quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Sob Dilma, Brasil tem menor crescimento entre os principais emergentes; veja mapa-múndi

Por Dinheiro Público & Cia
27/02/14 09:01
No governo Dilma Rousseff, de 2011 a 2013, o Brasil acumula crescimento econômico médio de 2% ao ano, o menor entre as principais economias emergentes.
O mapa abaixo compara o desempenho brasileiro ao do resto do mundo. Com um clique, é possível saber a taxa média de expansão econômica de cada país no período, realizada ou estimada.
abertura
Dilma governa em um cenário global desfavorável. Nas estimativas do Fundo Monetário Internacional, o PIB (Produto Interno Bruto) mundial cresceu a uma taxa média anual de 3,3% nos últimos três anos.
O Brasil está abaixo do padrão geral. Seus resultados são inferiores aos dos vizinhos latino-americanos, dos emergentes asiáticos e dos gigantes Rússia, China e Índia.
Resultados piores que os brasileiros podem ser encontrados, por exemplo, na Europa, maior foco de crises no período, e no Japão.
Para estimular a economia, a administração petista seguiu a receita que havia funcionado no final do governo Lula: expandir gastos públicos e os financiamentos dos bancos estatais.
A estratégia, porém, acabou elevando a inflação e o deficit do país nas transações com o resto do mundo, comprometendo a confiança dos empresários e os investimentos.
Veja mais: De Sarney a Dilma, quem governou com maior alta do PIB
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CONVIVER COM AS SECAS

CONVIVER COM AS SECAS
O semi-árido brasileiro caracteriza-se, no aspecto sócio-econômico, por milhões de famílias que cultivam a terra, delas ou de terceiros. Para elas, mais da metade do ano é seco e a água tem um valor todo especial. Além disso, as secas são fenômenos naturais periódicos que não podemos combater, mas com os quais podemos conviver.
Vale lembrar, também, que o Brasil assinou a Convenção das Nãçoes Unidas de Combate à Desertificação, comprometendo-se a “atacar as causas profundas da desertificação”, bem como “integrar as estratégias de erradicação da pobreza nos esforços de combate à desertificação e de mitigação dos efeitos da seca”. Partindo dessas reflexões, nosso Programa de convivência com o Semi-Árido incluí:
 O fortalecimento da agricultura familiar, como eixo central da estratégia de convivência com o semi-árido, em módulos fundiários compatíveis com as condições ambientais.
 A garantia da segurança alimentar da região, como um objetivo a ser alcançado a curtíssimo prazo.
 O uso de tecnologias e metodologias adaptadas ao semi-árido e à sua população, como ferramentas básicas para a convivência com as condições da região.
 A universalização do abastecimento em água para beber e cozinhar, como um caso exemplar, que demonstra como tecnologias simples e baratas como a cisterna de placas de cimento, podem se tornar o elemento central de políticas públicas de convivência com as secas.
 A articulação entre produção, extensão, pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico adaptado às realidades locais, como uma necessidade.
 O acesso ao crédito e aos canais de comercialização, como meios indispensáveis para ultrapassar o estágio da mera subsistência.(Declaração do Semiárido).

PROJETO VEM SENDO INSTALADO NA REGIÃO DO VALE DO APODI

Proposta visa melhorar projeto em Apodi
 Projeto vem sendo instalado na região do Vale do Apodi
O diretor-geral do Departamento de Obras Contra as Secas (DNOCS), Emerson Fernandes Daniel Júnior, propôs convênio com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) para capacitação de irrigantes e mão de obra regional no Perímetro Irrigado Santa Cruz do Apodi. A proposta foi feita no painel de abertura da II Exposição Cultural, Científica e Tecnológica no auditório do campus Apodi do IFRN, que debateu o tema Desafios e Perspectivas do Projeto de Irrigação da Chapada do Apodi, realizado nesta semana.
O diretor do campus, Marcos Antônio de Oliveira, agradeceu a participação do diretor geral no debate que, segundo ele, demonstra o interesse do DNOCS de aprofundar o conhecimento das questões locais e suas implicações. "Temos muito a contribuir para que este projeto seja, de fato, bem sucedido", ele afirmou, ao observar que o relato do diretor no evento mostrou que o perímetro vem sendo aperfeiçoado através do diálogo.
"Fazer com que este projeto seja bem sucedido é propósito também do IFRN", afirmou Marcos Antônio de Oliveira. O diretor do campus Apodi do IFRN anunciou que o Instituto Federal tem interesse em orientar alunos para que possam fazer extensão rural e transferir para o perímetro os trabalhos ora realizados com orientação dos professores das áreas de zootecnia, ciências agrárias e química. "Assumo compromissos. Vamos agendar o momento para fazer as tratativas", assinalou.
O Dnocs pretende realizar convênio de cooperação também com a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN), Embrapa e Sebrae para assistência aos irrigantes. O convênio tem a finalidade de promover o desenvolvimento rural, a capacitação e profissionalização dos pequenos produtores e a difusão de tecnologia da agricultura irrigada em toda a chapada, através de um projeto piloto de irrigação a ser instalado em áreas contíguas a ambos. O projeto beneficiará, além dos produtores do perímetro de irrigação, todos aqueles que praticam a agricultura na chapada do Apodi no Rio Grande do Norte.
No evento, o diretor de Infraestrutura Hídrica do Dnocs, Glauco Mendes, informou que a Secretaria de Irrigação do Ministério da Integração Nacional autorizou a ampliação, de um para dois anos, do período de assistência técnica em um perímetro irrigado após o início de operação. Também participou do debate no campus a pesquisadora Bernadete Freitas, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), com a presença do procurador chefe do Dnocs, Francisco Arlem de Queiroz Sousa, representantes do Movimento Sem Terra (MST), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Articulação do Semiárido (ASA).
Glauco Mendes relatou ter participado de reunião com o secretário nacional de Irrigação, Miguel Ivan Lacerda de Oliveira e representante do Incra que definiu medidas de apoio aos irrigantes com a ampliação para dois anos da assistência técnica e financiamento para que possam se manter. Segundo ele, com lotes de seis a oito hectares, assistência técnica e crédito no banco os pequenos terão condições de crescer e se sustentar.
Emerson Daniel acatou sugestão da plateia de incluir na cooperação do IFRN com o Dnocs o uso dos laboratórios do campus de Apodi e dos professores do curso de química para análise e controle da qualidade da água e do solo para saber o limite do uso de fertilizantes e adubo do perímetro irrigado. "O convênio não é só para qualificação e treinamento, mas para fiscalizar a qualidade da água. Na hora em que detectar qualquer alteração, vamos poder verificar o que está ocorrendo".
Em resposta a indagação da plateia, Emerson Daniel disse que no projeto de reestruturação do Dnocs que está em tramitação no Ministério do Planejamento está previsto concurso para trazer zootecnista e veterinário, além de agrônomo. Também está previsto o fortalecimento da estrutura das áreas do Dnocs relacionadas ao meio ambiente e questões sócio-econômicas.
A utilização do perímetro irrigado para a produção de proteína, segundo ele, é uma prática já adotada em alguns perímetros e existe intenção de expandir para outros projetos. A proposta de acesso das cooperativas agropecuárias existentes na região do Apodi, antes da licitação dos lotes, também foi acolhida pelo Diretor Geral.
Cerca de 10% do perímetro irrigado já foram realizadas, com a execução de R$ 22 milhões do contrato de R$ 242,7 milhões para conclusão das obras em dois anos. Entre as mudanças feitas para melhorar o projeto, o Diretor Geral citou a redução das estações de bombeamento, de 14 previstas no início para apenas quatro, com resultado na redução do custo de energia elétrica, item que pesa nas despesas operacionais. Outra mudança foi feita com a construção de drenos, bueiros para escoar a água de volta ao rio Apodi.
O pequeno produtor vai ficar com 286 lotes, 2.288 hectares, o equivalente a 74% do número de lotes e 44% da área irrigável a ser ofertada, no total de 5.200 hectares. Caberão 55 lotes aos técnicos agrícolas - 884 hectares -, 14% dos lotes e 17% da área. Vinte lotes estão destinados aos engenheiros agrônomos, numa área de 488 hectares que corresponde a 5% dos lotes e 9% da área. As empresas ficarão com 26 lotes que correspondem a área de 1.560 hectares, 7% dos lotes e 30% da área total.
O perímetro irrigado utilizará a tecnologia de irrigação por gotejamento, microaspersão e miniaspersão, que aumenta a eficiência na produção e poupa água. Uma área do perímetro será destinada ao IFRN para experimentos, adaptação e diversidade de culturas. Depois de implantar 37 perímetros irrigados, o Dnocs pretende fazer do projeto de irrigação Santa Cruz do Apodi um modelo que seja considerado uma forma diferenciada de fazer irrigação, disse Emerson Daniel. O perímetro terá agricultura orgânica, consciência ambiental e o reforço da cooperação da academia, afirmou.













