sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Governo resgata 41 indígenas do trabalho escravo no RS


O confinamento em pequenas parcelas de terra é uma das principais razões para a precária situação dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul e na região Sul do país. Sem alternativas, tornam-se alvos fáceis para os aliciadores. Desde cedo.
Cerca de 98% das terras indígenas brasileiras estão na região da Amazônia Legal. Elas reúnem metade desses povos. A outra metade está concentrada nos 2% restantes do país. Sem demérito para a justa luta dos indígenas do Norte, o maior problema se encontra no Centro-Sul, mais especificamente com os guaranis no Mato Grosso do Sul – que concentra a segunda maior população indígena do país, só perdendo para o Amazonas. Há anos, eles aguardam a demarcação de mais de 600 mil hectares de terras, além de algumas dezenas de milhares de hectares que estão prontos para homologação ou emperrados por conta de ações na Justiça Federal por parte de fazendeiros.
Ao longo dos anos, os indígenas do Centro-Sul foram sendo empurrados para pequenas reservas, enquanto fazendeiros, muitos dos quais ocupantes irregulares de terras, esparramaram-se confortavelmente. Incapazes de garantir qualidade de vida, o confinamento em favelas-reservas acaba por fomentar altos índices de desnutrição infantil, além de forçar a oferta de mão de obra barata. Pois, sem alternativas, tornam-se alvos fáceis para os aliciadores e muitos acabaram como escravos em usinas e fazendas nos últimos anos. E isso quando esse “território” não se resume a barracas de lona montadas no acostamento de alguma rodovia com uma excelente vista para a terra que, por direito, seria deles.
Vale a leitura da matéria de Verena Glass, da Repórter Brasil, sobre o flagra de 41 indígenas em situação análoga à de escravos no Rio Grande do Sul:
Uma força-tarefa do Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Publico do Trabalho e Funai libertaram 41 indígenas kaingang – entre os quais 11 tinham menos de 18 anos – que trabalhavam em condições análogas à escravidão em Itaimbezinho, distrito do Município de Bom Jesus (RS). Os indígenas foram encontrados durante uma fiscalização de rotina na atividade de raleio de maçãs em uma área arrendada pelo empresário Germano Neukamp.
De acordo com o procurador do trabalho Ricardo Garcia, os trabalhadores foram aliciados por um funcionário do empresário. Nenhum indígena tinha carteira assinada, os contratos de trabalho eram apenas verbais e por tempo indeterminado e o pagamento – também acordado verbalmente – de R$ 40,00/dia não havia sido efetuado regularmente, apesar de vários indígenas estarem trabalhando desde setembro. “Quando chovia e os indígenas não podiam trabalhar e não recebiam”, relata o procurador. O empregador também não forneceu as ferramentas de trabalho ou quaisquer equipamentos de proteção individual.
Famílias com crianças em condições precárias – Já as condições precárias de alojamento e alimentação chocaram os membros da força-tarefa. Segundo a auditora fiscal Inez Rospide, coordenadora da Fiscalização Rural no Rio Grande do Sul, que coordenou a libertação, os alojamentos estavam em péssimas condições, havia apenas dois banheiros para os 41 trabalhadores, as famílias  (inclusive crianças) se apertavam em espaço insuficiente, a fiação elétrica estava solta, o frio entrava pelas frestas, a água era armazenada em garrafas pet e havia comida estragada pelos cantos.
De acordo com Ricardo Garcia, do MPT, o alojamento já havia sido interditado em outra fiscalização em 2009 e, de lá para cá, só se deteriorou. “Pode até ser que os indígenas vivem com menos conforto nas aldeias, mas aquilo era insuportável até para um trabalhador mais rústico”, afirma o procurador.
Dos 11 indígenas adolescentes libertados, cinco tinham entre 14 a 16 anos, e outros seis, de 16 a 17 anos. “Uma garota de 17 anos estava grávida. O pai da criança, de 15, também trabalhava no local”, relata a auditora fiscal Inez Rospide.
Coordenador da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), Rildo Kaingang explica que a presença de adolescentes nas frentes de trabalho é um fator que exige especial atenção dos empregadores, uma vez que a total ausência de políticas públicas para as aldeias Kaingang tem forçado cada vez mais indígenas a buscar fontes de renda em atividades nos frigoríficos e nas safras de frutas, como maçã e uva, na região nordeste do Rio Grande do Sul.
“Para os kaingang, um adolescente de 13 anos já está entrando na fase adulta, e os jovens acabam seguindo o caminho indicado a eles pelos adultos. Como nas aldeias a situação é muito precária (são quase favelas rurais, sem habitação decente nem qualquer apoio a atividades produtivas por parte do governo), os indígenas – e também os adolescentes – são empurrados a buscar alternativas fora. É obrigação do empregador zelar pelo cumprimento da lei e não contratar estes jovens, que ficam expostos a condições impróprias, como áreas com perigo de contaminação por agrotóxicos, e outros problemas”, explica o dirigente da Arpinsul.
Após a libertação dos indígenas, foram lavrados 17 autos de infração contra o empregador Germano Neukamp, entre eles, a falta de sinalização das áreas tratadas com agrotóxicos, e pagos 50% dos direitos recisórios (que totalizam R$ 54.646,32). O restante será quitado no dia 23 de dezembro. As vítimas foram reconduzidas à aldeia na terra indígena Monte Caseros e o MTE emitiu as carteiras profissionais de todos os trabalhadores que ainda não as tinham, com anotação do início e fim dos contratos de trabalho, para todos os fins, inclusive previdenciários.
Procurado pela reportagem, até a conclusão da matéria o empresário Germano Neukamp não retornou o telefonema nem respondeu e-mail com solicitação de entrevista

RECUPERAÇÃO VAI CONTINUAR NO QUARTO TRIMESTRE, DIZ MANTEGA

Recuperação vai continuar no quarto trimestre, diz Mantega

Do UOL, em São Paulo
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta sexta-feira (30) que o país está em trajetória de recuperação da economia, apesar de o governo esperar mais, e que essa recuperação será mais forte no quarto trimestre.
Comentando o crescimento no terceiro trimestre, Mantega disse a jornalistas que a surpresa foi o desempenho do setor de serviços.
Mais cedo, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a economia brasileira cresceu 0,6% no terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior.
O resultado veio abaixo do esperado pelo governo e pelo mercado. Pesquisa realizada pela agência de notícias Reuters com 42 economistas indicava crescimento de 1,2% em relação ao segundo trimestre. No início da semana, o ministro disse que ficaria "satisfeito com qualquer número de 1% a 1,3%".


