram o epicentro das políticas monetárias insustentáveis sem qualquer preocupação com o crescimento dos déficits gêmeos, o fiscal e o de conta corrente. Os EUA exportaram seu modelo ao restante do G-7, que o seguiu religiosamente, à exceção da Alemanha", sublinhou o economista.
Os EUA elevaram os gastos novos e as reduções de impostos em trilhões de dólares sem outra sustentação a não ser mais dívida, inclusive aquela gerada por isenções fiscais no valor de 1,5 trilhão de dólares para as grandes corporações empresariais, 1,5 trilhão destinado ao plano de infraestrutura e um aumento colossal do orçamento do Pentágono em 700 bilhões. A festa prosseguiu, disse Hannoun, a despeito do comportamento imprudente dos Estados Unidos. O déficit fiscal projetado para 2019 oscila em torno de 1 trilhão de dólares e não se chegaria a essa situação sem a política monetária permissiva conduzida pelo Federal Reserve desde 2009.
(…) A dívida total dos sete principais países desenvolvidos foi estimada em torno de 100 trilhões de dólares no terceiro trimestre do ano passado. Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Japão e a Zona do Euro representam 64% da dívida total mundial.
(…) O mundo está viciado em dinheiro barato e acumulou um montante massivo de dívida nos países ricos ao Norte e nas nações mais pobres ao Sul, resume o economista: "No Sul, há endividamento principalmente das empresas e das famílias. No Norte, há mais dívida fiscal, dívida pública. E, na discussão das fontes de recursos do setor público e do financiamento para o desenvolvimento, deve-se começar a partir do Norte , porque eles têm uma dívida muito maior e suas políticas fiscais têm consequências muito mais importantes para a economia global".
(…) Cada vez mais, diz, parece que a Grande Crise de 2008 pode ter sido apenas um ensaio geral para algo ainda pior, que virá como resultado do uso excessivo da emissão de dinheiro, do acúmulo de bolhas de preços de ativos e de dívidas encorajadas por taxas de juros baixas ou negativas. Das duas causas profundas do colapso, apenas a microeconômica foi parcialmente resolvida através de uma reforma regulatória que visava incrementar os 'amortecedores' de capital dos bancos e o gerenciamento e os incentivos ao risco. Segundo Dittus, "as causas da política macroeconômica, as falhas do modelo de crescimento impulsionado pela dívida e a combinação de políticas frouxas que levaram à débâcle permanecem em vigor".

Rombo das contas públicas em março é colossal

Mais de R$ 25 bilhões!
publicado 30/04/2018
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Do G1:
As contas do setor público consolidado, que englobam governo federal, estados, municípios e empresas estatais, registraram déficit primário de R$ 25,135 bilhões em março, informou o Banco Central (BC) nesta segunda-feira (30). É o pior resultado para meses de março de toda a série histórica do BC, iniciada em 2001.
Isso significa que a soma das despesas desses entes superou a das receitas com impostos e contribuições em R$ 25,1 bilhões no mês passado. Essa conta, porém, não inclui os gastos com o pagamento dos juros da dívida pública. (...)
(...) Em todo ano de 2017, as contas do governo federal tiveram um déficit primário R$ 110,58 bilhões, ou 1,69% do Produto Interno Bruto (PIB). Foi o quarto ano seguido de rombo nas contas públicas. (...)

Durval e a "nordestinidade": a opção pelo atraso

As zelites se encantam com os louros de Santa Catarina
publicado 29/04/2018
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Empresário que vive de mesada do papai comemorou queda da Dilma com rojão no Mall... (Reprodução/Brechando)

A Fel-lha desse domingo 29/ab/ se lambuza na retumbante prosperidade de Santa Catarina: o estado escapou da recessão, gera empregos e as contas públicas estão "ajustadas".
Não há menção ao fato de ser o Estado que levou ao suicídio o Reitor Cancellier, em quem nem a Veja encontrou um fiapo de corrupção.
Não se menciona também o fato de Santa Catarina ter abrigado o maior partido Nazista fora da Alemanha, durante a II Guerra.
Santa Catarina é também fonte de encantamento da Míriam Lúcia, o que provocou o post sobre o Etno-Neolibelismo!
Pelo professor Durval a Míriam Lúcia não esperava!
O amigo navegante conhece o professor Durval Muniz de Albuquerque Jr., que concedeu à TV Afiada imperdível entrevista.
Ao ler o post sobre o Etno-Neolibelismo, Durval escreveu uma mini-obra-prima:

