quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Juizeca condena Lula por um sítio que não é dele!

Xavier: Juizeca herdou a truculência do antecessor
publicado 07/02/2019
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O Conversa Afiada publica artigo de seu colUnista exclusivo Joaquim Xavier:
"Já foi narrado nesta sentença que não se discute aqui a propriedade do sítio", escreveu a juíza. "Contudo, os valores das benfeitorias (...), no mínimo equivalem ao valor do terreno, comprado em 2010 pelo valor de R$ 500.000,00. Não há como se decretar a perda das benfeitorias sem que se afete o principal. Diante disto, (...) decreto o confisco do imóvel, determinando que após alienação, eventual diferença entre o valor das benfeitorias objeto dos crimes aqui reconhecidos e o valor pago pela totalidade do imóvel seja revertida aos proprietários indicado no registro.”
Não é pegadinha nem fake news. Isto está lavrado numa sentença. Um espanto até mesmo para estagiários de direito. Lula é condenado por “benfeitorias” num sítio que não é dele, sem origem determinada dos recursos nem objetivo especificado.

É de se perguntar até quando o Brasil vai aguentar as manobras do judissiário, como grafa o CaF, para eliminar o líder popular mais importante da história do país. Um despautério segue-se a outro. Lula foi condenado por um tríplex que se comprovou nunca ter pertencido a ele. Agora, é sentenciado por um sítio do qual tampouco é dono, como a própria juizeca reconhece na sua sentença.

Conheci Jacó Bittar, assim como seus filhos. As duas famílias, Lula e Bittar, tratavam-se como parentes. Nada mais natural que se ajudassem mutuamente. A juizeca, por convicção, considerou que as “benfeitorias” no sítio –na verdade uma modesta chácara comparada à fazenda, apartamento em Paris e uma mansão alada em Higienópolis de Fernando Henrique Cardoso -- são obras de corrupção.

Detalhe: conforme os autos, em seu interrogatório “o ex-presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, declarou que a empresa realizou reformas no sítio em benefício de Lula, mas negou que as obras tivessem relação com o esquema de corrupção na Petrobras”.

Bem, se não tinham conexão com o suposto esquema da Petrobras, por que diabos o processo sobre uma propriedade em São Paulo foi parar em Curitiba?

É uma chicana atrás de outra. A juizeca sentada na cadeira de Sérgio Criminoso Moro herdou a truculência do antecessor. Entre uma e outra atividade numa academia de musculação, Gabriela mimetizou o padrinho e ditou sentenças sem nenhuma credibilidade. Certamente aposta que os três patetas da segunda instância vão dizer amém a tamanho despautério. Aliás, estão lá para isso. Melhor dizendo: só servem para isso.

Tanto o executivo dirigido por um doente refém de intestinos, um congresso à deriva e um judissiário subserviente à nostalgia ditatorial estão prontos a assinar embaixo de qualquer . insanidade. Já o povo vai percebendo que entrou numa roubada. É questão de tempo. Podem escrever e me cobrar depois. O governo Bolsonaro esgotou seu prazo de validade sem mesmo ter começado de fato.

Joaquim Xavier

PLÁGIO

A MATÉRIA FALA EM PLÁGIO DE JUIZA  DANIELE SOBRE TEXTO DE MORO, EM USO PARA CONDENAR LULA EM RELAÇÃO AO SITIO DE ATIBAIA, AÍ A PERGUNTA QUE FICA É: QUEM MORO PLAGIOU NO SEU TEXTO? PARA CONDENAR LULA EM RELAÇÃO AO  APARTAMENTO.
QUE JUIZES/AS ESTAMOS ANCORANDO NESTE PAÍS SEM LEI E SEM PONTO DE APOIO DE UM JUDICIÁRIO DESMORALIZADO.

Que vergonha! Perícia mostra que Juíza plagiou Moro!

Valentona com a valentia do outro...
publicado 28/02/2019
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Os advogados de Lula protocolaram uma perícia no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta-feira (28), que sugere, no mínimo, que a juíza Gabriela Hardt escreveu sua sentença em cima do texto que o ex-juiz Sérgio Moro utilizou no caso tríplex, para condenar o ex-presidente no processo sobre o sítio de Atibaia (SP). O laudo aponta que há a “certeza técnica de que a Sentença do Sítio foi superposta ao arquivo de Texto da Sentença do Triplex, diante das múltiplas e extremamente singulares ‘coincidências’ terminológicas”.
Ainda segundo o documento assinado por Celso Mauro Ribeiro Del Picchia, membro Emérito da Associação dos Peritos Judiciais do Estado de São Paulo, da International Association of Forensinc Sciences [IAFS], da Associação Brasileira de Criminalística [ABC] e da Asociación Latinoamericana de Criminalística, o texto de Hardt apresenta frases com os mesmos conjuntos e construções características da redação de Moro, atualmente ministro da Justiça de Jair Bolsonaro.
Durante a análise, Del Picchia ainda encontrou, no antepenúltimo parágrafo da sentença de Hardt, uma clara referência de que a juíza apenas copiou e colou a sentença de Moro. Ao determinar a estimativa mínima para reparação do suposto dano, a magistrada, que cuidou do processo referente ao sítio, ‘escreveu’ que “deverão ser descontados os valores confiscados relativamente ao apartamento“.
Diante do laudo técnico, a defesa de Lula apontou que está claro que os processos envolvendo o ex-presidente “não estão sendo propriamente julgados nas instâncias inferiores; ao contrário, ali estão sendo apenas formalizadas decisões condenatórias pré-estabelecidas, inclusive por meio de aproveitamento de sentenças proferidas pelo ex-juiz da Vara, símbolo do programa punitivo direcionado”. Ainda de acordo com os advogados, há uma verdadeira “fordização das sentenças judiciais”.
A sentença de Hardt, juridicamente, é tão absurda e sem provas quanto a de Moro. Já estava claro que, na decisão, a magistrada deixou o Direito de lado, tanto é que até duplicou pessoas para condenar Lula. Além disso, o texto da juíza coleciona absurdos jurídicos, que também desafiam a lógica de quem o lê, e uma série de incoerências.