 

Artigo: Congresso atropela legislação ao não pagar supersalários
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Marco Aurélio Mello*
Especial para o UOL
O artigo abaixo, escrito pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, é uma prévia do novo canal de Opinião do UOL, que estreia em março
A regra é clara: ninguém pode ganhar, no serviço público, mais do que o subsídio mensal, em espécie, dos ministros do Supremo Tribunal Federal. A abrangência do teto constitucional alcança remuneração — subsídio, proventos, pensões e outras espécies remuneratórias dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, inclusive dos detentores de mandato eletivo e demais agentes políticos, percebidos isolada ou cumulativamente. Em outras palavras, observado o tratamento igualitário, o teto impõe-se a todos.

Teto Salarial

A regra é clara: Ninguém pode ganhar, no serviço público, mais do que o subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF
Mas nada é tão simples como parece. A astúcia do homem e o abandono da ética implicam vergonhoso drible.
As formas vão do empréstimo da natureza indenizatória a certas parcelas ao desdobramento do contracheque que, de peridiocidade mensal, vejam só a criatividade, passa a ser de peridiocidade quinzenal.
Então, com desprezo total à lei das leis, à Carta Federal, revela-se o país do faz de conta. A situação, pasmem, mostra-se hoje generalizada.
O Supremo Tribunal Federal é o guarda maior da Constituição e esta, presente o estado de direito, encerra um grande todo que tem como medula a velha máxima que os meios justificam os fins, e não o contrário, sob pena de, acionado o justiçamento, haver retrocesso, e não avanço cultural.

Cumprimento da lei

Mas nada é tão simples como parece. A astúcia do homem e o abandono da ética implicam vergonhoso drible
A momentosa matéria dos supersalários praticados, à larga, nas duas casas do Congresso, deve ser analisada sem paixões. Nas auditorias no Tribunal de Contas da União, os beneficiários não tiveram espaço para defenderem-se.
Os pronunciamentos sinalizaram que Câmara dos Deputados e Senado viabilizariam a audição, cumprindo-se o mandamento constitucional: o detentor de situação constituída possui o direito ao devido processo administrativo. Essa é a regra inafastável, pouco importando a clareza, aparente e unilateral, do quadro.
O desgaste das casas legislativas é notório. No afã de recuperar prestígio, em menosprezo à comezinha regra do contraditório, atropelou-se, dando-se esperança vã, infrutífera, portanto, à cansada sociedade.

Congresso

O desgaste das casas legislativas é notório. No afã de recuperar prestígio, atropelou-se, dando-se esperança vã à cansada sociedade
Sob o ângulo do direito de defesa, a questão chegou à última trincheira da cidadania, onde não cabe visão passional, extremada. Ao deferir, em mandados de segurança, as liminares, consignei que o fazia sem prejuízo da instauração dos processos administrativos, sumários e individuais.
Verificada, na seara própria, a ilegitimidade de pagamentos, por sinal, satisfeitos há anos, aí sim, a suspensão imediata será de ocorrência natural e, mais, a devolução do que recebido nos últimos cinco anos, procedendo-se aos descontos nos vencimentos, proventos e pensões — obedecido o limite mensal, tudo conforme previsto na Lei nº 8.112/1990. Como dizer do prejuízo ao poder público? A relação jurídica continuada possibilita os descontos.
Paga-se um preço por viver em uma democracia e é módico, estando ao alcance de todos: o respeito irrestrito ao arcabouço normativo, às leis. Fora isso, instaura-se a desordem, a afronta à Constituição Federal. Conserte-se o Brasil, afastando-se as mazelas que o emperram, mas não se jogue para a plateia, muito menos adjetivando a visão do Supremo. A absurdez tem outro endereço.
*Marco Aurélio Mendes de Farias Mello é ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral
  • O artigo não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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Pode faltar água em São Paulo durante a Copa. Mas não para os turistas
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Tiago Dantas
Do UOL, em São Paulo
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Veja o que deu certo e o que deu errado no último ano de preparação para o Mundial no Brasil17 fotos

