quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


Início da corrida eleitoral de 2014 para governo do Rio cria racha na aliança entre PT e PMDB

Hanrrikson de Andrade
Do UOL, no Rio
  • Érica Ramalho/Divulgação/Governo do Rio - 17.mai.2012 e José Cruz/ABr - 21.mar.2011
    Pezão, vice-governador do Rio, e Lindbergh Farias, senador petista, pré candidatos ao governo do Estado Pezão, vice-governador do Rio, e Lindbergh Farias, senador petista, pré candidatos ao governo do Estado
A eleição para o governo do Estado do Rio de Janeiro, em 2014, colocará em lados opostos PT, que lançou a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias, e PMDB, que tentará se manter no cargo com o atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão.
Aliados desde 2006, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiou a eleição do atual chefe do Executivo, Sérgio Cabral, cujo segundo mandato se encerra no ano que vem, petistas e peemedebistas já se encontram em pé de guerra.
Há uma semana, Farias estreou na TV com discurso de que é preciso "reduzir a distância que separa o Rio pobre do Rio rico" --em referência crítica à gestão de Cabral. O PMDB, por sua vez, reagiu com uma nota através da qual ameaça não apoiar a reeleição da presidente da República, Dilma Rousseff, no Estado.
Questionado sobre a nota do PMDB estadual, Farias reafirmou sua pré-candidatura ao governo do Rio e considerou "deselegante e fora de tom" a crítica do partido aliado. "Não é uma demonstração de força [do PMDB]. Parece que nossa candidatura está incomodando. Parece uma demonstração de fraqueza", afirmou, lembrando que a decisão de lançá-lo na disputa ao governo foi tomada por unanimidade pelo diretório do PT regional. "Foi um tiro no pé [a nota do PMDB]. Deixou minha candidatura mais forte".
Lindbergh disse que, se o PMDB quiser, pode lançar outra candidatura à sucessão do governador Sérgio Cabral, "o que não pode é decidir o que o PT vai fazer". Perguntado se abriria mão de sua pré-candidatura diante de um eventual pedido de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador nem admitiu a hipótese.
A partir da próxima terça-feira (5), Pezão será, segundo a assessoria do partido, "a principal estrela" de uma série de inserções na TV.
A prévia da disputa continuará nos próximos dias. A partir desta quinta-feira (28), Lindbergh dá início a uma caravana pelo Estado do Rio, iniciativa inspirada na "Caravana da Cidadania" feita por Lula entre 1993 e 1996, quando o ex-presidente percorreu 359 cidades pelo país acompanhado de lideranças políticas e sindicais.
O senador conta com o apoio de Lula e do diretório nacional, que entendem que o PT precisa superar a condição de coadjuvante no cenário político fluminense. A primeira parada será em Japeri, na Baixada Fluminense, o município de pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Rio.
Já no sábado (2), Pezão participará da convenção nacional do PMDB, onde será lida uma nota, assinada pelo presidente estadual da legenda, Jorge Picciani, que afirma: "o palanque duplo para a presidente Dilma no Rio não se sustenta". Na visão dos correligionários do vice-governador e pré-candidato à sucessão de Cabral, "trata-se de uma equação que não fecha e cujo resultado não será a soma, mas a subtração".

"Rio pobre" x "Rio rico"

Comerciais do PT no Rio de Janeiro

No dia 20 de fevereiro, o PT começou a veicular propagandas (assista ao lado) nas quais Lindbergh afirma existir uma distância social no Rio de Janeiro, isto é, uma separação entre o "Rio pobre" e o "Rio rico". Nas palavras do senador, o Partido dos Trabalhadores, durante os oito anos do governo Lula, "diminuiu a distância entre governo e povo".
"Lula e Dilma fizeram isso no Brasil. Nós do PT vamos fazer no Rio. O Rio vive um bom momento porque a distância entre o governo estadual e federal diminuiu. Agora nosso melhor momento será quando gente que pensa de verdade no povo trabalhe ainda mais junta, aqui e em Brasília", afirma Farias. O cenário escolhido para a inserção é o de uma favela, na qual é possível identificar bandeirinhas de campanha das candidaturas de Lula e Dilma.
Com o slogan "PT: Está chegando o melhor momento do Rio", Lindbergh sugere uma expansão da rede ferroviária na cidade (propaganda veiculada apenas para a região metropolitana do Estado), fazendo com que os trens da concessionária Supervia --muito criticada em função de problemas constantes como superlotação e má conservação-- passem a circular na superfície. "É transporte bom para quem mais precisa", declara o senador.
A reportagem do UOL solicitou entrevista com o senador Lindbergh Farias, mas não obteve retorno.

"O PT cresceu no Rio com a gente", diz Pezão

No mesmo dia em que o PT começou a veicular inserções na TV, Pezão participava de uma convenção da juventude do PMDB, que oficializou o nome do filho do governador Sério Cabral, Marco Antônio Cabral, como presidente do diretório nacional. Em seu discurso, Pezão afirma que a legenda "respeitou as alianças" que possibilitaram a eleição para o governo do Estado, e faz uma crítica indireta à postura do PT.

Pezão discursa em convenção

"As pessoas, às vezes, [falam]: 'Não, o PMDB diminuiu'. Nós não diminuímos, não. Nós representamos e crescemos a nossa aliança. Nós respeitamos. Se não vão nos respeitar daqui para frente (...), mas nós respeitamos os compromissos que assumimos. O PT cresceu no Rio com a gente. Nós apoiamos diversos prefeitos. E a gente pode dar diversos exemplos", afirmou.
A reportagem do UOL solicitou entrevista com Luiz Fernando Pezão, porém sua assessoria afirmou que, neste momento, o vice-governador prefere não falar sobre a corrida eleitoral para o governo do Estado, em 2014.

Estratégias do PMDB

Após as inserções do PT na TV, caíram por terra os rumores de que Sérgio Cabral poderia renunciar ao cargo de governador do Estado, em 2014, para fazer com que Pezão ganhasse mais popularidade à frente do Executivo fluminense.
Desde o início do segundo mandato, a legenda trabalha para vincular a imagem do vice-governador ao planejamento, gestão e execução de projetos e obras de infraestrutura física, social e ambiental desenvolvidas pelo governo estadual. Uma secretaria --a Coordenadoria Executiva dos Projetos e Obras de Infraestrutura-- foi criada para que o vice-governador pudesse ter controle total das ações e investimentos realizadas pela gestão.
Além disso, Pezão já foi ligado, tanto em discursos de correligionários, entre os quais Cabral e Jorge Picciani, quanto em propagandas na TV, ao projeto do teleférico do Complexo do Alemão, símbolo do projeto de pacificação, na zona norte do Rio, e ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Como coordenador-executivo de Projetos e Obras de Infraestrutura, Pezão é o responsável pela interlocução com o governo federal.
Há ainda uma outra estratégia, já comentada publicamente por lideranças do PMDB, no sentido de alavancar a candidatura de Pezão: convencer o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, cujo trabalho possui avaliação positiva entre a população, a ser o vice. Beltrame, porém, já afirmou não ter interesse.

