quinta-feira, 30 de julho de 2015

MUDANÇAS CLIMATICAS

Caros amigos,

Uma cientista começou a chorar durante uma entrevista sobre poluição e gás carbônico enquanto descrevia um futuro sombrio no qual os oceanos estariam arruinados. Cabe a nós impedir que o pesadelo dela se torne realidade. 

Daqui a quatro meses, o mundo será palco da maior Cúpula do Clima da década. E nela, os líderes mundiais poderão finalmente concordar com uma meta revolucionária para livrar o mundo dos combustíveis fósseis. É a luz no fim do túnel que nos guiará para longe da catástrofe climática, sinalizando o fim da era da energia suja para os políticos, empresas e bolsas de valores em todos os países. A vitória não será fácil, mas se fizermos com que os líderes sintam o poder deste movimento, venceremos. 

No ano passado, nossa comunidade foi parte da maior mobilização climática da história: a Marcha do Clima. E no dia 29 de novembro deste ano, horas antes da chegada dos líderes na Cúpula do Clima de Paris, faremos uma mobilização ainda maior! Cliquem para confirmar sua participação na Marcha do Clima de 2015 e vocês serão os primeiros a saber o que vai acontecer em suas cidades e regiões: 

https://secure.avaaz.org/po/save_the_date_loc/?bhkFkbb&v=62561

Paris não é o destino final contra as mudanças climáticas, mas não faltam motivos para termos esperanças de que o impasse sobre o assunto acaba nessa Cúpula: o Papa Francisco pediu ações sérias contra a mudança do clima e os países do G7 se comprometeram a eliminar gradativamente os combustíveis fósseis de suas economias; enquanto isso, os custos de energia renovável ​​caem a cada dia. Em todo o mundo, o movimento do clima está vencendo, forçando a energia limpa na pauta de líderes nacionais e tirando milhões de dólares em subsídios dos combustíveis fósseis. 

Já temos a tecnologia que precisamos para desencadear uma revolução e mudar o curso de nossa história para longe das mudanças climáticas. Mas durante décadas, houve incentivos públicos bilionários para poderosas empresas de combustíveis fósseis. A menos que nossos líderes se dêem conta que as pessoas em todas as partes do planeta vão lutar pelo seu futuro, há um risco real de que os políticos cedam à pressão das empresas novamente. 

Nosso movimento com 42 milhões de pessoas foi construído para pôr um fim nisso! As marchas do clima em 2014 colocaram nossos líderes a par de um novo mundo que vem aí. Agora precisamos de uma marcha gigante em Paris, com ações coordenadas nas principais cidades globais e milhares de eventos menores em solidariedade organizados em todo o mundo para garantir que nossos governos saibam que não vamos deixar que os lucros de empresas de combustíveis fósseis sejam mais importantes que o futuro de nossa espécie. Clique abaixo e confirme sua participação: 

https://secure.avaaz.org/po/save_the_date_loc/?bhkFkbb&v=62561

Caso represente uma organização que esteja interessada em participar, clique aqui para nos avisar do interesse de uma parceria com a Avaaz para organizar essa grande mobilização: 

https://secure.avaaz.org/po/pcm_2015_org_sign_on/?b
Com esperança e gratidão, 

Oli, Morgan, Ricken, Iain, Emma, Ari e toda a equipe da Avaaz 

FONTES: 

A conferência de 2015 sobre o clima (Estadão)
http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-conferencia-de-2015-sobre-o-clima-imp-,1156542 

Prefeitos brasileiros vão a encontro sobre desenvolvimento no Vaticano (G1)
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/07/prefeitos-brasileiros-vao-encontro-sobre-desenvolvimento-no-vaticano.html 

Empresas americanas comprometem 140 bilhões de dólares para reduzir emissões de carbono (R7)
http://noticias.r7.com/dino/economia/empresas-americanas-comprometem-140-bilhoes-de-dolares-para-reduzir-emissoes-de-carbono-27072015 

Vivemos mudanças climáticas sem precedentes desde 1850 (Revista EXAME)
http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/vivemos-mudancas-climaticas-sem-precedentes-desde-1850 

Não há plano B se a cúpula do clima de Paris terminar em fracasso, diz o diretor climático da UE (The Guardian) (em inglês)
http://www.theguardian.com/environment/2015/jul/06/no-plan-b-if-paris-climate-summit-ends-in-failure-says-eu-climate-chief 