Laranja do Serra pega 27 anos de cadeia

E o Serra?
publicado 28/02/2019
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Do Globo Overseas (empresa que tem sede na Holanda para lavar dinheiro e subornar agentes da FIFA com objetivo de ter a exclusividade para transmitir os jogos da seleção):

Paulo Preto é condenado a 27 anos pela Lava-Jato de SP

Apontado como operador do PSDB de São Paulo, o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza , conhecido como Paulo Preto , foi condenado nesta quinta-feira pela juíza Maria Isabel do Prado, da Justiça Federal de São Paulo, a uma pena de 27 anos e oito dias de prisão . Dessa pena, sete anos devem ser cumpridos em regime fechado. Essa foi a primeira condenação conseguida pela força-tarefa da Lava-Jato em São Paulo.
Neste processo, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou Souza e outras 32 pessoas pela formação de um cartel de empreiteiras para a construção do trecho sul do Rodoanel, obra que conecta as principais rodovias da reigão metropolitana de São Paulo. O processo foi desmembrado e apenas o ex-diretor da Dersa foi condenado nesta quinta-feira.
Além desse processo, Paulo Vieira também responde a outra ação na 5ª Vara Federal sobre irregularidades no reassentamento de moradores afetados pelas obras que comandou enquanto estava na Dersa, estatal paulista responsável pela execução de obras viárias.
Esse processo, também já em fase final, não pode ter sentença em razão de uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que ordenou que novos depoimentos fossem tomados. A juíza Maria Isabel do Prado enviou esclarecimentos ao ministro afirmando que as novas diligências cobradas já foram realizadas anteriormente.
Paulo Vieira, também conhecido como Paulo Preto, completa 70 anos no próximo dia 7 de março. Com isso, a prescrição de seus crimes cairá pela metade. Como os crimes apontados teriam ocorrido em 2009, o suposto operador poderia se livrar da condenação. Essa situação motivou a prioridade dada a seu processo nos últimos meses.
O ex-diretor da Dersa está preso desde a última terça-feira pela Lava-Jato de Curitiba, quando foi preso em relação a depósitos feitos em uma conta que mantinha na Suíça.
De acordo com a acusação, as 15 construtoras que atuaram na obra teriam feito um conluio com o então diretor da estatal paulista Dersa para a divisão das principais obras do estado nos dez anos seguintes.
A acusação foi formulada a partir da delação de executivos da Odebrecht. O Ministério Público Federal apresentou na sua denúncia duas planilhas que seriam feitas pela Odebrecht, uma de título "amor" e outra de título "briga". A primeira, serviria para o cenário em que as empresas se ajustassem para a divisão das obras. A segunda, "briga" era uma referência à possibilidade de uma disputa competitiva de preços.
Se fosse levada em consideração a planilha do "amor", o preço subiria e ficaria entre R$ 496 e R$ 567 milhões, uma vez que o cartel desse certo. Já se houvess "briga", as propostas oscilariam entre R$ 410 e R$ 518 milhões, o que seria o efeito da concorrência.
(...)
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TV Afiada

Quatro em cada dez brasileiros não trabalham

Sâmia Bomfim sobre Banquetaço: “A iniciativa é uma articulação contra a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar”

Publicado em 28 fevereiro, 2019 6:29 pm
Do Twitter da deputada Sâmia:
Nessa quarta (27), em 15 cidades do país, foi realizado o Banquetaço. A iniciativa é uma articulação da sociedade civil contra a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar. Comida de qualidade precisa ser encarada como um direito humano, e não um privilégio.
Sâmia Bomfim. Foto: Reprodução/Twitter

Nessa quarta (27), em 15 cidades do país, foi realizado o Banquetaço. A iniciativa é uma articulação da sociedade civil contra a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar. Comida de qualidade precisa ser encarada como um direito humano, e não um privilégio.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

