domingo, 21 de fevereiro de 2016

A REVOLUÇÃO

A revolução virá das arquibancadas

Juca Kfouri
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POR PEU ARAÚJOhttp://www.vice.com/pt_br
Da coluna ‘VICE Sports’
FOTOS: FELIPE LAROZZA/VICE
Se você já foi a um estádio de futebol, provavelmente já presenciou o barulho e a energia agressiva das torcidas organizadas. Se você se informa sobre as arquibancadas pelos jornalões convencionais já se acostumou a criminalizá-las.
Uma coisa que precisa ficar clara para entender os parágrafos a seguir: as torcidas são muito mais complexas do que esse maniqueísmo. Não, não é só um bando de bandidos reunidos e também não é um bonde dos bonzinhos. “Se você vier aqui atrás de briga, você vai encontrar meia dúzia de cabeça de bagre que tá atrás da mesma coisa, mas a torcida é muito mais do que isso”, explica Wildner Rocha, o Pulguinha, ex-presidente da torcida e liderança histórica dos Gaviões.
Na última semana, muito tem se falado sobre a torcida do Corinthians. Os protestos no Campeonato Paulista começaram na partida contra o Capivariano, na quinta-feira (11). Faixas com mensagens como “Rede Globo, o Corinthians não é seu quintal” e “Cadê a$ conta$ do e$tádio” foram abertas no meio da arquibancada da Arena Corinthians e repreendidas pela Polícia Militar, que se pauta numa cláusula interpretativa do Estatuto do Torcedor:
Segundo o Art. 13-IX, é proibido “portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo”. Parece que é proibido protestar pelas ruas e também nas arquibancadas de São Paulo. Bom, até onde sabemos, ainda não é ofensivo questionar a administração de um clube ou se mostrar contra uma emissora da televisão.
Um dos representantes dos Gaviões nas reuniões com o Batalhão do Choque antes das partidas, o diretor da torcida, Cristiano de Moraes Souza, afirma que ninguém assumiu a autoria da repressão policial. “Eles [os policiais] disseram que a ordem veio da Federação Paulista e do próprio clube. Eu questionei o Corinthians sobre isso, e disseram que não foi o clube. A Federação não se pronunciou. A gente vive assim: a polícia fala que um mandou, vai lá e faz.”
No clássico contra o São Paulo, também em Itaquera, no domingo (14), outras faixas foram erguidas no meio dos Gaviões da Fiel: “CBF, FPF a vergonha do futebol”, “Ingresso mais barato”, “Futebol refém da Rede Globo” e “Quem vai punir o ladrão de merendas?”. As mensagens ganharam repercussão e o que era uma questão urgente para os torcedores virou um protesto organizado e consciente.
Nesta quinta-feira (18), depois da chuva torrencial do meio da tarde, os Gaviões começaram a aparecer na quadra da torcida, no bairro do Bom Retiro. com um objetivo simples: colar na frente da Federação Paulista e fazer muito barulho.
Às 19h30, centenas de torcedores vestindo preto e branco ocuparam um dos sentidos da Avenida Sérgio Tomás. Se compararmos essa ação com uma manifestação do Movimento Passe Livre, por exemplo, podemos ver uma evolução estratégica e uma energia muito mais combativa. Você pode até pensar que são coisas muito distintas, porém, se a torcida decide protestar por questões extracampo, qual a diferença?
Antes da saída da quadra, Fabricio Pouseu, um dos diretores, faz uma espécie de preleção pedindo para que os torcedores não percam tempo com torcedores adversários — nas imediações da FPF, há sedes de torcidas do Palmeiras — e exigedisciplina no trajeto. “Vai ter polícia lá, mano. Qualquer problema liga nóis. Vamo todo mundo junto, sem dispersar. Vão ser 50 minutos gritando lá na porta.”
Uma salva de palmas marca o início da marcha, que segue a passos rápidos e firmes, sempre muito bem compactada. A bateria, muito bem tocada, dita o ritmo das músicas e todo mundo canta, entre outros hinos, “Ladrão, devolve o futebol do povão” e “Eu não roubo merenda, eu não sou deputado. Trabalho todo dia, não roubo meu Estado.” Três bandeirões flamulam ininterruptamente.
A impressão que dá é a de que se tem muito mais gente. Os rojões, atirados a todo tempo, deixam o clima mais bélico, assim como as caras fechadas de boa parte dos torcedores. Sinalizadores com fumaça preta e outras pirotecnias começam a aumentar à medida que o bonde se aproxima da FPF. Nas imediações, duas viaturas da PM e alguns policiais do Choque esperam os torcedores.
A massa se concentra em frente à porta principal da instituição, e o primeiro rojão é atirado na janela do último andar, mas logo é repreendido pela diretoria da torcida. Outros de 12 tiros estouram no céu, além de muitos gritos contra a FPF, CBF, Rede Globo e o inimigo número um das organizadas, Fernando Capez, presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e Deputado Estadual pelo PSDB. Todas as pautas são questionáveis. “Nós temos propriedades pra questionar todas elas. Todas elas são de propriedade do nosso associado, do torcedor, do cara que tá na arquibancada”, explica Pulguinha.