Continuidade da gestão

Logo após a reeleição no Rio, do prefeito Eduardo Paes (PMDB) no ano passado, Pezão foi lançado pelo próprio Sérgio Cabral como candidato à sucessão.
Na ocasião, o governador afirmou que a escolha pelo vice-governador representaria a "continuidade" de sua gestão, afastando a possibilidade de que o partido poderia lançar Paes --que tem ótimo índice de popularidade e obteve votação recorde em 2012-- para o governo do Estado.
"A escolha do Pezão em 2014 é a continuidade desse projeto. Ele tem competência, e já mostrou isso, para dar continuidade ao que está dando certo. Durante o nosso governo, o Pezão foi o grande coordenador desse processo de grandes investimentos em infraestrutura. Sem dúvida ele [Pezão] é o nosso candidato", disse Cabral.
O prefeito, que foi reeleito na capital fluminense com um vice do PT (Adilson Pires), seguiu a mesma linha de raciocínio. Porém, ressaltou que a legenda trabalharia para chegar a um candidato único: "O PMDB já tem um candidato: Luiz Fernando Pezão. Certamente nós vamos eleger o sucessor do governador Sério Cabral. Vamos trabalhar para construir uma grande aliança com o Partido dos Trabalhadores". (Com informações do Valor Econômico)
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Sede do Governo do Rio, Palácio Guanabara é restaurado29 fotos

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Brasão da República na entrada principal do Palácio Guanabara, atual sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Nos últimos dois anos, local foi completamente restaurado Júlio César Guimarães/UOL

FOCAMPO DESENCADEIA CAMINHADA

CAMINHOS DA SÊCA: AGRICULTURA FAMILIAR, SECA E SUAS CONSEQUÊNCIAS.
Começara no dia 11/03. em São Paulo do Potengí. movimento desencadeado pelo fórum do campo, em busca de respostas para as questões do campo para a agricultura familiar.
dia 12/03 - Santa Cruz;
      13/03-  Currais Novos;
      14/03 - Caicó;
      19/03 - Angicos.
dia 04/04 - avaliação das mobilizações. reunião em Natal;
Ato de Natal - 16 de abril.
eventos sempre começando ás 9 horas com: objetivos;leitura da carta;caminhada ;falas e encerramento.

O agronegócio é ‘negócio’ para o Brasil?

28 de fevereiro de 2013

Por Gerson Teixeira
Presidente da ABRA - Associação Brasileira de Reforma Agrária


