sexta-feira, 10 de novembro de 2023

QUEM SÃO OS INIMIGOS DO MST?

 

Em uma entrevista no programa “Provocações”, João Pedro Stédile ouviu a seguinte pergunta: 


“Quem são os inimigos do MST e quem são os oponentes?”


Pode parecer tudo igual, mas a verdade vai um pouco além. 


E ter noção disso, é o que vai nortear toda a luta do MST e de todas as pessoas que acreditam ainda num país mais justo e igualitário. 


Os nossos oponentes, assim como os do MST são, claramente, políticos que estão apenas servindo a interesses do dinheiro, e se posicionando assim, ferrenhamente contra o povo!

Mas os verdadeiros inimigos, não são esses políticos…


Eles estão apenas servindo. 


Os verdadeiros inimigos são os grandes capitalistas, que criam a indústria do sofrimento e da desigualdade, simplesmente para se manterem no poder. 


Mas, parafraseando Belchior, “enquanto houver forma de dizer não”, toda a luta em que nós possamos nos engajar é válida! 


E a nossa maior arma contra o sistema não será a força física ou mesmo armas de fogo…

Nossa maior arma sempre será o conhecimento! 


E para conhecer, você precisa se libertar dos grilhões que a grande mídia está te empurrando goela abaixo.


Você está diante de uma chance de descobrir uma verdade que raras pessoas conhecem, mas que agora está sendo democratizada pelo ICL. 


Portanto, anote na sua agenda que você tem um compromisso neste domingo, dia 12/11, às 20h (horário de Brasília) e não se esqueça!


Você irá desvendar todas as mentiras que foram contadas sobre o MST, juntamente com aqueles que estão na luta do dia a dia fazendo acontecer um Brasil diferente, no lançamento do primeiro documentário original do ICL “De Quanta Terra Precisa o Homem?”.


Será imperdível e, para garantir sua participação, você deve ativar o lembrete clicando no link abaixo e depois em “Receber notificações”! 


>> CLIQUE AQUI para ativar o lembrete


Nos vemos por lá!


Um abraço,
Equipe Instituto Conhecimento Liberta

A DELICADA POSIÇÃO DO EGITO NO CONFLITO ISRAEL-HAMAS

 

A delicada posição do Egito no conflito Israel-Hamas


Nos protestos pró-palestinos, os egípcios também gritaram slogans contra o atual governo no Cairo
Nos protestos pró-palestinos, os egípcios também gritaram slogans contra o atual governo no Cairo© Fornecido por IstoÉ
Cairo tem que lidar com pressão popular pró-palestinos, apelos para abrir a fronteira com Gaza e temor de que terroristas entrem junto com refugiados.O atual conflito entre Israel e o grupo radical islâmico Hamas em Gaza levou o Egito a uma situação delicada. A nação vizinha é o principal facilitador para a entrada de ajuda humanitária em Gaza, mas também traça uma linha vermelha quando se trata de acolher palestinos deslocados.

"O posicionamento do Cairo é cada vez mais permeado pelo alarmante e crescente número de mortes de civis, à medida que a invasão terrestre [em Gaza] prossegue, bem como pela pressão de Europa e EUA para abertura da passagem da fronteira de Rafah aos palestinos que desejam atravessá-la", disse à DW Michelle Pace, pesquisadora do think tank Chatham House, com sede em Londres, e professora da Universidade Roskilde, na Dinamarca.

O presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, deixou claro que a passagem da fronteira de Rafah – a única para Gaza não controlada por Israel – não se tornará uma entrada para os palestinos vindos de Gaza. "O Egito confirma clara e estritamente que nunca aceitará o deslocamento de qualquer palestino para o território egípcio", disse.

Sisi repetiu essa afirmação de várias maneiras desde a eclosão do conflito, que começou após o brutal ataque terrorista do Hamas contra Israel, em 7 de outubro, que deixou mortos cerca de 1.400 israelenses.

"O Egito recorda muito bem o que aconteceu em 1948, quando após a Nakba [catástrofe em árabe], os palestinos que tinham sido forçados a abandonar suas casas e povoados não foram autorizados a regressar quando a guerra terminou", disse Pace. "O Egito acredita que esse modelo pode se repetir."