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Veja o que deu certo e o que deu errado no último ano de preparação para o Mundial no Brasil Arte/UOL

São Paulo enfrenta uma situação de risco de racionamento de água próximo à Copa do Mundo. O nível dos reservatórios do Sistema Cantareira, que abastece cerca de 14 milhões de pessoas na Grande São Paulo e na Região Metropolitana de Campinas, atingiu 16,8% nesta quarta-feira, 26. Meteorologistas e técnicos acreditam que as chuvas do outono podem ser insuficientes para aumentar esse nível. O racionamento seria, então, necessário para manter o abastecimento até a próxima estação chuvosa, só no fim do ano.
Na última vez que o Estado enfrentou um grande racionamento de água, em dezembro de 2003, o nível dos reservatórios ficou abaixo de 5%. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) admitiu, na terça-feira, que o racionamento de água na capital "é uma decisão técnica que está sendo monitorada dia a dia pela Sabesp". Por enquanto, a companhia aposta em uma campanha que dá descontos na conta para quem economizar mais de 20% de água.
Soma-se ao problema o fato de que algumas cidades da região receberão turistas que vão acompanhar a Copa do Mundo, aumentando o consumo de água. Além da capital paulista, que é sede do Mundial, Campinas será a casa das seleções de Portugal e Nigéria. O turista, porém, não precisa se preocupar tanto. A maior parte dos hotéis com mais de três estrelas já têm dois reservatórios de água para enfrentar períodos de estiagem, segundo a Abih (Associação Brasileira da Indústria Hoteleira).
Grandes redes de hotéis mantêm, ainda, contratos com empresas que entregam água em caminhões-pipa. O procedimento é adotado por hotéis de luxo em cidades como Guarujá, no litoral paulista. No fim do ano, é comum que haja falta d'água devido ao excesso de turistas.
Para não secar o reservatório, Francisco Lahòz, secretário executivo do Consórcio PCJ, que engloba as bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, defende a adoção de medidas de racionamento. "Fizemos uma lista com 25 recomendações [para a Sabesp], que faz desde o uso consciente de água até fazer a distribuição com caminhão pipa em caso de racionamento", disse.
Lahòz, no entanto, se diz otimista com relação à situação do reservatório Cantareira. "Se cada uma das 14 milhões de pessoas economizar três minutos de banho, é uma melhora bem grande para o reservatório."

Março terá chuvas

Desde dezembro de 2013, parte do sudeste vive uma situação climática excepcional, segundo meteorologistas. A formação de um bloqueio atmosférico nos últimos meses barrou a passagem das frentes frias no oceano, impedindo a formação de nuvens de chuva. O bloqueio já não existe mais, segundo o meteorologista Alexandre Nascimento, da Climatempo.
A quantidade de chuva em março, segundo ele, deve até ser acima da média para o período. Isso não significa, porém, que será suficiente para recuperar os últimos três meses de seca, já que a população continuará consumindo água.
O MP (Ministério Público) também se preocupa com a questão. Segundo a promotora Alexandra Facciolli, do Gaema (Grupo de Atuação Especial de Meio Ambiente), a Promotoria já havia pedido para que a capital poupasse água do Sistema Cantareira.
Atualmente, entram por dia 10 metros cúbicos de água e saem 32 metros cúbicos – 28 para a Grande São Paulo e 4 para a Região Metropolitana de Campinas. "A situação é gravíssima. Precisamos reduzir o consumo para garantir a segurança do abastecimento das duas regiões", afirma a Alexandra.
A Sabesp, responsável pelo abastecimento de água no Estado, sustenta que não há risco de falta de água. A empresa informou que contratou uma empresa especializada no serviço de indução de chuvas localizadas por meio de aviões.
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Falta de chuvas afeta abastecimento de água em São Paulo20 fotos

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30.jan.2014 - Represa Jaguari, que integra o Sistema da Cantareira da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) fica com nível de água baixo e com solo seco e rachado devido à falta de chuvas no Estado. O reservatório fica em Bragança Paulista (SP) e é o principal fornecedor de água para a capital e regulador da vazão dos mais importantes rios da região de Campinas Leia mais Nacho Doce/Reuters

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Suplicy retruca Gilmar Mendes: “Não julgou só com a razão”

Em resposta a carta que lhe foi enviada pelo ministro do STF, senador diz que magistrado deve ter “maior reserva” ao externar opiniões sobre casos que julga