No período recente ocorreu a ampliação do peso relativo da base primário exportadora na economia brasileira. O fato conflita com os axiomas do processo de desenvolvimento econômico e decorre, em grande medida, da acomodação do país a um contexto internacional de comércio definido pelos países desenvolvidos.
Neste cenário foi reforçada a funcionalidade da nossa economia, no caso, ao suprimento dos mercados globais de commodities minerais, metálicas e agrícolas (proteína animal e vegetal, em especial).
Assim, particularmente neste século, a economia brasileira foi posicionada na inércia de um “atrativo” mercado global de commodities, com forte protagonismo do capital financeiro, incluindo o especulativo.
Não se trata de uma pregação contrária ao aumento das vendas externas do país. Contudo, a resignação política à centralidade do aprofundamento da marca primário exportadora da economia implica, nas condições históricas brasileiras, na ratificação das causas estruturais das nossas anomalias econômicas e desigualdades sociais.
Neste artigo, apontamos alguns riscos para a sociedade brasileira, relacionados especificamente com a transformação do agronegócio no carro-chefe, ou na ‘joia da coroa’ da economia nacional. Aproveitando alguns tópicos inserimos aspectos que julgamos relevantes para expor o ‘estado da arte’ do agronegócio no Brasil e no mundo.
Há mais de uma década os brasileiros são convocados para o financiamento gigantesco da expansão desse padrão de negócio assentado na grande exploração agropecuária. A cada ano o crédito rural oficial expande a oferta de somas bilionárias para os grandes agricultores, em custos irrisórios.
Para não comprometer o fluxo expansivo do crédito o Tesouro sistematicamente é acionado para ‘adimplir’ grande parte das dívidas desses financiamentos, em permanente situação de anormalidade.
A Lei Kandir continua incentivando a reprimarização da economia com mais incursões na ‘bolsa da viúva’ e prejuízos aos estados. Dívidas privadas dos grandes produtores têm sido estatizadas. O próprio BNDES financia a elevada concentração e/ou desnacionalização nesse segmento. Investimentos em logística, infraestrutura, incentivos fiscais regionais, políticas de sustentação de preços, compras governamentais e seguro rural também integram a fatura fabulosa da população na sustentação dessa atividade.
Grande parte dessas medidas seria justificável posto, em tese, a importância estratégica e as particularidades da atividade agrícola. Mas, no caso brasileiro, quem se apropria de fato dos resultados desses esforços? Quais os seus benefícios para a população? Mesmo na métrica da racionalidade econômica, o agronegócio no Brasil tem solidez e constitui boa aposta para o futuro do país?
Por serem de amplo conhecimento não comentaremos os severos impactos fundiários, sociais, e ambientais imanentes aos monocultivos produtivistas de larga escala que alicerçam o agronegócio.
Agrotóxicos/Transgênicos
Em que pese a observação anterior, diga-se que esse padrão de agricultura constitui, na atualidade, caso grave de saúde pública no Brasil. Pesquisa recente da Universidade de Brasília concluiu que, na hipótese mais otimista, 30% dos alimentos consumidos pelos brasileiros são impróprios para o consumo somente por conta de contaminação por agrotóxicos.
Um escândalo intensificado com a disseminação dos transgênicos a partir da entrada ‘clandestina’ da ‘soja Maradona’ no Brasil, quando agricultores do Sul caíram no ‘canto da sereia’ de que os transgênicos levariam à redução do uso de venenos na agricultura.
Desde então (início da década de 2000), as importações de agrotóxicos saltaram de 259 milhões de dólares para 2.2 bilhões de dólares em 2012; assumimos a liderança mundial no consumo dos venenos agrícolas, e os agricultores passaram a sofrer cobrança ilegal de verdadeiras fortunas a título de royalties por dupla proteção das sementes transgênicas (Lei de Proteção de Cultivares e Lei de Patentes).
Como exemplo da relação transgênicos/agrotóxicos, dados de custo de produção divulgados pela Conab revelam que em Santa Rosa no RS, os gastos com agrotóxicos com a soja RR subiram de R$ 159,00/hectare para R$ 183,00/hectare, de 2008 para 2011. Correspondiam a 19.8% do total das despesas de custeio com a lavoura, passando a 29%, em 2011.
Nesse mesmo período, os royalties cobrados sobre a sementes geneticamente modificadas subiram de R$ 23,00/ hectare para R$ 32,00/ hectare, ou seja, um aumento de 39% quando a variação do IPC-A foi de 18%.
O ‘Economic Research Report Number 130 - December 2011’, do Departamento de Agricultura dos EUA- USDA, estima que, em 2010, a ‘proteção química’ derivada dos OGMs proporcionou vendas adicionais de agrotóxicos no valor de 10.6 bilhões de dólares.
Concentração econômica
São consideráveis as vulnerabilidades econômicas do agronegócio no Brasil pelo grau desproporcional do seu controle por setores monopolistas globais das indústrias intermediária da agricultura, e da alimentar, que produzem e comercializam internacionalmente produtos e serviços alimentícios, agrícolas, financeiros e industriais.
A aquisição ou falência das empresas nacionais de sementes e a ‘apropriação’ da Embrapa por companhias do chamado ‘Big 6’ (Monsanto, Dupont, Syngenta, Bayer, Dow, e BASF) que controlam as sementes/química/biotecnologias em todo o mundo, resultaram na forte dependência genética da agricultura nacional, em vários produtos animais e vegetais.
Estudo do USDA (antes citado) revela que entre 1994 e 2009, a concentração econômica no segmento da agroquímica, medida pelo Índice Herfindahl2, elevou de 198 para 937; no de sementes, de 171 para 991; máquinas agrícolas, de 264 para 791; saúde animal, de 510 para 827.
No ano de 2009, as quatro maiores empresas em cada segmento da indústria intermediária da agricultura, respondiam por pelo menos 50% dos respectivos mercados globais de vendas. Os níveis de concentração são diferentes nos distintos segmentos.
Já em 2007 as quatro maiores empresas produtoras de sementes de hortaliças controlavam 70% do respectivo mercado global; as oito maiores controlavam 94%. Três das empresas que integram o ‘Big 6’ são as grandes controladoras desse mercado: Monsanto, Syngenta e Bayer.
O mercado de biotecnologias agrícolas contabilizava 77 médias e pequenas empresas em 1979. Em 2008, restavam apenas 30; as demais foram adquiridas ou faliram.
A Geopolítica do agronegócio
Sob esse cerco os agricultores brasileiros passaram à condição de terceirizados desses conglomerados. E, num ambiente interno de frouxidão regulatória, inclusive no acesso à terra por estrangeiros, o poder de definição sobre a expansão territorial da atividade agrícola primária no Brasil foi deslocada do Estado, para esses segmentos do capital internacional.
Não é à toa que, de 1990 para 2011, as áreas plantadas com alimentos básicos como o arroz, feijão, mandioca e trigo declinaram, respectivamente, 31%, 26%, 11% e 35%. As de produtos nobres do agronegócio exportador como a cana e soja aumentaram 122% e 107%. No estado de São Paulo, a área com cana ocupa 75% da área total plantada com culturas temporárias e ainda assim o país enfrenta crises sistemáticas na oferta do etanol.
Passamos a importar até feijão da China. No ano passado importamos US$ 334 milhões em arroz, o equivalente a 50% do valor aplicado no custeio da lavoura em nível nacional. No caso do trigo, o valor das importações em 2012 (US$ 1.7 bi) foi mais de duas vezes superior ao destinado para o custeio da lavoura (R$ 1.1 bi). A produção de mandioca atualmente é a mesma de 1990.
Agricultores familiares passam a abandonar a produção de alimentos da dieta básica dos brasileiros
Agravando o cenário de risco potencial para a segurança alimentar em nosso país, as políticas governamentais nos últimos anos disseminaram a lógica da agricultura do agronegócio entre grande parcela dos agricultores familiares.
Resultado: quando comparamos 2003 com 2012, mesmo considerando o aumento exponencial no volume de recursos ofertados pelo Pronaf, no período, o número de operações de custeio de arroz com agricultores familiares declinou de 34.405 para 7.790 (-77.4%).
No caso do feijão, o número de contratos de custeio pelo Pronaf reduziu de 57.042 para 10.869 (-81%). Os contratos para o custeio da mandioca caíram de 65.396 para 20.371 (-69%), e para o custeio de milho declinaram de 301.741 para 170.404 (-44%)3.
Em síntese, constatamos trajetória de progressiva redução do plantio de culturas alimentares básicas, o que tem ampliado a nossa dependência de importações num cenário internacional de grandes vulnerabilidades da oferta agrícola em função das cada vez mais frequentes e intensas quebras de safra nos principais países agrícolas por conta dos efeitos do aquecimento global.
Como agravante, temos erráticas e insuficientes políticas de estoques de alimentos conduzidas pela Conab que intensificam a exposição da população brasileira a riscos de abastecimento e ao processo inflacionário. Os estoques reguladores, além de pífios, são formados em função das pressões de setores produtores com problemas circunstanciais de renda.
Não existe a formação de estoques estratégicos. As compras governamentais da agricultura familiar são importantes enquanto alternativa de mercado institucional para esse segmento, mas não têm expressão econômica, portanto, são insuficientes para
a garantia da estabilidade do abastecimento alimentar.
Dependência na importação de fertilizantes
Considere-se, também, que eventuais interrupções no fluxo, ou choques nos preços dos
fertilizantes importados desmoronariam o ‘gigante de pés de barro’, com consequências
desastrosas para o país.
Em 2012 o Brasil importou 19.5 milhões de toneladas de fertilizantes químicos, o equivalente a 66% do consumo interno. Em relação ao potássio a dependência de
importações deve continuar acima de 80%. Em 2000 as importações brasileiras de fertilizantes somaram 10.3 milhões de toneladas.
Desde 2003 a produção interna de fertilizantes intermediários se mantém pouco acima
de 9.2 milhões de toneladas.
Todas as previsões convergem para a tendência de crescimento do uso de fertilizantes
químicos pela agricultura brasileira. Isso ocorrerá em meio às dúvidas do plano nacional
de fertilizantes e num contexto de elevação dos preços do insumo.
Os preços dos fertilizantes dispararam com a crise econômica a partir de 2007/08 e, associadamente, com o boom dos preços das commodities. Em 2009 atingiram o pico, depois declinaram para em seguida retomarem a trajetória de alta conforme a figura abaixo que exibe a evolução dos preços desses insumos desde 1995.
A propósito, os fertilizantes são os principais emissores do óxido nitroso, gás com densidade de efeito estufa bem superior à do gás carbônico, portanto, fator agravante do aquecimento global.
Concentração dos investimentos em P&D nos países industrializados
Afora as ameaças para a segurança alimentar e nutricional da população do país, os conglomerados que controlam o agronegócio brasileiro concentram todos os seus investimentos em P&D nos países de origem. Essa concentração é uma evidência das restrições para a transferência de tecnologia, para os países pobres e emergentes, pelas grandes corporações.
De acordo com o USDA, até o período 2000/2004, o Japão liderava os investimentos privados da indústria alimentar (média anual de 2.7 bilhões de dólares). No período
2005/07 a liderança passou aos EUA (média de 2.4 bilhões de dólares/ano). Vale
destacar que o Brasil não figura na lista dos 27 países líderes dos dispêndios em P&D
da indústria da alimentação.
No caso da indústria intermediária, os investimentos privados em P&D, em todo o mundo, somaram US$ cerca de 11 bilhões em 2010 (valores correntes), assim
distribuídos: (i) US$ 3.1 bilhões em agrotóxicos; (ii) US$ 3.7 bilhões em sementes
transgênicas; (iii) US$ 2.4 bilhões em máquinas agrícolas; (iv) US$ 100 milhões em
fertilizantes; (v) US$941 milhões em saúde animal; (vi) US$ 339 em genética animal; e
(vii) US$ 410 milhões em nutrição animal.
No caso dos US$ 3.7 bilhões de investimentos privados em sementes/biotecnologias agrícolas, as mega corporações da agroquímica que integram o 'Big 6' foram responsáveis por US$ 2.9 bilhões. Outras grandes companhias investiram US$ 732 milhões e as pequenas e médias firmas, o valor restante.
Segundo o USDA, de 1994 a 2010 os investimentos em P&D nos agrotóxicos têm declinado em termos reais. De outra parte, as vendas de agrotóxicos no mercado global cresceram de 32.7 bilhões de dólares em 1994 para 47.1 bilhões em 2010, ou seja, 5.6
vezes superior aos investimentos privados em insumos químicos, biotecnologias e
máquinas agrícolas.
O quadro abaixo apresenta a distribuição regional dos investimentos privados em pesquisa pelas companhias das indústrias de alimentos, e intermediária da agricultura, na posição de 2006. Vê-se a ‘exclusão’ da América Latina desses investimentos. A África sequer é citada.

Vale assinalar que, de acordo com os dados do USDA, o Brasil não figura na lista dos
27 países que lideram os dispêndios das companhias privadas na indústria da
alimentação.
Enfim, ante ameaças de vulto para os interesses nacionais como as acima pontuadas, será que exportações próximas 100 bilhões de dólares justificam estratégias para a transformação do Brasil no ‘fazendão’ do mundo para alguns poucos produtos sob o comando de um punhado de corporações estrangeiras? Infelizmente, esse tipo de reflexão não existe no governo!
A Produtividade na Agricultura – caso dos EUA
O constante aumento da produtividade foi o fator do ‘sucesso’ da agricultura produtivista por quase todo o século XX. Graças a isso, uma das principais características do modelo agrícola americano disseminado no mundo tem sido a sua natureza excedentária.
Contudo, estudos recentes demonstram a tendência de estagnação ou recuo da produtividade agrícola em todo o mundo, fato que amplia de forma substancial as ameaças da segurança alimentar da população mundial, notadamente com os cenários projetados das mudanças climáticas.
A Revista Science, edição de 26 de março de 2010, apresentou matéria de grande relevância demonstrando que a taxa de crescimento dos rendimentos de grãos caiu pela metade entre 1961-1990 e 1990-2007.
Um pesquisador do USDA publicou artigo contestando a Revista. Tentou provar que a inclusão de fatores relacionados à gestão/organização alteram essa avaliação. Mas não contestou os resultados dos ‘fatores input’ da produção agrícola. Enfim, o fato é que, com o domínio dos transgênicos que prometiam outra revolução verde, e com montanhas de produtos químicos, a produtividade agrícola é decrescente.
Considerando a agricultura americana, que é a origem do padrão de modernização produtivista, observa-se a trajetória declinante, de longo prazo, dos níveis de produtividade do trabalho.
Aprodutividade da terra também apresenta tendência declinante de longo prazo, e a do capital levemente positiva, ainda que apresentando taxas médias negativas de 1981 a 2000. Isto mostra que a produtividade geral dos fatores (input) é declinante na agricultura.
A Tabela abaixo mostra a evolução da produtividade dos fatores de produção na agricultura americana, desde 1948 a 2009, pelas taxas médias de crescimento nos períodos considerados.

