sábado, 30 de maio de 2015

Sexualidade

Menina-mulher-objeto

por Carta na Escola — publicado 21/11/2011 13h29, última modificação 22/11/2011 17h02
Fotos erotizadas de modelo de 10 anos para revista de moda expõem relações entre sexualidade e juventude que pautam adultos de hoje
UnderageModelsVogueParis14
Andar pela casa com os sapatos de salto alto da mãe, colocar seus brincos e pulseiras, batom e perfume... Que menina nunca fez isso? Que menina não quis vestir os signos da mulher adulta e imitá-la? É assim que crescemos, nos espelhando nos outros; buscando, por meio dos gestos copiados, um modelo a seguir, uma orientação para ser. A mola mestra da vida está em seguir exemplos. Fazemos isso com pais e mães, mas também com artistas, professores, enfim, com aqueles que chamam a nossa atenção e provocam o nosso interesse.
Mesmo já adultos, são os outros que nos inspiram e que imitamos: nos vestimos como se vestem os profissionais da nossa área, por exemplo. Agimos e falamos como eles, frequentamos os mesmos lugares e adotamos para nós os fins e valores que eles têm.
Portanto, brincar de ser adulto, sob essa ótica, não só é algo corriqueiro para as crianças como também esperado. Não nos causa estranhamento desde que, nesse terreno, não adentre nenhum toque de sexualidade, como no caso das fotos da menina de 10 anos, Thylane Blondeau, para o mundo da moda. Ensaio de modelo e de que mais?
A mim, particularmente, as fotos incomodaram por terem um toque bizarro. A sexualidade antecipada de Thylane é uma fantasia que ela enverga como se fosse sua mais original realidade. Uma sexualidade, ao mesmo tempo, postiça e natural.  Sem dúvidas, precoce. Fruta verde colhida cedo demais.
Fiquei me perguntando, ao olhar as fotos, o que tudo aquilo significaria para a própria Thylane. E se ela entenderia os olhares que certamente a contemplariam. Compreenderia o desejo sexual? Saberia decodificar e lidar com a pedofilia? Saberia o significado de ser criança-mulher-objeto? Puro produto de consumo?
E a anorexia? Saberia que é uma doença e não um padrão estético? Nas fotos, seus bracinhos compridos parecem modelados por ela. Seu corpo todo controlado pelos critérios do mundo da moda: a escassez.
Penso que não só o corpo, mas toda sua vida deve ser parametrada pelas necessidades e ritmos da carreira escolhida (não -certamente por ela): horários de dormir e acordar, alimentos que consumir, férias, tempo para a escola, brincadeiras, companhias, interesses, objetivos, sentido da vida, enfim.
Temo que Thylane construa sua identidade a partir de uma circunstância de trabalho. E de uma circunstância que a condiciona a ser corpo em serventia, principalmente para os interesses anônimos do consumo. Seria uma identidade recolhida da sua condição prematura de mercadoria: sem vontade própria nem destino pessoal. Uma identidade a serviço do desejo (do outro), dos interesses (do outro), da admiração (do outro), da cobiça (do outro)...
As “Thylanes” da moda são meras imagens vestidas de erotismo e vendidas como tal.  Mas, se o mercado da moda chega a tanto, é porque recebe da sociedade seu consentimento. Nessas pequenas modelos se apresentam as duas consignações mais presentes em nossa sociedade: sexualidade e juventude. A elas, de um modo ou de outro, todos nos curvamos e por elas somos atingidos.
Juventude estendida
A sexualidade tem sido a exigência capital para quase todas as situações. Ela substitui o amor, a honra, a inteligência, a honestidade, o interesse pelo bem comum... E é requisito para a conquista de empregos, namoros e casamentos, autoestima, posição social etc. No dia a dia, são essas convocações da sexualidade que nos fazem frequentar academias, fazer dietas, nos equilibrar em saltos desconfortáveis e danosos, escolher o estilo das roupas. O insuportável é não ser (sexualmente) desejável.
A juventude tem sido o que rege a busca desenfreada pelas plásticas.  Aos 30 anos já são muitos os que recorrem a ela, não para corrigir imperfeições, mas para esconder os primeiros sinais da idade. O estilo do vestuário é todo determinado pelo gosto juvenil e os tamanhos pautados por essa faixa etária.
A juventude, porém, tem de ser cada vez mais extensa. Ela não é vista como um estiramento para a longevidade, mas em direção à infância. E quanto mais jovem aparentarmos ser, mais desejáveis seremos. Ser desejável é ser jovem, quase uma criança – assim é que sexualidade e juventude se conciliam.
Vestindo a criança com a moda adulta, podemos ter a ilusão de que é a vida adulta que impõe padrões à infância e a obscurece. Mas, se olharmos de perto, e com calma, compreenderemos que é da infância que a vida adulta tem retirado os padrões de seu comportamento e aparência.
Não é apenas a criança que se torna, através da sexualização precoce, adulta mais rapidamente. São os adultos que sonham em não crescer. E, inadvertidamente, acabam por construir um mundo onde não há mais lugar para eles mesmos.