Nordestinidade: a opção pelo atraso 


Essa semana o jornalista Paulo Henrique Amorim, através de seu blog Conversa Afiada, chamou atenção para um dos sucessivos atos falhos que os promotores do golpe de 2016 estão cometendo: a jornalista de economia do grupo Globo - uma Cassandra que previa o fim do mundo seguido de um apagão, todas as manhãs, durante o governo Dilma, que foi a fada madrinha do golpe, prometendo verdadeiros milagres de “crescimento econômico” ao toque da varinha mágica do impeachment da presidenta eleita com 54 milhões de votos, que nos infelicita toda manhã com seus penteados e suas ideias -, em um dos seus inúmeros comentários sobre “economia”, deixava claro que o problema da economia brasileira era as regiões Norte e Nordeste. Se não fosse esses dois estorvos a forçar para baixo os índices de crescimento da indústria, a “recuperação”, prometida para o dia seguinte do golpe, já teria acontecido. A comparação entre os índices de crescimento industrial de Santa Catarina com os de Pernambuco, Bahia e Ceará, só faltou tomar como explicação que os catarinenses são mais eugênicos, são brancos, europeus e, portanto, ao contrário dos afrodescendentes da Bahia ou dos mestiços e caboclos do Ceará, são mais afeitos ao trabalho, são mais inteligentes, empreendedores, são menos preguiçosos e, além de tudo, mais diligentes e sábios politicamente porque não votam na gentalha petista, coisa para nordestino que vota com o bucho e não com a cabeça.
Paulo Henrique chamava de etno-neolibelismo essa forma de pensamento que costuma transferir para as vítimas do sistema econômico vigente e das políticas que implementa a culpa pelo que seria seu fracasso e a sua miséria. Para mim, estamos diante da atualização de enunciados e imagens pertencentes ao discurso eugenista, que fez enorme sucesso entre os fins do século XIX e a primeira metade do século XX, até que a hecatombe nazifascista o desmoralizasse. Para o eugenismo o mundo se dividia em raças. Sendo uma resposta conservadora aos pensamentos de esquerda, ele colocava no lugar da luta de classes, a luta entre as raças, daí porque o nazismo se nomeava de nacional socialismo (o que levou a um procurador da República a procurar e achar o nazismo na esquerda, ideia tão sábia que continua vez em quando a circular nas redes sociais). Haveria uma hierarquia natural entre as raças e, por conseguinte, entre os povos, nações e culturas. Às raças superiores, arianas, brancas, estaria destinado a prevalência social e política. As hierarquias e desigualdades sociais eram assim justificadas. Elas não eram um problema, como afirmou o sábio candidato a presidente da República do partido do bispo Edir Macedo, pois eram fruto da partilha desigual de qualidades e atributos pelo nascimento, pela hereditariedade, pelo sangue. As raças inferiores: negros, vermelhos, amarelos estavam destinados a ocupar as posições subalternas socialmente, a ser governados e explorados, pois a natureza assim o dispôs. Os cristãos eugenistas, e eles haviam em grande quantidade, como os fascistas italianos, completavam que se a natureza foi uma criação divina, logo essas hierarquias ditas naturais entre as raças era um desígnio do Senhor, Ele havia estabelecido essas divisões e essas distinções, cabendo ao cristão a elas se conformar e delas procurar extrair o melhor visando sua salvação (não ficava claro se na hora do Juízo Final essas divisões raciais também seriam pesadas na balança de S. Pedro). Esse tipo de pensamento era perfeito para justificar a própria dominação imperialista e colonial dos europeus sobre os povos da Ásia e da África.
O discurso da eugenia também exerceu um papel fundamental na construção dos discursos regionalistas no Brasil. As diferenças crescentes de desenvolvimento entre o Norte e o Sul do país, desde o final do século XIX, eram interpretados a partir da ideia de que o fato das terras sulinas terem recebido a “transfusão benfazeja de sangue ariano” através da imigração de brancos europeus estaria dando a essa região uma capacidade de crescimento que faltava às províncias do Norte entregues a uma população produto da secular mestiçagem com as raças inferiores. Não é mera coincidência que parte de um intelectual ligado aos grupos agrários dominantes no antigo Norte, um dos formuladores da ideia de Nordeste, no início do século XX, a mais brilhante contestação a essas ideias eugenistas e racialistas. Em Casa Grande e Senzala, no início dos anos trinta do século passado, Gilberto Freyre defende a mestiçagem como aquilo que constituiria a própria raça nacional, que nos conferiria uma singularidade no conserto das nações. O discurso regionalista que surgiu nas províncias do Norte do Império, ainda no final do século XIX, e que se tornou o regionalismo nordestino após a invenção dessa região, no início do século XX, teve que conviver com esses discursos de matriz eugenista e a eles dar respostas, muitas vezes utilizando seus próprios princípios, como o de conferir a ideia de raça uma centralidade na explicação da história e da sociedade, mesmo que para isso tivesse que fazer malabarismos mentais dignos de Rosa Weber. Elites que haviam utilizado o discurso racialista para conferir legitimidade a escravização dos negros agora se viam apanhado em suas malhas e buscavam uma saída apelando, principalmente, para a figura do sertanejo, o mameluco fruto do cruzamento de brancos e indígenas, que por não ter sangue africano seriam eugenicamente superiores e destinados a construir a nova região.