Mantega avaliou ainda que as últimas medidas adotadas pelo governo para impulsionar o crescimento, como a série de reduções na taxa básica de juros, que durou mais de um ano e foi interrompida apenas neste mês, demandam mais tempo para fazer efeito.
Outro ponto de atenção nas declarações de Mantega foi o investimento, que, segundo o ministro, demora mais para reagir.
Apesar de fraca, a expansão trimestral registrada entre julho e setembro foi a melhor desde o primeiro trimestre de 2011 (0,7%) e mostrou uma modesta melhora sobre o desempenho do segundo trimestre.
O IBGE também revisou para baixo os dados do segundo trimestre: de 0,4% para 0,2%. Sobre o desempenho de 2011 todo, o IBGE manteve o crescimento de 2,7%.

Pão, carro e novela entram na conta do PIB; clique na imagem abaixo e entenda

  • Raphael Salimena/UOL

Previsão de crescimento cai de 4,5% para 2% em um mês

No ano passado, a economia cresceu 2,7%. Para este ano, a previsão inicial era crescer 4,5%. Porém, os efeitos da crise global foram pesando, e a estimativa foi ficando menos otimista: caiu para 3% em agosto, e para 2% em setembro.
A previsão é ainda mais negativa do ponto de vista do Banco Central, que falou em crescimento de 1,6% em seu relatório de setembro. O mercado financeira espera apenas 1,5%, segundo o último Boletim Focus.

País tem tomado medidas para tentar estimular a economia

Nos últimos meses, o governo tem adotado isenções fiscais e outras medidas para tentar estimular a economia brasileira em meio à crise global. 

Mesa debate desafios, conquistas e próximos passos da Articulação no Semiárido Brasileiro - Agência Adital - 23.11.12

Rogéria Araújo
Jornalista da Adital
Adital


Com o tema "É no Semiárido que a vida pulsa – É no semiárido que o povo resiste!”, o VIII EnconASA debateu ontem (22) a trajetória da Articulação no Semiárido Brasileiro. A conclusão que chegou a mesa – formada por Neilda Pereira (ASA-PE), Naidison Baptista (ASA-BA), Sílvio Porto (Conab) e as mais de 500 pessoas presentes – é que no total desses 12 anos foram significativos os avanços conseguidos pela Articulação.O evento acontece em Januária, Minas Gerais.

A insistência nos projetos de implantação das cisternas de plástico do programa P1MC foi um dos pontos positivos apresentados por Naidison Baptista. Desde quando iniciou, até hoje são 1 milhão e 250 mil pessoas que estão recebendo água para beber em suas casas. "Isso não é pouco. Embora falte muito ainda, isso é um avanço e mostra o quanto a ASA foi decisiva, o quanto temos força”, falou o coordenador da Articulação.
A mobilização e adesão de agricultores/a e organizações ligadas à ASA também foi mencionado. Hoje 1.000 municípios do semiárido estão integrados à articulação.

Num panorama geral as ações da ASA, segundo o coordenador, deram mais visibilidade aos povos da região que antes eram vistos como preconceito ou então colocados na mais pura exclusão, sendo esquecidos pelos poderes públicos. "Hoje as pessoas, em suas comunidades, são protagonistas de suas próprias histórias, são responsáveis pelas mudanças de suas realidades. Todos os agricultores produzem conhecimento”, disse.
Um marco importante foi quando os/as agricultores/as foram às ruas e se manifestaram contra a iniciativa do governo de implantar cisternas de plástico. Isso mostrou força política. "Entendemos que aceitar as cisternas de plástico seria a mesma coisa que adotar a velha ideia de ‘combate à seca’. Isso para nós já é passado. Não poderíamos retroceder”, ponderou.

Como metas para o futuro, Naidison colocou que a questão da terra ainda é primordial, por isso não se abrirá mão do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), mas que este terá que ser voltado para atender as necessidades da população semiárida.

Também como próximos passos futuros, se colocou a criação de um grande programa de sementes nativas. A assistência técnica também será outro ponto a ser levado como reivindicação.

"A verdade é que, com tudo isso, mesmo com todas as dificuldades que ainda existem, a ASA conseguiu jogar no país uma nova visão do semiárido, que não é mais um lugar de morte, dos incapazes. Há uma nova leitura do semiárido”, disse.

MEDINDO RESULTADOS

MEDINDO RESULTADOS
A lógica básica é simples: quando um grande produtor de soja expulsa agricultores para as periferias urbanas da região, podemos eventualmente dizer que aumentou a produção de grãos por hectare, a produtividade da empresa rural. O empresário dirá que enriqueceu o município. No entanto, se calcularmos os custos gerados para a sociedade com as favelas criadas e com a poluição das águas, por exemplo, ou o próprio desconforto de famílias expulsas das suas terras, além do desemprego, a conta é diferente. Ao calcular o aumento de produção de soja, mas descontando os custos indiretos gerados para a sociedade, o balanço sistêmico será mais completo, e tecnicamente correto. Ou seja, temos de evoluir para uma contabilidade que explicite o resultado em termos de qualidade de vida, de progresso social real. (Ladislau Dawbor)

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

GRUPO AJUDOU EX-SENADOR A LIBERAR PROJETO DE R$ 2 BILHÕES

Grupo ajudou ex-senador a liberar projeto de R$ 2 bilhões
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MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DE SÃO PAULO