Apple, Microsoft, Google e outras empresas americanas investem US$ 140 bilhões para enfrentar mudanças climáticas (International Business Times) (em inglês)
http://www.ibtimes.co.uk/apple-microsoft-google-other-us-firms-commit-140bn-address-climate-change-1512696 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

DAS CHUVAS

O mês de julho foi acima do esperado em termos de chuva, claro que são chuvas finas, que não juntou água, mas, deu para animar, principalmente quem cria, com o pasto sendo revigorado.
Os campos de experimentação com a palma estão bons.

Análise / Delfim Netto

Hora de conversar

por Delfim Netto — publicado 29/07/2015 04h23
Os Três Poderes têm o dever de negociar uma cooperação mútua. A situação, por mais terrível, é superável
Antonio Cruz/ Agência Brasil
congresso-poderes
A situação, por mais terrível que possa parecer, é superável, e exigirá uma cooperação mais íntima entre os Três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
A preliminar para a sociedade brasileira recuperar a tranquilidade e a confiança em si mesma e no seu governo, condições absolutamente necessárias para a volta de um crescimento social e econômico mais cooperativo e relativamente harmônico, no qual a disputa natural pela distribuição do produzido seja civilizada, é encarar as dificuldades e dar-lhes visibilidade. É tempo de reconhecer que a “conjuntura” está mesmo tão mal como parece e que a “estrutura” está ainda pior.
É preciso recusar a hipótese de que as dificuldades vividas pelo País se devem às diferenças ideológicas produzidas pelo embate entre uma esquerda retrógrada e infantilizada que vocifera e uma velha direita troglodita espertamente organizada, a que se assiste, todo fim de tarde, nos programas tragicômicos transmitidos pela TV Câmara. O que preocupa e assusta é o fato de os deputados mais qualificados e mais experientes das duas facções, que com conhecimentos mais alto e voz mais baixa poderiam melhorar a qualidade das decisões, parecerem sentir-se desconfortáveis e intimidados com o babaréu que resulta da vigorosa e absoluta certeza que só a ignorância confere. A situação, por mais terrível que possa parecer, é superável, mas levará tempo e exigirá uma cooperação mais íntima entre os Três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário –, além da reconquista da confiança que deve existir entre eles e a sociedade.
Ora, essa confiança só pode ser produto de uma aliança política fundada sobre alguns alicerces comuns. Vamos combinar, então:
1. No Brasil, a cobra mordeu o rabo. Sem a “confiança” no governo, o “crescimento” não voltará e, sem o “crescimento”, não voltará a “confiança” no governo. No nível de desestruturação atual é pouco provável um casual pequeno aumento da “confiança” estimular um pequeno aumento do “crescimento”, que, por sua vez, geraria novo aumento da “confiança”, e assim por diante. O caminho inverso, em que um aumento acidental do “crescimento” estimularia um aumento da “confiança”, e este um novo “crescimento”, parece ainda menos provável. Os dois têm, portanto, de ser “esperados” ao mesmo tempo!
2. A grande lição que acaba de nos ensinar a crise da Grécia é que, a longo prazo, os constrangimentos impostos pela realidade econômica prevalecem sobre a metafísica “vontade política”, quando se trata do distributivismo irresponsável. Não é uma questão ideológica imposta pelas injustiças do “capitalismo”. Neste, como no socialismo “ideal” (se alguém sabe o que é) ou na sociedade “natural solidária” (sugerida na recente encíclica Laudato Si', do papa Francisco), há um fato insuperável: a continuidade da oferta ou a continuidade do crescimento dos bens consumíveis exige uma harmonia entre o nível do consumo e o de investimento.
3. A restrição física insuperável é que, em qualquer regime, só pode ser distribuído entre os integrantes da sociedade o que ela mesma, com seus recursos naturais, sua população e sua tecnologia, já produziu. O que ela eventualmente recebeu como “doação” excedente nas trocas com outras sociedades (melhora das relações de troca) ou o que delas tomou emprestado.
A aceitação dessas restrições físicas, que transcendem as ideologias, pode permitir a construção de uma maioria política capaz de sustentar um programa que acelere o desenvolvimento, condição necessária para uma melhor integração social. Lembremos que “desenvolvimento” é apenas o outro nome que se dá ao “aumento da produtividade do trabalho”. Este é condicionado pelo “ambiente geral”, mas é determinado pelo aumento do estoque (investimento) do capital associado a cada trabalhador e da sua capacidade para operá-lo. Logo, um programa de cooperação política de uma maioria responsável que aumente o investimento em infraestrutura pelo governo, que dê estímulo ao investimento do setor privado e seja atento ao “reequilíbrio fiscal”, pode ser um bom início.
Provavelmente, é a uma cooperação desse gênero que se refere a sugestão de Michel Temer, quando apela para uma união política dos esforços de todos os brasileiros sensatos. É preciso rejeitar a tentação de resolver nosso problema fora da mais rigorosa obediência às restrições constitucionais de 1988. Estas são o “garante” do futuro da sociedade civilizada que queremos construir. Como diria o doutor Ulysses, “chegou a hora de conversar”.