Geraldo Magela/Ag. Senado
Suplicy: "Como juiz da causa que condenou os acusados, caberia a V. Exa. maior reserva"
Da capital do Irã, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) escreveu, neste sábado (15), uma carta ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em que pede “maior reserva” ao magistrado. O senador diz que respeita o direito de Gilmar manifestar opiniões sobre o que bem entender, mas que, como juiz do mensalão, ele deveria tomar mais cuidado ao se manifestar sobre os assuntos relacionados ao caso.
Retrucando a resposta que lhe foi dada por Gilmar Mendes, de que o PT deveria arrecadar recursos não para pagar a multa dos condenados, mas os recursos públicos desviados no mensalão, Suplicy disse que o ministro não está agindo com razão. “Quando V. Exa. questiona, sem qualquer prova material, a regularidade das doações a José Genoino, Delúbio Soares, José Dirceu, e João Paulo Cunha, passa-me o sentimento de que não julgou com base exclusivamente na razão”, escreveu o senador. “Isso não é bom para o papel que o Supremo Tribunal Federal desempenha na organização dos Poderes da República”, acrescenta.
Outro destaque do Congresso em Foco: Senado estuda legalização da maconha
Suplicy argumenta que as doações foram organizadas por familiares dos petistas condenados. “Não vejo ilegitimidade ou ilegalidade nessa conduta.” Na semana passada, o senador questionou o ministro por ter declarado, sem provas, que suspeitava de lavagem de dinheiro na campanha feita por familiares e aliados dos petistas condenados no mensalão para pagar as multas determinadas pela Justiça como parte da pena.
Em carta dirigida a Suplicy no último dia 12, Gilmar respondeu que a multa é “intransferível” e que as contribuições devem ser alvo de apuração da Receita Federal e do Ministério Público. Ele ainda sugere ao senador paulista que lidere uma iniciativa para ressarcir aos cofres públicos dinheiro desviado pelo esquema.
Na resposta deste sábado, Suplicy diz que Gilmar Mendes não se referiu aos esforços feitos por petistas como ele para “evitar os procedimentos que foram objeto da Ação Penal 470”, como o compromisso de não se valer de caixa dois em campanha eleitoral, a proibição das doações de pessoas jurídicas, a limitação para as contribuições das pessoas físicas e a transparência em tempo real dos recursos levantados.
“Desta forma,  os eleitores terão conhecimento dos doadores e poderão comparar as contribuições feitas com os gastos efetivamente realizados em cada campanha”, diz o senador. A carta foi escrita de Teerã, onde o parlamentar se encontra em missão oficial.
Leia a íntegra da carta de Suplicy a Gilmar Mendes:
“Ofício n.º 00113/2014                                           Teerã, 15 de fevereiro de 2014.
Senhor Ministro Gilmar Mendes,
Tendo em vista a correspondência de V. Exa. datada de 12 de fevereiro de 2014, devo externar que não tenho dúvidas de que, como cidadão, tem todo o direito de se expressar sobre essa ou aquela situação da vida política de nosso país. Porém, como juiz da causa que condenou os acusados, caberia a V. Exa. maior reserva.
Quando V. Exa. questiona, sem qualquer prova material, a regularidade das doações a José Genoino, Delúbio Soares, José Dirceu, e João Paulo Cunha, passa-me o sentimento de que não julgou com base exclusivamente na razão. Isso não é bom para o papel que o Supremo Tribunal Federal (STF) desempenha na Organização dos Poderes da República.
Até onde tenho conhecimento, as famílias dos quatro membros do Partido dos Trabalhadores é que tiveram a iniciativa de fazer a campanha para arrecadar fundos e pagar as multas condenatórias. Não vejo ilegitimidade ou ilegalidade nessa conduta.
E foi isso que me motivou a escrever a V. Exa. – a surpresa de tomar conhecimento de um comentário público, questionando doações sem qualquer fundamento probatório que o amparasse.
E tudo isso, considerando ainda que o julgamento da Ação Penal 470 não está concluído no STF, pois encontra-se em curso a análise dos  embargos infringentes.
Noto que V. Exa.  não se referiu ao que considero da maior importância em minha carta, qual seja, as decisões que nós do PT e de todos os demais Partidos devemos tomar para prevenir e evitar os procedimentos que foram objeto da Ação Penal 470. Eis porque tenho me empenhado para que venhamos todos, nas campanhas eleitorais, assumir o compromisso de não utilizarmos recursos não contabilizados, de proibirmos as contribuições de pessoas jurídicas, de limitarmos a uma soma módica as contribuições de pessoas físicas e, de exigirmos, durante a campanha eleitoral, a transparência em tempo real, ou nas datas de 15 de agosto, 15 de setembro e ultimo sábado que antecede o domingo das eleições, com o registro na página eletrônica de cada partido, coligação e candidato, de todas as contribuições recebidas. Desta forma,  os eleitores terão conhecimento dos doadores e poderão comparar as contribuições feitas com os gastos efetivamente realizados em cada campanha.
V. Exa., que acaba de assumir como ministro efetivo do Tribunal Superior Eleitoral, poderia, pela posição que ocupa, incentivar os formadores de opinião da sociedade no que diz respeito à efetivação desses anseios como normas que têm sido apoiadas pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, pela OAB e muitas outras entidades da sociedades civil.
Atenciosamente,
Senador Eduardo Matarazzo Suplicy
A Sua Excelência o Senhor
Ministro Gilmar Ferreira Mendes”

Psol representará contra o SBT por apoio a tortura e linchamento

Partido quer providências contra a emissora e a apresentadora Rachel Sheherazade, que defendeu as agressões a adolescente de 16 anos acusado de cometer furto no Rio


Divulgação
Para o Psol, comentário de Rachel Sheherazade faz apologia ao crime
O Partido Socialismo e Liberdade (Psol) divulgou nota há pouco informando que irá formalizar no Ministério Público representação contra o SBT e a apresentadora Rachel Sheherazade por apologia ao crime.
Na edição de ontem (4) do jornal SBT Brasil, ela exaltou o comportamento de um grupo de pessoas que resolveu punir a seu modo um adolescente de 16 anos acusado de cometer furtos no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro (RJ). O rapaz foi preso nu a um poste, com o pescoço acorrentado por uma trava de bicicleta, teve parte da orelha cortada e só foi libertado depois que uma moradora da região chamou os bombeiros para libertá-lo.
“Em pleno meio de comunicação, em horário nobre, foi feita a apologia de crime”, diz o líder do Psol na Câmara dos Deputados, Ivan Valente (SP). “A jornalista e o SBT fizeram incitação ao crime, à tortura e ao linchamento. Essa jornalista simplesmente disse que tem razão os vingadores que fizeram justiça com as próprias mãos, em torturar, porque a polícia para ela está desmoralizada, a Justiça não opera e é necessário voltar ao velho Oeste e fazer justiça com as próprias mãos”.
Ivan Valente acrescenta que é a favor da liberdade de imprensa, mas condena a sua utilização para práticas abusivas. “Defendo total liberdade de imprensa, mas não a liberdade para mandar torturar, matar, assassinar e fazer justiça com as próprias mãos. Ser anticonstitucional, ilegal e aplaudida, para quê? Atrás do Ibope, atrás do medo da população, da marginalidade, atrás daquilo que não se investe em saúde, em educação, em mobilidade urbana, em resposta à pobreza que está aí?” – questionou .