As pautas são muitas e algumas vezes confusas, embora a maioria delas deseje a melhoria do futebol e das torcidas, independentemente do time.
A treta com a Rede Globo questiona o horário dos jogos de meio de semana. Por causa da programação da emissora, as partidas começam às 22h e acabam por volta de meia-noite. Nesse horário, muitos torcedores ficam sem ter como voltar para casa ou demoram horas para realizar o trajeto. “Jogo às dez horas da noite não dá mais. Isso não é uma briga só do corinthiano, não é uma briga só dos Gaviões. Isso tem que ser uma briga aberta, tem que ser uma briga de todas as torcidas do país. Pô, não dá mais. O pessoal acorda às cinco horas da manhã. Você sai do jogo meia-noite e não tem condução pra chegar em casa. Não tem mais condição disso”, comenta Fabricio.
Contra a Federação Paulista de Futebol o conflito é em relação às proibições de sinalizadores e bandeiras e ao valor do ingresso. Os próximos dois jogos da equipe custarão mais de 100 reais no setor mais “popular.”
Capez se entrincheirou contra as torcidas há mais de 20 anos. Em 1995 conseguiu extinguir a Torcida Independente, do São Paulo, e a Mancha Verde, do Palmeiras. Ambas mudaram minimamente os nomes e continuam ativas.
A bronca dos corinthianos, e de outros torcedores, é porque o deputado pretendia, à época, punir as instituições por ações de indivíduos. “A liderança da época quando falava que não podia se responsabilizar pelos 50, 60 mil sócios ele generalizava. Agora ele tem 10, 15 assessores, sei lá, e ele não pode se responsabilizar?”, questiona o diretor dos Gaviões Fabricio Pouseu em referência ao escândalo de desvio de dinheiro das merendas escolares nas escolas estaduais em que o Capez é citado. Procurado pela reportagem, o deputado se prestou apenas a mandar uma nota oficial em que nega participação no caso de corrupção.
Ninguém deu as caras na FPF, que já estava com os portões fechados, mas, por uma hora, gritos, bandeiras, faixas, rojões, sinalizadores chamavam a atenção do prédio inerte. Apenas dois seguranças, imóveis, acompanhavam o espetáculo do lado de dentro das grades, e enquanto menos de uma dúzia de policiais do Choque com escudos fechavam a pequena rua, provavelmente preocupados com o trânsito.
O protesto da torcida do Corinthians colocou sob holofote algumas questões pertinentes para quem frequenta estádio e gosta do esporte, sem clubismo. Esse levante é, além de tudo, um convite para que outras organizadas se manifestem e questionem essas “verdades absolutas”, podendo ser o início de algo muito maior. O futebol brasileiro está afogado em corrupção e falcatrua há muitos anos e as arquibancadas estavam em silêncio. Esse tempo acabou.
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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

AGRICULTURA FAMILIAR

Agricultura familiar terá espaço de comercialização nas Olimpíadas
                Empreendimentos da agricultura familiar de todo o Brasil têm até o próximo dia 2 para participarem da seleção e ocuparem espaços de comercialização durante a realização dos Jogos Olímpicos Rio-2016, que acontecem entre 5 e 14 de agosto. As entidades não terão custos com viagens, hospedagem, café-da-manhã e jantar.
                Segundo o Ministério do Turismo, a expectativa é de que até 350 mil turistas estrangeiros visitem a capital carioca durante as Olimpíadas, fora os viajantes brasileiros. “Participar de um dos maiores eventos do planeta é uma excelente oportunidade para a agricultura familiar vender seus produtos e também fechar negócios”, destaca Igor Teixeira, coordenador de Comercialização da SAF/MDA.
Os espaços estarão espalhados em quatro Praças da Campanha Brasil Saudável e Sustentável, localizadas em áreas públicas e de grande circulação de pessoas. Neles, o fornecimento de alimentos e bebidas caberá à agricultura familiar. Terão prioridade na seleção aqueles que oferecerem alimentos saudáveis com baixo teor de sódio, açúcar e gordura.
                Esta ação é uma parceria entre Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em diálogo com a Prefeitura do Rio de Janeiro.