Mas o que é relevante nesse episódio de eugenismo à la carte, servido no café da manhã pela musa do neoliberalismo pátrio (cada um tem a musa que faz por merecer) é constatarmos que mais uma vez as zelites nordestinas (elites compostas de Zés Agripinos, Zés Sarneys), apesar de ser tratadas como gente de segunda categoria, apesar de ser consideradas por luminares do sul, como a economista da catástrofe neoliberal, como uma gentinha corrupta e preguiçosa a viver das verbas e dos recursos produzidos pelos empreendedores do sul maravilha, ela optou mais uma vez pelo atraso, como já fez em vários momentos da história do país. Agarradas a seus privilégios locais, pensando exclusivamente em salvar a sua própria pele, em fomentar os seus interesses (no que não é diferente e nem fica a dever a nenhuma outra elite regional do país), as zelites nordestinas mais uma vez optaram pelo atraso. Se olharmos para o que significou os governos Lula e Dilma para os estados do Nordeste, para a economia nordestina, é de causar espanto que a bancada da região no Congresso Nacional tenha aderido majoritariamente ao golpe. Teríamos que recorrer à fábula do escorpião para entendermos a posição tomada por elites que viram as desigualdades regionais se reduzirem como nunca e a economia regional crescer acima das taxas de crescimento da economia nacional, ou seja, seria da natureza das elites nordestinas optarem pelo atraso e pelo golpe quando qualquer mudança aparece no horizonte de nossa história. Em 2007, a região Nordeste atingiu taxas de crescimento econômico chinês, chegando a crescer 9% em um ano. Nunca a região recebeu tantas obras de infraestrutura (duplicação da BR-101, ferrovia transnordestina, transposição das águas do rio São Francisco, refinarias de petróleo, modernização de portos e aeroportos, novas universidades federais, uma rede impressionante de institutos federais de educação, estações de energia eólica, a criação do Instituto Nacional do Semi-Árido, construção de quase um milhão de cisternas), nunca a região recebeu tantos investimentos, foi tão bem tratada. Esse tratamento preferencial as duas regiões mais pobres do país se inscrevia na própria lógica do política de governo que visava privilegiar os menos aquinhoados.
Além da redução das desigualdades sociais, os governos petistas realizaram uma redução das desigualdades regionais como nunca havia ocorrido. É compreensível que as elites de outras regiões, que setores da população de regiões como o Sul e Sudeste lançassem mão do velho discurso eugenista e dos discursos preconceituosos para demonstrarem seu descontentamento com essa mudança de patamar entre as distintas partes do país. Assim como é compreensível que as camadas populares do Norte e do Nordeste, que foram extremamente beneficiadas pelas políticas sociais e de combate pobreza implementadas por esses governos, se coloquem como eleitores do PT. Não há nenhuma falta de racionalidade nesse gesto, não é por ignorância ou por votarem com o bucho que assim fazem, é uma adesão racional a um partido e a governos que olharam para suas necessidades básicas como nenhum outro olhou. O que é aparentemente incompreensível é grande parte da bancada nordestina ter participado entusiasticamente do golpe que agora infelicita a região. Se não olharmos para a história e vermos que essa não é a primeira vez que as elites nordestinas deram um tiro no próprio pé ao apoiar governos nascidos do arbítrio e da reação a processos de mudança na sociedade brasileira, não compreenderemos o fato de que governadores como o de Pernambuco e do Rio Grande do Norte aderiram ao golpe, quando esses estados foram beneficiados como nunca nos governos do PT.