A resistência às milícias são os coletivos da periferia, diz professor

“’Ah, eu não consigo entrar na favela”. Porra! Então esquece, vai fazer outra coisa na vida”. Este pode ser entendido como um recado que o professor José Cláudio Souza Alves daria para professores universitários e para a esquerda em geral. Docente da Universidade Rural do Rio de Janeiro (URRJ), José Cláudio pesquisa e escreve sobre as milícias há 26 anos.
Na opinião dele, as milícias só podem ser enfrentadas de fato a partir dos coletivos e movimentos sociais que atuam nas periferias e favelas. E isso já está acontecendo. Nesta entrevista, o professor enumera casos de resistência que existem na Baixada Fluminense, apesar do risco real de morte que paira sobre aqueles que ousam enfrentar esse poder que está incrustrado no Estado ao ponto de, segundo José Cláudio, ter se tornado o próprio Estado.
Ele diz que a organização em coletivos é ao mesmo tempo recusa de submissão às milícias e fator de proteção, já que o enfrentamento individual seria morte certa.
José Cláudio destaca também que a maciça votação de Bolsonaro na Baixada Fluminense é resultado direto do poder político das milícias. E que as soluções tentadas até aqui, como o diálogo com as forças de segurança, são inúteis. “Você tem que ir a esses movimentos de base e você tem que fortalecer, dar instrumentos pra essas pessoas reagirem no confronto com essa estrutura. No confronto no sentido de deixar alternativas em todos os campos: educacional, jurídico, político, eleitoral. Você tem que dar suporte pra que a população na sua base se organize e se estruture”, afirma.
Acompanhe trechos da primeira parte da entrevista, concedida por telefone.
FPA: Qual a relação hoje das milícias com o tráfico? Elas hoje atuam também no tráfico?
José Cláudio Souza Alves: Há várias situações (de participação no tráfico). As que são mais comuns, que eu consigo identificar, seriam ações de negócios. Então, a milícia acaba fazendo acordos com o tráfico da seguinte maneira: a milícia controla determinadas áreas e faz um acordo pra que uma facção do tráfico naquela área que a milícia controla. Isso é uma espécie de aluguel. Então o tráfico de drogas tem que pagar semanalmente valores a essa milícia. A polícia também faz a mesma prática. Mas essa é uma prática mais comum entre a milícia: o aluguel de comunidades pra facções determinadas.
Normalmente, a facção que vai fazer este acordo com a milícia é o Terceiro Comando Puro. Essa é a facção que mais faz acordo.
Invariavelmente, o confronto vai ocorrer entre milícia e Comando Vermelho. Isso é invariável. Isso sempre vai ocorrer. O Comando Vermelho não aceita, não se subordina, não aceita pagar propina, muito embora tenha que pagar.
E agora, uma terceira dimensão que surge, além dessas duas que eu falei, é a própria milícia agora operando no tráfico de drogas. Ela já começa a surgir. Há notícias.
Em que área?
É na Zona Oeste do Rio de Janeiro que já foi identificada por uma operação policial, no ano passado, onde um miliciano foi preso. Aí há denúncias de que ele que estava operando o tráfico de drogas, mesmo. Então já tem essa figura agindo dentro da própria milícia. A milícia passa a operar com aquilo que ela vê que dá lucro. Ela cria sofisticações, reelabora práticas do próprio crime organizado.

Professor José Cláudio pesquisa o tema há 26 anos
Créditos: URRJ/Reprodução

Falando em aprimorar a prática, há testemunhos de que as milícias já estariam atuando em áreas nobres, como Leblon, Laranjeiras, através daqueles seguranças particulares tidos como vigias de rua. Isso também é uma coisa confirmada ou provável?
Isso pode existir sim, isso é próprio da milícia. Ela vai se amalgamando a cada realidade específica para obter seu ganho. A Zona Sul é propensa também à questão da violência, tem os morros cariocas, tem os arrastões, tem o tráfico; tem a lógica dali da Zona Sul, da praia, tem a lógica do turismo. Isso movimenta muito dinheiro. É o cenário perfeito pra milícia funcionar. E se você for pesquisar, que é o que eu faço há algum tempo, os próprios grupos de extermínio quando se fortalecem na Baixada (Fluminense) na década de 70, 80, eles já estão praticando também essa dimensão da segurança privada a partir dos grupos de extermínio. A milícia, a meu ver, é uma continuação dessa lógica, mas é uma continuação mais sofisticada. Se os componentes da milícia atuam como policiais na Zona Sul do Rio, digamos, seja há dez anos, já mapearam toda aquela estrutura espacial, social e econômica. Conseguem facilmente operar. Eles têm informações privilegiadas, eles sabem quem é quem, eles controlam essa estrutura com muito maior facilidade.
Não é um poder paralelo. Isso é uma ilusão. Porque, tanto a milícia, como o tráfico e como os grupos de extermínio, essas três modalidades dependem da ação do próprio agente de segurança do Estado, do policial, seja quem for, ligado ao Estado pra funcionar, pra existir. É essencial essa forma de funcionar por dentro, na própria estrutura do Estado. Sem isso ele não há essa jogada entre o legal e o ilegal.
Essa manipulação de onde está o legal e de onde está o ilegal é uma fronteira movediça, né? Ele (o miliciano) vai pedir a contribuição, vai pedir essa taxa de proteção. Por outro lado, se você não paga essa taxa, seu imóvel é assaltado. Aí você vai ter que necessitar da estrutura legal pra fazer a denúncia do assalto, e lá, no legal, você se depara com o cara que é o miliciano que te cobrou. Esse jogo é determinante pra estrutura de poder de uma milícia funcionar, entendeu?
Nas áreas dominadas pelas milícias é possível a comunidade, os coletivos, ter algum tipo de ação política, social, formar ali um grupo pra discutir política? Discutir melhorias na comunidade? Isso é possível, ou sufocam esse tipo de atividade?
Cada realidade dessa vai ter a sua história, a sua peculiaridade. Vai depender do histórico daquela comunidade, a forma de organização dela ao longo do tempo, da resistência que se estabeleceu, ou não. O presidente da associação de moradores é manipulado pela milícia. O político local é eleito a partir do controle da milícia... mas em outras áreas não.
Em outras áreas você tem a resistência. Você tem a possibilidade de grupos da sociedade civil que vão se mobilizar, e que vão criar dimensões de resistência a esse poder. Pode ser uma igreja católica, pode ser uma igreja evangélica com uma liderança específica, pode ser uma associação de moradores, pode ser uma associação de finalidade profissional, digamos, comunidade de pescadores, agricultores, pode ser grupos ligados a ações sociais, como ações voltadas pró-menor, ou um conselho da cidade que tem uma vida mais dinâmica e que compreende aquela realidade... então, isso sempre vai depender do histórico de cada localidade dessa.