Serviço
Seleção para empreendimentos da agricultura familiar comercializarem nas Olimpíadas
Data: até 2 de março de 2016.
Leia o edital.
 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

CHUVAS

A VOLTA DAS CHUVAS NA SEGUNDA-FEIRA DE CARNAVAL, NA PARTE DA TARDE, REANIMANDO OS PLANTIOS FEITOS NO INICIO DAS CHUVAS DE JANEIRO, VAMOS FICANDO NA EXPECTATIVA DAS PRÓXIMAS CHUVAS.
A BELEZA DA FLOR DO XIQUE-XIQUE NA NOITE DO SÁBADO(13/02/16) MOSTRANDO TODO  O ESPLENDOR DA NATUREZA EM NOITES DE POUCA LUA.

HISTORIAS DO SERTÃO

É SEMPRE BOM UMA CONVERSA SOBRE INVERNOS E TRABALHOS DE LIMPA E PLANTIO, OUTRO DIA CONVERSANDO NO STR DE SÃO TOMÉ, COM MARQUES DE JOÃO DE ELIAS, MARQUES FALAVA DE UM GARROTE QUE TINHA AMANSADO PARA TRABALHAR NA CAMPINADEIRA, E QUE JÁ TINHA DADO UMAS VOLTAS EM CARROÇA COM O MESMO E QUE AS PERSPECTIVAS ERAM BOAS DE PEGAR CARROÇA.
UM AMIGO DELE SE INTERESSOU PELO GARROTE, ELE VENDEU PARA ESTE AMIGO, SÓ QUE FICOU SABENDO QUE NO MÊS DE JANEIRO , O AMIGO COLOCOU NA CARROÇA E O MESMO SAIU AOS PULOS. CONCLUSÃO DE MARQUES, ERA QUE ELE COLOCOU O ANIMAL PARA TRABALHAR EM UM DIA SANTO, NO DIA DE SÃO SEBASTIÃO, POIS NÃO SE PODE COLOCAR ANIMAL PARA TRABALHAR EM DIA SANTO.
ONU: iniciativa global para promover o emprego decente para jovens
Neste mês, as Nações Unidas lançaram uma iniciativa para promover emprego decente para a juventude e auxiliar na transição da escola ao mercado de trabalho.
Segundo o Diretor Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, o sistema ONU inicia uma parceria com empresas, instituições acadêmicas, organizações juvenis e outros grupos para agir em prol do emprego de qualidade para a juventude. O objetivo de criar empregos decentes para os jovens também entrou na Agenda de Desenvolvimento Sustentável para 2030 da ONU.
Dados da OIT mostram que há 1,8 bilhões de jovens no mundo e, destes, 169 milhões são categorizados como working poor no mundo, significando que trabalham mas têm rendimentos inferiores à linha da pobreza, como discutido no Boletim de Política Social 248. Em países de baixa renda, nove em cada dez jovens trabalhadores estão empregados no setor informal, com baixos salários e pouca ou nenhuma proteção social. Em todo o mundo, os jovens são mais propensos a empregos flexibilizados, informais e apresentam taxas de desemprego até três vezes maior que a dos cidadãos com mais de 25 anos. Para as jovens, a situação é mais vulnerável, com ainda maior propensão à informalidade e menores salários, que se agrava ainda mais para as mulheres, que recebem salários em torno de 20% menores que os homens, segundo a OIT, para os mesmos empregos em geral, não só entre a juventude.

STF publica acórdão que libera “privatização” de serviços públicos

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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

NELSON MALEIRO

NELSON MALEIRO - UM GIGANTE DA BAHIA

Nelson Maleiro, com a maça de golpear o gongo, em programa de calouros na TV.


Não se apaga a história, a memória, mas bem que a nossa anda precisando reacender alguns capítulos, oferecer maior visibilidade a muitos empreendedores pioneiros, que abriram novos caminhos e possibilidades, exatamente como fez Nelson Maleiro.
Na verdade, eu não escrevi quase nada nesta publicação. São transcrições, provisórias, de fontes citadas ao longo da postagem. Se eu me propuser a falar sobre Nelson Maleiro tudo o que poderei contar é de dois rápidos encontros que mantive com ele, na oficina da J.J. Seabra, (Barroquinha) quando da encomenda de umas ferragens para atabaques, ali pelo no início da década de 1980. Ele já era uma lenda, mas uma lenda viva e apenas para poucos, que conheciam a importância de seu trabalho. Quantos artesãos será que podemos encontrar na atualidade, os quais terão aprendido alguma fração da arte e da magia que se aconteciam naquela "tenda dos milagres"?  