"No entanto, os civis em Gaza têm o direito de procurar refúgio e só eles podem decidir como e quando exercer esse direito. O Egito é obrigado a permitir a entrada de civis, se assim o desejarem", afirmou à DW Timothy E. Kaldas, vice-director do Tahrir Institute for Middle East Policy, sediado em Washington.

"Dito isto, os parceiros de Israel devem deixar bem claro que os habitantes de Gaza têm o direito de regressar a Gaza quando as hostilidades terminarem, e os líderes de Israel devem ser avisados de que impedi-los de o fazer constituiria uma limpeza étnica", acrescentou Kaldas.

Potencial ameaça à segurança

"Outro argumento egípcio contra a permissão de entrada de pessoas é que provavelmente seria impossível separar os combatentes palestinos dos refugiados civis", disse Pace. "Se os grupos jihadistas palestinos estabelecerem ligações logísticas, ideológicas e operacionais com [homólogos] baseados no Sinai, o Egito teme que eles possam tentar lançar ataques contra alvos israelenses a partir do território egípcio, convidando Israel à retaliação e perturbando as suas relações com o Egito".

Sisi também expressou esta preocupação durante uma recente entrevista coletiva no Cairo. "O Sinai se tornaria uma base para operações terroristas contra Israel, e nós, no Egito, assumiríamos a responsabilidade por isso. A paz que criamos [em 1979, quando um tratado de paz com Israel foi assinado] escaparia de nossas mãos, tudo no contexto da eliminação da causa palestina", disse.

Kenneth Roth, ex-diretor executivo da Human Rights Watch e agora professor visitante na Universidade de Princeton, nos EUA, diz que Sisi também é "particularmente solidário com as tentativas de Israel de esmagar o Hamas porque ele próprio usou uma violência terrível para esmagar a Irmandade Muçulmana, espécie de primo mais pacífico do Hamas, incluindo o massacre de 817 manifestantes em 2013 na Praça Rabaa, no Cairo".

Repressão aos protestos

Este último mês de conflito também teve impacto na relação entre o governo autoritário egípcio e o povo do país. "As diferenças devido às dificuldades econômicas no país, também devido ao autoritarismo, diminuíram um pouco", segundo Nathan Brown, professor de ciência política e assuntos internacionais na Universidade George Washington e atual membro do Hamburg Institute for Advanced Study (HIAS), na Alemanha. "A atenção concentrou-se, em vez disso, na proteção das fronteiras nacionais", acrescentou.

Essa diminuição do descontentamento popular é favorável a Sisi, que provavelmente será reeleito nas próximas eleições presidenciais do Egito, que são amplamente avaliadas como sendo antidemocráticas.

O financiamento internacional em troca de assistência em Gaza também poderia ajudar a resolver a crise econômica em curso no Egito. A moeda local perdeu mais de metade do seu valor desde março de 2022, e as reservas de moeda estrangeira do Egito estão quase esgotadas. O conflito em Gaza também terá impacto no turismo, um pilar da economia egípcia.

Roth duvida que o conflito mantenha a população egípcia e o seu governo alinhados a longo prazo.

"À medida que a opinião pública passa da simpatia por Israel, após o horrível massacre de civis israelenses para o horror face ao número muito maior de civis palestinos que estão agora sendo mortos sob o bombardeamento israelense, serão inevitavelmente colocadas questões sobre a razão pela qual o governo egípcio continua a parceria com Israel", disse Roth à DW.

O governo egípcio já se prepara para eliminar qualquer dissidência pela raiz. Na semana passada, depois de manifestantes egípcios terem apelado à justiça e à liberdade durante comícios pró-palestinos sancionados pelo governo, as forças de segurança egípcias detiveram cerca de 70 pessoas no Cairo e em Alexandria. De acordo com um relatório recente da Human Rights Watch, 16 manifestantes foram acusados de "juntar-se a um grupo terrorista" e "cometer um ato terrorista".