Brasil tem que encarar a demarcação de terras indígenas’, diz Lucia Murat

No final dos anos 90, Lucia Murat foi até o Mato Grosso do Sul rodar ‘Brava Gente Brasileira’, uma ficção que tinha como parte do elenco de apoio os Kadiwéu, comunidade indígena de conhecido espírito guerreiro, inclusive com papel de destaque na Guerra do Paraguai (1864-1870).
Depois das filmagens, manteve contato com o povo de lá à distância, até 2009, quando voltou ao local. Ao presenciar a entrada da eletricidade e suas inevitáveis consequências, teve a ideia de fazer o documentário ‘A Nação Que Não Esperou Por Deus’, codirigido por Rodrigo Hinrichsen, que chega este mês aos cinemas, depois de passar pelo Festival É Tudo Verdade.
Ao montar sua equipe para o novo projeto e começar a viabilizá-lo, foi surpreendida pela eclosão da disputa pela retomada de terras, com os Kadiwéus querendo de volta o espaço que foi invadido pelos pecuaristas da região. A questão ocupa boa parte do filme, principalmente no final, quando vemos uma negociação delicada entre os dois grupos, conduzida pelo líder indígena Ademir – que, após o filme, foi assassinado por outro Kadiwéu, devido a uma disputa de poder interna.
Durante as filmagens, a cineasta teve acesso ao Relatório Figueiredo, tema do vídeo exclusivo de making of, disponível abaixo, e sobre o qual comentou posteriormente: “Nós já tínhamos voltado da primeira fase de filmagem quando tive acesso ao Relatório Figueiredo. Primeiro, soube que das 7 mil páginas, algumas tratavam da questão das terras Kadiwéu. A partir daí, conseguimos a íntegra das 7 mil paginas e dividimos entre a equipe da produtora para podermos rastrear tudo que o relatório continha sobre os Kadiwéu. Terminamos esse trabalho poucos dias antes de voltarmos para a segunda fase das filmagens”.
“Foi chocante descobrir a forma como os fazendeiros entraram na reserva, e com a ajuda do SPI (Serviço de Proteção aos Índios). Essa descoberta foi fundamental pois nos permitiu encerrar o filme mostrando como a invasão das terras tinha começado”, completa.


O documentário trata também de questões como o avanço da igreja evangélica entre os índios, sempre mais preocupado em apresentar o painel da região e evitando juízos de valor.
Sobre essa volta ao território que havia explorado antes, a situação dos Kadiwéu hoje e o processo de distribuição de ‘A Nação Que Não Esperou Por Deus’, Lucia Murat falou ao TelaTela:

TelaTela – Depois dessa imersão, qual é sua visão sobre a questão indígena no Brasil?