Proposta aprovada obriga presidente a se afastar para tentar reeleição

Exigência também passa a valer para prefeitos e governadores, de acordo com proposta de emenda constitucional aprovada pela CCJ do Senado. Afastamento teria de ocorrer quatro meses antes da eleição


José Cruz/ABr
Ana Amélia diz que mudança pretende coibir uso da máquina administrativa e favorecimento aos candidatos à reeleição
Carol Oliveira
Presidente da República, governador ou prefeito que quiser disputar a reeleição terá de se afastar do cargo quatro meses antes da votação. É o que prevê proposta de emenda à Constituição (PEC 48/12) aprovada, nesta quarta-feira (26), pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Atualmente, a lei eleitoral garante aos chefes do Executivo o direito de tentar renovar o mandato no exercício do cargo.
Ministros, servidores da União, funcionários de agências reguladoras ou outros órgãos executivos são obrigados a deixar seus postos até seis meses antes das eleições. Hoje o presidente da República, os governadores e os prefeitos só precisam deixar antecipadamente o mandato, também seis meses antes da votação, se forem candidatos a cargos diferentes.
Autora da proposta, a senadora Ana Amélia (PP-RS) diz que o afastamento é necessário para garantir a igualdade de condições entre os candidatos, coibindo o uso da máquina pública e os benefícios da exposição da imagem de quem está no exercício do mandato. “As atuais regras legais e da Justiça eleitoral têm sido impotentes para coibir o uso da chamada máquina pública em favor da reeleição em favor daquele que tem o comando da administração”.
Na CCJ, cinco senadores votaram contra a PEC. O texto deve ser analisado pelo plenário, onde precisará do apoio de 49 dos 81 senadores, em dois turnos de votação. Só então será enviada à Câmara, onde será submetida à Comissão de Constituição e Justiça, a uma comissão especial para análise de mérito e dois turnos de votação em plenário. Pela PEC, as novas regras entram em vigor um ano após a promulgação da mudança na Constituição. Ou seja, se a emenda for incluída no texto constitucional ainda em 2014, os prefeitos candidatos à reeleição, em 2016, terão de se afastar do cargo quatro meses antes da votação.
Leia mais sobre eleições 2014

Músico espanhol Paco de Lucía morre aos 66 anos
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  • AFP
    O violonista espanhol Paco de Lucía O violonista espanhol Paco de Lucía
O músico espanhol Paco de Lucía morreu nesta quarta-feira (26), informaram hoje à Agência Efe fontes da Prefeitura de sua cidade natal de Algeciras.
Segundo o gabinete de imprensa da Prefeitura, a morte foi confirmada pelo sobrinho do artista, Ramón Sánchez, filho de Ramón de Algeciras. A morte do músico representa "uma perda irreparável para o mundo da cultura, para a Andaluzia", declarou o prefeito de Algeciras, José Ignacio Landaluce.
Paco de Lucía, de acordo com informações obtidas pela Efe de outras fontes, teria morrido em Cancún, no México, após sofrer um infarto enquanto brincava com seus filhos na praia.
Francisco Sánchez Gómez, de nome artístico Paco de Lucía, tinha injetado ao flamenco, ao longo de sua carreira, ritmos como o jazz, a bossa nova e, inclusive, a música clássica. O artista foi ganhador do Prêmio Príncipe de Astúrias das Artes e era o símbolo, junto com Camarón de la Isla, da renovação e difusão mundial do flamenco.
Discípulo de Niño Ricardo e de Sabicas, e respeitado por músicos de jazz, rock e blues por seu estilo próprio, alcançou, entre muitos outros reconhecimentos, um Grammy para o melhor álbum de flamenco em 2004; o Prêmio Nacional de Guitarra de Arte Flamenco; a Medalha de Ouro ao Mérito das Belas Artes em 1992; o Prêmio Pastora Pavón La Niña de los Peines de 2002; e o Prêmio Honorário da Música de 2002.
*com informações da AFP e Reuters

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Setor elétrico: o sujo falando do mal lavado

 Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco


Apesar de seu caráter essencial, o setor elétrico brasileiro não tem sido levado em conta com a relevância necessária para atender os interesses estratégicos da população. Ele tem tido um papel que o situa no jogo da disputa eleitoral. Ou seja, vivemos a partidarização energética, que ficou evidenciada desde o inicio do século XXI. E isso não tem contribuído para encontrar os caminhos da segurança energética, da modicidade tarifária, da qualidade dos serviços oferecidos, e ainda mais, a diminuição dos impactos sócio-ambientais na escolha das fontes energéticas.

O processo de reestruturação do setor elétrico iniciado em 1995, com a “meia sola” do que ficou conhecido como o "Novo Modelo do Setor Elétrico" a partir da lei 10.848 de março de 2004, que instituiu as atuais bases do mercado de energia brasileiro, desestruturou por completo o sistema existente, principalmente com a introdução de um modelo mercantil. A partir de então a energia elétrica é tratada e sujeita as leis de mercado. Não muito diferente de um pacote de bolacha comprado no mercadinho da esquina.

O que poderia parecer uma vantagem comparativa devido a ¾ da energia elétrica produzida no país ser gerada nas hidroelétricas (o restante com as termoelétricas, mais caras), acabou se tornando um grande motivo de preocupação. Em particular, devido às mudanças climáticas e seus efeitos decorrentes, que cada dia mais tem assola o planeta Terra. Por exemplo, o calor extremo no Sudeste e a seca no Nordeste brasileiro. O que está acontecendo agora, portanto, é exatamente o que os cientistas do clima prevêem que começará a ocorrer com mais frequência daqui para frente.

Virou moda, ainda mais em ano eleitoral, falar mal da política energética do governo federal. Em parte com toda razão, visto as conseqüências nefastas do modelo mercantil adotado, e que resultou em tarifas escandalosamente altas, uma sofrível qualidade no abastecimento com as interrupções freqüentes no fornecimento de energia elétrica, os apagões (na geração e transmissão) e os apaguinhos (na distribuição). Além dos riscos cada vez maiores do racionamento.

Todavia o que chama a atenção, e nos indigna é a critica partir de setores, de pessoas, que até “ontem” estavam à frente da gestão da política energética, e que foram e são os responsáveis, coadjuvantes diretos juntamente com os gestores atuais, dos descaminhos e descalabros, que tem levado a tanta insegurança e  problemas para o presente e futuro do Brasil.