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

MÃES SÃO ACUSADAS DE SEQUESTRO AO FUGIREM DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO EXTERIOR

 Catarina Bessell/Agência Pública
Agência Pública conversou com mulheres afastadas de seus filhos com base na Convenção de Haia

8 de novembro de 2023
04:00
Por Naiana Andrade
Quase 90% das acusadas são de vítimas de violência, diz ONG
Organizações pedem mudança no texto da Convenção
GÊNERO E DIVERSIDADE JUSTIÇA
direitos humanos Justiça segurança violência doméstica
Raquel Cantarelli espera ouvir a campainha e encontrar do outro lado da porta as duas filhas. As crianças de 4 e 6 anos foram levadas da capital do Rio de Janeiro, há cinco meses, para ficar com o pai, na Irlanda. A brasileira acusa o ex-marido de abusar sexualmente de uma das filhas, à época com dois anos, e de cometer frequentes agressões físicas e psicológicas contra ela, quando moravam juntos no exterior.

“Fui acordada às 6h por policiais federais armados com fuzis para entregar as minhas filhas para o próprio agressor delas”, conta a mãe. Tanto a Justiça europeia quanto a brasileira acusam Raquel de sequestro das próprias filhas, porque ela, conforme relatou, para fugir da violência do ex-companheiro, voltou ao Brasil trazendo as crianças. Um dos artigos da Convenção de Haia, em vigor desde 1980, com adesão de mais de 100 países, define como “sequestro internacional” retirar criança ou adolescente menor de 16 anos do seu país de residência sem autorização de um dos genitores, seja pai ou mãe. Esse argumento jurídico tem sido utilizado, mesmo quando as mulheres são vítimas de violência doméstica.

A Agência Pública conversou com brasileiras que relataram ter sofrido violência doméstica e que foram acusadas de subtração internacional de crianças e adolescentes pelos ex-companheiros. Uma delas pediu para ter sua identidade preservada.

Um abaixo-assinado organizado pela ONG internacional que presta apoio a vítimas de violência doméstica, Revibra, e por outras organizações, como o coletivo Mães de Haia, pede que o texto da Convenção seja revisto para evitar que mães vítimas de violência doméstica sejam penalizadas. O documento, que já tem 37 mil assinaturas, foi entregue ao Secretário-Geral da Conferência de Haia, Christophe Bernasconi, durante a 8ª Reunião da Comissão Especial de Haia, em outubro deste ano.

“O quadro de violência contra a mulher pode afetar também os filhos, ainda que indiretamente. Essa situação se confronta com a falta de uma determinação na Convenção de Haia de se investigar os casos de denúncia de subtração de menores em situações em que há alegação de violência doméstica”, explica Alice Castelani, pesquisadora em Ciência Política pela UFMG e mestra em Segurança Internacional pela Escola Superior de Guerra (ESG). “Para que a Convenção, efetivamente, cumpra seu objetivo fundamental de garantia dos direitos das crianças internacionalmente, é urgente ser empreendido um debate de revisão dos seus termos que considere a realidade global de violência sofrida pelas mulheres e também seus filhos”, afirma.

Separadas dos filhos
Quase 90% das mulheres acusadas de sequestro internacional, que pediram ajuda relacionada à aplicação da Convenção de Haia, deixaram o país com seus filhos fugindo de situações de violência doméstica. O dado é da ONG Revibra Europa. Entre novembro de 2019 e dezembro de 2022, a entidade analisou 278 pedidos de ajuda relacionados à aplicação da Convenção de Haia. No total, 98% dos casos são de pais que acusaram suas companheiras ou ex-companheiras de sequestro internacional.

“Infelizmente, a imensa maioria delas escapa com as crianças para se proteger de lares abusivos onde ocorre a violência doméstica”, afirma Márcia Baratto, cientista política e coordenadora de pesquisa da Revibra.

Raquel Cantarelli diz que suas filhas não falam inglês e estão privadas de qualquer contato com ela desde que deixaram o Brasil. Ela conheceu o pai das meninas em 2015. Quando a primeira filha nasceu, Raquel começou a desconfiar do comportamento do ex-marido, que já tinha hábitos estranhos de intimidade com a filha de cinco anos, fruto de uma relação anterior. “Ele queria trocar fralda da nossa filha de dois anos o tempo todo, por isso passei a impedir, embora ele dissesse que só queria ajudar”, conta.

Tanto a Justiça europeia quanto a brasileira acusam Raquel de sequestro das próprias filhas
Em dezembro de 2018, a brasileira diz que acordou com o grito da filha mais velha, que dormia em outro quarto da casa, seguido de um choro muito forte. “Quando abri a porta me deparei com o genitor dela tampando a boca da minha menina que estava nua no trocador para que não fizesse barulho, talvez para não me acordar. Ele estava apenas de cueca e com ereção”, lembra emocionada.