Reino Unido

Nos subterrâneos da pedofilia

por Gianni Carta — publicado 30/05/2015 08h42
Uma investigação ainda em andamento revela 1.432 praticantes
Martin Godwin
Cyril-Smith
Margaret Thatcher condecorou Cyril Smith, embora suspeito de pedofilia
Os resultados iniciais de uma investigação sobre a pedofilia no Reino Unido revelam a atividade de uma nebulosa rede, da qual, segundo dados ainda sujeitos a confirmação definitiva, participariam 1.432 cidadãos, entre eles, 76 políticos, 43 empresários ou executivos da indústria musical, e 175 oriundos da televisão, cinema e rádio. Iniciada no ano passado, a Operação Hydrant, dirigida por Simon Bailey, já colocou atrás das grades algumas personalidades como, por exemplo, o famoso publicista Max Clifford. Segundo Bailey, há centenas de milhares de vítimas. Somente neste ano, o número de denúncias de agressões sexuais aumentou em 71%, em relação a 2012.
Entre as 116 mil denúncias previstas para 2015, 52.446 remontam aos anos 1970, 1980 e 1990. Como disse ao The Guardiano deputado trabalhista Tom Watson: “Por gerações fechamos os olhos para o escândalo de abuso infantil na Grã-Bretanha”. Em 2012, Watson foi o primeiro a delatar a rede pedófila “ligada ao Parlamento de Westminster, e ao número 10 de Downing Street, o endereço de premier”.
De fato, em março deste ano, veio à tona outra bomba para macular a imagem da nação. Em entrevista ao Mail on Sunday, um deputado trabalhista contou que Margaret Thatcher condecorou o deputado liberal Cyril Smith, isso embora corressem rumores de que ele abusava de menores. Por coincidência, as investigações sobre o condecorado cessaram. Ele morreu tranquilo, em 2010. Como, aliás, a estrela midiática da BBC, Jimmy Savile, durante décadas um “predador sexual” de crianças, inclusive daquelas incapacitadas nos hospitais por ele bondosamente financiados. Savile morreu enquanto dormia, em outubro de 2011.
Sentada a uma mesa do elegante bar do Hipódromo de Longchamp, em Paris, a britânica Victoria Haigh avalia: “Nada vai mudar em relação aos pedófilos no Reino Unido”. Jóquei campeã e treinadora de cavalos, Victoria, de 43 anos, é vítima da rede de pedofilia britânica. Perdeu a custódia da primeira filha, agora com 11 anos, para o então marido, David Tune. Motivo: acusou-o de abusar da menina, então com 4 anos. Ao tentar se aproximar da filha em um estacionamento, foi condenada a três anos de prisão, em dezembro de 2011. Ficou presa por nove meses. Voltou à cadeia quando convidou a filha para o batismo da irmã, filha de outro casamento, Sapphire.
Victoria mudou-se para Paris. Antes de tudo, diz entre goles de San Pellegrino: “Queria protegê-la, embora eu tenha feito questão que Sapphire viesse ao mundo na República da Irlanda”. A filha de 4 anos, ruiva de olhos azuis, desenha ao nosso lado. Victoria diz sentir-se uma “refugiada”. Contratou uma advogada francesa para defendê-la na Corte Europeia. Objetivo: exigir o direito de se manifestar no Reino Unido. “A Justiça Britânica tratou o meu caso como se fosse aquele de um divórcio no qual se disputava a custódia de nossa filha.” No entanto, a filha mais velha, conta Victoria, “me falava que estava sendo abusada pelo pai”. À época, Victoria contestou o sistema jurídico britânico. Grave ofensa à Justiça do UK, que cuidou de se precaver. Resultado: foi considerada “mentalmente instável” e, assim, a filha mais velha voltou ao pai. As acusações de Victoria nem sequer foram investigadas.