Conclusões/ Recomendações

-a análise anterior sugere que a centralidade atribuída ao agronegócio nos rumos da economia brasileira não representa uma boa aposta para o desenvolvimento do país.
-a dependência externa da base primária da agricultura brasileira a setores oligopsônicos globais ameaça a soberania do país na produção e comércio de alimentos, e impõe riscos substanciais para a segurança alimentar da população brasileira.8
-neste momento de comemoração dos dez anos de governo do PT, onde indiscutivelmente há muito a comemorar especialmente no que tange aos efeitos das políticas de transferência de renda, cumpriria repensar as políticas agrárias e agrícolas à luz dos maiores interesses nacionais.
-as recomendações para reflexão, não esgotam o tema e estão ancoradas em possibilidades de algumas mudanças que julgamos viáveis nas circustâncias políticas atuais.
-cumpre reformas profundas nas prioridades de pesquisa e no modelo de gestão da Embrapa com vistas a dotar o país de maior independência na genética e em outros insumos essenciais para a atividade agropecuária; de preparar o país para um modelo agrícola, competitivo, mas fundado na diversidade genética e em tecnologias poupadoras de recursos naturais. Programa de desenvolvimento e multiplicação de sementes crioulas, já existe, mas, nas franjas das prioridades da empresa. Há a necessidade de programa de pesquisa específico voltado para os alimentos essenciais da dieta alimentar nas condições de produção dos agricultores familiares camponeses.
-deve ser abortada a proposta de abertura de capital da EMBRAPA que consta de PL do Senador petista Dulcídio, do MS e que tem o apoio massivo dos ruralistas e de muita gente do governo;
-a exemplo do ponto anterior cumpre ação do governo para evitar a qualquer custo que prospere as propostas de Lei (uma delas, do nosso Deputado Cândido Vacarezza- PL nº 5.575/2009), que liberam a tecnologia genética de restrição de uso – TERMINATOR;
-seria o caso mesmo da desvinculação da EMBRAPA do MAPA, pois, essa condição facilita o controle das grandes corporações sobre a empresa. O ideal, sem prejuízo da natureza jurídica da Embrapa, seria o vínculo com a SAE/PR, a exemplo do IPEA.
-a integração de camponeses a setores capitalistas oligopsônicos, como o setor energético (biocombustíveis, no caso), constitui medida de consequências potencialmente desastrosas nos planos político, social e econômico. No início, na busca da garantia da oferta de matérias primas, as grandes empresas oferecem preços atrativos e condições vantajosas de fomento, o que provoca ‘efeito manada’ nos camponeses que findam substituindo a produção de alimentos por esses produtos. nas primeiras dificuldades no setor, os camponeses são atirados no abismo e sequer têm alimentos; crise social inevitável. Assim, não deveria ser incentivada a integração da agricultura familiar a esses setores.
-os dados e fatos mostram que deve ser revista a geração Pronaf & Cia que deve ser interpretada como justa e oportuna política de inclusão de parcela dos camponeses às políticas públicas e de inserção ao mercado. Há a necessidade, agora, de uma nova geração de políticas para a agricultura familiar voltada, depois da inclusão, para a diferenciação. A geração PRONAF induziu a modernização conservadora da agricultura familiar (o conservadora deve-se, em especial, à matriz tecnológica que é a mesma da agricultura empresarial). A aptidão congênita da agricultura de herança camponesa é a produção de alimentos, o que tem sido afetada pelo PRONAF.
-numa estratégia de múltiplos objetivos estratégicos o governo deveria, sob o forte discurso da garantia da segurança alimentar, investir pesado num programa de autossuficiência de alimentos tendo a agricultura familiar como a principal protagonista. E, também, de envolvimento desse segmento num programa de modernização da economia extrativa de produtos de alto valor comercial, e daqueles essenciais para a preservação de tradições/dietas e estilos de vida para comunidades tradicionais.
-dentro desse programa de autossuficiência de alimentos caberia um projeto ambicioso de produção de milho; produto de importância singular por sustentar a cadeia de algumas carnes, e constituir produto ou matéria prima de alimentos básicos.
-vale destacar a importância da inclusão da autossuficiência do trigo. Diferente das visões construídas no Brasil com o neoliberalismo, que levou ao nível absurdo de dependência do país em um produto tão estratégico como o trigo, na Europa cria-se barreira para o açúcar de cana, pois mantêm o açúcar da beterraba que não tem a menor condição de competir com a cana. Os EUA jamais produziriam álcool do milho, pois é incomparavelmente inferior em todos os planos ao etanol da cana. Mas, de forma alguma abrem mão, pois consideram estratégico.
-a viabilidade do programa de autossuficiência de alimentos dependeria, exclusivamente, do manejo de ações institucionais como no caso da pesquisa antes comentado, da ater, e dos instrumentos de política agrícola para a produção, industrialização e comercialização. Contudo, são requeridos FORTES E TRANSPARENTES SUBSÍDIOS para garantir rentabilidade e capacidade de pagamento para a atividade de produção de alimentos pela agricultura familiar. Ademais de plenamente justificáveis as subvenções pela relevância política do programa, sai mais barato para o Tesouro subsidiar de verdade e garantir rentabilidade e capacidade de pagamento do que continuar a rotina de prorrogações, remissões e repactuações de dívidas dos agricultores familiares. Além do mais, o que o Brasil vem gastando com importações de alimentos, justificaria a adoção de uma política de crédito efetivamente subsidiada.
-há necessidade, também, do aprofundamento dos mercados institucionais, o que seria fundamental para a viabilização do programa. Uma política de garantia de preços e de industrialização dos produtos completaria o arcabouço de políticas para o programa.
-associadamente, além da manutenção adequada de uma política de estoques reguladores de alimentos, é essencial a formação de estoques estratégicos para garantir a regularidade do abastecimento alimentar nas situações de graves insuficiências da oferta interna, em escala nacional ou local, por força de fatores de qualquer natureza, e o suporte de programas sociais, em especial, das políticas públicas voltadas para a segurança alimentar e nutricional da população brasileira. Os volumes dos estoques estratégicos seriam excedentes aos dos estoques reguladores em níveis não inferiores ao equivalente a 4/12 dos consumos anuais aparentes dos produtos. Para o caso do trigo, seria de 5/12.
PLANOS SAFRA?
-A Lei Agrícola Nacional (lei nº 8.171, de 1991) foi sábia quando definiu o conteúdo estratégico para o planejamento agrícola, o que jamais foi observado, daí restando a proliferação e acúmulo de anomalias econômicas, sociais e ambientais na expansão da atividade. Não é à toa o contencioso e imbróglios gerados com o código florestal. É fruto desse processo. Assim, a lei determina instrumentos de curto, médio e longo prazos para orientar a atividade agrícola no Brasil. Entretanto, nos restringimos aos planos safra que muito mais expressam disputa entre patronais e familiares, preponderantemente, por mais e mais recursos para o crédito.
-Nenhum plano safra se preocupa, por exemplo, com a produção e abastecimento de hortigranjeiros que repercutem profundamente no processo inflacionário. Já tivemos um sistema de informação de mercados agrícolas e CEASAs que ajudavam na regulação desse mercado
-Portanto, há a necessidade de uma nova concepção para esses planos eminentemente produtivistas, de curto prazo, de modo a considerar o universo da atividade agrícola e dos seus nexos/entornos econômicos e socioambientais. Além disso, deve haver a interação temporal dos instrumentos.
-AQUISIÇÃO DE TERRAS POR ESTRANGEIROS – é mais que inadiável uma nova legislação a respeito por razões tão profundas e diversas que não desenvolverei aqui pela obviedade e para não alongar o texto. Em setembro de 2012 foi publicada a IN Conjunta nº 01/2012 - MAPA/MDA/MTUR/MDIC/INCRA, orientando, com base na lei ultrapassada, os procedimentos para a compra de terras por estrangeiros. Na verdade, foi um artifício para a homologação das terras compradas por empresas nacionais controladas por estrangeiros em desacordo com os Pareceres da AGU. ocorre que, além de não imporem nenhuma condicionalidade para o cadastramento dessas aquisições no sistema do INCRA (sequer o cumprimento da função social), ampliaram o período de homologação que deveria de 1998 a 2010. Consideraram as aquisições desde 1994 com base em um Parecer da AGU que não foi publicado no DOU; portanto, sem validade.
-segundo o projeto TerraClass (MCT&I-INPE)/ EMBRAPA, 62% da área desflorestada na Amazônia está associada às pastagens. A produtividade média nessas áreas, não passa de 1,5 cabeça/hectare. Ou seja, temos aí, uma prova concreta de que não se justificariam mudanças no Código Florestal em cima do discurso da inelasticidade da área disponível para o avanço do agronegócio na região. São 447.5 mil km2 de áreas já desflorestadas na Amazônia que se apresentam precariamente exploradas com pastagens. O aproveitamento racional dessa área permitiria um salto fantástico na produção de alimentos no Brasil.
-No mínimo, impõe-se a regulação da atividade do agronegócio para, entre outros objetivos, resgatar o poder do Estado na definição da ocupação produtiva do território e reduzir o poder das companhias internacionais. Inclusive, sem essa iniciativa daqui a pouco teremos problemas ainda maiores na área ambiental, inclusive no plano internacional o que será ruim para os nossos compromissos em clima e para o comércio de produtos pecuários e florestais.