"Nelson Cruz chega à vida no dia 20 de janeiro de 1909. Nasceu em Saubara, então distrito de Santo Amaro da Purificação. Aos 10 anos veio para Salvador onde começou a trabalhar como embalador na loja Bahia Elétrica, na Baixa dos Sapateiros. A partir daí, ele inicia sua gloriosa carreira de sucesso. Sua versátil criatividade de início se direciona para o fabrico de malas, o que lhe valeu o cognome com que toda a Bahia passou a lhe reverenciar: NELSON MALEIRO.
A arte sempre foi uma força que se apoderou daquele homem robusto que certamente ultrapassava a 100 quilos. Depois do fabrico de malas, colocou sua inteligência a serviço das alegorias que tanto marcaram o carnaval da Bahia. Inicialmente com os Cavalheiros de Bagdá, uma de suas criações mais expressivas. Em outro momento, colaborou com Os Internacionais, que durante vários anos teve o seu desfile abrilhantado pela "Lâmpada de Aladim" e pelo "Pandeiro Cigano", algumas das inúmeras invenções de Nelson Maleiro para o tradicional bloco."

Mercadores de Bagdá, forte presença de Nelson Maleiro no carnaval baiano.

"Atuante não só no carnaval, Nelson Maleiro já afamado na cidade de Salvador, também era presença marcante na Lavagem do Bonfim com sua bicicleta de vários lugares, sobre a qual levava alguma alegoria, enriquecida de alguma inscrição pertencente à festa.
A versatilidade era uma marca de Nelson Maleiro. Na década de 40, ele organizou a Orquestra de Jazz Vera Cruz, da qual participava tocando sax tenor. Maleiro foi também presença, vários anos, nas noites de Reis em Salvador, como integrante dos ternos Arigofe e Terno do Sol. Como desportista, foi remador do Clube de Regatas Vera Cruz.
Por tudo isso, Nelson Maleiro é figura inesquecível na cultura popular da Bahia. Se hoje a linguagem percussiva é destaque em nosso Carnaval, virando-se as páginas da história encontraremos Nelson Maleiro como precursor da fabricação e conseqüente valorização dos timbaus, agogôs, atabaques, tumbadoras e uma variedade de instrumentos: na medida em que não só os confeccionava como também sabia tocá-los muito bem."

Fonte: Cadernos de Educação do Ilê Aiyê - Vol. V - Pérolas Negras do Saber



GIGANTE DE BAGDÁ

"Nelson Cruz - Músico, criador de instrumentos de percussão, carnavalesco, artista, desportista, animador cultural e compositor.
Nasceu em 20 de janeiro de 1909, em Saubara, distrito de Santo Amaro da Purificação. Veio para Salvador aos 10 anos de idade, trazido por uma família amiga de seus pais para trabalhar como embalador na loja Bahia Elétrica. Mais tarde, tendo grande habilidade, dedicou-se a fabricar malas, recebendo a alcunha de Nelson Maleiro.
Os carnavais baianos sofreram grande influência de Nelson Maleiro pois era integrante do bloco Mercadores de Bagdá e depois, em 1959, com uma ala dissidente dos Mercadores, fundou o bloco Cavalheiros de Bagdá, que em 1960 saiu às ruas pela primeira vez no carnaval, sendo vencedor com sua criação de O Gigante de Bagdá.
Todos os anos, o bloco apresentava criações suas como: baleia jogando água no povo, dragão que expelia fogo, Tubarão, King-Kong, dentre outras."

Desfile dos Mercadores de Bagdá - 1959
Photo Pierre Verger©Fundação Pierre Verger