Professores visitam percurso do Museu Vivo de São Bento, no Rio
Crédito: Museu Vivo
No geral, eu percebo que sempre haverá resistência. A intensidade dessa resistência, a força dessa resistência... é que aí você pode discutir comigo, dizer: bom, não é uma resistência capaz de impor limites maiores à milícia. Às vezes, não. Às vezes não vão conseguir. Eles vão atuar numa rede menor, mais minimalista de algumas famílias, de alguns pequenos grupos, de uma comunidade religiosa menor, às vezes está ali ainda, muito ainda controlável, às vezes consegue. Por exemplo, na Baixada (Fluminense), a Baixada se ressente muito atualmente, por exemplo, de uma igreja católica que já foi progressista, que foi muito forte na Baixada. Tinha a Diocese em Nova Iguaçu que abrangia algo em torno de cinco municípios, que tinha Dom Adriano Hipólito. Esse é um cara histórico, que bateu de frente contra a ditadura, que denunciava matadores, só que ele foi substituído progressivamente por outros bispos até chegar no atual, que é um bispo conservador, Dom Gilson, que assumiu recentemente.
A mesma coisa Duque de Caxias e São João do Meriti, era Dom Mauro Moreli, bispo progressista, hoje é Dom Tarcísio, um bispo extremamente conservador. Então ali houve comunidades mais resistentes, que agora sofrem problemas internos e essa resistência diminui, mas ainda persistem algumas comunidades que resistem.
Pode me citar algum exemplo de comunidade que ainda esteja conseguindo fazer essa resistência?
Bom, são vários espaços. (Neste trecho, José Cláudio cita dois sindicatos de professores que atuam em duas cidades da Baixada e fazem forte resistência às milícias e a políticos a elas associados, para em seguida alertar para a necessidade de proteção dos nomes e identidades). Por favor, não coloque isso diretamente ... eu estou sofrendo um pouco com isso ... você pode generalizar, diz que numa cidade da Baixada o sindicato dos professores tem uma luta aguerrida.
Não citar nominalmente, porque pode colocar na linha de tiro, literalmente.
Isso. E eu também, eu também. Diz que numa cidade na Baixada tem o sindicato dos profissionais da Educação. Eles estão com dois salários atrasados e o 13º. atrasado. O sindicato fez várias greves, lutando pelo direito deles, então o prefeito (ligado às milícias, segundo José Cláudio), resolveu prejudicar mesmo o sindicato. Pra destruir, cassou as licenças sindicais, retirou do banco e da folha de pagamento a contribuição sindical. É uma guerra pessoal, mas esse sindicato nunca deixou se subjugar por isso. Ele continua resistente com muitas dificuldades.
Lá (na Baixada) você tem algumas Comunidades Eclesiais de Base (ele cita os nomes e as cidades) que fazem o debate interno de resistência. Você tem dois grandes grupos estudantis lá. São dois grupos políticos de jovens que fazem debate na cidade e que fazem também discussão coletiva dentro da cidade. (Aqui, o professor cita dois fóruns, formados por integrantes da comunidade, que fazem a luta contra a especulação imobiliária e a grilagem de terras, esta última um segmento de atuação das milícias)
Outro grupo muito forte é o Museu Vivo do São Bento. O São Bento é um bairro do Segundo Distrito de Duque de Caxias. Ali estão os primórdios das primeiras milícias do Rio de Janeiro e da Baixada. Ali é uma área de ocupações de terra urbanas lideradas por pessoas que, politicamente, depois se valeram dessas ocupações e passaram a se eleger. São eleitas até hoje. Estão ali vinculados a essa estrutura de poder. Ali a milícia vende lotes de terras da União. São terras da União ali. E o Museu Vivo do São Bento é uma rede de professores e educadores que identificou naquele bairro as dimensões históricas e transformou isso num museu de percurso. Ali existe sambaqui com objetos e esqueletos, inclusive humanos; está tudo preservado, isso é pré-histórico. Há também uma propriedade grande, com construções coloniais, de 1560, que é chamada Fazenda São Bento, que dá nome ao bairro - foram os beneditinos que foram para lá em 1560 e construíram toda uma estrutura colonial, belíssima. Depois você tem Getúlio Vargas, em 1930, criando o Núcleo Colonial São Bento. Depois tem duas ocupações de terras recentes que dão transformam em bairro, que é uma ocupação do início dos anos 1990 e uma ocupação mais para o final dos anos 90. Só que é nesse bairro que a milícia tem a sua mais intensa atuação de venda de imóveis. Então, você tem ali uma disputa permanente. Ali nessa região existe uma APA – Área de Preservação Ambiental. E essa APA, quando se reúne pra decidir o que vai ser feito naquele local, reúnem-se os representantes das associações de moradores, muitos vinculados aos milicianos, que compraram seus imóveis dos milicianos e representantes também de associações não vinculadas aos milicianos e também representantes do Museu Vivo do São Bento, nesse espaço de discussão política; e ali é um campo de disputa que estabelece-se ali naquele local.