Agrotóxico faz abelhas desaparecerem e comprometem biodiversidade

28 de fevereiro de 2013

Por Najar Tubino
Da Carta Maior


O nome científico é Desordem do Colapso das Colônias, traduzido do inglês. Um fenômeno que ganhou relevância nos Estados Unidos, particularmente, na Califórnia em 2006, quando milhões de colmeias desapareceram. O cálculo do sumiço em 27 estados era de 1,4 milhão de colmeias para um total de 2,5 milhões. As abelhas não morrem, elas somem. Não deixam rastro. É como no navio fantasma Maria Celeste, cuja tripulação sumiu em 1872, daí chegaram a apelidar o evento de “Maria Celeste”.

O problema aumentou quando o sumiço atingiu vários países da Europa, incluindo, Alemanha, França, Espanha, Portugal, Suíça, entre outros. Começaram a levantar as causas do problema. Das antenas de celulares, ao estresse de percorrer milhares de quilômetros transportando abelhas dentro de caminhões acompanhando as safras de várias culturas. Das 250 mil espécies de plantas com flores, 90% são polinizadas por animais, na maioria insetos, e na sua maioria abelhas – cálculo de 40 mil espécies no mundo, três mil no Brasil.

A polinização das plantas é obrigatória para a reprodução, enfim, garante a continuidade da espécie, a variedade genética e, principalmente, a produtividade. É o caso da maioria das culturas comerciais, como soja, milho, a maioria das frutas. Enfim, calculando em dinheiro o valor atinge US$200 bilhões no mundo inteiro, US$40 bilhões nos Estados Unidos. Em janeiro desse ano, as autoridades sanitárias da Europa (EFSA), controla a segurança dos alimentos, determinou que fossem submetidos a exames detalhados três inseticidas, da classe dos neonicotinoides (origem da nicotina), fabricados pela Bayer – clotidianidina e imidacloprida – e tiametoxan, da Syngenta.

Inseticidas suspeitos
A EFSA argumenta que os inseticidas por meio de resíduos na terra, no néctar e pólen são alto e grave risco para as abelhas na forma pelo qual são aplicados em cereais, algodão, canola, milho e girassol, entre outras plantas. O órgão regulador determinou a avaliação de risco muito mais abrangente para o caso das abelhas e introduziu um nível mais alto de atenção na interpretação dos estudos de campo, ressaltando que não tem dados para concluir que os inseticidas contribuem para o colapso das colônias. Mesmo assim países como Itália, França, Alemanha e Eslovênia proibiram o suspenderam o uso dos venenos.

A Syngenta divulgou uma declaração de que “esse relatório não é digno da EFSA e seus cientistas”. Já a Bayer, que fatura 800 milhões de euros com os neonicotinoides, informou que os produtos químicos não causam danos as abelhas se usados da maneira pela qual foram aprovados na Europa. Existem 18 casos relatados na literatura mundial de mortandade de abelhas, segundo os pesquisadores Maria Cecília de Lima e Sá de Alencar Rocha, em um amplo estudo publicado no ano passado pelo IBAMA, chamado “Efeitos dos Agrotóxicos sobre abelhas silvestres no Brasil”.

“O que diferencia essa ocorrência é que as chamadas escoteiras ou exploradoras não estão retornando às colmeias, mas deixando para trás a ninhada (abelhas jovens), a rainha e talvez um pequeno grupo de adultos, provocando o enfraquecimento da colônia. Além disso, não são encontradas abelhas mortas dentro do ninho, nem ao redor das colmeias”, registra o trabalho dos pesquisadores.

Mais interessante é que as colmeias não são saqueadas por outros insetos, como formigas ou besouros. Também é importante ressaltar que as abelhas, que existem há 60 milhões de anos, formam um sistema mutualista com os vegetais , seguramente, é um dos sistemas mais importantes de suporte da vida no planeta. O físico Albert Einstein deu uma declaração há muitos anos, dizia o seguinte:

“No dia em que as abelhas desaparecerem do globo, o homem não terá mais do que quatro anos de vida”.

Um estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard realizado em Wocester Country, Massachussets, com 20 colmeias, usando aplicação dos inseticidas citados, determinou que a partir da 23ª semana, 15 de 16 colmeias tinham desparecido. Usaram uma dosagem do inseticida menor do que a encontrada no ambiente. O Programa de Meio Ambiente da ONU (PNUMA) apresentou um relatório sobre o caso e 2011, também faz referência ao uso indiscriminado de agrotóxicos no mundo.

Circula com a seiva
Claro, o desmatamento também é outra causa. Nos últimos anos, mais de 100 milhões de hectares de floresta foram perdidos no mundo, se contar outros usos das terras, a agricultura avançou em quase 500 milhões de hectares. Dos 13,066 bilhões de hectares ela ocupa 38,3%. Mas também está mais do que evidente que o consumo de agrotóxicos aumentou muito mais do que a área expandida da agricultura.

Os neonicotinoides são considerados uma classe de inseticidas que agride menos o meio ambiente, comparado com os organofosforados, piretroides e carbamatos. Mas a função dele é matar insetos. Todos eles. Além disso, tem ação sistêmica, ou seja, ele se espalha pela planta e atinge a seiva e passa a percorrer todo o organismo. Outro ponto: os agricultores fazem tratamento das sementes com os inseticidas. Isso significa que, ao germinar, a planta já traz o veneno na seiva, contaminando o pólen e o néctar, alimento das abelhas e das suas crias.