Como apurou uma reportagem de CartaCapital em novembro de 2014, além de políticos e celebridades, estão envolvidos também juízes, advogados, psiquiatras e assistentes sociais. Os subterrâneos da rede pedófila britânica são sinuosos. E, como diz Victoria, “as pessoas dispostas a jogar luz sobre eles são silenciadas”.  No caso de Victoria, fonte também da matéria de 2014, a única opção era fugir do Reino Unido. Foi Ian Josephs, empresário de 83 anos formado em direito, quem a ajudou a ir para a República da Irlanda. Baseado no Sul da França, Josephs criou uma campanha por ele alcunhada Adoção Forçada. Objetivo: oferecer ajuda financeira a mães grávidas para sair do UK.
Josephs disse a CartaCapital: “Mais de 25 mil crianças anualmente são retiradas do poder de pais britânicos, a maioria dos quais não cometeu crimes”.  Acrescentou Josephs: “O sistema vale mais de 2 bilhões de libras por ano”. Essa soma, arrecadada graças às audiências em cortes secretas no Reino Unido, é repartida entre juízes, psiquiatras “domesticados” e assistentes sociais. 
Eis a questão: como definir o pedófilo? Normalmente, o adulto a abusar sexualmente de alguém com menos de 16 anos. Essa definição seria validada pelo fato de em vários estados dos EUA adolescentes poderem casar aos 16. Segundo o professor Michael Seto, psicólogo forense citado por Andrew Gilligan, do Daily Telegraph, pedófilo seria aquele com interesses sexuais por crianças pré-púberes, isto é, com menos de 12 anos. Atua em escolas, estabelecimentos de ajuda a crianças, centros religiosos etc. Essa escala etária parece um pouco rígida, visto que o amadurecimento das crianças varia. Em 1960, Josephs trabalhou no caso de uma mãe que perdeu o filho para a assistência social. O menino, de 12 anos, com QI de 150, elevadíssimo, estava recluso em uma escola quatro vezes mais cara que Eton, a escola privada de maior prestígio. Josephs indagou ao menino se o ensino era bom. “Péssimo.” Há algo de bom? “Sim, ganho dinheiro, e bastante, dormindo com os professores.” 
Apologistas da pedofilia não escasseavam no mundo acadêmico em 2014. Seminários em Cambridge questionavam se a pedofilia não seria algo “normal”. Gilligan cita o professor da Universidade de Essex, Ken Plummer, o qual escreveu, em 1981: “Dizem aos pedófilos que não passam de sedutores e estupradores de crianças... Dizem a eles que crianças são puras e inocentes, desprovidas de sexualidade...” Em 2012, Plummer escreveu: devido ao fato de a homossexualidade provocar menos “pânico”, “agora o novo pária é o pedófilo, o mais recente diabo popular...” Plummer ainda é apresentado no site da universidade como professor emérito. 