Ela fez denúncia e conseguiu medida protetiva concedida pela Justiça irlandesa. Com ajuda da ONG Revibra e do Itamaraty, conseguiu novo passaporte fornecido pela Embaixada do Brasil em Dublin. Com isso, ela conseguiu voltar ao Brasil escoltada por policiais. Durante quatro anos, Raquel viveu com as filhas no Rio de Janeiro. Mas, em 14 de junho de 2023, policiais federais foram até sua casa, cumprindo ordem judicial, e levaram as duas crianças. A decisão se baseia no que diz a Convenção de Haia sobre subtração internacional de menores.

“O meu ex-marido entrou com recurso em segunda instância e infelizmente não fui informada e nem intimada a depor e os prazos para recorrer também não foram respeitados”, afirma Raquel. Ela aguarda uma última decisão judicial para trazer as meninas de volta.

Em julho deste ano, a Justiça Federal brasileira determinou o retorno da filha de Renata*, que está com o pai na Europa. Dez anos atrás, ela foi acusada de sequestro internacional da própria filha depois de voltar com a criança para o Brasil para fugir do relacionamento violento com o pai da menina.

A decisão de uma Vara Federal de Curitiba, em 14 de julho deste ano, a qual a Pública teve acesso com exclusividade, determina prazo de 45 dias a partir da decisão para o regresso da menina a solo nacional e a emissão de passaporte atualizado juntamente com permissão para viagem desacompanhada, para quando for permitido o retorno.

Renata aguarda o cumprimento da decisão. Ela conta que, em 2010, conheceu o ex-companheiro na Europa. Em menos de 3 meses, começaram uma intensa relação. O namorado europeu convenceu Renata de que deveriam ter logo um filho, mesmo sem casamento oficial. Quando engravidou, ela diz que ele queria forçá-la a fazer um aborto e teria confiscado seu passaporte.


Organizações pedem mudança no texto da Convenção de Haia
Por se negar a fazer o aborto, a brasileira diz que começou a ser agredida física e psicologicamente pelo ex-namorado. Essas agressões, conforme seu relato, foram se intensificando, com situações de cárcere privado até o fim da gravidez. “Um dia, enquanto amamentava minha filha, ele disse que eu iria deixar o bebê ‘viciado’ em mim e atirou uma lata de leite em pó na minha cabeça”, conta, abalada.

Ela conta que o ex-companheiro chegou a ser preso preventivamente, por 48h, em junho de 2014, por conta das agressões. “Ele entregou meu passaporte e o de minha filha para que eu não prosseguisse contra ele na Justiça. Foi assim que voltei ao Brasil”, conta. Depois de dois anos, entretanto, a Justiça brasileira determinou que a menina, que nessa época tinha três anos, voltasse para a Europa.

“É preciso que esteja escrita na Convenção de Haia que a violência doméstica contraria a premissa de que o melhor para a criança é seu retorno imediato para o país onde ela habitava. Uma frase simples que mudaria vidas”, diz Renata.

Convenção de Haia
Damaris Rodrigues aguarda a decisão final pela guarda da filha, de 7 anos, que hoje vive na Coreia do Sul após ser levada pelo pai da criança. A ida da menina para lá aconteceu, quando a criança tinha 5 anos, sem permissão da mãe, o que vai de encontro à Convenção de Haia, de acordo com a defesa de Damaris .

Ela já havia conseguido uma decisão numa Vara de Família da Comarca de Caucaia, no Ceará, estado brasileiro onde a filha dela nasceu. A decisão foi em favor da guarda da mãe. Mas, o caso também está em tramitação na Coreia. Damaris vendeu um terreno e conseguiu doações para ir até as audiências no exterior. Em setembro deste ano, a Justiça coreana determinou o retorno da criança ao Brasil, mas a criança ainda não foi liberada. “A demora da justiça daqui para agir aqui foi tão grande que fez com que a criança permanecesse quase um ano na Coreia do Sul de forma irregular com o pai, que estava com o passaporte cassado pelo Ministério Público Federal. E mesmo assim ele viajou para o exterior e ainda está com prisão preventiva em aberto”, conta Damaris.