No Brasil não existe avaliação sobre colapso ou contaminação de colmeias. Existem muitos casos registrados em vários estados, como o Piauí, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas e São Paulo. Todos ligados a produção de colmeias localizadas nas cercanias de áreas agrícolas, como soja, cana ou milho. O presidente da Federação Internacional de Apicultura, Gilles Ratia, diz que no Brasil em função do uso indiscriminado de agrotóxicos a perda das colônias atinge 5 a 6%, das cerca de dois milhões de colmeias consideradas, um número em torno de 350 mil apicultores. Esta é uma atividade da agricultura familiar no Brasil, e o grande crescimento ocorre no nordeste, onde a atividade cresceu 290% nos últimos anos. O Piauí é o segundo produtor nacional de mel, com quase cinco mil toneladas, atrás do RS, que produz quase oito mil toneladas. Os dados são do SEBRAE, de 2009.

Perde o rumo

Entretanto, nos países desenvolvidos a taxa de mortandade por contaminação de agrotóxicos alcança 40%, segundo Gilles Ratia.

A abelha “apis mellifera” é a espécie mais usada na polinização, principalmente das culturas comerciais. É um inseto social, que trabalha coletivamente e de forma organizada. É capaz de voar quase três quilômetros em volta da colônia. Ela avisa suas companheiras sobre o local onde está a fonte de alimentação, através de uma dança circular, e também por contato olfativo. Qualquer interferência nesse processo, ela perde a referência, não informa suas companheiras e, como está acontecendo agora, não memoriza o local da colmeia. Perde o rumo.

É conhecido internacionalmente o poder de fogo dos venenos usados nas plantações comerciais. O objetivo deles é atingir o sistema nervoso dos insetos. Por um motivo simples: eles foram fabricados para matar humanos, e o ponto central, era atingir o sistema nervoso. O sujeito contaminado entra em convulsão e morre rápido. O veneno penetra no espaço entre as células e acelera o processo, devido à transmissão contínua e descontrolada dos impulsos nervosos. O sistema nervoso central entra em colapso.

O Brasil que é o campeão no uso de agrotóxicos com mais de um milhão de toneladas de consumo, sem contar o que entra contrabandeado. Até a aprovação da lei que regulamenta o uso desses venenos em 1989, as indústrias registravam os produtos com uma facilidade enorme, inclusive muitos já proibidos nos países de origem das mesmas empresas, como Estados Unidos e Alemanha. Aliás, ainda durante a ditadura, quando ocorreu a ocupação do Centro-Oeste e parte da Amazônia existia um Plano Nacional de Defensivos Agrícolas. O agricultor que procurava crédito rural destinava 20% na compra de insumos técnicos, como fertilizantes, venenos e sementes industriais.

Flores em Nova Friburgo
Agora, há quase três anos a ANVISA tenta reavaliar 14 princípios ativos desses agrotóxicos. Conseguiu banir um (tricloform), e outro já proibido em vários países – metamidofós -, está para ser banido. Mas o SINDAG, que representa as maiores indústrias recorreu na justiça, e nove ainda estão impedidos de ser reavaliados. Incluindo o glifosato, que foi aprovado como um agrotóxico classe IV, de baixa toxicidade.

Para completar o caso do sumiço das abelhas, vou citar alguns dados do trabalho de mestrado em saúde pública da pesquisadora da Fiocruz, do Rio de Janeiro, Marina Favrin Gasparini, sobre trabalho rural e riscos socioambientais, na região de Nova Friburgo, onde aconteceu a tragédia conhecida, com o desmoronamento de parte da serra. Ela morou na região e fez a pesquisa, entrevistando muitos produtores, todos pequenos, propriedades em média de 1 a 12 hectares, após o acidente. A região serrana do Rio de Janeiro é o segundo maior polo produtor de flores do país, atrás de Holambra, em São Paulo. Também é um dos maiores na produção de hortigranjeiros, como tomate e couve-flor.

Tem um dos maiores índices de aplicação de agrotóxicos por área e por trabalhador, é cinco vezes maior que a média do Sudeste e 18 vezes a média do estado- 56,5kg por trabalhador rural/ano. Segundo levantamento da empresa de pesquisa agropecuária do Rio – PESAGRO -, dos 32 agrotóxicos mais usados, 17 sofrem restrições em outros países, oito já foram proibidos. “Elevados índices de contaminação ambiental e humana foram encontrados nessa região, como decorrência do uso intensivo destes agentes químicos”, registra a pesquisadora.

Rosa fluminense envenenada
Começando pelo deslizamento, dos 657 pontos vistoriados na região serrana pelo Ministério do Meio Ambiente, 92% já tinham sofrido algum tipo de alteração, somente 8% mantinham mata nativa original. A produção de flores iniciou em Nova Friburgo na década de 1950, por descendentes de suíços e alemães que ocuparam a região desde 1819. Mas ganhou forma depois dos anos 1970, quando a Holanda, maior produtor mundial de flores – 85% da Europa -, começou a implantar polos nos países latinos. Casualmente, logo depois que o livro de Rachel Carson sobre os efeitos dos venenos no ambiente e para a saúde humana foi publicado. A Holanda, se considerarmos o uso de agrotóxicos per capita e por área, é a campeã no uso.

As flores mais produzidas são de clima temperado – rosa, crisântemo e palma. Mas outras 30 variedades são produzidas. Também mudas de rosa. Com toda a beleza, a cultura da rosa é a que mais aplicações recebe. No mínimo, uma por semana, no verão, quando os insetos e fungos atacam mais, de duas a três aplicações por semana. Trata-se de uma produção familiar onde todos os membros da família estão expostos. Os produtores, em função do envolvimento intensivo na produção e comercialização, compram os produtos dos representantes da indústria ou das casas comerciais da cidade. Ganham em troca análise de solo baratinho, ou de graça.

Não reconhecem o risco de usar os agrotóxicos. Vários dos entrevistados sentiram problemas de contaminação, mas não chegam a registrar o caso. Procuram atendimento médico em último caso. É assim em todo lugar. A indústria além de fabricar o veneno, ainda joga no usuário o problema da contaminação. É sempre ele o culpado. Nova Friburgo é cortada por três rios e está integrada em duas zonas de conservação permanente- Macaé de Cima e o Parque Estadual Três Picos.

Pegando esse gancho, vou sugerir aos sambistas da Vila Isabel, que receberam R$3,5 milhões da BASF, para produzir o samba enredo campeão do carnaval carioca de 2013, que se inspirem em outro tema para 2014. Quem sabe: “a rosa fluminense envenenada”. A BASF comemorou como ninguém o campeonato do carnaval. O patrocínio “faz parte de uma estratégia maior da companhia em ações de valorização do produtor rural, conseguimos levar nossa mensagem a uma audiência enorme”, como declarou ao site da empresa, o vice-presidente da Unidade de Proteção de Cultivos, Maurício Russomano, como eles chamam a unidade que vende inseticidas, fungicidas e herbicidas, e faturou em 2011, 4,1 bilhões de euros. Ela é líder mundial na venda de “defensivos agrícolas”, como eles chamam os venenos.

Renda de R$ 2,5 mil por mês seria isenta de IR se governos atualizassem tabela




A Receita Federal começa a receber amanhã (1º de março) as declarações de Imposto de Renda Pessoa Física. Pelas regras atuais, estão isentos todos aqueles que ganharam até R$ 19.645 no ano passado, o que dá R$ 1.637 por mês, sem 13º salário.
Mas o limite de isenção poderia ser de R$ 29.472 anuais (R$ 2.456 mensais) se os governantes tivessem simplesmente corrigido a tabela do IR de acordo com a inflação desde 1995, como indicam dados da Receita Federal e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, compilados pelo blog Achados Econômicos.
Em 1995, ficaram isentos os que ganharam até R$ 8.803,40. A inflação acumulada até 2011, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, o indicador oficial), foi de 235%, mas a correção da tabela ficou em 123%. A defasagem acumulada, que é quanto o limite de isenção atual deveria subir para ficar de acordo com a inflação, é de 50%.
O ideal seria que a inflação de um determinado ano pudesse ser compensada já na tabela do ano-base seguinte. Por isso, considerei a alta de preços acumulada até 2011 (não até 2012) para calcular qual deveria ser o valor atual de isenção.
Veja abaixo como é a tabela do IR hoje e como ela poderia ser se houvesse correção de acordo com a inflação.