Escola Guadalajara, em cena do filme Pro Dia Nascer Feliz
E em Caxias você tem também uma escola que foi premiada internacionalmente chamada Guadalajara, Escola Estadual Guadalajara, fica no Olavo Bilac, um bairro de Duque de Caxias. Lá os professores têm um trabalho antigo de apoiar projetos da comunidade, se envolvem com a população local, fazem um debate com qualidade diferenciada de cursos, de aulas, de disciplinas, pra ajudar aquela população. Já se tentou fechar essa escola. Sabe o que acontecia ali? A polícia militar que estava ao lado da escola e atirava no Morro da Mangueirinha, que fica ao lado dessa escola. E aí, simplesmente assim, os traficantes fuzilavam a escola, que trocavam tiros com a polícia, que fazia esse tipo de prática que vai expor a população pobre. E ai essa escola quase foi fechada, a Guadalajara...

Laranjal derruba ministro. Agora, militares ocupam quase todo Planalto

O porta-voz da presidência de Jair Bolsonaro, general Otávio Rêgo Barros, anunciou no início da noite desta segunda-feira, 18, a demissão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, alegando razões de “foro íntimo” de Bolsonaro para a saída do ministro.
Em menos de 50 dias, o governo tem a primeira baixa no primeiro escalão. Bebianno é acusado de repasses do PSL a candidatura laranjas em Pernambuco durante a campanha eleitoral de 2018, quando era presidente do partido.
A crise se agravou quando o ministro tentou atenuar o fato, dizendo à imprensa que havia falado com o presidente e foi desmentido por um dos filhos de Jair Bolsonaro, o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, que o chamou publicamente de mentiroso. A crise se arrastou por uma semana, enquanto parlamentares, ministros e até militares do governo tentaram abafar o desentendimento e manter Bebianno no cargo.
Com a saída de Bebianno, assume o general três estrelas da reserva Floriano Peixoto, o oitavo militar no primeiro escalão do governo Bolsonaro. Com isso, Onyx Lorenzoni passa a ser o único civil a ocupar o Palácio do Planalto.
A crise no governo foi gerada pelo repasse de dinheiro ilegal durante a campanha eleitoral, mas o que mais impacta é o peso dos desafetos e a guerra de forças entre um amigo do presidente, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência e seus filhos, que expõe o amadorismo e a “cozinha” do Planalto, comprometendo a autoridade do governo.
A demissão de Bebianno ocorre na semana em que o governo enfrenta seus principais desafios, a apresentação da proposta danosa e indigesta do governo para a reforma da Previdência e do plano de Medidas Anticrime, com licença para matar, de Moro.
Algumas dúvidas podem vir a comprometer a adesão de parlamentares aos projetos:
i: quem governa, Bolsonaro ou seus filhos? Bolsonaro conseguirá impor limites?
ii: o que Bebianno tem a dizer sobre os bastidores da campanha de Bolsonaro?
iii: como fica a investigação sobre o “laranjal” do partido do presidente, o PSL?
iv: por que o Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antomio, responsável pelo repasse ilegal a candidaturas laranjas de Minas Gerais durante a campanha, não teve o mesmo destino que Bebianno?
v. ainda sobre filhos, que explicação o outro filho de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro tem a dar sobre a movimentação bancária de mais de R$ 1,2 milhões de seu ex-assessor e motorista Fabrício Queiroz, visto pela última vez fazendo “dancinha” no mesmo hospital em que Jair Bolsonaro esteve internado? Onde está o Queiroz?
vi: por último, e não menos importante, qual o real poder dos militares no governo Bolsonaro?
As fissuras na equipe do governo são um sinal de que o presidente, que em seu discurso de posse defendeu a “hierarquia, respeito, ordem e progresso”, não tem condições técnicas, morais nem administrativas para conduzir o Brasil.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Entenda os 5 fenômenos que trazem chuvas para o Nordeste, durante o verão


Por Letras Ambientais
sábado, 23 de fevereiro de 2019

Por que está chovendo atualmente na maior parte do Nordeste brasileiro? Sabe-se que o clima na região é muito influenciado pela temperatura da superfície das águas dos oceanos. O cenário atual não está favorável, pois foi confirmada a presença de um El Niño no Pacífico equatorial e, aparentemente, está se formando um Dipolo no Atlântico, quando as temperaturas das águas da sua área Sul esfriam, enquanto as da área Norte esquentam.
Neste post, iremos explicar os 5 principais fenômenos que induzem chuvas no Nordeste, durante o verão, exercendo fortes alterações nas condições de tempo na região, sobretudo quando há presença de umidade na atmosfera.
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Os sistemas meteorológicos descritos a seguir foram observados através de imagens de satélites, obtidas no Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis).