Ela diz que seu relacionamento com o ex-marido foi marcado por violência. “Um dia ele começou a me bater e jogou álcool no meu corpo enquanto eu carregava nossa filha. Sai correndo do apartamento porque o vi riscando um fósforo. Mas, o porteiro falou para que voltasse porque meu companheiro não iria fazer nada comigo. Morrendo de vergonha, voltei. Quando entrei no apartamento, levei uma facada na perna e só vi o sangue escorrendo. Ele ainda tentou me acertar novamente pelas costas, mas por sorte não me feriu”.


Trecho de decisão do MPCE
Damaris conta que o agressor chegou a ser preso, mas foi solto no mesmo dia por pagamento de fiança. “Em 2018, ele entrou com um pedido de guarda e conseguiu ganhar. A alegação foi a alienação parental. Recorri da sentença, mas nessa mesma época fui morar no Sul do Brasil por causa de uma oportunidade de trabalho e não dava para ir ver minha filha no Nordeste aos fins de semana, conforme estipulado pela justiça”, conta.

Damaris conseguiu na Justiça brasileira ter a guarda unilateral da filha. Mas o marido viajou com ela para a Coreia do Sul sem autorização da mãe. Ela acionou a Convenção de Haia para reaver a guarda da menina e aguarda o julgamento final, previsto ainda para este ano. “Ele fez uma chamada de vídeo pedindo um documento da minha filha para que pudesse passar uns dias de férias com ele. Disse que não daria o passaporte e que não autorizava. Ao desligar o telefone, liguei para a babá e falei para que ela não desse a ele o passaporte da minha filha (no documento havia uma permissão para que ambos pudessem viajar com a criança tanto no Brasil quanto no exterior), mas a mulher já havia entregado. Dias depois, ele ligou dizendo que estava com minha filha na Coreia do Sul”.

Procurado pela Interpol
A Justiça brasileira pede que Ahmed Tarek Mohamed Faiz Abdelkalek entre para difusão vermelha da Interpol, uma lista pública de cooperação internacional que facilita a localização de procurados pela Justiça para extradição. Ele é acusado de ter sequestrado o filho, na época com 3 anos, há mais de um ano. Ahmed deixou o Brasil com a criança rumo ao Egito sem o consentimento da mãe brasileira Karin Aranha.

Karin Aranha foi ao Egito para conhecer um homem apresentado por um amigo dela e a primeira impressão foi a melhor possível. Ela conta que namoraram escondido da família dele e quando ela resolveu voltar ao Brasil, ele pediu para vir junto porque no Egito não tinham muitas oportunidades de trabalho. “Ele voltou comigo e, aqui, logo descobri que estava grávida. Foi um susto para ele, que é 16 anos mais novo que eu, uma mulher mais madura e que já tinha um filho de outro casamento”, conta.

No sétimo mês de gravidez, o marido de Karin disse que não queria que o filho fosse brasileiro e sim que nascesse nos Estados Unidos. Ele preparou tudo para que ela ficasse no apartamento de um egípcio e de uma russa, amigos dele que moravam em Nova York. Karin passou pelo parto de alto risco (criança nasceu prematura) sozinha porque o marido tinha ficado no Brasil, aguardando a resposta ao pedido de nacionalidade brasileira.

“Quando meu filho tinha dois meses, nós começamos a discutir e foi a primeira vez que ele me deu um tapa na cara. Foi a primeira agressão. No dia seguinte, ele trazia bombons e dizia que eu quem estava exaltada. Era sempre assim: morde e assopra”, conta.


Trecho do Inquérito Policial
Um tempo depois, segundo Karin, ele deu um chute que deixou marcas intensas nas duas pernas dela. “Na terceira vez, fiz um boletim de ocorrência, que não adiantou nada. Não houve medida protetiva, nem nada”. Por dificuldades financeiras, o casal decidiu que Karin iria trabalhar como faxineira na Inglaterra. “Foi um ano fora do Brasil. Eu falava com meus filhos por videoconferência todos os dias, além de mandar dinheiro de duas a três vezes por semana. Tenho tudo registrado no processo. 