TABELA ATUAL

Faixas de renda anual (R$)Alíquotas (%)
Até 19.645,320
De 19.645,33 a 29.442,007,5
De 29.442,01 a 39.256,5615
De 39.256,57 até 49.051,8022,5
Acima de 49.051,8027,5
  • Fonte: Receita Federal


TABELA DO ANO-BASE DE 1995, CORRIGIDA PELO IPCA

Faixas de renda anual (R$)Alíquotas (%)
Até 29.472,050
De 29.472,06 a 57.469,3915
De 57.469,40 a 530.484,1726,6
Acima de 530.484,1735
  • Fonte: Receita Federal e IBGE. Elaboração: Achados Econômicos

Não corrigir adequadamente a tabela do IR é uma forma que os sucessivos governos encontraram para aumentar o imposto sem fazer barulho. Para arrecadar mais, basta não fazer nada.
“Isso resulta em maior tributação, principalmente dos rendimentos do trabalho assalariado”, afirma Luiz Antonio Benedito, diretor do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco) e autor de estudos sobre o IR.
Atualmente, a tabela é corrigida pela meta de inflação, hoje de 4,5% ao ano. Sempre que os preços sobem mais que isso – como ocorre desde 2010 – a defasagem aumenta, e mais pessoas deixam de ser isentas.
É verdade que, quando a inflação fica abaixo de 4,5%, o contribuinte ganha, como aconteceu em 2009. No entanto, casos desse tipo são raros.
O quadro abaixo mostra o limite de isenção ano a ano, desde 1995. Apresenta, ainda, a inflação em cada ano-base e a correção feita no ano seguinte. Em 1995, por exemplo, a inflação foi de 22,4%. O governo então corrigiu a tabela em 22,7% em 1996, de forma que ela não ficou defasada. No entanto, nos cinco anos posteriores não houve correção, acumulando uma defasagem de 35% somente naquele quinquênio.

LIMITES DE ISENÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA

Ano-base/exercícioInflação* (%)Correção no ano seguinte** (%)Defasagem (%)
199522,422,7-0,2
19969,60,09,6
19975,20,05,2
19981,70,01,7
19998,90,08,9
20006,00,06,0
20017,717,6-8,4
200212,50,012,5
20039,30,09,3
20047,610,0-2,2
20055,77,3-1,5
20063,15,1-1,9
20074,54,50,0
20085,94,51,3
20094,34,5-0,2
20105,94,51,3
20116,54,51,9
20125,84,51,3
  • * Índice de Preços ao Consumidor Amplo
  • ** Correção feita no ano seguinte ao da respectiva inflação
  • Fonte: Receita Federal e IBGE. Elaboração: Achados Econômicos

Separando o período de cada presidente, vemos que nos dois primeiros anos da gestão Dilma Rousseff a defasagem acumulada está em 3,22% (considerando o reajuste de 4,5% previsto em lei para o ano que vem). Durante os oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva, foi de 5,81%; nos de Fernando Henrique Cardoso, 39,12%.
Na média por presidente, a tabela do IR tem se defasado ao ritmo de 1,6% ao ano com Dilma, após ter perdido 0,7% anualmente com Lula e 4,2% com FHC.
O Ministério da Fazenda, por meio de sua assessoria de imprensa, disse ao blog que a correção da tabela é uma política de governo explicitada pela lei número 12.469, de 2011, que determina o ajuste de acordo com as metas de inflação. Os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula, procurados pelo blog, preferiram não comentar.
Mudanças
Os sucessivos governos desde 1995 fizeram diversas mudanças nas alíquotas, ora beneficiando ora prejudicando os contribuintes.
No ano-base de 1995, por exemplo, a faixa de renda acima de R$ 158 mil por ano (cerca de R$ 560 mil, em valores corrigidos) pagava 35% de IR. No ano seguinte, essa alíquota foi eliminada, de modo que quem tinha essa renda passou a pagar 25%, igual aos que ganhavam R$ 21,6 mil (R$ 62,5 mil, em valores de hoje).
Também em 1996, o IR deixou de ter três alíquotas e passou a ter apenas duas (15% e 25%). Dois anos depois, a mais alta subiu para 27,5%.
A tabela ficou com essas duas alíquotas até o ano-base de 2009, quando passou a ter quatro: 7,5%, 15%, 22,5% e 27,5%, modelo que foi preservado até hoje.

RUMO A 2014

PSB reage e ameaça deixar o governo

Em resposta ao que considera "ingerência" do PT em assuntos internos e tentativa de acuar Eduardo Campos, partido avalia aprovar resolução pela saída do ministério de Dilma

Publicado em 28/02/2013, às 05h22

Débora Duque

Eduardo estaria incomodado com o

Eduardo estaria incomodado com o "cerco" que Lula e Dilma estariam arquitetando

Cemílson Campos/JC Imagem

O governador Eduardo Campos (PSB) estuda reagir ao que considera ser um cerco do PT nacional ao seu projeto presidencial. As provocações públicas dirigidas pelo ex-ministro Ciro Gomes (PSB), seu adversário dentro do partido, somadas às visitas que o ex-presidente Lula (PT) e presidente Dilma Rousseff (PT) farão ao Ceará, Estado governado por Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro, estão sendo encaradas como uma tentativa aberta de intimidação para que Eduardo declare, desde já, se é candidato ou não em 2014. Como resposta, não está descartada uma medida extrema por parte do PSB: a entrega imediata dos cargos que o partido possui nos ministérios.
Socialistas entendem que Lula quer tirar Eduardo da “zona de conforto” e forçá-lo a tomar uma posição antecipada, seja pelo apoio à reeleição de Dilma, seja pelo lançamento de sua candidatura à Presidência. A movimentação silenciosa dos petistas para tirar o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB), da legenda também é encarada como mais um elemento dessa ofensiva contra o PSB.
Com o entendimento de que a campanha eleitoral foi deflagrada, Eduardo está de olho nas próximas movimentações do PT e pode induzir seu partido, do qual é presidente nacional, a aprovar uma resolução favorável ao desembarque do governo federal. Caso o ministro Fernando Bezerra Coelho e o secretário nacional dos Portos, Leônidas Cristino, não sigam a possível orientação partidária, ambos só permaneceriam nos cargos como cota pessoal da presidente. Leônidas foi indicado pelo PSB do Ceará, comandado pelos irmãos Gomes.
Leia mais na edição desta quinta-feira do Jornal do Commercio.

Fim do 14º e 15º salários de parlamentares é "pequeno passo", mas redime "falha imperdoável do sistema", diz filósofo
Comentários 16

Camila Neuman
Do UOL, em São Paulo
  • Sergio Lima/Folhapress
    Congresso Nacional ficou vazio após o feriado de Carnaval; a votação do fim dos salários foi a primeira do ano na Câmara, desconsiderando votação de medidas provisórias Congresso Nacional ficou vazio após o feriado de Carnaval; a votação do fim dos salários foi a primeira do ano na Câmara, desconsiderando votação de medidas provisórias
O filósofo Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), avalia como "um pequeno passo para redimir uma falha imperdoável no sistema parlamentar brasileiro" a aprovação da extinção do 14º e 15º salários dos parlamentares pela Câmara nesta quarta-feira (27) em Brasília.

Câmara aprova fim do pagamento de 14º e 15º salários a parlamentares. Qual sua opinião?