No cargo de advogado-geral-adjunto da União, José Weber Holanda ajudou o ex-senador Gilberto Miranda na aprovação do projeto de um complexo portuário de R$ 2 bilhões na ilha de Bagres, uma área de proteção permanente ao lado do porto de Santos.
A obra, que ocuparia 1,2 milhão de m² --área similar a do parque Ibirapuera--, dependia de autorização do Ibama, da Secretaria de Portos e da Secretaria de Patrimônio da União. Todos aprovaram.
Pivô de escândalo suspeitava que estava grampeado
Rosemary usou e-mail oficial para pedir dinheiro a grupo investigado
Weber atuava com Paulo Rodrigues Vieira, preso na última sexta pela Operação Porto Seguro da Polícia Federal sob acusação de comandar um grupo que fazia tráfico de influência em órgãos federais.
O empreendimento na ilha de Bagres, cuja construção começaria em 2013, é o maior negócio flagrado na operação.
Weber era o braço direito do ministro Luís Inácio Adams na AGU (Advocacia Geral da União), órgão que defende os interesses do governo. Indiciado pela PF, ele foi afastado do cargo.
A procuradora que atua no processo, Suzana Fairbanks, escreveu que uma das conversas telefônicas entre Vieira e Weber, em 30 de abril deste ano, sugere o pagamento de propina a Weber.
Vieira diz: "Eu trouxe aquele volume resumido. Tem o volume resumido que eu mandei comprar pra você e preciso te entregar".
Para a procuradora, "Paulo [Vieira] provavelmente estava pagando Weber por seu auxílio, enquanto adjunto da AGU, no parecer que fundamentaria a licença de construção e exploração, a titulo privativo, de terminal no porto de Santos".
De acordo com a PF, "livros", "exemplares" e "volume" são expressões cifradas para designar dinheiro.
O projeto foi aprovado pelo Ibama em um ano, tempo considerado inusual, segundo especialistas. Licenciamentos desse tipo costumam demorar de dois a três anos. A procuradoria do Ibama é vinculada à AGU.
Em outro telefonema, Vieira diz que foi ele quem escreveu parecer sobre o projeto: "Foi até eu que deu aquela redação, daquele jeito ali".
A PF diz no inquérito ter indícios de que os pareceres oficiais chegavam prontos para os órgãos do governo. Um dos indícios disso aparece numa conversa de 7 de maio entre Gilberto Miranda e Vieira.
Miranda pergunta se Glauco [Moreira, procurador-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários] atenderia pedido do grupo.
"Ele dá sequência?", quer saber Miranda. Vieira responde: "Dá! Principalmente se levar pronto. Principalmente se levar mel na chupeta".
Uma assessora da Secretaria do Patrimônio da União, Evangelina Pinho, chegou a viajar num jato de Miranda para tratar do projeto na ilha.
As gravações mostram que Miranda festeja quando o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), assina um decreto em que reconhece a "relevância econômica e social da obra".
A empresa do projeto, a SPE (São Paulo Empreendimentos Portuários), foi criada em 2009. O principal acionista chama-se Baron CV, uma empresa registrada na Holanda com capital de R$ 25 milhões. A PF suspeita que Miranda, ex-senador pelo PMDB-AM, ligado ao senador José Sarney (PMDB-AP), seja um dos sócios.
Editoria de Arte/Folhapress

OUTRO LADO
Os advogados de Paulo Vieira e Gilberto Miranda não foram localizados para comentar as suspeitas da Polícia Federal. A SPE, empresa que criou o projeto, não quis se pronunciar.
A reportagem deixou recados no celular de José Weber Alves, que era o número dois da AGU (Advocacia-Geral da União), mas ele não ligou de volta. A Folha tentou falar com Weber em sua casa, mas o telefone não era atendido.
A reportagem não conseguiu localizar Evangelina Pinho, que era assessora da SPU (Secretaria do Patrimônio da União). O Ministério do Planejamento, ao qual a SPU é subordinada, diz que "coopera" com a investigação" e abriu apuração.
A Secretaria Especial de Portos diz em nota que respondeu à consulta da Antaq, formulada em fevereiro de 2010. "Essa tramitação segue o que estabelece a legislação vigente", afirma.
O Ibama não comentou o caso. A AGU não havia respondido até o início da noite.
O governo de São Paulo afirmou e encaminhou parecer jurídico em que é negado um pedido do grupo.
"A declaração de utilidade pública a que se refere a conversa nunca foi objeto de decreto do governador."

DOCUMENTO SINTESE DA OFICINA DIREITOS E AUTO-ORGANIZAÇÃO DAS MULHERES

Documento Síntese da Oficina Direitos e Auto–organização das Mulheres
 
A construção de um projeto alternativo de desenvolvimento sustentável e de convivência com o semiárido passa pelo reconhecimento da situação de opressão e subordinação em que vivem as mulheres.
 
A ação transformadora dessa realidade pressupõe a perspectiva de gênero como estruturante, a incorporação da luta pelos direitos das mulheres e sua afirmação como sujeitos políticos. 
 
Quando problematizamos a realidade vivida pelos povos do semiárido, não podemos ficar indiferentes às situações de violência institucional, física e psicológica que se impõem sobre as mulheres, tendo, como pano de fundo, a divisão sexual do trabalho. O atual modelo de desenvolvimento predatório e insustentável, que expulsa as mulheres de seus territórios, também se apropria do seu corpo e de suas vidas como parte da implementação desses "projetos da morte".
 
Daí a necessidade de retomar e fortalecer a auto-organização das mulheres, com vistas a contribuir com o projeto político da Articulação noSemiárido (ASA) a partir de uma perspectiva feminista de transformação da sociedade e de superação das desigualdades entre homens e mulheres.
 
Ao longo da trajetória da ASA, as mulheres têm apontado a necessidade de ter um olhar crítico sobre a desigualdade de gênero no semiárido.
 
Um marco nesse processo foi o VI EncoASA (Crato, 2006), quando foi lançada a Carta das Mulheres que constatou a importância da auto-organização como forma e espaço de reflexão coletiva.
 
Nesse sentido, no contexto do VIII ECONASA, em  Januária - Minas Gerais, a  oficina temática Direito e Auto –organização das Mulheres, a partir da apresentação de experiências e reconhecendo a atualidade e pertinência dessa construção coletiva das mulheres dentro da articulação, trouxe importantes reflexões e propostas que apontam para a necessidade de:
 
- Problematizar a divisão sexual do trabalho para compreensão da base material das desigualdades de gênero;
 
- Ampliação da discussão sobre os sentidos do trabalho, problematizando a relação entre trabalho produtivo e reprodutivo;
 
- Análise da contribuição dos programas e ações da ASA para a transformação das relações desiguais de gênero;
 
- Reconhecimento da família como espaço onde os conflitos e relações de poder entre homens e mulheres se expressam.
 
- Visibilização e valorização do trabalho das mulheres em todas as suas dimensões.
 
- Reconhecimento da luta pelo fim da violência contra as mulheres como um elemento fundante da proposta de convivência com o semiárido.
 
- Visibilização das ações nas áreas organizativa, produtiva e de comercialização das mulheres no semiárido.
 
- Assessoria Técnica que valorize o conhecimento das mulheres, fortaleça seu protagonismo e vise a sua autonomia.
 
- Uma comunicação que reflita e problematize a realidade das mulheres na convivência com o semiárido.
 