Quando Karin voltou da Inglaterra esperava encontrar o companheiro e o filho no aeroporto para buscá-la. Mas, ninguém apareceu. “Liguei para meu filho mais velho, na época com uns 17 anos, e ele foi até o apartamento e encontrou o imóvel completamente destruído, janelas quebradas, seringas de anabolizantes para todos os lados, muita destruição. O guarda-roupas estava vazio. Não havia nem as roupas do meu namorado, nem do nosso filho pequeno. Os documentos da criança também não estavam lá”, conta. 

Desesperada, ela prestou queixa na delegacia sobre o desaparecimento da criança. “Dias depois recebi uma ligação do pai do meu filho dizendo que ele já estava com o menino no Egito. Aí puxei todas as informações na polícia e descobri que ele já tinha até a cidadania brasileira. Mas, como conseguiu tirar meu filho do país de avião, sem a minha autorização, já que o passaporte do meu filho estava vencido? Foi aí que um policial descobriu que ele saiu do Brasil por terra, pela fronteira com o Paraguai e foi fazendo uma série de percursos até chegar no Egito.” 

Karin conta que embora o filho tenha sido sequestrado, ele não pode ser repatriado para o Brasil aplicando a Convenção de Haia como argumento, uma vez que o Egito não é signatário. Em 1º de dezembro de 2022, ela conseguiu, na justiça em Valinhos, interior de São Paulo, uma decisão que garante a guarda provisória de seu filho. Mas essa decisão ainda não foi cumprida porque o pai está incomunicável e é considerado fugitivo pela Justiça.

A Agência Pública pediu respostas ao Governo Federal, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU) e da ACAF sobre os casos narrados pelas pessoas ouvidas pela reportagem. 

A AGU informou que “a alegação de risco físico ou psíquico ou situação intolerável a que se refere o artigo, 13, 1, b, da Convenção da Haia, passa por possível comprovação durante a ação de busca, apreensão e restituição de menor perante o Poder Judiciário brasileiro, sendo de praxe a avaliação psicossocial do menor, a fim de verificar a presença da exceção. Assim, compete ao Judiciário brasileiro determinar se houve ou não violência doméstica ou outra situação que excepcione o retorno do menor”.

A AGU reconheceu que “a violência doméstica contra a mulher, notadamente no contexto migratório, é algo grave e deve ser combatido”. De acordo com o órgão, no entanto, “para que haja o impedimento ao retorno, é necessário que a violência esteja comprovada, avaliando-se, no caso concreto, se o retorno irá impactar a criança à luz do acervo fático-probatório.”

Sobre o caso de Renata, a ACAF informou que “com o retorno da criança à Europa, o país onde a criança reside entende que é o competente para tratar da guarda da menor. A decisão brasileira somente será válida no país onde a criança está se houver o devido reconhecimento da decisão brasileira naquele território. As medidas que devem ser adotadas para isso dependem exclusivamente da genitora”.

Com relação ao caso da filha de Damaris Rodrigues, que se encontra na Coreia do Sul, com o pai e sem a autorização da mãe, a AGU disse que “não atua em casos de crianças levadas do Brasil para o exterior”. A ACAF não respondeu os questionamentos da reportagem sobre este caso.

Edição: Mariama Correia
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Naiana Andrade
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Essa é uma manchete de um dos maiores veículos de notícias da grande mídia brasileira.


Ela é chocante em tantas formas…


A começar pelo nível estratosférico de desigualdade no Brasil.


Mas o que gostaríamos de falar hoje é sobre a região em que esse estudo se concentra. 


Se nas regiões metropolitanas a diferença desses números é gigantesca, imagine a seguinte situação…


Num país onde o PIB vem 24,4% do agronegócio (segundo CEPEA), e 1% da população concentra quase 50% da riqueza…


Imagine o tamanho dessa desigualdade NO CAMPO! 


Se nas metrópoles chega a 31 vezes mais, nos campos, onde ainda é o maior reduto de concentração econômica do país, esse número deve ser apenas um enfeite…


E é contra esse tipo de desigualdade que o MST está lutando constantemente. 


Nós não conseguimos ter dimensão real do Brasil, e muito menos dos problemas que o Brasil tem.


Sabe por quê?


A mídia não mostra. Muito pelo contrário, ela faz questão de esconder.


Mas ainda existe um feixe de esperança…


E ele está na reforma agrária, que o MST busca incessantemente há quase 40 anos!