1) Alta da Bolívia

A Alta da Bolívia é um anticiclone que ocorre exclusivamente na alta troposfera, durante o verão, sobre a América do Sul. Corresponde a uma grande circulação de massas de ar, em sentido anti-horário (à esquerda), variando a sua posição entre o Peru, a Bolívia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraguai. Observe no mapa acima que a sigla AB indica onde está localizado o centro do fenômeno. 
A Alta da Bolívia é um sistema térmico, gerado em função da liberação de forte calor na superfície terrestre, sobre o Altiplano Boliviano, na época do verão. Do aquecimento dos níveis mais altos da atmosfera (na troposfera, a cerca de 10 km de altura), expande-se a sua espessura sobre o continente, originando um sistema de alta pressão atmosférica, um anticiclone em altos níveis.
Esse giro anticiclônico provoca a convergência de ventos úmidos nos níveis superficiais da atmosfera,favorecendo a formação de nuvens carregadas e provocando chuvas.
A Alta da Bolívia domina a circulação dos ventos em todo o Brasil, mantendo áreas de instabilidade em várias regiões. Esse anticiclone se encontra sobre a parte central da América do Sul, estandoassociado a ele a formação de um Cavado no Nordeste brasileiro, que influencia o tempo na região.
Embaixo da Alta da Bolívia formam-se muitas nuvens e bastante chuva. Quando esse sistema está bem formado, em formato circular, o vento gira no sentido anti-horário. Em sua borda leste, configura-se um sistema que gira no sentido inverso e possui exatamente características contrárias: não chove embaixo e o tempo fica bem aberto. Quando o Cavado do Nordeste está fechado e circulando no sentido horário, corresponde a um Vórtice Ciclônico em Altos Níveis (VCAN), que será explicado mais adiante.
Um sistema típico de verão, a Alta da Bolívia também pode provocar grandes temporais. No período de dezembro a fevereiro, ela apresenta grande variabilidade de posição e intensidade. Assim, é importante o monitoramento contínuo da circulação da Alta da Bolívia, e da sua influência no posicionamento dos vórtices ciclônicos, em função de contribuir para uma melhor precisão na previsão de chuvas no Nordeste brasileiro.

2) Cavado do Nordeste

Para entender a variabilidade na posição e intensidade da Alta da Bolívia, é necessário compreender a interação que ela estabelece com outros sistemas que atuam na América do Sul, durante o verão.
O padrão de circulação das massas de ar, durante o verão, indica que, corrente abaixo da Alta da Bolívia, forma-se uma circulação ciclônica em altitude, com movimento em sentido horário (à direita). Assim, o anticiclone que se forma sobre a Bolívia é acompanhado de um cavado proeminente no Nordeste do Brasil, conhecido como Cavado do Nordeste ou Baixa do Nordeste (BNE).
Existe uma interação direta entre a Alta da Bolívia e o Cavado do Nordeste, com uma correlação significativa entre a intensidade dos dois fenômenos. O Cavado do Nordeste também varia de posição e intensidade ao longo do verão. Seu efeito mais marcante é o movimento descendente de massas de ar, em baixos níveis, sobre a região.

3) Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN)