- Retomar e consolidar o GT de Mulheres, aliado ao fortalecimento da auto-organização das mulheres nos estados, como mais um desafio para a ASA.



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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Mística de encerramento anuncia o Rio Grande do Norte como sede do IX EnconASA

Uma mistura de alegria, culturas, ritmos e sonhos fez parte da mística de encerramento do VIII Encontro Nacional da ASA – Enconasa, nesta sexta-feira (23), no Sesc Laces da cidade de Januária, em Minas Gerais. Uma grande mandala, formada por pétalas representando os dez estados do Semiárido brasileiro – Nordeste e Minas Gerais (Norte e Vale do Jequitinhonha) – foi erguida por participantes do encontro realizado pela Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), que teve início na última segunda-feira (19).

A plenária com cerca de 700 pessoas recebeu com aplausos o momento da mística. Cada um dos agricultores e agricultoras e povos tradicionais do Semiárido puderam tocar a mandala, que desfilou pelo corredor principal da plenária. Passando de mão em mão, a flor do Semiárido foi contagiada pela energia do povo aguerrido. E numa grande roda, ao som de músicas tradicionais de Minas, os participantes dançaram e cantaram com emoção.

Após a mística, Helen Santa Rosa, comunicadora da ASA Minas, anunciou o próximo estado que sediará o IX Enconasa. No ano de 2014, será a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, que receberá as delegações da ASA para o encontro. Os cidadãos e cidadãs norteriograndenses, que lutam para impedir que as grandes empresas da fruticultura tomem conta da Chapada do Apodi, comemoraram a notícia com entusiasmo, entoando: “lutar e resistir pela Chapada do Apodi”.

Agricultor fala sobre comercialização de artesanato

Seu Orlando, agricultor familiar que mora no município de Boa Nova (BA), conversou com a comunicadora Vanessa Fonseca sobre o artesanato com o reaproveitamento da umburana.


Anexos:
Fazer download deste arquivo (Conversa com Agricultor sobre Comercialização.mp3)Artesanato[Entrevista]6609 Kb

Presidência afasta três do Ministério dos Transportes após operação Porto Seguro
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Do UOL, em Brasília*
O inventariante da extinta Rede Ferroviária Federal S.A., José Francisco da Silva Cruz, o ouvidor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Jailson Santos Soares, e o chefe de gabinete da Antaq, Enio Soares Dias, foram afastados de seus cargos hoje (27) em decorrência da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal.
O afastamento de Jaílson foi publicado no Diário Oficial da União, nos despachos da presidente da República, e a exoneração de José Francisco foi assinada pela ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, juntamente com a de Glauco Alves Cardoso Moreira, procurador-geral da Antaq. Já Ênio foi demitido pela própria agência.
A Operação Porto Seguro investiga um esquema de favorecimento de interesses privados em processos públicos. A Agência Nacional de Águas (ANA), a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Advocacia-Geral da União (AGU), a Secretaria do Patrimônio da União (SPU), o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério da Educação (MEC) estão entre os órgãos envolvidos na operação.
Veja a lista dos servidores já exonerados após a Operação Porto Seguro:
Mirelle Nóvoa Noronha Oshiro: filha da ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, foi exonerada do cargo comissionado de assessora técnica na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Rosemary Nóvoa de Noronha: exonerada do cargo de chefe do gabinete regional da Presidência da República em São Paulo.

Análise

Nova "faxina" de servidores envolvidos em corrupção pode aumentar popularidade de Dilma, dizem cientistas políticos
José Weber Holanda Alvez: exonerado do cargo de adjunto do advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, e cargo de membro suplente do Conselho Deliberativo da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (Funpresp).
Evangelina de Almeida Pinho: exonerada do cargo de assessora da Secretaria do Patrimônio da União, em portaria do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, e foi instaurada uma sindicância para apurar possíveis irregularidades praticadas por servidores da secretaria.
Esmeraldo Malheiros Santos: exonerado do cargo de assessor da Consultoria Jurídica no Ministério da Educação
Paulo Rodrigues Vieira: afastado do cargo de diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Ministério do Meio Ambiente
Rubens Carlos Vieira: afastado do cargo de diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do cargo na Secretaria de Aviação Civil

A investigação

Na sexta-feira (23), a PF prendeu seis pessoas acusadas de participar de organização criminosa que funcionava infiltrada em órgãos federais para favorecer interesses privados na tramitação de processos. As prisões foram efetuadas em São Paulo, Santos e Brasília. Foram presos em Brasília dois servidores públicos e um advogado, além de dois advogados em Santos e um empresário na capital paulista. Ao todo, 18 pessoas foram indiciadas.
A investigação que desbaratou o esquema começou em março de 2011. A PF foi procurada por um servidor do TCU (Tribunal de Contas da União) que disse ter recebido uma proposta para receber R$ 300 mil em troca de elaborar um parecer técnico beneficiando um grupo empresarial do setor portuário.
A testemunha teria se arrependido após receber R$ 100 mil e denunciado o esquema à Polícia Federal. A instituição afirmou que no decorrer da investigação descobriu que a denúncia dele não era um caso isolado. Os membros da quadrilha passaram então a ser identificados e investigados.
A quadrilha cooptava servidores de órgãos públicos para acelerar a tramitação de procedimentos e elaborar pareceres técnicos fraudulentos a fim de beneficiar interesses privados.
Os indiciados responderão pelos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, formação de quadrilha, tráfico de influência, violação de sigilo funcional, falsidade ideológica e falsificação de documento particular, cujas penas podem ir de 2 a 12 anos de prisão.
*Com informações da Agência Brasil

Vontade de conviver: agricultor José Nobre cria seu próprio sistema de abastecimento de água - Agência Adital | 23.11.12

Rogéria Araújo
Jornalista da Adital
Adital


Em meio ao VIII Encontro Nacional da Articulação no Semiárido Brasileiro – EnconASA, uma experiência chamou a atenção de muita gente que participou da oficina temática da água ou mesmo que transitou pelos espaços do evento. José Nobre, um agricultor de 68 anos, apresentou seu próprio sistema de abastecimento de água da chuva, inventou sua própria cisterna. Nem de placas, nem de plástico. "Eu sabia que tinha que inventar isso. E dá muito certo, viu?”, falou. O evento acontece até hoje (23), em Januária, Minas Gerais.