"Por muitos anos foi destaque do carnaval baiano, trabalhou para o clube carnavalesco Os Internacionais durante 9 anos, confeccionando os carros alegóricos deste bloco, como pandeiro, barco, lâmpada maravilhosa de Aladin, pirâmides do Egito e outros.
Foi o baiano precursor dos instrumentos de percussão pois fabricava, consertava e tocava instrumentos como: tamborim com e sem ferragem, bongô, timbau, atabaque, tumbadora, bateria completa, pandeiro, agogô, dentre outros.
Como percussionista inovador, apresentava-se tocando bombo com duas baquetas, em vários blocos como Vai Levando, Barroquinha Zero Hora, Ritmistas do Samba, Nega Maluca, etc...
Tocava também sax-tenor e barítono nos bailes da época com o jazz Vera Cruz, que criou, e nos ternos de reis onde participou, como: Arigofe, Estrela do Oriente e Terno do Sol, onde foi campeão por diversas vezes.
Fundou o clube de regatas Vera Cruz, participando de várias competições no Dique do Tororó com um barco de sua fabricação.
Participou da Hora da Criança nas apresentações das peças Narizinho e Monetinho, na orquestra, tocando maracas e cujas apresentações foram no teatro do Instituto Normal da Bahia.
Na Lavagem do Bonfim sempre se apresentava com uma bicicleta de seis lugares com frases como: A água que lava o bem e o mal, a água lava tudo, só não lava a língua desta gente.
No programa Escada para o Sucesso, da TV Itapuã, como o Gigante, "gongava" os calouros que desafinavam.
Como compositor fez a música Pescaria de Tubarão para os Cavalheiros de Bagdá.
Ao morrer, deixou 5 filhos (só tem 3 vivos), 14 netos e 2 bisnetos.
Muito católico, freqüentava o Mosteiro de São Bento e, no dia de seu aniversário, ia à igreja do Senhor do Bonfim, além de, toda Sexta-feira, distribuir esmolas na sua morada e local de trabalho, na Barroquinha."

Fonte: Talentos Musicais da Bahia: dos Inéditos aos Inesquecíveis.
Amandina Angélica Ribeiro de Santana e Milta de Azevedo Santos



"Em 1974, duas tradicionais agremiações carnavalescas de negros se extinguiram: a escola de samba Diplomatas de Amaralina e o clube Mercadores de Bagdá. Nelson Maleiro, a grande figura deste último, indignado com a falta de apoio dos poderes públicos, queirmou os instrumentos e adereços do Mercadores de Bagdá em plena via pública, após o carnaval. Desgostoso, esquecido, o "Gigante de Bagdá" morreu aos 73 anos, em junho de 1982."

Fonte:
Mário Gusmão: um príncipe negro na terra dos dragões da maldade - Jeferson Afonso Bacelar
Notas [105], pgs. 194-195