Lucia Murat – Acho que a questão fundamental é a questão da terra. Essa sim é a questão que o Brasil tem que encarar, a demarcação das terras indígenas. Acho que a partir desse ponto eles vão ter condições de definir as vidas deles. A gente, enquanto País, deve às comunidades indígenas e tem que realizar.
De que forma você acha que as realidades do homem branco e da comunidade indígena podem coexistir?
Existe uma possibilidade de comunhão. Existe na medida em que, por exemplo, eu sou branca e fiz dois filmes sobre eles sem nunca fingir que eu não era branca, nunca fingi que não era estrangeira àquela realidade. Foram dois filmes feitos com muito carinho e com muita tentativa de eu abrir meu coração, abrir minha cabeça, para aquela realidade. Por mais que seja uma visão “de branco”, não vou dizer que não é.
Eu fiz um documentário muito tempo atrás chamado ‘O Olhar do Estrangeiro’, que era basicamente sobre os clichês da indústria cinematográfica sobre o Brasil. Da mesma forma que eu acho que diretores como Orson Welles vêm ao Brasil e são estrangeiros, têm o olhar de fora, mas eles querem vivenciar aquilo de uma outra maneira, eu tentei vivenciar com carinho e me abrindo ao máximo para aquela cultura. E nesse sentido acho que consegui ter uma integração. Agora, é óbvio que você tem todos os outros aspectos negativos que estão no documentário.
Inclusive essa presença da Igreja Evangélica, uma questão que é sugerida no filme, mas não de um jeito pesado.
Não, porque eu não acho que seja fundamental, nem que isso não possa retroagir. Por exemplo, várias daquelas pessoas que estavam na cena da “luta” com os pecuaristas são evangélicas. Praticamente todos eles [os Kadiwéu] são. O que não significa que eles são fundamentalistas.
Eles são evangélicos um pouco como o Ademir me disse uma vez: “Eu sou por agradecimento”. Porque a primeira igreja evangélica que chegou lá funcionou um pouco naquilo que a Funai não fazia. Fornecia medicamentos, assistência médica. Isso não significa para mim que eles sejam evangélicos totalmente fundamentalistas. Ele [Ademir] fudamentalmente era uma liderança indígena no processo da retomada. Então não vou considerar que ele era uma evangélico. Para mim, ele era uma liderança indígena.
Você acha que a igreja soube aproveitar essa carência e se fortalecer em cima disso?
Tranquilamente. Acho que a igreja evangélica entra no espaço do poder público. À medida que esse espaço for ocupado pelos próprios índios, que eles consigam continuar nesse processo de retomada de suas terras e de redescoberta da história, eu acho que isso pode ser regredido. Por isso não coloquei de um jeito pesado.
luciamurat
Num momento do filme é mostrado um índio pintando o rosto e falando da importância de fazer este ritual antes de ir para a guerra. Depois, mais para frente, o Ademir, líder da comunidade, está de cara pintada no centro de uma discussão entre os Kadiwéu e os pecuaristas locais. Eles então já têm consciência que a guerra hoje saiu do campo físico e partiu para o campo político?
Sim, têm muita consciência disso. Eu me lembro que uma das fazendeiras chegou lá e disse “eu fiquei arrasada que eu cheguei aqui e o Ademir estava pintado”. E ele fez isso como manifestação mesmo, apesar de que no tempo todo na reunião ele tem uma capacidade de negociação e de diálogo incrível, no bom sentido. Ele sabe que é necessário negociar, e faz isso muito bem.

O filme terá uma distribuição alternativa, além do circuito comercial. Por que esta escolha?

Hoje o circuito comercial está muito fechado para qualquer filme que trabalhe fora do ‘entertainment’, seja documentário ou ficção. Então a gente quer criar circuitos alternativos, onde esses filmes e essas discussões possam ser feitas. A gente tá se aliando à Taturana Mobilização Social, por exemplo, e estamos fornecendo o filme com essa intenção, de mobilizar socialmente as pessoas e usando o filme para discussão.