Ele conta que já tinha uma cisterna de placas em sua casa, mas inquieto que é, viu que podia ir mais além e criar seu próprio sistema de abastecimento. E lá foi. Com a maquete, devidamente testada e aprovada, Seu José, morador da comunidade de Pedra Grande, no município de Nossa Senhora da Glória, em Pernambuco, conta com toda paciência e orgulho como funciona seu projeto chamado de "Terreiro Aéreo de Captador de Água.

A tecnologia popular é construída com uma estrutura de madeira, lonas fortes e canos grossos. A água da chuva cai na lona, da lona – que funcionam como bolsões de água, desce pelos tubos e dos tubos para um tanque ou tonel E aí está.

Utilizando a estrutura há um ano para irrigação de sua produção de hortaliças, José Nobre conta que nunca teve nenhum problema com o terreiro aéreo. "Não tem como dá problema. A minha cisterna de placa rachou e essa daqui é só eu trocar a lona se acontecer alguma coisa. Eu estimo que posso usar ela por dez anos, dependendo da qualidade da lona”, afirmou.

A dele comporta até 52 mil litros de água. Mas é possível fazer a estrutura do tamanho que quiser, dependendo do tamanho da propriedade. "É muito fácil, de baixo custo e funciona”, complementou.
Num entendimento maior, para José Nobre, sua invenção só comprova que o Nordeste tem solução, que a vontade de viver no semiárido é maior do que qualquer adversidade.

"Os vizinhos acham um pouco estranho, mas todo mundo vê que não é mentira minha, porque eles veem a água caindo, veem que eu utilizo a água. Se alguém quiser é só chegar pra mim que eu ensino com o maior prazer”, falou.

Perguntado sobre como surgiu essa ideia, ele fala que antes de tudo é um apaixonado pela terra e pela água. Foi isso que o motivou a criar suas próprias tecnologias. Sim, seu José não fez somente a irrigação aérea, também fez seu próprio sistema para irrigação das hortas.

"Eu acho que quando a gente nasce recebe uma poeira do lugar que a gente vive. Esse pó entra na alma e não sai mais. Você pode rodar o mundo, mas sabe onde é o seu lugar. É lá onde você pegou aquela poeirinha. Daí vem essa vontade minha de amar a terra e água. Acho que é daí que vem tudo o que faço”, disse emocionado. 

Conversa sobre a apresentação teatral e resistência na Chapada do Apodi

Após apresentação artística no segundo dia do VIII Enconasa, a comunicadora Paula Andreas conversou com o grupo teatral Escarcéu e o com o sociólogo Antônio Bezerra Júnior, da Comissão Pastoral da Terra no Rio Grande do Norte, sobre a necessidade de evitar a continuidade do projeto de perímetros irrigados na Chapada do Apodi (RN).




 
Anexos:
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BELO MONTE: JUSTIÇA JÁ !

Prezado(a) amigo(a) do Xingu e da Amazônia,
Na semana passada, lançamos a campanha "Belo Monte: Justiça Já!" para cobrar do judiciário brasileiro celeridade e imparcialidade na tomada de decisões sobre dezenas de ações do Ministério Público Federal, Defensoria Pública do Estado do Pará, organizações civis e movimentos sociais que hoje se encontram emperradas na Justiça, permitindo que a construção de Belo Monte siga na ilegalidade, violando a legislação ambiental e os direitos das populações do Xingu. 
Em seguimento às atividades da campanha, estamos circulando a carta em anexo endereçada às autoridades do poder judiciário. E solicitamos para este documento a adesão exclusiva de organizações da sociedade civil, movimentos sociais e outras representações coletivas que desejem fortalecer a luta por justiça já! no caso Belo Monte.


O prazo para o recebimento das adesões institucionais a esta carta foi prorrogado e se encerra nesta segunda-feira, dia 26 de novembro de 2012. 
Se a sua organização ainda não aderiu, participe clicando aqui http://bit.ly/X3uJMP ou envie e-mail para   belomontejusticaja@gmail.com. Informe a sigla (se houver) e o nome completo da representação coletiva, juntando as informações de contato (nome da pessoa responsável, telefone, e-mail).
Esclarecemos que na carta constarão apenas os nomes de entidades, movimentos e demais representações coletivas que assinaram o documento.
Nos próximos dias, solicitaremos audiências com o novo Presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa e outras autoridades do judiciário para entrega do documento e apresentação dos problemas identificados, sobretudo, das propostas de encaminhamentos apresentadas na carta. As audiências contarão com a participação de representantes dos povos do Xingu afetados pela obra e da sociedade civil organizada. 
A campanha Belo Monte:Justiça Já! também inclui uma petição on-line, onde cada cidadão e cidadã pode manifestar o seu repúdio à conivência do judiciário com o atual estado de ilegalidades de Belo Monte, cobrando providências urgentes para reverter esta situação. Participe clicando em: http://bit.ly/TzwUmd
Como parte da campanha, teremos o dia internacional de ação direta “Belo Monte: Justiça Já!” previsto para 10 de dezembro - Dia Internacional dos Direitos Humanos, data em que a petição on-line será entregue às autoridades do judiciário brasileiro. Aguardem notícias sobre isso em breve!
Agradecemos sua participação na defesa da Amazônia, do Xingu e dos direitos de suas populações - uma luta de tod@s nós brasileir@s e de todo Planeta.

Obrigada,

Antônia Melo
Movimento Xingu Vivo Para Sempre

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Moção de Repúdio ao Projeto do Perímetro Irrigado da Chapada do Apodi - RN

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança. (Trecho da Carta da Terra).
Nós, participantes do VIII EnconASA, realizado na cidade de Janúaria-MG no período de 19 a 23 de novembro de 2012, viemos manifestar nosso repúdio ao Projeto de irrigação que o Governo Federal, através do DNOCS, deseja implantar na Chapada do Apodi, no Rio Grande do Norte. Amparado pelo Decreto Nº 0-001 de 10 de Junho de 2011, que torna de utilidade pública 13.855,13 hectares para fins de desapropriação, este projeto trará enormes prejuízos aos agricultores e agricultoras familiares ali residentes, pois terão de deixar suas casas e as terras, onde vivem há mais de um século, praticando agricultura baseada na agroecologia, para dar lugar a um grupo de empresas cujo modelo de produção baseia-se na monocultura e no uso intensivo de agrotóxico, que, como sabemos, contamina a água, a terra e o ar, com consequências graves diretas na saúde das pessoas e no meio ambiente.