Nas criticas atuais que partem de candidatos presidenciais (ora aliados, ora opositores), políticos oportunistas, “especialistas” de plantão (cada partido político tem o seu), de jornalistas setoriais, de consultoras, lemos, vemos e ouvimos uma ladainha que se repete insistentemente, não importa que o que se defende hoje, se ataque amanhã. São visões de curto prazo, imediatistas, cujo objetivo é o desgaste político. Não existe compromisso com as idéias, com a coerência, enfim com o país. É um vale-tudo onde a busca pelo poder político é o que interessa, mesmo que para isso o país afunde.

O que importante é minar quem esta no poder. E ai, se incluem os “lobistas”, fabricantes de equipamentos que querem “vender” sua tecnologia, as grandes construtoras que querem construir mais e mais usinas, escritórios de engenharia. Aqui é o interesse econômico que prevalece ao interesse nacional.

O que é comum na política energética do governo anterior e do vigente é a falta de planejamento (em uns mais e outros menos), de investimentos necessários à modernização do sistema de transmissão e distribuição, a valorização dos técnicos e funcionários do setor, a falta de apoio na diversificação da matriz elétrica incorporando novas fontes renováveis de energia (sol, vento), uma política agressiva de conservação e uso eficiente de energia em conjunto com uma política industrial destinada a equipamentos mais eficientes, e uma falta de transparência crônica aliada a decisões antidemocráticas do Conselho Nacional de Política Energética. Que dê Conselho não tem nada, simplesmente aprova as propostas do poder executivo. E sem dúvida urge desbancar grupos políticos conservadores, retrógrados e com uma ética questionável no manejo da coisa pública instalados há décadas no Ministério de Minas e Energia.


A receita para sair do “buraco negro” em que se meteu o setor elétrico brasileiro requer vontade política. Mas que lamentavelmente nem o atual governo tem, e nem os anteriores tiveram. Portanto cabe a nós, o povo, decidir o que realmente queremos para nosso país. O resto são churumelas.
Sul da Bahia, garantia da lei e da ordem para quem?
por Marcelo Zelic
 
 
 
“Não pode, porém, a República permanecer na imobilidade com que tem assistido, em muitos casos, ao massacre de índios e sua sujeição a um regime de trabalho, semelhante ao cativeiro, sob o fundamento de lhe ser indiferente saber até que ponto pode coadunar-se com a lei e as responsabilidades de governo…” 20/06/1910 – Dr. Rodolpho Miranda Exposição de motivos para a criação do SPI
 
 
 
 
 
 
Passados 104 anos da criação do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), seguimos com o mesmo imobilismo por parte do Estado brasileiro no que diz respeito ao reconhecimento dos direitos constitucionais dos índios brasileiros e à educação adequada para o entendimento de que o Brasil é multicultural e pluriétnico.
 
Desde 2012, os povos Pataxó, Tumbalalá e Tupinamba da Bahia esperam a assinatura da portaria declaratória de suas terras. Segundo nossa Constituição Federal de 1988, deveria ter sido assinada por autoridade competente até 1993, mas os decretos de homologação e as portarias declaratórias repousam nas gavetas da Presidência da República e do Ministério da Justiça à espera de vontade política. Outras 18 áreas de várias partes do Brasil também estão guardadas nessas gavetas.
 
A presidenta Dilma frente à situação de conflito em que vive, por exemplo, os Tupinambá, no sul da Bahia, em vez de assinar o processo de homologação de suas terras (47.376 ha), optou por assinar um decreto de uso da força para a  garantia da lei e ordem.
 
Quais interesses movem o Estado brasileiro a não regularizar essas terras indígenas de direito originário já reconhecidas? Qual desordem irão combater os militares enviados à região?
 
Sobre os tempos da ditadura militar a Bahia é lembrada, entre outros fatos, como o lugar onde morreu Carlos Lamarca. Ele, Glauber Rocha e tantos baianos tiveram seus direitos reconhecidos pelo Estado em reparação às violências sofridas. Às suas famílias o Estado brasileiro pediu desculpas em atos solenes organizados pelo Ministério da Justiça.
 
Porém, nada ainda foi feito em relação para repararação das tragédias vividas pelas populações indígenas.
 
Nos anos 60, um genocídio ocorrido em Itabuna exterminou duas aldeias inteiras para a tomada de suas terras. Foi a reincidência de um massacre praticado em 1951 com o mesmo objetivo e inúmeros assassinatos aconteceram na região, mas para os descendentes dessas populações atingidas o conceito de reparação não os alcança.
 
O Relatório Figueiredo, produzido pelo procurador Jader de Figueiredo Correia para o Ministro Albuquerque Lima entre 1967-68, traz informações importantes sobre a violação dos direitos indígenas na Bahia, que pedem, sim, reparação do Estado brasileiro para com as famílias dos povos indígenas atingidos. Reparação coletiva baseada no reconhecimento de seus territórios.
 
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Em depoimento prestado na Câmara dos Deputados para a CPI de 1963, o Sr. Cildo Meirelles, irmão do indigenista Francisco Meirelles, que prestava serviços ao SPI sobre questões de terra, aponta:
 
“O Deputado Azziz Maron, da Bahia, por exemplo, é um dos grandes invasores da área da reserva de Itabuna. Essa reserva dos índios da Bahia é quase toda ela em zona de cacau, terra de primeira qualidade, às vezes, a terra é boa para o café, mas não presta para cacau. O filho do Senador Juracy Magalhães, que se suicidou e era deputado, era também dono de outra grande área invadida.” [1]
 
José Maria da Gama Malcher, ex-diretor do Serviço de Proteção ao Índio e ex-secretário do Conselho Nacional de Proteção aos Índios à época de seu depoimento, quando perguntado se no Posto Indígena Caramuru-Paraguaçu “a área é toda do SPI”, respondeu de pronto: NÃO. “Tenho a impressão de que os arrendamentos são de tal monta que até a casa do Posto está arrendada.” [2]
 
Gama Malcher não foi a única voz que denunciou o esbulho das terras indígenas de Itabuna, registrado no Relatório Figueiredo. Armando Ribeiro da Cruz e outras duas pessoas em outubro de 1967 denunciam em carta ao Ministro General Albuquerque Lima o roubo praticado. [3]
 
O depoimento contundente de Helio Jorge Bucker em 1967, quando completara 16 anos de serviço público como funcionário do SPI, tendo atuado como chefe dos Postos Indígenas La Lima, Capitão Iacri e Caramuru-Paraguaçu, este em Itabuna e chefe das 5ª e 6ª Inspetorias Regionais, exercendo também funções de inspetor itinerante, traz uma série de iirregularidades no SPI sobre “o esbulho as terras indígenas praticados por grupos políticos e econômicos.”
 