Claro, que discursos que remetem ao eugenismo tentarão culpar esse ser genérico, sem rosto, sem classe, sem etnia, chamado nordestino por todas as suas desgraças. O tombo da economia regional, o desemprego galopante, a miséria que retorna a patamares anterior, a paralisia de todas as grandes obras de infraestrutura, o desmonte dos programas sociais que representavam, na região, um grande impulso econômico, serão agora debitado na conta desse ser amorfo chamado nordestino, uma espécie de Geni nacional, inventando pelas próprias elites dominantes desse espaço. Para se ter uma ideia do resultado do golpe - que um dos flamejantes representantes do empresariado nordestino, aquele que não quer pagar salário, nem imposto, mas ainda vive de mesada do papai, dizia que ia trazer a prosperidade imediata, comemorando com rojão o golpe transmitido por um telão colocado no Shopping Midway Mall (o nome já diz da mente colonizada que o concebeu), um palácio do consumo inaugurado graças ao período de bonança do governo do presidente agora trancafiado em 12 m quadrados por receber um apartamento que não está nem em seu nome, nem em sua posse - na cidade do Natal, onde está a sede do grupo empresarial que o rei das facções dirige, a miséria cresceu 130% em um ano, levando cerca de 74 mil pessoas de volta a linha da miséria. As ruas da cidade se enchem de pedintes, meninos nos sinais, vendedores ambulantes, moradores de praças. Próximo ao campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, uma placa de sinalização está sendo usada para suster uma plástico, que preso na outra ponta por um carrinho de supermercado, abriga uma família. No cruzamento em frente a um dos principais supermercados da cidade, durante quase duas semanas, um homem ficou parado com um cartaz na mão se oferecendo como motorista. Diante de tal quadro o teórico da desigualdade ainda fala que ela não é problema e se fosse seria facilmente resolvida. Como vemos, as elites nordestinas são eugenistas no pior sentido da palavra: elas não se comovem com o fato de que sua adesão ao atraso, ao conservadorismo, que a defesa de seus privilégios signifiquem a miséria e até a morte de fome de milhares de pessoas.
Costumamos nos comover e indignar, justificadamente, com as cenas do Holocausto judeu. Mas é interessante que nunca tenhamos nos comovido e indignado com a verdadeiro Holocausto secular de que os pobres da chamada região Nordeste são vítimas. As elites ditas nordestinas nunca se abalaram com o espetáculo de milhares de pessoas a perambular pelas estradas, a migrar com tudo que lhes restava, se sujeitando à fome, à sede, à morte por inanição e doenças causadas ou agravadas pela desnutrição. Nunca o país se abalou com as cenas de meninos esfomeados a lamber os pingos de garapa de cana que caíam de uma barrica na terra batida. Nunca nossos eugenistas sulinos e sudestinos tiveram dor na consciência pela exploração brutal do trabalho que os migrantes nordestinos sofreram e sofrem em suas regiões, contribuindo para o progresso e desenvolvimento de que tanto se orgulham (só não o mental e civilizacional, pelo visto). Para nordestinos, como Lula, temos o relho pedagógico da senadora que confunde Al Jazeera com Al Qaeda, lembrando eugenicamente que mestiços, que negros e índios foram destinados pela natureza ao trabalho braçal, essa história de nordestino ser presidente da República é um acinte. Elites, como as nordestinas, que só mostravam comoção e piedade pelos retirantes nas páginas de seus discursos político e parlamentares, ou nas páginas de sua literatura, para usá-los como argumento para conseguir do Estado benesses econômicas e políticas, que nunca teve pejo de se apossar de todos os mecanismos institucionais criados para “resolver o problema da seca” (uma jabuticaba inventada pela elite nordestina, que pretende resolver um problema natural e não conviver com ele, é como se a elite sueca se dispusesse a resolver o problema do inverno rigoroso) e colocá-los para funcionar a favor de seus interesses. O programa Pró-Sertão, que atende os interesses de uma única empresa, é típico do uso do Estado para beneficio privado em nome de resolver o problema da falta de emprego e oportunidades nesse espaço associado a ocorrência das secas. O DNOCS, a Sudene, o Banco do Nordeste, o Pró-Álcool, o Prodetur, o Projeto Sertanejo e tantos outros órgão e programas foram apropriados pelos interesses privados das elites nordestinas, que ainda têm a cara de pau de se apresentarem como vítimas da discriminação do Estado e como vítimas das secas. A seca sempre foi um teta gorda que deu muitos frutos e foi muito produtiva para as elites agrárias do Nordeste. A mudança que os governos petistas promoveram nas política de combate as estiagens, retirando das mãos dos proprietários rurais os mecanismos de combate ao fenômeno, começa a explicar do porque das elites nordestinas terem se perfilado do lado do golpe. Gente que havia acabado de ser ministros do governo Dilma, sem possuir nenhum atributo político ou intelectual para ocupar tal cargo, somente fruto dos acordos políticos, que se mostraram desastrosos para Dilma, se tornaram golpistas de primeira hora. Aqui no Rio Grande do Norte, tivemos dois ex-integrantes do governo participantes do golpe em nome do combate a corrupção, sendo que um deles encontra-se preso justamente por isso.