Sabemos que, na região da Chapada do Apodi, concentram-se as principais experiências de agroecologia e produção de alimentos da Agricultura Familiar Camponesa do Estado do Rio Grande do Norte.  Com a implantação deste projeto, todas essas experiências e modos de vida camponesa irão desaparecer. Por isso, exigimos, do Governo Federal, a REVOGAÇÂO do referido Decreto e a imediata suspensão da instalação do Projeto. A reivindicação dos povos da Chapada é que os recursos, até agora assegurados pelo governo, sejam destinados ao projeto de integração entre a chapada e o vale do Apodi,  garantindo, assim, os direitos territoriais e o fortalecimento dos agricultures e agricultoras familiares campesinos(as), com suas práticas agroecológicas.
Januária-MG, 23 de novembro de 2012.

Malvezzi: Nesta seca, na contradição o Governo está realizando ações já demandadas pelos povos do semiárido - Agência Adital | 23.11.12

Rogéria Araújo
Jornalista da Adital
 Adital

Construção de cisternas e adutoras são demandas antigas, mas que só recentemente foram consideradas pelos governos como solução para a convivência com o semiárido. Nesta seca, considerada uma das piores dos últimos anos, ficou claro que a voz do povo do semiárido precisa ser ouvida o quanto antes.

 Em entrevista a ADITAL, Roberto Malvezzi, o Gogó, falou sobre a quantas andam as políticas hídricas para o semiárido, chamou a atenção para a falta de água também nas cidades urbanas e abordou o comportamento do governo nesse contexto.

Malvezzi participou da oficina sobre água no VIII EnconASA, que terminou hoje (23), em Januária, Minas Gerais.

Adital - Estamos passando por mais um período de seca, considerada uma das mais críticas dos últimos anos. No que se avançou em termos de políticas hídricas?

Roberto Malvezzi - Nessa seca que estamos vivendo no semiárido, nesse período que é considerado um das piores nos últimos 30 40 anos, paradoxalmente ela é ótima porque ela testa aquilo que a gente vem defendendo como politica, inclusive hídrica, de convivência com o semiárido.

Na avaliação que temos é o que fez a diferença de 30 anos atrás com a seca atual. Se você for comparar a infraestrutura para se atravessar um período como este, na verdade a única infraestrutura totalmente inovadora foi a construção dessas 400 mil cisternas de água de captação para beber. Isso já fez uma diferença enorme.

É claro que isto está aliado a algumas políticas de salário mínimo do Governo, com a aposentadoria, tem a questão do próprio Bolsa Família. Dizem, inclusive, que o programa ‘Luz para Todos’ possibilitou mais mecanismos de conviver com a seca do que há alguns anos atrás. O pessoal avalia que até a questão do transporte é mais avançado. Algumas famílias não precisam mais do carro pipa, eles podem pegar seus transportes e buscar água.

Isso pelo menos evitou aquelas coisas mais terríveis dos grandes períodos de seca com grande mortalidade, o genocídio humano. Evitou o grande êxodo. Tem gente saindo, mas não é com a proporção de outras épocas.

Adital – Isso é suficiente? Este cenário poderia ser melhor?

Roberto Malvezzi - A gente dá conta de que não é suficiente. O cenário poderia ser muito melhor. Pelo menos aquela família do meio rural ainda tem uma cisterna, tem água pra beber e uma para produzir. Mas ainda estamos longe. E, agora, prejudicados com essa questão imediatista das cisternas de plásticos.
Adital – Mas houve uma mobilização grande quando se colocou a proposta das cisternas de plásticos. Isso também significa alguma mudança...

Roberto Malvezzi – Sim, é um reflexo de uma nova compreensão das coisas. O Governo tem suas contradições internas e isso foi um retrocesso absurdo. Mas houve reação.

Adital – E em que pontos ainda se precisa avançar?

Roberto Malvezzi - A gente não conseguiu evitar grande perda de parte do rebanho. Mas não tanto quanto há 30, e agora praticamente a perda da safra é quase total. Mas na verdade isso se dá porque se continua plantando o que é inadequado para o semiárido. A questão da safra de milho, safra de feijão...

historicamente já é comprovado que se tira uma em cada 10. O ideal é pegar uma agricultura mais adequada ao semiárido, mas resistente aos períodos de estiagem. Precisávamos estar mais preparados.

A grande novidade desse período é a ameaça do colapso hídrico no meio urbano. Temos várias cidades que estão ameaçadas de secar a fonte de abastecimento, os açudes ou agua subterrânea. É que muitas vezes a água dessas barragens está sendo usada para irrigação. No caso de muitos municípios, como na Bahia, os governos não se preveniram para algo que estava previsto para começar em 2006 e terminar em 2012 ou 2013. Quando se sabia de uma seca prevista, o uso da água deveria ter sido prioritariamente reservado para uso humano. Por isso agora tem municípios que estão em risco de desabastecimento. Mas o que tiramos disso tudo? O que a gente sempre demandou do governo, que são as adutoras para o meio urbano. A gente sempre dizia que a transposição [do Rio São Francisco] não era a obra para resolver os problemas do meio urbano, que as adutoras eram a melhor solução, diagnosticadas pela Agencia Nacional das Águas e catalogadas pelo próprio Atlas do Nordeste. O governo nunca admitiu isso, mas agora pressionado pelo risco de colapso hídrico em grandes cidades, como é o caso de Vitória da Conquista, na Bahia, o governo começou a fazer as adutoras, e faz numa velocidade impressionante.

No fundo, não queremos disputar quem é que tem razão. Mas a política hídrica correta de captação de água de chuva e das adutoras para os meios urbanos que a gente sempre defendeu é aquela que se mostra mais adequada e a fragilidade está justamente onde essas coisas não foram feitas, onde não tem cisterna, não tem adutoras.

Adital – É uma necessidade ou governo está pressionado a acolher essas ideias já pautadas e demandas pelas organizações, pelos povos do semiárido?

Roberto Malvezzi - Acho que na contradição o Governo está tendo de realizar essas ações. Na contradição muitos governos estão tendo que fazer as adutoras, os governos estaduais assumiram a construção de cisternas de placas. Mas temos aí um paradoxo. Temos um Ministério de Integração que quase liquida com o Programa 1 Milhão de Cisternas [P1MC] para fazer cisternas de plástico.

Adital – Diante de todo esse contexto se reafirma a eficácia de abastecimento com a transposição do São Francisco?