Reforma política

Câmara volta atrás, faz manobra e aprova financiamento empresarial

por Redação* — publicado 27/05/2015 22h26, última modificação 27/05/2015 22h48
Com articulação de Eduardo Cunha, parlamentares aprovam proposta que permite que os partidos recebem doações privadas
Gustavo Lima/ Câmara dos Deputados
Financiamento empresarial causa polêmica na Câmara
Diante da polêmica sobre o financiamento de campanhas, Cunha suspendeu a sessão e fez reunião com os líderes
Um dia depois de rejeitar a inclusão do financiamento empresarial de campanha na Constituição, a Câmara dos Deputados organizou uma manobra e colocou o tema em votação novamente como parte das discussões da reforma política (PEC 182/07). Com isso, foi aprovada, por 330 votos a 141, uma emenda aglutinativa que permite que partidos, e não candidatos, recebam doações de empresas nas eleições. Se a PEC for aprovada também no Senado, os candidatos continuam proibidos de aceitar financiamento empresarial de forma direta. Mas, na prática, as legendas poderão repassar os valores para seus candidatos nas eleições.
A jogada foi organizada com apoio do presidente da Câmara, Eduardo Cunha(PMDB), e causou polêmica. O líder do PT, deputado Sibá Machado (AC), argumentou que o acordo foi “quebrado”."É uma tentativa de repor o que foi derrotado, colocando ainda mais confusão no processo eleitoral", complementou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP). 
A rapidez com que o tema foi trazido de volta pode ter relação com o julgamento da questão no Supremo Tribunal Federal (STF). É que as doações de empresas são alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, por parte da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Supremo. Para o órgão, os candidatos não poderiam contar com financiamento empresarial.
No ano passado, a maioria dos ministros do Supremo se colocou a favor da proibição de doações de empresas privadas. Os magistrados entenderam que essas doações provocam desequilíbrio no processo eleitoral. Mas o julgamento foi interrompido por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes. Caso, a Câmara não tivesse retomado o tema, o STF poderia decidir a questão.
"Mudança de sistema, fim da reeleição, é tudo cortina de fumaça. O objetivo é colocar na Constituição o financiamento empresarial. Essa votação é uma coletânea de votos perdidos no Supremo. Perderam no Supremo e agora querem aprovar", resumiu o deputado Rubens Pereira Júnior (PCdoB-MA). O deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) chegou a admitir preocupação de que o Supremo acabe por julgar a questão. "Não podemos nos omitir."
Diante da polêmica em torno de novas votações sobre o financiamento de campanhas, Cunha suspendeu a sessão e fez reunião com os líderes em busca de entendimento para prosseguir a votação. Acordo fechado, as lideranças voltaram ao plenário e retomaram. Em repúdio, Sibá Machado (AC), disse que o partido não fechará mais acordos para a votação da reforma política. Ele não esclareceu, no entanto, se o PT passará a obstruir os trabalhos. "Vamos mediar com os partidos um a um sobre os temas. Discordamos de qualquer forma de devolver o que já foi votado", disse.
*Com informações da Agência Brasil e Agência Câmara

Reforma Política

Reforma política: entenda o 'distritão'