Festival de Brasília anuncia filmes em competição

O calendário do segundo semestre será bastante agitado. Vêm por aí os festivais de Gramado (7 a 15 de agosto),  de Brasília (de 15 a 22 de setembro), Rio (de 1 a 14 de outubro) e  Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (22 de outubro a 4 de novembro).
Nesta segunda-feira, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro divulgou a lista de selecionados para sua edição 2015. Entre 130 longas-metragens, 221 médias e 237 curtas-metragens de vários estados inscritos, seis longas e 12 curtas vão disputar os R$ 340 mil em prêmios que o festival distribui. Os seis longas em competição são A Família Dionti, de Alan Minas, com produção de Daniela Vitorino; Big Jato, de Claudio Assis; Fome, de Cristiano Burlan; Para Minha Amada Morta, de  Aly Muritiba; Prova de Coragem, de Roberto Gervitz, e Santoro – O Homem e sua Música. 
Já os 12 curtas e médias-metragens que concorrem ao troféu Cangando, são A Outra Margem, de Nathália Tereza; À Parte do Inferno, de Raul Artuso, Afonso é uma Brazza, de Naji Sidki e James Gama, Cidade Nova, de Diego Hoefel; Command Action,  de João Paulo Miranda Maria, Copyleft,  de Rodrigo Carneiro, História de uma Pena, de Leonardo Mouramateus; O Corpo, de Lucas Cassales; O Sinaleiro, de Daniel Augusto, Quintal, de André Novais Oliveira; Rapsódio para o Homem Negro, de Gabriel Martins, 24min, e Tarântula, de Aly Muritiba e Marja Calafange.
Mariana Ximenes e Armando Babaioff
Adri (Mariana Ximenes) e Hermano (Armando Babaioff ) em cena de ‘Prova de Coragem’, novo longa de Roberto Gervitz
 A comissão de seleção de longas-metragens foi formada pelo montador e professor de cinema Giba Assis Brasil, pelo diretor Jeferson De, pela jornalista e mestre em cinema Juliana Reis e pelos membros da comissão curatorial do Festival, Renato Barbieri e Sérgio Moriconi. Já os curtas e médias foram escolhidos pelo premiado diretor Gabriel Mascaro, pela realizadora e curadora Marcela Borela e por Pablo Gonçalo, também integrante da comissão curatorial geral do evento.
Confira abaixo mais detalhes de todos os longas e curtas selecionados:
Longas
  1. A Família Dionti, de Alan Minas, 97min, RJ, 2015
  2. Big Jato, de Claudio Assis, 92min, PE, 2015
  3. Fome, de Cristiano Burlan, 90min, SP, 2015
  4. Para Minha Amada Morta, de  Aly Muritiba, 115min, PR, 2015
  5. Prova de Coragem, de Roberto Gervitz, 90min, RS, 2015
  6. Santoro – O Homem e sua Música, de John Howard Szerman, 85min30, DF, 2015
Curtas e médias
  1. A Outra Margem – Nathália Tereza, 26 min, MS, 2015
  2. À Parte do Inferno – Raul Artuso, 22min, SP, 2015
  3. Afonso é uma Brazza – Naji Sidki e James Gama, 23min, DF, 2015
  4. Cidade Nova – Diego Hoefel, 14min, CE, 2015
  5. Command Action – João Paulo Miranda Maria, 13min, SP, 2015
  6. Copyleft – Rodrigo Carneiro, 29min30, MG, 2015
  7. História de uma Pena – Leonardo Mouramateus, 30min, CE, 2015
  8. O Corpo – Lucas Cassales, 16min, RS, 2015
  9. O Sinaleiro – Daniel Augusto, 15min, SP, 2015
  10. Quintal – André Novais Oliveira, 20min, MG, 2015
  11. Rapsódio para o Homem Negro – Gabriel Martins, 24min, MG, 2015
  12. Tarântula – Aly Muritiba e Marja Calafange, 20min, PR, 2015