As políticas sociais como o bolsa família, ao contrário do que raciocinam muitos intelectuais de fancaria, no país, libertou as pessoas do cabresto político, pois não se constituía em favor pessoal mas numa política pública anônima e impessoal. Política que empoderou os pobres e as mulheres, recebedoras preferencial do benefício. O programa de cisternas e a transposição do São Francisco, com a construção de adutoras e sistemas de abastecimento d´agua, rompeu com a lógica secular de se tentar resolver a seca com panaceias que só interessavam as elites locais. Passou-se a pensar a convivência com o semiárido, com a criação de um Instituto de pesquisa visando o desenvolvimento de tecnologias adequadas a esse meio. O resultado foi que os governos petistas acabaram com os retirantes, com os saques de fome em feiras e armazéns públicos, mas nada disso comoveu as elites nordestinas, que perderam assim o domínio que possuíam sobre a população. Basta olharmos para o quadro político do Nordeste e ver as mudanças políticas importantes que esses últimos anos trouxeram. Já nas primeiras eleições após a implantação das políticas sociais, da melhoria do salário mínimo e das aposentadorias rurais, o PFL, atual DEM, foi praticamente varrido eleitoralmente da região, ocorrendo as históricas derrotas da oligarquia Sarney no Maranhão e o destronamento de Antônio Carlos Magalhães na Bahia. O rancor e o ressentimento se espalhou entre as velhas raposas da política nordestina que viram a ascensão de novas lideranças em toda a região. E o interessante nisso tudo, é que o Nordeste continuou sendo visto e dito, inclusive pela mídia e pelos discursos reativos nas redes sociais como a região conservadora e coronelística, enquanto São Paulo hiberna sob o tucanistão há mais de vinte anos (os tucanos só têm de moderno os métodos do desfalque aos cofres públicos), enquanto o Paraná e Santa Catarina elegem sempre os mesmos oligarcas, as mesmas famílias, atoladas até o pescoço com a corrupção.
Como a mídia é concentrada no Centro-Sul e não tem ideia do que se passou ou se passa em outras áreas do país, podemos entender (mas não aceitar) a ignorância crassa com que tratam do que ocorreu nos doze anos de governos petistas no Norte e no Nordeste. Quem vive nessas regiões e não têm os olhos cegos por seus próprios interesses ou pelos discursos ideológicos mais rasteiros, não pode negar as grandes transformações pelas quais a região passou e que agora se perdem numa velocidade assustadora. O desmonte que se faz em todo país, adquiriu no Nordeste e no Norte, aspectos dramáticos. Para se ter uma ideia do que está ocorrendo, vou terminar contando uma história que me foi repassada por um funcionário aposentado da Petrobras e que hoje, provisoriamente, dirige um Uber. Enquanto a Petrobras ameaça “descontinuar” (o neologismo pedante mais usado pelo governo golpista, o governo da descontinuidade de tudo que é benefício social, política pública em benefício da maioria da população, em tudo que representa soberania nacional) a produção de petróleo no Oeste potiguar, destruindo a economia já frágil dessa área do estado de elites entusiastas do golpe, realizou um Plano de Demissão Voluntária que ofereceu cerca de 200 mil reais para cada técnico, para cada engenheiro, para cada membro do corpo diretivo da empresa que quisesse se demitir. Ele me contou que muitos jovens entre 28 e 35 anos, muito bem formados nas universidades brasileiras, que receberam treinamento especializado pago pela Petrobras, no Brasil e no exterior, saíram da empresa diante dessa oferta tentadora e, muitos deles, dadas as suas capacidades e especializações, estão sendo contratados por multinacionais do petróleo. Todo um investimento em cérebros que se vê assim perdido. O mais estarrecedor é que ele me disse que, agora, precisando de mão de obra especializada para tocar a produção que está sendo retomada com a redução da crise internacional, a Petrobras está oferecendo a engenheiros e técnicos aposentados, como ele, salários altíssimos para que eles retornem à empresa. Isso é o que podemos denominar de política de lesa pátria. Essa gente, quando a canoa virar, como diz o Paulo Henrique Amorim, têm que responder judicialmente por esses crimes.
No entanto, muita gente ainda se deixa levar pelo discurso regionalista nordestino, ainda se deixa ludibriar por um discurso que nos reserva um lugar de subalternidade no país, porque subalternas e com complexo de inferioridade são as elites que o elaborou. Se a elite brasileira como um todo tem complexo de vira lata quando se trata da relação do país com as potenciais centrais do capitalismo, os ditos nordestinos têm um complexo que os leva a se ver como menor e aceitar esse lugar de segunda categoria. Nossas elites não param de atirar o espaço que dominam na miséria e no atraso, desde que seus mesquinhos e paroquiais interesses sejam preservados.