por Marcelo Pellegrini — publicado 25/05/2015 13h47, última modificação 27/05/2015 11h18
Apoiado pelo vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), e pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o controverso modelo é a principal proposta de reforma política do PMDB
Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Michel Temer e Eduardo Cunha
Michel Temer faz defesa pública do distritão, enquanto Cunha pressiona pela aprovação do mesmo na Câmara
A Comissão Especial de Reforma Políticadeve aprovar em votação nesta terça-feira 26 a polêmica proposta do 'distritão', que altera por completo o sistema eleitoral brasileiro. Após passar pela comissão, a proposta será analisada pelo plenário da Câmara, em meio a diversos outros projetos da reforma política, que tratam de temas como financiamento de campanha e o tempo dos mandatos.
O distritão é defendido por caciques do PMDB, entre eles o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas sofre resistências do PT, do PSDB e de cientistas políticos, que avaliam o modelo como danoso para o sistema político brasileiro por agravar problemas já existentes.
Entenda o debate a respeito do distritão:
Como funciona a eleição para o Legislativo hoje?
Hoje, a eleição de deputados estaduais e federais e vereadores é proporcional. Os candidatos podem ser eleitos apenas com seus votos ou com a soma destes mais a parcela que lhe cabe dos votos recebidos pelo partido.
Por que é preciso mudar?
Não há obrigatoriedade de mudar o sistema, mas, diante das constantes críticas, há décadas o País debate uma reforma política. Uma das principais deficiências do sistema atual é o chamado "efeito Tiririca", no qual os chamados puxadores de votos podem levar ao Legislativo candidatos que receberam poucos votos. O nome do fenômeno é uma referência ao deputado federal Tiririca (PP-SP), reeleito em 2014 com 1,35 milhão de votos, suficientes para eleger não apenas ele próprio como outros três deputados federais.
Como ocorre o "efeito Tiririca"?
O "efeito Tiririca" ocorre devido ao quociente eleitoral, um cálculo que estipula o número de votos mínimos que um partido deve obter para alcançar uma vaga no parlamento. No caso de Tiririca, os votos obtidos pelo deputado ajudaram seu partido a superar em 3,5 vezes o quociente eleitoral de seu estado, elegendo assim outros três candidatos com menor votação.
E como funciona o distritão?
No distritão, acaba o quociente eleitoral, e as votações para deputados e vereadores migrariam do sistema proporcional para o majoritário. Assim, apenas os mais votados em cada estado ou município seriam eleitos --e a "sobra" dos votos individuais não iriam para outro candidato.  
O que há de positivo nesse sistema?
Os defensores alegam que o sistema ficaria mais simples para eleitor entender. Além disso, o distritão acabaria tanto com o "efeito Tiririca" como com a não eleição de candidatos com altas votações por não alcançar o quociente, como ocorreu com Luciana Genro (PSOL-RS), que obteve quase 130 mil votos quando foi candidata a deputada federal em 2010.
E o que há de negativo?
A principal crítica ao distritão é o fato de ele enfraquecer os partidos políticos. Ainda que haja inúmeras críticas às siglas brasileiras, elas são necessárias para o sistema democrático funcionar. Com o distritão, os candidatos obrigatoriamente precisarão de muitos votos para ser eleitos e aumentará a tendência dos partidos de lançar figuras populares. Isso pode diluir o espírito coletivo dos partidos, dificultando ainda mais a formação de maiorias no Congresso, fazendo com que o chefe do Executivo, seja ele prefeito, governador ou presidente, precise realizar ainda mais concessões em nome da chamada governabilidade.
E as campanhas, terão alguma alteração?
O distritão também tende a tornar as campanhas mais caras, uma vez que só serão eleitos os candidatos mais votados. Com esse sistema, candidatos de um mesmo partido estarão disputando votos uns contra os outros, o que deve tornar menos importante o esforço coletivo do partido para eleger candidatos. Assim, caberá a cada candidato maximizar sua exposição, o que demandará mais investimento na campanha.
Há mais algum aspecto negativo?
O distritão tende a diminuir a representatividade do eleitorado na Câmara Municipal, na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados. Isso porque os votos dados a um candidato não eleito no sistema atual servem ao menos para eleger outros do mesmo partido ou da mesma coligação, que, em tese, representam ideais semelhantes. Com o distritão, todos os votos dados a candidatos não eleitos são desperdiçados.
Existe alguma alternativa ao distritão?
Uma possibilidade é o sistema atual ser mantido. Outra é ser aprovada uma mudança para o sistema de voto distrital misto. Neste sistema, metade dos eleitos seria escolhida de forma majoritária ou por voto em lista partidária e a outra metade por meio da votação em distritos, que ainda precisariam ser configurados.
Algum país adota o distritão?
Sim, três. O Afeganistão, a Jordânia e Vanuatu.