Roberto Malvezzi - A transposição do rio São Francisco, que muita gente está dizendo que vai ser a salvação do Nordeste vai se comprovando que é uma obra que não existe do ponto de vista operacional prático e não é ela quem vai botar água nos municípios. Para fazer isso o governo teria que fazer a distribuição da água mais capilar pelas adutoras, como fez em Aracaju, no sertão de Pernambuco, na região de Luiz Gonzaga. Com uma simples adutora é possível abastecer 13 municípios. Estão fazendo agora a adutora de Pajeú, que sai de Floresta e segue paralelo ao São Francisco. Tinham abandonado essa adutora porque iam fazer o eixo leste da transposição. Como não saiu, estão sendo obrigados a construir a adutora que vai até Afogados, de Ingazeiras, que é para transpor e cair no sistema de água de Campina Grande. Se tivessem feito isso, Campina Grande estaria abastecida. Não fizeram e preferiram a grande obra. Então na contradição o Governo está sendo obrigado a responder.

A dúvida que temos é que daqui a pouco volta a chover, a encher os açudes, as cisternas... E aí? Nós vamos continuar criando uma infraestrutura adequada para enfrentar períodos mais agudos ou vamos voltar a deixar isso no esquecimento para que volte a 20 30 anos quando tivermos novamente uma grande seca. Isso vai depender da politica do governo.

Adital – Nesse processo como você vê a participação dos movimentos sociais, das organizações de agricultores e agricultoras?

Roberto Malvezzi - Mudou positivamente. A consciência sobre a captação da água, do cuidado com a água da população que precisa desse tipo de obra melhorou muito. Agora a gente percebe também o contrário nos projetos de irrigação onde há um enorme desperdício de água, ou em certas culturas com a criação de camarão em cativeiro, onde se utilizam 50 mi litros de água para criar um quilo de camarão.

Esses absurdos são patrocinados pelas próprias politicas de desenvolvimento do governo. Acho que o governo não tem coragem de olhar para si mesmo e tentar encarar suas próprias contradições.

Mas regra geral essa seca faz um teste na lógica da convivência com o semiárido nos dando razão. É por aí, na multiplicação dessas pequenas obras e com as adutoras que a gente vai se prevenir para esses futuros mais agudos. Sempre vai ter alguma emergência aonde tem seca. O que não pode acontecer é que no dia a dia seja uma emergência permanente.

Vontade de conviver: agricultor José Nobre cria seu próprio sistema de abastecimento de água - Agência Adital | 23.11.12

Rogéria Araújo
Jornalista da Adital
Adital


Em meio ao VIII Encontro Nacional da Articulação no Semiárido Brasileiro – EnconASA, uma experiência chamou a atenção de muita gente que participou da oficina temática da água ou mesmo que transitou pelos espaços do evento. José Nobre, um agricultor de 68 anos, apresentou seu próprio sistema de abastecimento de água da chuva, inventou sua própria cisterna. Nem de placas, nem de plástico. "Eu sabia que tinha que inventar isso. E dá muito certo, viu?”, falou. O evento acontece até hoje (23), em Januária, Minas Gerais.

Ele conta que já tinha uma cisterna de placas em sua casa, mas inquieto que é, viu que podia ir mais além e criar seu próprio sistema de abastecimento. E lá foi. Com a maquete, devidamente testada e aprovada, Seu José, morador da comunidade de Pedra Grande, no município de Nossa Senhora da Glória, em Pernambuco, conta com toda paciência e orgulho como funciona seu projeto chamado de "Terreiro Aéreo de Captador de Água.

A tecnologia popular é construída com uma estrutura de madeira, lonas fortes e canos grossos. A água da chuva cai na lona, da lona – que funcionam como bolsões de água, desce pelos tubos e dos tubos para um tanque ou tonel E aí está.

Utilizando a estrutura há um ano para irrigação de sua produção de hortaliças, José Nobre conta que nunca teve nenhum problema com o terreiro aéreo. "Não tem como dá problema. A minha cisterna de placa rachou e essa daqui é só eu trocar a lona se acontecer alguma coisa. Eu estimo que posso usar ela por dez anos, dependendo da qualidade da lona”, afirmou.

A dele comporta até 52 mil litros de água. Mas é possível fazer a estrutura do tamanho que quiser, dependendo do tamanho da propriedade. "É muito fácil, de baixo custo e funciona”, complementou.
Num entendimento maior, para José Nobre, sua invenção só comprova que o Nordeste tem solução, que a vontade de viver no semiárido é maior do que qualquer adversidade.

"Os vizinhos acham um pouco estranho, mas todo mundo vê que não é mentira minha, porque eles veem a água caindo, veem que eu utilizo a água. Se alguém quiser é só chegar pra mim que eu ensino com o maior prazer”, falou.

Perguntado sobre como surgiu essa ideia, ele fala que antes de tudo é um apaixonado pela terra e pela água. Foi isso que o motivou a criar suas próprias tecnologias. Sim, seu José não fez somente a irrigação aérea, também fez seu próprio sistema para irrigação das hortas.

"Eu acho que quando a gente nasce recebe uma poeira do lugar que a gente vive. Esse pó entra na alma e não sai mais. Você pode rodar o mundo, mas sabe onde é o seu lugar. É lá onde você pegou aquela poeirinha. Daí vem essa vontade minha de amar a terra e água. Acho que é daí que vem tudo o que faço”, disse emocionado. 