Por isso, se você quer ter um contato maior com esse movimento, e entender como funciona detalhadamente a vida dos integrantes…


Não perca o debate ao vivo com exibição de trechos no lançamento do primeiro documentário original do ICL: “De Quanta Terra Precisa o Homem?”.


Dia 12/11 às 20h você poderá assistir trechos do documentário inédito e participar em tempo real do debate com Edu Moreira, João Pedro Stédile e Laura Sabino.


Então anote na sua agenda a data e o horário e esteja presente, pois não haverá replay!


Um abraço,
Equipe Instituto Conhecimento Liberta


PS.: Se você está aqui é porque quer aprender mais sobre o MST e participar ao vivo do lançamento do documentário com debate e exibição de trechos, não é mesmo? Estamos enviando alguns trechos e outros conteúdos antecipadamente em nosso grupo exclusivo de WhatsApp. O link está abaixo, participe para ficar ainda mais por dentro

 


O MST Ocupa ou Invade? Entenda a diferença e tire suas conclusões

Caixa de entrada

Edu Moreira, João Pedro Stédile e Laura Sabino contato@institutoliberta.com.br Cancelar inscrição

8 de nov. de 2023, 09:47 (há 23 horas)

para mim

Existe uma diferença entre Ocupação x Invasão que a grande mídia não quer que você saiba…


Afinal, quanto mais pontos nós ignorarmos, mais fácil fica para eles nos manipularem, certo?


Então, para que você possa tirar as próprias conclusões, vamos deixar aqui a explicação de alguns princípios do MST (de acordo com eles mesmos, e não com a mídia manipuladora).


O MST segue o conceito de uso social da terra para escolher os lugares que ocupa.


A regra universal é sempre se fazer o seguinte questionamento: essa terra está sendo usada para a finalidade a qual foi “criada”? 


Por exemplo, se uma fazenda encerrou suas atividades de plantio, ou possui irregularidades em relação ao trabalho não está cumprindo seu papel social. 


Não cumprir a função social significa que:

  • O proprietário degrada o meio ambiente

  • Tem trabalho escravo

  • Ou é improdutiva…

Se a terra tem alguma dessas características, ela deve (LEI Nº 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964) ser desapropriada para que ocorra a reforma agrária. 


Simples, não?


Mas como sempre, a grande mídia faz questão de distorcer toda a realidade para que nós continuemos atados aos grilhões da ignorância, não nos permitindo assim tirar nossas próprias conclusões.


Agora você sabe e entende um pouco mais sobre o MST do ponto de vista deles mesmos.


Mas ainda há MUITO que aprender sobre esse movimento social que é o maior do mundo inteiro! 


Portanto, anote na sua agenda que você tem um compromisso no dia 12/11 (domingo) às 20h (horário de Brasília) e não se esqueça!


Você irá desvendar todas as mentiras que foram contadas sobre o MST, juntamente com aqueles que estão na luta do dia a dia fazendo acontecer um Brasil diferente, no lançamento do primeiro documentário original do ICL “De Quanta Terra Precisa o Homem?”.


Será imperdível e, para garantir sua vaga, você deve ativar o lembrete clicando no link abaixo e depois em “Receber notificações”! 


>> CLIQUE AQUI para ativar o lembrete


Nos vemos por lá!


Um abraço,
Equipe Instituto Conhecimento Liberta


PS.: É realmente importante que você ative o lembrete da transmissão do dia 12/novembro para aproveitar o encontro ao máximo. Se você já ativou não precisa se preocupar, mas se ainda não fez isso, clique no link abaixo e ative o lembrete agora mesmo. É a única forma de garantir que você receberá o link para acompanhar nossa aula:



 

terça-feira, 7 de novembro de 2023

 

 

De Temer a Bolsonaro: militares e milícias


O papel nefasto de Michel Temer, a serviço do grupo que derrubou Dilma Rousseff, mostra seus contornos também na operação da Polícia Federal (PF) que investiga a espionagem da Abin com equipamento israelense comprado em seu governo. Segundo a PF, a ferramenta da Cognyte, serviu para monitorar jornalistas, políticos e opositores de Jair Bolsonaro.