Bancos

O HSBC faz as malas

por Carlos Drummond — publicado 24/05/2015 08h44
Abalada por escândalos variados, a instituição prepara-se para deixar o País
Fabrice Coffrini / AFP
HSBC
Imagem de 18 de fevereiro mostra a sede do HSBC Private Bank, em Genebra, na Suíça. O banco está sendo investigado
As operações do HSBC na Turquia e nos Estados Unidos seriam também vendidas para contrabalançar o impacto nos resultados do aumento das exigências dos órgãos reguladores de diversos países em relação aos ativos de risco, motivo do fechamento de 77 negócios nos últimos quatro anos. Entre 2013 e 2014, a instituição foi investigada na Europa por manipulações nos mercados de câmbio e de taxas de juro. 
A situação agravou-se com a descoberta, em fevereiro deste ano, das contas secretas de 106 mil clientes de 203 países na filial suíça, com mais de 100 bilhões de dólares em depósitos feitos entre 1988 e 2007 por governantes, empresários, políticos, celebridades e criminosos, no escândalo apelidado SwissLeaks. O banco é suspeito de cumplicidade com a sonegação provavelmente cometida por 95% desses clientes. Com 7 bilhões de dólares em 8.667 contas, o Brasil é o nono colocado em volume de depósitos e o quarto em quantidade de contas correntes secretas. A Receita Federal e uma Comissão Parlamentar de Inquérito instalada em março no Senado investigam as suspeitas de irregularidades nessas contas, abertas por empresários, donos de grupos de mídia, políticos e empresas, neste caso para pagamento, na Suíça, de parte da remuneração de executivos. 
A provável saída do HSBC marca o fracasso da abertura financeira dos anos 1990, anunciada pelo governo FHC como um caminho para o aumento da eficiência do sistema financeiro local pela sua exposição à concorrência externa. Com exceção do período de 1946 a 1964, a entrada de bancos estrangeiros no País foi limitada. Entre 1965 e 1995, o ingresso era condicionado ao acesso de instituições brasileiras aos países de origem das estrangeiras. A Constituição de 1988 vetou a entrada de capital do exterior, mas deixou uma brecha, no artigo 52, utilizada pelo governo em 1995 para permitir o ingresso. 
O efeito foi, porém, oposto ao anunciado. “A ampliação da presença estrangeira no sistema bancário brasileiro não teve o impacto previsto pelas autoridades econômicas na redução dos custos do crédito e dos serviços bancários oferecidos à população e no alongamento dos prazos das operações de crédito”, constataram as pesquisadoras Maria Cristina Penido de Freitas e Daniela Magalhães Prates, da Fundação do Desenvolvimento Administrativo de São Paulo, em estudo sobre a abertura financeira do governo FHC.  
Outro resultado da abertura foi aumentar a vulnerabilidade do País por estimular o crescimento da dívida externa securitizada e dos investimentos de portfólio, integrantes, ao lado da dívida bancária e do estoque de investimento direto, do passivo externo bruto da economia brasileira. “Esse passivo gera um fluxo permanente de remessas de juros, lucros e dividendos que se tornaram o principal componente do elevado déficit em conta corrente do País”, acrescenta o estudo. 
Em 1994, havia somente um banco estrangeiro, o Lloyds, entre as dez maiores instituições privadas do setor segundo o critério de tamanho dos ativos. O grupo financeiro inglês vendeu a operação brasileira ao HSBC, em 2003, e retornaria ao País três anos mais tarde, com a abertura de um escritório. Em 2000, cinco dos dez maiores bancos privados em operação no território nacional eram estrangeiros.  O holandês ABN-Amro ingressou com a compra do Real, que em 2008 seria incorporado pelo Santander. Este adquiriu, em 2000, o Banespa, o segundo maior banco público. O HSBC arrematou em 1997 uma parte do Bamerindus, liquidado pelo Banco Central. O americano Bank Boston, no Brasil desde 1947 e vendido ao Itaú em 2006, e o Citibank, que chegou em 1915, completavam o grupo. 
Para os grupos financeiros globais, o ingresso no Brasil mostrou-se um excelente negócio. Entre a chegada de novos participantes estrangeiros a partir de 1995 e o ano 2000, a rentabilidade patrimonial no País atingiu 24,80%, ante 17,20% nas suas matrizes. A rentabilidade dos ativos operacionais chegou a 29,80%, ante 6% nas sedes.
Em transparência e prestação de contas, o HSBC foi o mais mal avaliado em levantamento recente do Guia dos Bancos Responsáveis, associado ao Fair Finance Guide Internacional. O seu conceito no exterior não é dos melhores. Com 133 das suas 496 sucursais localizadas em paraísos fiscais, é a segunda empresa global em utilização desses refúgios de sonegadores, mostra um levantamento do jornal britânico The Guardian. Uma investigação do Senado dos EUA concluiu, em 2012, que subsidiárias do banco inglês lavaram bilhões de dólares para cartéis de droga mexicanos e terroristas, durante décadas. “Foi como um retorno às raízes históricas”, concluiu a organização Tax Justice Network, em referência à fundação da instituição, em 1865, em Hong Kong, por um grupo do qual faziam parte vários comerciantes ingleses de ópio em busca de oportunidades lucrativas para o negócio na área financeira. 
Afetado por problemas com raízes profundas, o HSBC trata de enxugar a sua estrutura em um esforço de sobrevivência.