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Música

O gingado virtuoso da música brasileira

Jovens instrumentistas abrem novas searas rítmicas
por Ana Ferraz — publicado 08/02/2016 05h56
André Seiti
Gingado virtuoso
O violino suingado de Herz encontra a sanfona apimentada de Samuca
No apartamento de Ricardo Herz, duas rabecas pendem da parede ao lado de fotos, objetos decorativos e lembranças de viagem. No chão, uma caixa de forro acetinado acomoda um violino-tenor. Outros três, “o oficial, do século XIX, um meio-termo e um velho de guerra para levar na praia”, estão por perto. Herz usou a bagagem da formação clássica para reinventar o violino. Apaixonado pela música popular, pôs a técnica erudita a serviço da ginga de ritmos como forró e choro. Aos muitos que o reconhecem como virtuose, diz acreditar em dois talentos, um musical e outro voltado ao estudo.
O violinista de 37 anos pertence a um time de instrumentistas de qualidade excepcional comprometidos com a arte e arrebatados pelo encantamento por ela produzido. O grupo inclui Samuca do Acordeom, 32 anos, talento esculpido na música regional gaúcha, hoje dedicado ao choro, o piracicabano Alessandro Penezzi, 41 anos, cuja carreira de violonista começou a desabrochar aos 18 anos, quando trocou a tediosa rotina de bancário por apresentações em bares e restaurantes, e Gian Correa, 27 anos, paulista de Caconde. Ambos são mestres do violão 7 cordas, que deixa a modéstia da função de acompanhamento para brilhar como solista.
A sanfona apimentada de Samuca encontrou o violino suingado de Herz por obra do acaso. “Fomos selecionados para o projeto Rumos do Itaú Cultural e nos juntaram num duo. Ninguém se conhecia, podia dar tudo errado, mas deu liga desde o início”, conta o violinista. “Quando eu soube quase desisti. Toco música popular. Ao vê-lo num vídeo com Dominguinhos respirei de alívio. Deu muito certo”, confirma Samuca. O primeiro resultado foram shows em 2015 em homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga. “O Joquinha, sobrinho do Gonzagão, participou, foi muito bacana.”
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Correa, encontro mágico com o 7 cordas. (Elisa Gudin)
A parceria rendeu ainda o CD Novos Rumos, que a dupla lança dia 17 de março em São Paulo, em show no Itaú Cultural da Avenida Paulista. “No repertório, músicas de Samuca (Fala Agora, Esquentango), minhas (ChamaoquêBoinasBigodes e Guarda-Chuvas), alguns clássicos (Receita de Samba, de Jacob do Bandolim, Nocturna, de Julián Plaza), improvisos e participação de Gian Correa no 7 cordas.” Chamaoquê surgiu de uma conversa com Yamandu Costa, regada a cerveja e chimarrão. O gaúcho queria saber por que Herz estudava fora do País, foram dez anos entre França, Israel e Estados Unidos, e o aconselhou a explorar os muitos ritmos brasileiros. “Você conhece o chamamé?”, perguntou. “Chama o quê?”, rebateu o paulistano. Virou música.
Correa cresceu em meio musical. Bandolim, cavaquinho, violino e violão eram tocados pelo pai e pelos avós. Da escola de música da prefeitura de Caconde, aos 7 anos, passou para as rodas de choro e aprimorou o ouvido com discos de Jacob do Bandolim e Waldir Azevedo. O contato primeiro com o 7 cordas foi mágico. “Fiquei doido com o contraponto. É uma linguagem livre, de criação instantânea, o fraseado é improviso puro. Aquilo me encantou.” Aos 15 anos, tirou a corda mais aguda do violão tradicional. Aplainava o caminho para as “baixarias”, contraponto feito em notas mais graves.
“Comecei a estudar o Dino 7 Cordas e tentar descobrir como ele tocava. Ouvi muito Luizinho 7 Cordas, Zé Barbeiro, Osvaldo Colagrande e Israel Bueno de Almeida. Num segundo momento, Rogério Caetano me influenciou bastante. Ele inventou um novo modo de tocar, desenvolveu questões de escala, recursos pouco usados.” Correa reverencia China, Otávio Littleton da Rocha Vianna, irmão de Pixinguinha, e Tute, Artur de Souza Nascimento, pioneiros do 7 cordas.
Em Mistura 7 (2013), seu primeiro CD, o 7 cordas de Correa conversa com um quarteto de saxofones e um pandeiro. Josué dos Santos, sax-soprano, Jota P. Barbosa, sax-tenor, Vitor Alcântara, sax-alto, César Roversi, sax-barítono, e Rafael Toledo, pandeiro, formam com ele um arranjo musical em que as funções de solo e acompanhamento não são fixas. EmRemistura 7 (2015), continuação do projeto, o compositor que começou no choro e desenvolveu uma linguagem no samba explora novas sendas. “É um disco com influências de jazz e música erudita”, descreve o músico, que recorreu a financiamento coletivo para transformar o CD em DVD.
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Penezzi, o colorido dos acordes e das possibilidades. (Elisa Gudin)
Autor de 130 músicas, entre choros, valsas, frevos, baiões e sambas, Alessandro Penezzi é multi-instrumentista, toca violão-tenor, cavaquinho, bandolim, flauta e violão 7 cordas. “Ele é uma referência no choro”, elogia Herz, que dividiu o palco com Penezzi e Toninho Ferragutti numa série de shows realizados em 2013 em homenagem ao Trio Surdina, formado nos anos 1950 pelos virtuosos Garoto, Fafá Lemos e Chiquinho do Acordeom. 
O 7 cordas ocupa lugar especial na vida de Penezzi. “Tenho carinho por ele. Gravei com o saxofonista Nailor Proveta o CD Velha Amizade, meu primeiro disco com o violão 7 cordas. É um instrumento de muitas possibilidades, muitas opções de acordes, seja no acompanhamento, como fazia o Dino 7 Cordas, seja de modo inovador, como o Gian Correa, o Yamandu Costa e o Raphael Rabello.”
Penezzi, que cresceu em atmosfera musical, em que pai, mãe e avô tocavam violão, bandolim e cavaquinho, teve entre seus mestres Carlos Coimbra e Sérgio Belluco. “Estudei violão erudito com Belluco, a partir dos 11 anos. Me interessei por choro e ele me levou para tocar num regional.” O caminho para o virtuosismo passou pela persistência. “Exige entrega total. Quem estuda violão fica torto por várias horas, é um instrumento incômodo. Na condição de professor, vejo que esse é um dos maiores problemas. O dom para mim é a força de vontade de ultrapassar essa fase. A pessoa ama tanto o ofício a ponto de insistir e superar.”
Parceiro de Paulo César Pinheiro, com quem tem 12 músicas, está em dívida com o letrista e com Yamandu, que lhe cobram tempo para gravar um CD. “Tocar com ele é tocar junto, é um dos músicos mais generosos que conheço.”
Samuca, originário da música tradicional gaúcha, começou as estripulias na sanfona aos 13 anos. “Não sabia jogar bola e para não ficar sem fazer nada fui estudar acordeom.” A partir de 2009, voltou-se à música instrumental. “Ser músico é estar conectado. O choro exige dedicação diária, muitas horas”, diz. “Ele ganhou vários prêmios, conhece tudo”, enfatiza Herz, cujo tempo hoje é dedicado à composição e estudo de improvisação. 
São entre seis e sete horas diárias ao violino, instrumento de grandes dificuldades. “É preciso estudar muita escala para saber onde posicionar o dedo, pois o instrumento não tem traste e qualquer deslize aparece. A afinação é um problema. Quando você puxa muito a corda numpizzicato, ela esquenta, dilata, fica mais grave e é preciso afinar novamente. Quando estudei na Berklee Colleg of Music, entre 2001 e 2002, tive tendinite no braço esquerdo. Acabei por desenvolver uma técnica corporal, um jeito de tocar sem me prejudicar. Fui persistente.”
Violino apoiado no ombro, Herz improvisa, toca choro, forró. Os olhos brilham ao mover o arco, fazer staccato, produzir um som mais flautado, imitar o resfolego da sanfona. “É tudo na memória do dedo. No palco, coloco uma música lírica, um frevo que mostra agilidade, um xote, que é mais suingado, uma composição mais torta, ritmos menos previsíveis.” Com Pedro Ito, bateria e percussão, e Michi Ruzitschka, violão de 7 cordas, forma o Ricardo Herz Trio.
Apresentam-se em palcos dentro e fora do Brasil, em que mesclam sons do CD Aqui É o Meu Lá, de 2012, ao repertório do próximo, Torcendo a Terra, em fase de captação de recursos. Ex-aluno da conceituada escola de violino clássico Fukuda, Herz tem em Dominguinhos grande inspiração. “Ele é um exemplo de virtuosismo não barato, um sujeito humilde que deixou uma escola.” 
*Reportagem publicada originalmente na edição 886 de CartaCapital, com o título "Gingado virtuoso"