Lula não cedeu à coreografia dos algozes

Amorim lamenta a ignorância dos Juízes
publicado 29/04/2018
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Boff, na soleira do prédio da PF, aguardava autorização para visitar o Lula... o que não aconteceu (Crédito: Eduardo Matysiak)

O Conversa Afiada reproduz da Fel-lha deste domingo, 29/IV, artigo do Chanceler Celso Amorim:

O político e o humano


Uma imagem vale mais que mil palavras, diz o provérbio chinês. Mil palavras não serão capazes de descrever, de forma tão pungente, a tristeza profunda experimentada por milhões de brasileiros (e muitas outras pessoas em todo o mundo) quanto a foto de Leonardo Boff, sentado na soleira do prédio da Polícia Federal, em Curitiba, onde está preso o ex-presidente Lula.
Como muitos outros militantes e simpatizantes, acompanhei, no sindicato dos metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, o desdobramento do drama político em que o país foi atirado após a decretação da prisão de Lula pelo juiz Sergio Moro, algumas horas depois da denegação do habeas corpus, por estreitíssima margem, pelo Supremo Tribunal Federal.

Nas horas que antecederam a partida do presidente, uma característica de sua personalidade sobressaiu em todos os seus gestos: a profunda humanidade, o interesse real e concreto pelo bem-estar material e espiritual dos que estavam dentro do edifício ou entre a multidão que o rodeava.

Lula não saiu da vida para entrar na história, nem pôs em risco a integridade física dos seus apoiadores. Tampouco cedeu à coreografia planejada por seus algozes. Não obedeceu ao ultimato disfarçado em deferência, mas não permitiu que o episódio da prisão constituísse pretexto para novas provocações por aqueles que desejam cerrar as cortinas sobre a democracia brasileira.
Na segunda-feira (9/4), após um domingo sem festa, muitos de nós fomos a Curitiba visitar o acampamento montado por movimentos sociais, em que gente humilde, juntamente com pessoas da classe média, dava testemunho de sua inconformidade com a violência contra Lula.

Se o afeto e o reconhecimento pelo ex-presidente ofereciam algum consolo à dor de sabê-lo preso, a visão do prédio dava absurda materialidade ao que até então parecia uma ideia abstrata: o encarceramento do ser humano em quem o povo pobre do Brasil vê o seu mais legítimo e querido representante.

Ao longo da minha vida como servidor público, a maior parte da qual no exercício de função diplomática, poucas vezes senti vergonha profunda (distinta de um mero incômodo passageiro) do meu país.