Análise

Os dilemas da cooperação internacional brasileira

por Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais — publicado 09/07/2015 02h20
A falta de clareza estratégica na relação de Brasília com Pequim, Bruxelas e Washington prejudica o País
José Cruz / Agência Brasil
Dilma Rousseff e Mauro Vieira
Dilma com seu chanceler, Mauro Vieira: a política externa de baixo perfil vai sendo substituída por uma prejudicial ao País
Por Cristina Soreanu Pecequilo
Os meses de maio e junho foram intensos na política externa do governo Dilma, caracterizada desde 2011 por um baixo perfil. À exceção da crise da espionagem gerada pelas denúncias de Edward Snowden e críticas a algumas intervenções militares, as movimentações foram quase sempre inerciais. Desta forma, chama a atenção o eixo Pequim-Bruxelas-Washington intensificado por Brasília.
Para muitos, tais dimensões seriam muito favoráveis por dar maior atenção à economia do que à política-ideologia, para outros, seriam apenas tentativas de externalizar os problemas e buscar investimentos e apoio ao governo, em momento de fragilidade. Do outro lado, são ações vistas com preocupação, pois colocam em xeque a autonomia.
Fosse esta uma prova de múltipla escolha, todas as alternativas seriam corretas, revelando uma realidade preocupante: a ausência de um projeto estratégico. Sem este projeto, todas as interpretações são possíveis, uma vez que as ações são mais direcionadas a responder demandas ad hoc e implementar ciclos virtuosos e relançamentos de parcerias. Tudo parece ser definido para “um futuro próximo” até que a próxima crise provoque alternâncias de enfoque. Agendas essenciais na América do Sul como Mercosul e Unasul, parecem ter saído de cena e quando aparecem, o fazem de forma tímida.
No que se refere ao eixo Brasília-Pequim, o mesmo foi marcado pelo anúncio de investimentos significativos em projetos de infraestrutura brasileiros em maio. A construção da rodovia transoceânica, a cooperação científico-tecnológica, e o aprofundamento dos intercâmbios no campo da energia foram alguns dos temas mais falados do “pacote chinês”. Este “pacote” foi apresentado pela oposição como uma válvula de escape do governo para cobrir sua impossibilidade de investir em tempos de ajuste fiscal, e como a criação de uma dependência com a China baseada em projetos de difícil realização. Além disso, argumentou-se que estes acordos somente aprofundariam a vulnerabilidade diante do desequilíbrio comercial com a China e a desindustrialização interna.
Bastante parciais, estas avaliações tinham como pano de fundo o temor de alguns grupos de que este reforço de cooperação Sul-Sul levasse a uma nova perda de espaço dos defensores da aproximação comercialista com a União Europeia e os Estados Unidos (sobre as quais parecem inexistir críticas). Ignorava-se a longa trajetória das interações China-Brasil dos últimos anos, em particular na agenda multilateral, por meio dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e eventos significativos como a criação do Banco dos BRICS ocorrida em julho de 2014 e em processo de implementação (assim como outros esforços de financiamento Sul-Sul que envolvem emergentes como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura).
O assunto China-Brasil acabou sendo quase esquecido em junho, que era visto como um mês decisivo para as pretensões de trocar o eixo Sul-Sul da política externa para o Norte-Sul. O próprio governo, ao não contestar estas impressões deixava aberta a porta para que se relativizasse a importância dos tratados. Nesta perspectiva dois objetivos eram destacados: o estabelecimento do acordo comercial Mercosul-União Europeia e o relançamento das relações bilaterais com os Estados Unidos.
A viagem da presidente Dilma à Cúpula União Europeia-Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) seria o marco deste primeiro alvo. Mais ainda, na impossibilidade de que se estabelecessem as conversações Mercosul-União Europeia devido a objeções e crises de parceiros como a Argentina, o Brasil poderia optar por ações bilaterais no âmbito da parceria estratégica com o bloco europeu. O resultado? Promessas de que nos próximos meses os blocos apresentariam suas ofertas para retomar as negociações, mantendo uma retórica positiva, mas sem reais avanços.