No mesmo dia da operação, a Pública revelou que os contratos com a empresa israelense se espalharam pelo poder público e atingiram R$ 57 milhões desde o primeiro deles, em dezembro de 2017. Além da agência do governo federal, alvo da investigação da PF, e da Polícia Rodoviária Federal, secretarias de segurança de nove estados fizeram negócios com a Cognyte, desde 2017: Mato Grosso, São Paulo, Amazonas, Goiás, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pará, Espírito Santo e Alagoas. 

Tentáculos que remetem à “comunidade de informações” dos tempos de SNI, bem como o secretismo que envolvem esses contratos, como mostra Rubens Valente em sua coluna desta semana.

Em agosto, a Pública já havia divulgado a existência de outro contrato, uma compra secreta de R$ 4 milhões feita pela Comissão do Exército Brasileiro em Washington (EUA) para a “renovação de licenças de interesse” dos militares nos Estados Unidos. O Exército recusou-se a prestar informações à Pública a respeito da negociação.

Foi também um general que estava no comando do GSI, quando foi feito o primeiro contrato da Abin com a Cognyte: Sérgio Etchegoyen, “conselheiro” de Temer, com grande poder desde o processo do impeachment. Vale a pena lembrar dois episódios reveladores do tipo de influência que o general exercia. O primeiro, ocorrido ainda no primeiro governo Dilma, quando foi o único oficial da ativa a se pronunciar publicamente contra a Comissão da Verdade; e o segundo, já no governo Temer, quando idealizou a intervenção militar no Rio de Janeiro e nomeou o general Braga Netto – ex-futuro vice de Jair Bolsonaro – para comandá-la.

De lá para cá, o poderio das milícias, que ganhou os holofotes depois do ataque que parou quase a metade da cidade do Rio de Janeiro na segunda-feira, só cresceu. A partir de 2017/2018, como mostram os dados do Instituto Fogo Cruzado,a milícia passou por um surto de crescimento que a fez ultrapassar as facções em controle territorial do Rio de Janeiro: em 2021, já detinha 44% do território dominado pelo crime organizado.

Diversos fatores contribuíram para essa curva de crescimento – do enriquecimento das milícias durante as grandes obras olímpicas (investimento concentrado exatamente na zona oeste) ao enfraquecimento do CV durante a disputa feroz com o PCC, que atingiu o ápice em 2017, como explica o professor Daniel Hirata, do Observatório das Ilegalidades da Universidade Federal Fluminense (UFF). Também entra nessa conta a seletividade das operações policiais que visam muito mais o combate às facções do que às milícias, como já havia explicado o professor Hirata na coluna anterior. 

Do ponto de vista institucional, porém, o fator mais relevante para essa expansão, segundo Hirata, é a extinção da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Desmoralizada depois da intervenção – quando ficou sob o comando de Braga Netto –, após a explosão de violência que se seguiu, sua extinção foi promessa de campanha do bolsonarista Wilson Witzel. Foi assim que ela acabou sendo substituída por um modelo mais ao gosto das polícias: uma secretaria da Polícia Civil e uma da Polícia Militar.

A operação policial que matou uma liderança da milícia e deu origem aos ataques de segunda-feira passada, por exemplo, foi feita pela polícia civil sem nenhuma comunicação com a polícia militar, o que dificultou a repressão aos protestos incendiários dos milicianos na zona oeste. 

“Nós perdemos um órgão que não só estabelecia uma coordenação maior entre as polícias Civil e Militar, mas, no mesmo golpe, nós vimos um processo de autonomização das forças policiais, o que é extremamente deletério do ponto de vista do controle político, democrático, das forças policiais”, diz Hirata. “Se historicamente, no Brasil, todos os governadores têm dificuldades enormes de impor o poder político sobre as polícias, quando você deliberadamente delega isso, você passa a ser um governador figurante, né? E isso tem tudo a ver com a expansão do crime organizado, particularmente das milícias”, afirma. 

A saída é a de sempre: aprofundar a democracia, a transparência do poder público e exigir o controle político dos órgãos de inteligência e segurança, além de políticas públicas eficientes. 

E o jornalismo livre e independente é uma força essencial nesse processo. 

Agradeço mais uma vez à equipe da Pública, em especial à nossa turma em Brasília, que brilhou nesta semana, pela persistência e inteligência que jogam luz nos podres poderes que continuam a ofuscar nosso país.



Marina Amaral
Diretora executiva da Agência Pública

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