Propostas para o semiárido - Diário do Nordeste | 25.11.12

Maristela Crispim
Estima-se que aproximadamente 600 agricultores e articuladores ligados à ASA tenham participado das discussões Foto: Divulgação
Januária O VIII Encontro Nacional da Articulação no Semiárido Brasileiro (EnconASA) foi encerrado ontem, nesta cidade do Norte de Minas Gerais, com a expectativa de novas propostas e desafios pra a convivência com as adversidades climáticas do Semiárido. Estima-se que aproximadamente 600 agricultores e articuladores ligados à ASA tenham participado das discussões e das trocas de saberes durante o evento.
O presidente da Associação do Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC) e coordenador executivo da ASA pelo Estado da Bahia, Naidison Quintella Baptista falou sobre as conquistas destes 12 anos. "O modelo de trabalho da ASA vem das comunidades e da necessidade delas".
Ele falou, ainda, a respeito da valorização das organizações da sociedade civil e do resgate da cultura dos povos, na perspectiva da produção de conhecimento no Semiárido, sem deixar de lado o devido destaque para a construção pela ASA de tecnologias que são capazes de mudar a realidade da região, como a busca da universalização das cisternas de placa (meta de 1,3 milhão até o fim de 2014) e da ampliação do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) como uma forma de garantir a soberania alimentar dos sertanejos e a geração de renda adicional.
Valquíria Lima, da Coordenação Nacional da ASA, afirmou que o VIII EnconASA trouxe um debate muito forte sobre a convivência com o Semiárido ligado ao projeto de desenvolvimento para a região proposto pela sociedade civil. "Durante todos os momentos - debates, visitas, oficinas, feira -, foram destacados histórias de vida, desafios do modelo de desenvolvimento proposto, ações da ASA, avanços, mas um longo caminho a seguir, como implementar políticas públicas que vão além do acesso à água, além das cisternas, com água para a comunidade, água para emergências e também uma política nacional de sementes que possa garantir a soberania alimentar, assistência técnica de base agroecológica que fortaleça a convivência com o Semiárido", ressaltou.
Ela ainda citou outros debates, como o acesso à terra, com o reconhecimento de populações tradicionais, comunicação popular voltada para a agricultura familiar, como um conjunto de elementos para se pensar neste novo momento da ASA, na perspectiva de quais reforçar.
Governo
Sílvio Porto, titular da Diretoria de Política Agrícola e Informação (Dipai) da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foi um dos representantes do governo no Encontro e destacou que trata-se de um dos movimentos mais ricos do País: "Sua trajetória acumula uma legitimidade inquestionável, dentro e fora do governo. É preciso reconhecer que a rede ASA chega aos lugares mas difíceis com eficiência e uma metodologia que aponta para a convivência com o Semiárido a partir da produção para a soberania alimentar com base agroecológica".
Para ele, o maior desafio é o diálogo com o próprio governo em relação à incorporação dos programas nas políticas públicas. Em sua fala, ele provocou a ASA a aproveitar mais o espaço do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) para pautar as diversas questões a cerca de segurança alimentar, assim como a questão do fomento a bancos de sementes nativas.

A jornalista viajou a Januária a convite da ASA Brasil

Próximo EnconASA será realizado em Mossoró, no Rio Grande do Norte - Agência Adital | 23.11.12

Rogéria Araújo

O VIII Encontro Nacional da Articulação no Semiárido Brasileiro terminou hoje (23). Uma mística, seguido de um debate com órgãos governamentais que cobrou mais incentivo da esfera federal foram as últimas atividades do evento. Ao final, a coordenação nacional anunciou o próximo município que sediará o evento daqui a dois anos. O anúncio de que Mossoró, no Rio Grande do Norte, acolherá o próximo encontro foi recebido com muita festa pelos participantes.

 Procópio Lucena, representante da Articulação no estado do Rio Grande do Norte, disse que é um momento de muita alegria, mas também de muita responsabilidade. "Vamos dar continuidade a tudo o que foi construído até aqui. Vamos continuar expressando toda a luta e resistência dos povos do semiárido”, falou.

Rio Grande do Norte, disse, é um estado de raíz, e levar o EnconASA para lá só vai somar e fortalecer esse nosso processo, que já vem de uma caminhada vitoriosa.

"Desde já, fica a chamada para que todos os homens e mulheres sejam partícipes desse encontro que não é do Rio Grande do Norte e de todos e todas que fazem esse semiárido brasileiro mais feliz, mais lutador, mais resistente e digno”, falou.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

MEIO AMBIENTE

"QUANDO A ÚLTIMA  ÁRVORE TIVER CAÍDO,
QUANDO O ÚLTIMO RIO TIVER SECADO,
QUANDO O ÚLTIMO PEIXE FOR PESCADO,
VOCÊS VÃO ENTENDER QUE DINHEIRO NÃO SE  COME".

GREENPEACE.

Miniplenárias aprofundam o debate sobre lutas e resistência para manter-se na terra

Por Tárzia Medeiros
Na tarde do dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra, os participantes do VIII EnconASA se reuniram em miniplenárias que tiveram como objetivo lançar um olhar sobre as nossas lutas e histórias de resistência, além de refletir sobre as experiências que construimos enquanto rede nesses 12 anos. Outro objetivo desse momento era trazer propostas, a partir da caminhada da ASA, que podem ser potencializadas nos próximos anos.
A maioria das falas deu conta de que a situação de todas as comunidades que lutam e resistem é a mesma. Todas encontram-se ameaçadas por “projetos da morte” que são insustentáveis, predatórios e que querem expulsar camponeses e comunidades tradicionais de suas terras e territórios. O agricultor Edilson, presidente do sindicato rural de Apodi, disse que é preciso unir as lutas de todos os estados e organizar a resistência, pois estão expulsando as e os camponeses em nome do desenvolvimento. E questiona: “Será que o que temos lá hoje não é desenvolvimento? Será que em pouco tempo vamos ser impedidos de trabalhar como agricultores para sermos obrigados a trabalhar como escravos?”

A discussão sobre a necessidade de reforma agrária e do direito de permanecer nos territórios apareceu com bastante ênfase. Segundo Júnior, da CPT do Rio Grande do Norte, estamos vivenciando uma reforma agrária ao contrário, com expulsão de camponeses de suas terras para entregá-las às grandes empresas. Ele ressalta que temos que sair do EnconASA com uma orientação de como nos articular para fazer esse enfrentamento. Como falar em universalização das cisternas, em assistência técnica e em moradia rural se não há reforma agrária e se os territórios não são reconhecidos pelo governo? Para Diassis, do STTR de Açu, não tem sentido o governo falar de Brasil sem miséria se não distribuir riquezas e não fizer reforma agrária.
Ao final, ficou o entendimento de que devemos avançar numa proposta atualizada de convivência com o semiárido, que garanta uma integração de políticas. Carlinhos, de Minas Gerais, disse que “temos que eleger as coisas das quais não abrimos mão e, a partir daí, definir as nossas pautas, definir estratégias para seguir resistindo e avançando. Para isso, é preciso estarmos conscientes de que algumas pautas, como a reforma agrária, precisam ser abraçadas pela ASA e só serão conquistadas com mobilização e luta, a exemplo do que a ASA fez em Petrolina há quase um ano e que garantiu a renovação dos termos de parceria com o governo federal.

EMBEDDEDNESS

As ações econômicas, seus resultados e as instituições são afetadas pelas relações pessoais dos atores e pela estrutura geral das redes de relações. Desta forma, a  confiança, as relações sociais, o controle social(via sanções, normas e valores) e história conjunta entre agentes, por exemplo, formam uma parte importante da explicação do funcionamento da atividade econômica, que é unica para cada caso considerado (GRANOVETTER .1985).