Como discutido acima, durante o verão, a circulação troposférica em altos níveis, sobre a América do Sul, é caracterizada pela presença da Alta da Bolívia e de um Cavado profundo, ciclone que se forma corrente abaixo, sobre o Nordeste do Brasil e o oceano Atlântico Sul.
Com certa frequência, o Cavado se fecha, configurando um Vórtice Ciclônico em Altos Níveis (VCAN). Este sistema forma-se, na vizinhança do Nordeste brasileiro, em função da intensificação simultânea da crista associada à Alta da Bolívia, que também torna mais forte o Cavado corrente abaixo, sobre o oceano Atlântico.
A imagem de satélite abaixo mostra um VCAN sobre o oceano Atlântico, próximo à costa Nordeste do Brasil, observado no dia 21 de fevereiro de 2019. A imagem de vapor d'água apresenta a distribuição da umidade ao redor do VCAN, nos níveis médios e altos da atmosfera. 
O VCAN é um dos principais sistemas meteorológicos a exercer fortes alterações no tempo da região Nordeste, durante o verão. Sua influência, geralmente, está associada à chuva intensa ou fortes secas na região.
O VCAN é uma circulação ciclônica fechada, com núcleo frio, que geralmente se forma a cerca de 10 km de altura e se estendem para os níveis médios e baixos. Apresenta uma circulação direta, ou seja, um movimento descendente de ar frio e seco no seu centro, e movimento ascendente de ar quente e úmido na sua periferia.
Os VCAN’s que atuam sobre o Nordeste brasileiro são de origem tropical e, em geral, são persistentes. A vida média dos vórtices varia consideravelmente, uns duram apenas algumas horas, enquanto outros podem persistir por mais de 10 dias. Durante seu ciclo de vida, eles podem se deslocar para leste, oeste ou permanecerem estacionários por alguns dias.
O VCAN é uma região de baixa pressão atmosférica, com ventos secos girando no sentido horário, ao redor do centro do vórtice. Quanto mais distante do centro do vórtice, maior a nebulosidade e instabilidade. As áreas mais próximas do centro do vórtice ficam com poucas nuvens e menor possibilidade de chuvas. Eles se deslocam lentamente do oceano para o continente e vice-versa. Nebulosidade e instabilidades ocorrem nos setores leste e nordeste do vórtice.
A imagem de satélite abaixo mostra um VCAN atuando na costa Leste do Nordeste, dia 21 de fevereiro de 2019. A sigla "VCAN", destacada em vermelho no mapa, indica onde está localizado o centro do vórtice. Observe que nesse dia as suas bordas induziram a formação de chuvas nos estados do Maranhão e Piauí. 
Segundo o meteorologista Humberto Barbosa, do Lapis, em alguns casos, os vórtices ciclônicos são favoráveis às chuvas no Nordeste brasileiro, e em determinadas situações, provocam redução de umidade e, consequentemente, reduzem as chuvas. Os VCAN’s são sistemas caracterizados por condições de tempo firme em seu centro, favorecendo a formação de chuvas (às vezes intensas) nas suas bordas.
Tudo vai depender da localização do vórtice, pois de acordo com a posição do seu centro, a tendência é inibir as chuvas sobre essa área. Ao contrário, a localização das suas bordas tende a trazer maior umidade e nebulosidade sobre as áreas onde estão localizadas, provocando maior volume de chuvas”, explica Barbosa.
A localização do VCAN é bastante dinâmica. Em 22 de fevereiro de 2019, somente um dia após a captura da imagem acima, o centro do vórtice já havia adentrado para o interior do continente, como mostrado no vídeo abaixo. A animação a seguir corresponde a imagens de monitoramento por satélites da circulação dos ventos em altos níveis da atmosfera. Observe o VCAN já localizado no interior do Nordeste, com seu centro e suas bordas exercendo influências diferentes nas condições de tempo na região. 
Os VCAN’s que atuam no Nordeste são observados nas estações de primavera, verão e outono, com maior frequência no mês de janeiro. Um VCAN pode ser totalmente seco ou acompanhado de muita nebulosidade. Depende da sua profundidade. Acima de 5 km de altura, possui pouca nebulosidade, enquanto o que atinge níveis mais baixos, possui nebulosidade muita intensa. A nebulosidade também permite acompanhar o seu deslocamento.
Os VCAN’s que adentram a região Nordeste do Brasil formam-se no oceano Atlântico, principalmente entre os meses de novembro e março, e sua trajetória normalmente é de Leste para Oeste. Esses sistemas correspondem a um conjunto de nuvens que, de acordo com imagens de satélites, têm a forma aproximada de um círculo girando no sentido horário. Na sua periferia, há formação de nuvens causadoras de chuvas, e no centro, há movimentos de ar de cima para baixo, aumentando a pressão e inibindo a formação de nuvens.
No Nordeste brasileiro, o período mais comum de ocorrência dos VCAN’s é no verão, principalmente em janeiro. Estudos indicam que, em períodos de El Niño, eles são mais frequentes e robustos, enquanto em anos de La Niña, são menos frequentes e mais fracos.
Essa constatação explica porque, nos primeiros meses de 2019, sob influência de um El Niño de intensidade fraca, os VCAN's têm atuado com bastante frequência sobre o Nordeste brasileiro. Como explicado neste post, em 2019, o El Niño está influenciando o clima da região apenas de forma parcial e moderada. 

4) Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)