Este mesmo otimismo estendeu-se às previsões sobre a visita de trabalho aos Estados Unidos. Sugeria-se que os encontros prévios entre a presidente Dilma e o presidente Obama ocorridos na Cúpula das Américas do Panamá em abril, assim como conversas prévias em reuniões como as do G20 financeiro haviam preparado o terreno para uma reunião muito profícua (para a qual contribuía a retomada das relações diplomáticas Estados Unidos-Cuba).
Em termos práticos, a aparência é de que foram estabelecidos muitos avanços: a implementação do Global Entry em 2016, mecanismo de facilitação de vistos para viajantes frequentes e que impulsionaria o setor de negócios (e poderia ser o primeiro passo para a eliminação dos vistos); a abertura do mercado norte-americano à importação de carne in natura do Brasil; o aumento da cooperação educacional, científico, tecnológica, energética (com foco no pré-sal e biocombustíveis); o respeito à privacidade na Era Digital; uma nova agenda de cooperação em defesa e um acordo climático.
Neste acordo, os principais temas foram o fim do desmatamento, o reflorestamento e a redução de emissões contra o aquecimento global. Brasil-Estados Unidos repetiriam compromissos climáticos similares aos alcançados por China-Estados Unidos em 2014. Elogiar estes processos esconde um problema maior: a tentativa dos Estados Unidos de bilateralizar as negociações com as nações emergentes. Como resultado, mais um enfraquecimento do sistema multilateral, cujas perspectivas já não andam das melhores.
Temas políticos como a candidatura do Brasil ao assento de membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas não estiveram presentes. Ou ainda, demandas de reforma e atualização do multilateralismo, que antes eram bastante significativas. A ordem do dia foi evitar conflitos e tensões. Curiosamente, poucos dias após a presidente voltar dos Estados Unidos, novas denúncias de espionagem desta vez por meio do WikiLeaks vieram à tona, e foram rechaçadas pelo Brasil como “página virada”.
Muitas destas negociações já se encontravam em andamento desde 2011 como parte do “Diálogo da Parceria Global”, e não partiram do zero. São questões que fazem parte de um processo que abrange também interesses estadunidenses em recuperar terreno no Brasil, respondendo à ofensiva chinesa. Estas ações são parte de um processo conjugado de contrarreação hegemônica na qual se inserem outros projetos liderados pelos Estados Unidos, a Parceria Transpacífica (TPP) e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimentos (TTIP), e que visam conter os emergentes.
Embora esta ofensiva chinesa seja desmerecida por setores nacionais, ela não é subestimada pelos Estados Unidos, uma vez que faz parte do aumento de sua projeção estratégica global. Projeção que tem na América do Sul e na África, englobando o Atlântico Sul, zonas de interesse prioritárias por seu potencial de mercado, como produtores de energia, de commodities em geral e espaços geopoliticamente relevantes como rotas de passagem. Não é coincidência a reaproximação com Cuba, o interesse renovado no Porto de Mariel, diretamente relacionado ao Brasil (e em resposta ao aumento exponencial da presença da China na América Central).
Se no Brasil houvesse clareza estratégica sobre esta situação o País poderia elevar seu poder de barganha diante dos Estados Unidos e da China, em uma relação triangular, com impactos até sobre seu intercâmbio com a União Europeia. O fortalecimento dos projetos de integração regional Mercosul/Unasul também não teria se tornado secundário. Todavia, a situação atual não permite dinâmicas de cooperação que favoreçam a autonomia. Na defensiva interna e externa, o País parece estar diante de um samba de uma nota só: uma posição apolítica-mercantil perigosa para o Estado que parece ir muito além do baixo perfil que o governo já assumira desde 2011.
*Cristina Soreanu Pecequilo é membro do GR-RI, Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Autora de “O Brasil e a América do Sul” e “A União Europeia”