Uma delas foi quando, jovem funcionário servindo no exterior, abri uma revista que regularmente recebia do Brasil e li uma reportagem sobre a morte de um prisioneiro sob tortura. Uma brevíssima brecha na censura imposta pelo regime permitiu que a reportagem fosse publicada. Voltei a experimentar o mesmo sentimento com a recusa aos pedidos de visita a Lula feitos por Adolfo Pérez-Esquivel, prêmio Nobel da Paz em 1980, e pelo amigo de longa data, outro lutador pacífico da paz, Leonardo Boff.

Em 2002, quando o povo teve a coragem de eleger como seu presidente um operário com raízes no sertão do Nordeste, cunhou-se a expressão "a esperança venceu o medo". Neste momento sombrio, não sei o que lamento mais: a ignorância de nossos juízes quanto às normas internacionais sobre tratamento de presos ou a pequenez de espírito dos que se apegam à formalidade das regras para tomar decisões despidas de qualquer sentido de humanidade.

Em meio a tantas arbitrariedades postas a serviço dos poderosos dentro e fora do Brasil, temos que buscar força e inspiração nas atitudes desassombradas de Boff e Esquivel.

Necessitamos eleições livres e justas, com a participação dos candidatos mais representativos do povo, a começar por Lula, para que a paz e a confiança no futuro sejam devolvidas ao povo brasileiro. Não podemos permitir que o ódio e a mesquinharia vençam a esperança.

Perrella a Aécio: só trafico drogas

"Eu não faço nada de errado"
publicado 30/05/2017
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Perrella se referiu a Aécio como "grande chefe" (Reprodução/Estadão)

Da Fel-lha:
Em uma escuta flagrada pela Polícia Federal, o senador Zezé Perrella (PMDB-MG) fez piada do episódio de uma operação que apreendeu 445 kg de cocaína em seu helicóptero, em 2013.
A ligação grampeada foi com Aécio Neves (PSDB-MG), que telefonou para dar uma bronca por uma entrevista que o colega acabara de dar em Belo Horizonte.
Pelo que é possível compreender, Perrella falara na rádio sobre o fato de não ter seu nome na lista de políticos que tiveram inquéritos abertos no Supremo por causa da delação da Odebrecht – Aécio é alvo de cinco investigações por causa das revelações da empreiteira.
"Você jogou todo mundo na lama", disse o tucano. "Numa hora dessa, tem de ter solidariedade", afirmou.
Aécio esperava que Perrella defendesse as pessoas do mesmo campo político. "É hora de separar o joio do trigo", para não ser confundido com a "roubalheira que fizeram no país", disse, se referindo ao PT.
"Eu vou dar uma entrevista nesse sentido. Eu posso ter sido infeliz [na entrevista], mas é que eu sou muito agredido até hoje por causa do negócio do helicóptero, sabe Aécio? Eu não faço nada de errado, eu só trafico drogas", disse, provocando risadas em Aécio, a quem chamou de "grande chefe".
(...)

Min Barroso, ouviu falar do "... eu só trafico..."?

Aldir Blanc pergunta sobre a Laranjinha, a filha do Serra...
publicado 29/04/2018
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Laranjinha e laranjão... (Reprodução/Época)

O Conversa Afiada reproduz trecho de artigo de Aldir Blanc no Globo Overseas deste domingo, 29/IV:
(...) Ministro Barroso, o Sr. deve se interessar, claro, por nossas crianças e jovens. Mais de 40% deles (por baixo) vivem ao deus-dará. Isso causa desesperança numa juventude carente de auxílio, bolsas, investimentos honestos, o que pode levar à depressão, a vícios e até mesmo à morte. O Sr. já ouviu falar de MD (“Michel Douglas”)? Procure se informar. O dono do helicoca, amigo de Mineirinho, mais de 400 quilos de cocaína apreendidos (alegaram uso pessoal?), não foi preso, mas nomeado diretor da CBF... O Sr. lembra de um papo amigável entre o réu Aócio e um dos Perrella, “...eu só trafico.”, “...a gente precisa de um mensageiro que possa matar...”? Os inquéritos sobre Aócio, 8, 10, 12, vão pra gaveta? Pergunto por que o do Careca foi, apesar da fortuna de uma filha que frequentou as páginas da Forbes e que é conhecida como “Laranjinha”. Para terminar, vou, de novo, no barco de Gregório Duvivier: “Vai pro SUS quem tem dor, e pra rede D’Or quem tem dólar.”. Considero os planos coletivos de saúde uma suruba sádica entre elementos de jaleco e desvalidos caindo pelos corredores hospitalares.