Entre os principais sistemas meteorológicos que atuam sobre o Nordeste brasileiro, durante o verão, está a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), responsável pela maior parte da chuva anual na região.
A ZCIT é decisiva na determinação de quão abundante ou deficiente serão as chuvas no setor norte do Nordeste do Brasil. Ela corresponde auma grande zona de instabilidade, que oscila para norte e sul, dependendo da época do ano, sempre perto da faixa equatorial do Globo terrestre.
Entre fevereiro e maio, a ZCIT fica mais próxima da costa norte do Brasil, época de chuvas entre o Rio Grande do Norte e a Amazônia. Em alguns anos, ela desce mais e pode levar chuvas para o Semiárido da Paraíba, Ceará e Piauí. Em outros anos, mal provoca chuvas na faixa litorânea. Tudo vai depender da diferença de temperatura da água do mar, entre o Atlântico Norte e o Atlântico Sul.
O deslocamento da ZCIT está estreitamente ligado à temperatura da superfície do oceano Atlântico tropical, um dos fatores determinantes da sua posição e intensidade. Ela geralmente está situada sobre, ou próxima, às altas temperaturas da superfície do mar. Na maioria dos anos, há uma relação direta entre a temperatura da superfície do Atlântico tropical e as chuvas no Nordeste.
Águas mais quentes no Atlântico Sul e mais frias no Atlântico Norte estão associadas a anos chuvosos no Nordeste brasileiro, justamente por deslocar a ZCIT para uma posição de influência no setor norte da região.
De acordo com o monitoramento climático realizado pelo Lapis, as temperaturas da superfície das águas do oceano Atlântico têm oscilado muito nesses primeiros meses de 2019. No último mês de janeiro, o Dipolo do Atlântico ficou favorável às chuvas no Nordeste, com o Atlântico Sul mais aquecido que o Norte.
Já nas primeiras semanas de fevereiro de 2019, percebeu-se uma tendência de maior aquecimento das águas do Atlântico Norte, aspecto que não beneficiou o clima do Nordeste.  
Para aprofundar seus conhecimentos sobre como os oceanos Atlântico e Pacífico influenciam o clima do Nordeste, bem como acerca dos principais fenômenos para compreender melhor as condições de tempo na região, recomendamos a leitura do Livro "Um século de secas". Para adquirir o Livro, clique aqui.
Observe, na imagem abaixo, que durante o período de 17 a 23 de fevereiro de 2019, a média das temperaturas das águas do Atlântico Sul voltaram a ficar aquecidas. Dessa forma, intensificou-se o Dipolo, favorecendo a atuação de fenômenos que provocam chuvas no Nordeste brasileiro, como é o caso do deslocamento da ZCIT. 
Dipolo do Atlântico. Fonte: Lapis.
O aquecimento da temperatura das águas doAtlântico Sul é fator decisivo para identificar por quanto tempo a ZCIT ficará posicionada mais ao sul da sua posição normal. O pico das chuvas sobre o Nordeste (março e abril) ocorre exatamente na época em que a ZCIT atinge suas posições mais ao sul.
Os estados do Nordeste brasileiro mais afetados pela ZCIT são: norte e centro do Maranhão e Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e os sertões da Paraíba e Pernambuco.
Pela sua extensão, a ZCIT é facilmente identificada em imagens de satélites como uma banda de maior nebulosidade sobre as regiões equatoriais e subtropicais nos oceanos Pacífico e Atlântico principalmente.
A circulação da ZCIT atua no sentido de transferir calor e umidade dos níveis inferiores da atmosfera, das regiões tropicais, para os níveis superiores da troposfera, e para médias e altas latitudes. A ascensão desses ventos vai provocar um resfriamento em níveis mais altos, perdendo umidade por condensação e precipitação.
A ZCIT pode ser definida como uma banda de nuvens que circunda a faixa equatorial do Globo terrestre, formada principalmente pela confluência dos ventos alísios do Hemisfério Norte com os ventos alísios do Hemisfério Sul, em baixos níveis (o choque entre eles faz com que o ar quente e úmido ascenda e provoque a formação das nuvens), baixas pressões, altas temperaturas da superfície do mar e precipitação.

5) Frentes frias

O avanço das frentes frias até às latitudes tropicais, entre os meses de novembro e janeiro, é outro mecanismo indutor de chuvas no Nordeste brasileiro.
As frentes frias são bandas de nuvens organizadas que se formam na região de encontro entre duas massas de ar – uma quente, que perde espaço, e outra fria, que ganha força. 
Avançando com velocidades de até 30 km/h, o ar frio e seco (mais denso), empurra a massa quente e leve para cima. Se houver umidade suficiente, a passagem da frente forma nebulosidade e causa chuvas intensas.
Quando há uma massa de ar frio muito forte, a frente fria consegue chegar a áreas nordestinas, sobretudo o sul da Bahia, onde há uma condição mais favorável às frentes frias.
Esses sistemas podem chegar a áreas do leste de Pernambuco e Paraíba, mas com uma frequência menor, porque geralmente a massa de ar frio, proveniente dos polos, não é tão forte para empurrar a frente fria para essas áreas.
Com seu avanço, as frentes perdem energia e velocidade, de modo que o contato com o solo quente reduz o frio das massas de ar, enfraquecendo o sistema. Por isso, é raro uma frente fria chegar até o Nordeste.

Conclusão

As previsões meteorológicas para o Nordeste brasileiro são bastante complexas, especialmente quando se trata de prognósticos de tempo e clima, durante o verão. As chuvas esperadas para a região são influenciadas por um conjunto de fatores de origem oceânica e/ou atmosférica. 
Neste post, descrevemos os principais sistemas atmosféricos que influenciam as condições de tempo no Nordeste brasileiro. A compreensão e o monitoramento contínuo desses fenômenos são importantes para previsões do tempo mais aproximadas da realidade da região.
A temperatura das águas do oceano Atlântico tropical, quando aquecida, influencia diretamente fenômenos que atuam no Nordeste, como a ZCIT e as frentes frias, favorecendo as chuvas. Dessa forma, tanto o tempo quanto o clima da região dependem muito das condições desse oceano. 
E agora gostaríamos de saber da sua opinião. Neste ano de 2019, você identificou qual desses 5 fenômenos em sua região? Os sistemas provocaram chuvas? Conte-nos a sua experiência.