Resultado parcial
"O que nossos políticos fazem, sobretudo no Brasil? Usam recursos públicos como se fossem deles. Então ao abrirem mão dessa parcela do dinheiro púbico que não lhes pertence, dão um pequeno passo no sentido de redimir uma falha imperdoável do sistema parlamentar brasileiro", disse Romano.
Atualmente, os parlamentares (deputados e senadores) recebem 15 salários, cada um de R$ 26,7 mil, por ano. Os dois pagamentos a mais são feitos em fevereiro e em dezembro de cada ano, a título de ajuda de custo. O depósito de fevereiro de 2013 já foi feito.

Leia mais

Segundo o filósofo, os salários extra significavam gestos de "tirania" dos parlamentares por usarem "indevidamente o dinheiro público que não lhes pertence".
"Eu acho que se esses pagamentos forem suspensos é um pouco mais de respeito que os parlamentares mostram diante do dinheiro do povo. Mostram que [a suspensão] atenua um pouco a tirania que os move. A definição mais importante de tirania vem de Platão e Aristóteles e foi assumida no começo da Modernidade. Nessa formulação diz que o tirano é aquele que usa os bens dos governados como se fossem seus", afirma.


Congresso analisará royalties e Orçamento na próxima terça-feira

Edgard Matsuki
Do UOL, em Brasília
Um dia depois de o STF decidir que o Congresso pode analisar os vetos presidencias na ordem em que desejar, o presidente do Senado Renan Calheiros (PDMB-AL) e o presidente da Câmara Henrique Alves (PMDB-RN) se reuniram para decidir as datas possíveis para a votação da proposta orçamentária do governo para 2013 e a análise aos vetos presidenciais em relação à divisão dos royalties do petróleo entre os Estados.
Ficou definido que o Congresso vai analisar royalties e o Orçamento na próxima terça-feira (5).De acordo com o Alves, primeiro será votado os vetos aos royalties e, em seguida, o Orçamento.
"Foi uma decisão consensual entre Câmara e Senado. Caso atrase a votação dos royalties, o Orçamento fica para quarta", disse. Por ser uma votação polêmica, há grandes chances de a discussão dos royalties não terminar na terça.
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Protestos criticam mudança nos royalties do petróleo89 fotos

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27.fev.2013 - Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Fux e Cármen Lúcia, durante sessão desta quarta-feira (27) que analisa liminar que obrigaria o Legislativo a votar, em ordem cronológica, 3.210 vetos presidenciais sem apreciação, acumulados desde 2000 Gervásio Baptista/STF/Divulgação
Os mais de 3.000 vetos presidenciais que estão trancados na pauta do Congresso há 13 anos não têm data para ser votados.
Renan Calheiros afirmou que o Congresso tentará simplificar as análises, mas há casos que não há como votar automaticamente. "1.478 vetos podem se considerados prejudiciais e vão precisar de mais discussão. Mas vamos discutir como deixar o processo mais rápido", afirmou.
No final do ano passado, a Câmara chegou a propor a votação de todos esses vetos em apenas um dia. Entre as discussões da lista estão o fator previdenciário, o novo Código Florestal e a emenda 29 (que garante recursos para a saúde).
Além da data das votações do orçamento e royalties, Calheiros e Alves também fecharam a criação de uma página do Congresso Nacional na internet e a informatização processos entre Câmara e Senado.

Entenda o caso

No final do ano passado, o Congresso aprovou que a divisão dos royalties do petróleo entre os Estados seria feita para Estados produtores (que têm poços de petróleo) e não-produtores. A proposta acabou vetada pela presidenta Dilma Rousseff. 
 
A decisão causou uma mobilização no Congresso para que o veto fosse derrubado e a votação dos royalties acabou sendo marcada com urgência. Porém, o ministro do STF Luiz Fux entrou com uma liminar que impedia o adiantamento da votação sob a alegação de que os vetos presidenciais teriam que ser analisados de forma cronológica. 
 
A Câmara chegou a organizar a votação dos 3.060 vetos para apenas um dia, mas Fux novamente entrou com uma liminar no STF para impedir a votação. Com isso, o Congresso chegou ao entendimento de que a proposta do Orçamento do governo para 2013 também não poderia ser votada fora da ordem cronológica dos vetos. 
 
As datas para votação do Orçamento e royalties só foram definidas após o STF decidir que a Câmara e o Senado podem escolher a ordem de votação dos vetos da forma que for mais conveniente para os deputados e senadores. 
 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

BONO DIZ QUE POBREZA EXTREMA ACABA EM 2028 E CITA BRASIL COMO EXEMPLO

Bono diz que pobreza extrema acaba em 2028 e cita Brasil como exemplo
FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL A LONG BEACH, CALIFÓRNIA

Bono, líder da banda U2, deixou de lado a persona astro do rock para falar sobre pobreza extrema, que, segundo ele, deve chegar ao fim nos próximos 15 anos. Para o músico, Brasil, Gana e Tanzânia lideram a corrida pela solução do problema.
Educador indiano ganha prêmio do TED de US$ 1 milhão
"Hoje quero apenas cantar os fatos. [O índice mundial de] pobreza extrema foi reduzido pela metade. E, se continuarmos nesta tendência, será zero em 2028", disse Bono para a plateia do TED, um evento em Long Beach que reúne especialistas de tecnologia, entretenimento e design para palestras de cerca de 15 minutos.
"E 2028 está quase aí, só mais umas três turnês de despedida dos Rolling Stones."
Segundo Bono e sua organização One.org, o número de pessoas nessa situação (ou seja, com até R$ 2,50 por dia) foi de 43% em 1990 para 21% em 2010. O índice de mortalidade de crianças de até cinco anos também diminuiu bastante (menos 7.256 crianças morrem por dia).
Win McNamee- 27. nov.11/Getty Images/AFP
O vocalista do U2, Bono, que elogiou o Brasil em palestra do TED, evento de tecnologia realizado nos EUA
O vocalista do U2, Bono, que elogiou o Brasil em palestra do TED, evento de tecnologia realizado nos EUA

"Não é algo Poliana, sem noção de um roqueiro. É real", ele continuou nos bastidores, ao conversar com jornalistas. "Mas o índice ainda é alto, há muito trabalho a ser feito. A pobreza não vai acabar."
O aumento da transparência financeira de governos e queda no preço dos remédios de Aids são fatores que ajudaram no combate, além do acesso à tecnologia. Corrupção continua sendo a principal trava, mas a "vacina é a transparência", falou Bono.
O cantor foi premiado em 2005 com um TED Prise, prêmio de R$ 200 mil que o ajudou a fundar a organização One para combate à pobreza.
Ele citou o Brasil como exemplo e elogiou o ex-presidente Lula e sua "protegè" Dilma.
Ao ser questionado sobre corrupção no Brasil, o presidente do One, Michael Elliott, afirmou: "Vamos chegar mais rápido ao índice zero se lutarmos contra corrupção, mesmo em países que estão indo bem", disse.
EMBATE DE ECONOMISTAS
Apesar do otimismo de Bono, outro destaque do dia foi a palestra um tanto pessimista do economista Robert J. Gordon, que há anos defende o fim do crescimento econômico e criativo dos EUA.
Ele disse que os últimos avanços tecnológicos são insignificantes perto das invenções do começo do século 20.
Chris Anderson, organizador do TED, chegou a criticar Gordon dizendo que lhe faltava imaginação e chamou ao palco o economista e especialista em tecnologia Erik Brynjolfsson, que defendeu "o auge" da inovação atual, apesar de gerar renda menor.
Citou como exemplo a indústria musical, que diminuiu de tamanho, mas que nunca antes se produziu e ouviu tanta música.
"Que mundo é este no qual podemos ouvir um monte de música de graça, mas ninguém tem empregos", perguntou Gordon. Ele terminou perguntando à plateia quem preferia viver sem internet e eletrônicos, mas com sistema de encanamento, ou vice-versa. A maioria levantou a mão para a primeira opção.