Helio Bucker expõe os casos de vários estados onde os povos Kadiweu, Kaiowá, Xavante, Terena, Bororo, Nambikwara, Pareci, Tapayuna, Rikbaktsa, Avá Canoeiro, Arara, Kayabi, Cinta Larga e Pataxó perderam suas terras mediante fraude jurídica e violência. [4]
 
Voltando ao sul da Bahia, região em que neste ano de 2014 as Forças Armadas, junto com outras forças de segurança, vão atuar a mando do governo federal para garantir a lei e a ordem diz:
 
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É preciso que a sociedade reflita sobre estes depoimentos. É preciso que as forças de segurança deslocadas para lá saibam destes fatos. Afinal, dependendo de como agirem, podemos reparar estas violências cometidas pelo Estado ou repetir as do passado recente contra essas populações.
 
A portaria que autoriza o uso interno das Forças Armadas determina que “a tropa empregada numa Op GLO (operação de garantia da lei e ordem) poderá fazer face a atos ou tentativas potenciais capazes de comprometer a preservação da ordem pública ou ameaçar a incolumidade das pessoas e do patrimônio.”
 
Infelizmente, o texto acima corrigido para a publicação da 2ª versão da portaria do Ministério da Defesa ficou sem sentido. Ele introduz algo que as Forças Armadas poderão fazer e não explicita o quê, pois foram suprimidos os exemplos que davam um parâmetro para a sociedade compreender o objeto concreto e as situações a serem enfrentadas durante uma Op GLO.
 
Os ítens abaixo foram suprimidos do texto da 1ª versão:
a) ações contra realização de pleitos eleitorais afetando a votação e a apuração de uma votação;
b) ações de organizações criminosas contra pessoas ou patrimônio incluindo os navios de bandeira brasileira e plataformas de petróleo e gás na plataforma continental brasileiras;
c) bloqueio de vias públicas de circulação;
d) depredação do patrimônio público e privado;
e) distúrbios urbanos;
f) invasão de propriedades e instalações rurais ou urbanas, públicas ou privadas;
g) paralisação de atividades produtivas;
h) paralisação de serviços críticos ou essenciais à população ou a setores produtivos do País;
i) sabotagem nos locais de grandes eventos; e
j) saques de estabelecimentos comerciais.
Os itens c, f e g têm sido usados pelos povos indígenas do estado da Bahia como forma de pressionar o governo federal a tirar da gaveta as portarias que reconhecem o seu direito originário às terras em disputa no estado.
 
Com as ações repressivas desencadeadas, o Estado  pretendia na 1ª versão “restabelecer o livre estado democrático de direito, a paz social e a ordem pública”.
 
Porém, uma ação dura do Estado na 2ª versão passou a ser associada “à defesa da ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio”.
 
Sendo que no item 4.4.3 que define as principais ações que norteariam a intervenção federal, a defesa de propriedades em litígio não consta como atribuição definida para o emprego das Forças Armadas em uma região do país. Fica elencada e escondida atrás da expressão “entre outras” acrescentada ao texto.
 
Como atuarão as tropas federais frente a ocupação legítima destas terras  por parte dos indígenas? Qual o entendimento sobre o direito ao patrimônio que será objeto da ação do governo? É papel do estado brasileiro resolver no braço forte ou na mão amiga esta difícil situação histórica de roubo de terras indígenas e muita violência?
 
Há consciência entre membros e instâncias das Forças Armadas que seu papel é garantir a constituição e não atuar para resolver questões de terras como que a serviço de interesses privados e políticos eleitorais.
 
A esses setores, em respeito ao compromisso que expressam ter com a democracia, bem como àqueles que se preocupam com um país próspero e de todos, dirigimos as informações abaixo.
 
Em 03/04/1968, Benevides Andrade, agente do Departamento de Polícia Federal, compareceu espontaneamente para dar seu depoimento.
 
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A íntegra do depoimento do agente Benevides Andrade está aqui [5]
 
Em 1937, Benevides Andrade participou da Comissão do Serviço Geográfico do Exército, que demarcou as terras pertencentes ao Posto Indígena na região de Itabuna.
 
O capitão Moisés Castelo Branco Filho, que em 1968 era general da reserva, foi chefe da comissão de demarcação. Em 1937, ele deixou “os índios donos da terra sem problemas com vizinhos, gozando de boa saúde e possuidores de gado, animais e etc. O Exército Brasileiro demarcou terras com cerca de 20 léguas de cada lado”, disse Benevides Andrade.
 
Em 1966, hospedado em um hotel em Salvador, Benevides Andrade ouviu de um fazendeiro:
 
“as terras do PI Caramuru-Paraguaçu haviam sido retalhadas criminosamente por funcionários do próprio SPI e distribuídas mediante propinas entre pessoas que não sabe nomear, mas que se trata de políticos; que por ocasião da ocupação das terras pelos falsos donos … … O fazendeiro assegurou que os índios foram assassinados e que o prédio da sede do posto não mais existia como prédio público”.
 
Chama atenção no depoimento deste agente policial federal o fato de ele ter assistido “o incêndio na Secretaria de Agricultura em Salvador, prédio onde se encontravam os arquivos do Departamento de Terras do Estado e ouviu os comentários populares que teria sido criminoso, mas que os arquivos teriam sofrido poucos danos.”
 
Incêndio criminoso também queimou os arquivos do SPI no Ministério da Agricultura quando da instalação da Comissão de Investigação do Ministério do Interior em 1967, levando Jader de Figueiredo Correia e equipe a percorrer o Brasil para realizar seu trabalho.
 
Qual propriedade será objeto da ação por garantia da lei e da ordem que se desenvolve no sul da Bahia? A propriedade demarcada pelo Exército brasileiro em 1937, que corresponde a uma das áreas guardadas há dois anos nas gavetas do Ministério da Justiça, ou as propriedades cartoriais expropriadas dos indígenas brasileiros à custa de genocídio, assassinatos e muita propina.
 