Entrevista – José Guimarães

“É hora de virar a página do impeachment”

O líder do governo na Câmara quer encerrar logo o debate sobre o tema para o País retomar o foco nos desafios da economia
por Rodrigo Martins — publicado 05/02/2016 02h36, última modificação 05/02/2016 03h26
Luis Macedo/Câmara dos Deputados
José Guimarães
"Para o governo, o ideal é resolver essa questão o quanto antes", diz José Guimarães
O impeachment continua a ser o principal fator de instabilidade no Congresso. Enquanto o Planalto pressiona por um desfecho rápido, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, adia a instalação da comissão para dar início ao processo.
Na segunda-feira 1º, a Mesa Diretora da Casa, comandada pelo peemedebista, protocolou um recurso no Supremo Tribunal Federal com indagações sobre a deliberação da corte sobre o rito do impeachment.

Os advogados questionam a proibição do voto secreto e da chapa avulsa para concorrer com os indicados pelos líderes partidários, sob a alegação de que tal juízo afeta as eleições realizadas para as comissões permanentes da Câmara, paralisadas por ordem de Cunha em meados de janeiro.

Na avaliação de José Guimarães, líder do governo na Câmara, a demora na resolução do imbróglio compromete a adoção das medidas necessárias para a superação da crise econômica que o País atravessa.
Segundo o petista, a base governista tem o número de votos necessários para derrotar o impeachment no plenário da Casa. “Para isso precisamos continuar mobilizados, com os movimentos sociais nas ruas e os deputados da base no trabalho para garantir os votos, de forma a enterrar esse morto-vivo aqui dentro”.

CartaCapital: O senhor acredita ser possível derrotar o impeachment na Câmara ou a discussão avançará para o Senado?
José Guimarães: O impeachment já está derrotado. Na minha percepção, está derrotado tanto na sociedade quanto no Congresso. O clima é outro. O País não quer ser presidido por essas artimanhas e atitudes golpistas iniciadas pela oposição.
Não acho que a sociedade enverede por esse caminho. A democracia brasileira é sólida, tem parâmetros. Foi construída num longo processo, com forte participação popular.

Não é qualquer arroubo da oposição que vai decretar o impeachment. Temos uma base de votos consolidada para virar essa página. O ambiente político está muito mudado desde o fim do ano passado. Vamos derrotar o impeachment.
Para isso precisamos continuar mobilizados, com os movimentos sociais nas ruas e os deputados da base no trabalho para garantir os votos, de forma a enterrar esse morto-vivo aqui dentro.

CC: O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, apresentou um recurso no STF questionando a decisão da Corte sobre o rito do impeachment.
JG: Na democracia, é permitido recorrer de qualquer decisão. O Supremo definiu um rito bastante claro, mas o presidente da Câmara tem todo direito de apresentar agravos ou recursos se tem alguma discordância. Só espero que os ministros da Corte avaliem a questão o quanto antes.

CC: Mas ele pode usar esse recurso como argumento para paralisar os trabalhos das comissões da Câmara?
JG: Claro que não. O rito do impeachment é uma questão específica, pontual. As comissões da Casa são permanentes, de outra natureza. Há um regimento que disciplina isso. O Supremo se manifestou sobre uma comissão específica, temporária, que irá avaliar o processo contra Dilma.
As demais comissões devem continuar funcionando normalmente. Paralisar tudo vai à contramão do que o País deseja. O que todos querem é que o Congresso cumpra suas funções, inclusive com propostas para que a nação retome o caminho do crescimento econômico.

CC: Em seu discurso no Congresso, Dilma defendeu a reforma da Previdência, mas enfatizou que seu impacto no curto prazo será mínimo. Para equilibrar as contas neste ano, seria preciso aprovar a Desvinculação das Receitas da União e o retorno da CPMF. Há ambiente político para essas duas propostas prosperarem?
JG: Sem dúvida. A DRU já está bem negociada com a oposição, estamos construindo um texto de consenso. A CPMF é polêmica, mas não procede a informação de que não temos condições de aprová-la. Vamos ter os votos necessários, é só trabalhar. Esse é o desejo da maioria dos governadores e prefeitos.
A presidenta formatou uma ideia do Executivo. Primeiro, será uma contribuição transitória. Segundo, estará vinculada à Seguridade Social, que abrange a Previdência e a Saúde. Terceiro, os recursos serão divididos entre os três entes federados, União, estados e municípios. Quem está contra essa contribuição temporária, destinada sobretudo à Saúde, é porque não quer ver o País sair da crise.

Dilma no Congresso
Dilma Rousseff foi vaiada no Congresso ao defender o retorno da CPMF. Crédito: Lúcio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados
CC: Os críticos da CPMF alegam que a carga tributária é muito elevada.
JG: Essa cantilena de que é imposto em cima de imposto não procede. Uma pessoa que ganha mil reais por mês, por exemplo, não pode pagar uma contribuição de 3,80 reais? É o valor de um cafezinho em muitas cidades. Evidentemente, os que têm grandes movimentações financeiras não querem. 

Mas a CPMF é só um ponto. Dilma também defendeu três reformas, a fiscal, a tributária e a da Previdência. Trata-se de um pacto pelo desenvolvimento, fundamental para retomar o investimento privado e dar condições para o Brasil voltar a crescer.
Ela, inclusive, enfatizou que não vai propor uma reforma da Previdência que retire direitos nem expectativa de direitos. Queremos uma reforma daqui para frente, negociada com as centrais sindicais e com o Congresso. O impacto será mínimo no curto prazo. É para os futuros governos.

CC: Ao defender o retorno da CPMF, Dilma recebeu muitas vaias...
JG: De parlamentares mal educados. Pega mal receber um presidente da República ou qualquer outra autoridade, numa solenidade institucional, com gritos ou vaias, como fizeram alguns deputados da oposição. É uma grosseria, não condiz com o que se espera de uma democracia madura. Por outro lado, ela também foi bastante aplaudida. Reparei que dois terços do plenário aplaudiram bastante a presidenta.

CC: Dilma mencionou a elevação da tributação sobre o ganho de capital. É uma resposta aos sindicatos e movimentos sociais, que reivindicam a taxação do chamado “andar de cima” para a superação da crise?
JG: Claro. A elevação da tributação sobre o ganho de capital (a Câmara aprovou uma versão mais branda da proposta na quarta-feira 3) vai nessa linha de envolver os mais ricos no esforço do ajuste fiscal. O Itaú, por exemplo, teve um lucro de mais de 20 bilhões de reais no ano passado. Pode pagar um pouquinho mais de impostos, até para o governo não se ver forçado a retirar direitos sociais e dos trabalhadores.

Evidentemente, temos de enfrentar o debate da qualidade dos gastos públicos. O governo está reavaliando os programas sociais, não com a perspectiva de acabar com tudo, mas de aprimorar, qualificar, evitar distorções. A população pode ficar tranquila. Esse sistema de proteção social criado no Brasil veio para ficar, e o pai dele é o Lula. Virou uma política do Estado, referência no mundo todo. Até o PSDB, agora, resolveu defender. Mas podemos aprimorar essa rede de proteção social.

CC: Até quando a pauta do impeachment vai perdurar?
JG: Até março, eu espero. Para o governo, o ideal é resolver essa questão o quanto antes. Passado o carnaval, é hora de tocar a vida. Precisamos virar de vez as páginas do impeachment e do ajuste fiscal. Não dá mais para ficar nessa disputa sem fim. O Brasil precisa voltar a crescer.