Por que estas terras comprovadas hoje pela documentação produzida pela Fundação Nacional do Índio (Funai), e que aguardam somente a assinatura do Ministro da Justiça e da Presidenta da República, receberiam pagamentos de arrendamento depositados em conta do Banco do Brasil em fevereiro de 1967, se não fossem terras dos índios da região?
 
Em 17 de janeiro de 1962 o diretor substituto do SPI, Lourival da Mota Cabral designou, através da Ordem de Serviço nº 3, [6] o agente público Walter Samari Prado a verificar in loco a situação dos indígenas do posto  Kirirí. Entre as informações que deveriam constar do relatório estavam listadas: “as invasões de terras e quais os invasores”, bem como “se há terras arrendadas e, se for o caso, a quem e em que condições”.
 
O relatório apresentado revela:
 
as terras do Kirirí, estão todas elas invadidas ou ocupadas, existindo até Vilas nas mesmas. No entanto, alvitrio (sic) relacionar os nomes dos invasores mais recentes protegidos de autoridades locais” e que “não há nenhum arrendamento autorizado nem por funcionários do SPI, nem por qualquer outra autoridade. Apenas os comerciantes estabelecidos, em diversos ramos, pagam impostos devidos à Prefeitura.
 
E concluí:
 
Não poderíamos encerrar as páginas deste nosso RELATÓRIO, depois da inspeção que fizemos às ALDEIAS de “MIRANDELA” e “MASSACARÁ”, no estado da Bahia, respectivamente dos índios Kirirí e Caimbés, sem salientar o problema mais SÉRIO e VITAL, de sobrevivência para aqueles pobres índios, qual seja a solução definitiva da legitimação das terras que possuem desde tempos imemoráveis, por doação que lhe fez a COROA PORTUGUESA, esbulhados, por anos afora, sem até agora terem a fortuna de um desfecho vitorioso…
 
Por essas e outras histórias coletadas em documentos e depoimentos nos vários estados brasileiros visitados, que, em 1967, o procurador Jader de Figueiredo Correia – designado interventor no SPI pelo General Albuquerque Lima e agindo em defesa dos interesses do estado brasileiro – declarou suspensos todos os arrendamentos praticados em terras indígenas na região de Itabuna e no Brasil.
 
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Este é um momento importante para o país, pois o sul da Bahia é hoje palco do embate entre a reparação/mudança de conduta do Estado brasileiro e a repetição de violências vividas, que marcaram de forma tão brutal esses cidadãos brasileiros.
 
Há dois caminhos. Colocar as Forças Armadas para atuar contra o que determina nossa Constituição e expulsar os indígenas das terras ocupadas. Ou enviá-las para garantir o legítimo direito de organização e manifestação destes povos baianos na busca de seus direitos, proporcionando tempo para que o governo federal viabilize a assinatura das portarias e decretos de homologação destas terras, acabando com a disputa. Depois, enviar as Forças Armadas para atuar, por exemplo, em Mato Grosso, nas terras dos Xavantes ou, em Roraima, na Raposa Serra do Sol, a fim de garantir e defender a Constituição, promovendo a desintrusão daqueles que por décadas se beneficiaram de um bem que não lhes pertencia.
 
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Composição de fotos publicadas no Jornal do Grupo Tortura Nunca Mais do RJ, ano 23, nº 68, julho 2009  [10]
 
Cabe à presidenta Dilma Rousseff e ao Ministro José Eduardo Cardozo conduzir o país para a afirmação do estado democrático de direito, incluindo como parte da ação federal no sul da Bahia a presença do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana nas operações de garantia de lei e ordem [7] como observador em ações que envolvam terras em litígio judicial. Assim como  aplicar o conceito da reparação coletiva, assinando o reconhecimento das terras indígenas baianas.
 
Formular saídas para este conflito apenas baseadas na repressão aos movimentos indígenas, cedendo a setores da sociedade que apostam na imposição de seus pseudodireitos mediante a violência, chantagem e ameaças contra a realização dos direitos indígenas e a pessoa do índio [8], acarretará mais violência, dor e opressão a estes povos, que reafirmam dia a dia a sua existência como diferentes, buscando a mesma tranquilidade que todos desejamos.
 
O desfecho no sul da Bahia irá aproximar ou afastar o país do caminho da construção democrática do Estado de direito, bem como nossa sociedade do conceito do Nunca Mais.
 
Homologar as terras indígenas no estado da Bahia é construir mecanismos de não-repetição, apesar da verdade ser libertadora, somente ela não é capaz de construir o país que índios e não-índios merecemos.
 
Pelo respeito e integridade dos territórios, culturas, crenças e desejos dos cidadãos índios brasileiros e por um Brasil: Nunca Mais sem Povos Indígenas.
 
Marcelo Zelic é  vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP e membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo. Coordenador do projeto Armazém Memória.
[2]  Acessar citação em http://www.docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=DocIndio&PagFis=445
[3]  Acessar carta em http://www.docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=DocIndio&PagFis=1391
[4] Acessar íntegra do depoimento: http://www.docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=DocIndio&PagFis=3729
[5] A FUNAI hoje sofre um ataque do executivo e legislativo para efetuar um desmonte de suas funções constitucionais.
[6] Acesso ao Relatório da visita ao Posto Kirirí: http://www.docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=DocIndio&PagFis=7536
[7] Tanto para esta ação como para as demais que forem acionadas por esta portaria do Ministério da Defesa.
[8]  Como o recente leilão de gado realizado no Mato Grosso do Sul para arrecadar recursos para o pagamento de “milícias privadas”
[9] Endereço de acesso: http://www.docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=DocIndio&PagFis=5210
[10] Para ler a íntegra das denúncias da tortura sofrida pelos indígenas Tupinambás em 2009, acesse: http://www.torturanuncamais-rj.org.br/jornal/gtnm_68/temacapa.html

Minha fé é política porque ela não suporta separação entre o corpo de Jesus e o corpo de um irmão. 
Minha fé é política porque crê que a economia pode mudar um dia e ser toda solidária.
Minha fé é política porque acredito na juventude, na sua força e inquietude, no seu poder de diferença
e na força da velhice que com sua sabedoria e experiencia ainda tem muito a colaborar, para um país justo,  igualitário sem tantas injustiças sociais..  
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