Análise

Mercosul: dificuldades e poucos avanços

por Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais — publicado 29/07/2015 04h24
O contexto de crise de alguns países impede o prosseguimento da integração regional

Lula Marques / Agência PT
Cristina Kirchner, Horacio Cartes e Dilma
Cristina Kirchner (Argentina), Horacio Cartes (Paraguai) e Dilma durante reunião do Mercosul, em Brasília
Seria prudente aguardar algum tempo para analisar o resultado da 48ª Reunião Ordinária do Conselho do Mercado Comum, realizada em Brasília dia 17 de julho. Mais que isso, chegando aos 25 anos de Mercosul, torna-se importante uma avaliação abrangente e de longo prazo.
Os Estados e as sociedades, para poder equacionar o futuro do bloco, deveriam ter condições de fazer um balanço.
As questões de integração ou cooperação na América do Sul costumam ser apresentadas sob ângulos opostos: a) por um lado, uma visão formalmente otimista, "estamos avançando, as dificuldades são naturais", se a integração comercialista e produtiva não avança, há outros campos a desenvolver, nos terrenos político, social, cultural, etc.; b) por outro, uma visão aprioristicamente pessimista, em que Mercosul e outros acordos são apresentados como barreiras que impedem ao Brasil inserir-se na economia global e participar de acordos mais importantes e promissores.
A declaração conjunta aprovada reafirma "o compromisso com o aprofundamento dos mecanismos de integração e concertação regional...". É importante a reafirmação, mas a escassez de diretrizes para a resolução dos problemas reais contribui para o fato de que a integração não esteja no centro da preocupação dos povos participantes. A integração para sustentar-se deve avançar. Enfrentar as dificuldades, criar condições para superá-las.
Sobre os temas maiores: decisões a respeito do sentido de negociações com outros países, blocos ou regiões, particularmente com a União Europeia, questão dos mecanismos compensatórios como o Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), avanços na integração produtiva, parece que pouco se discutiu. Ao menos é assim que surge do noticiário, dos comunicados oficiais, mesmo das informações informais.
Há diferenças entres os governos. Assinale-se que se parte das diferenças resultam de visões de política econômica internacional diferentes, algumas resultam das dificuldades econômicas objetivas das partes. No comunicado conjunto dos Estados Parte e Estados Associados, nos seus 74 itens, surgem poucas informações com detalhamento.
A ideia da continuidade da integração econômica aparece no preâmbulo, "para o desenvolvimento de nossos povos, por meio da integração produtiva, do desenvolvimento da infraestrutura e de políticas inclusivas". A maioria dos itens são diretrizes de caráter social e alguns referentes a temas internacionais, como Cuba, China, Estados Unidos. Refletem razoável convergência em alguns temas, importantes para o aprofundamento da integração e cooperação. Papel da pequena agricultura, das pequenas empresas, da segurança alimentar.
A indefinição quanto aos destinos da integração, ou melhor, quanto à possibilidade de seu aprofundamento e fortalecimento, não é casual. Há muitos problemas na América do Sul, e uma cúpula de chefes de Estado não os pode desconhecer, ao menos indiretamente estão presentes.
Esta reunião reflete dificuldades nas relações entre os países, mas, sobretudo, dentro dos países. Se Brasil e Venezuela estão no momento com dificuldades maiores, sejam políticas, sejam econômicas, indefinições encontramos em toda parte. O caso brasileiro é particularmente sensível no que tange à integração regional porque nos últimos anos o País vinha aumentando seu grau de reconhecimento em toda a região. Fato que gerou expectativas a que o Brasil não poderia corresponder. Apesar de ser objetivamente o mais importante da região sul-americana, mais extensão, maior população, maior PIB, maior estrutura produtiva, dificilmente teria condições para tornar-se um efetivo paymaster, um provedor ou um garante de última instância.
Tema que concentrou parte das expectativas positivas em relação à reunião, concretizou-se com a assinatura do Protocolo de Adesão da Bolívia ao Bloco Regional, com a adesão dos 5 membros atuais. Dessa forma esse país passa a ser parte do Mercosul, mas trata-se de processo em curso.
Um protocolo havia sido assinado em dezembro de 2013, mas na ocasião o Paraguai não participou, por estar com status de suspenso. Agora será necessária a ratificação nos Congressos paraguaio e brasileiro, o que não se prevê que seja um processo rápido. Completada a ratificação dos 5 membros, serão iniciadas as negociações técnicas de adequação, o que também significará um tempo extenso, de vários anos.
Questões bilaterais, sem serem objeto da pauta, criaram ruídos, como a relação entre a Venezuela e a Guiana, país associado ao Mercosul, o que não impediu que o clima geral permanecesse tranquilo e colaborativo.
É importante ter em conta temas que a Reunião de Chefes de Estado evidencia, ainda que não passem pelas agendas oficiais nem constem dos comunicados.
A partir de 2010, com altos e baixos, com diferenças, há mudanças importantes na região que atingem em cheio a integração. Particularmente o Mercosul, por ter regras mais definidas, por interessar mais profundamente os objetivos de cada Estado, encontra problemas para avançar. O que parecia fora de pauta, afastado do cenário regional, volta com força. Trata-se de crises que correm o risco de tornarem-se crises institucionais.
O momento atual é o da busca de acordos e equilíbrios que evitem as desestabilizações que alguns apregoam abertamente. Mesmo que, como é desejável, as crises institucionais não se concretizem, o simples pairar de sua ameaça lança dúvidas sobre as capacidades de cada país para dar continuidade a compromissos. Nesse sentido, a Reunião de Chefes de Estado é em si mesma importante. Colabora para sinalizar, como consta do comunicado, o interesse coletivo na estabilidade e no respeito das normas democráticas:
"Reiteram a importância fundamental da promoção e da proteção dos valores da democracia e dos direitos humanos como eixo essencial da integração regional". Objetivamente contrapondo-se, mesmo sem explicitá-lo, às diferentes formas de desestabilização, sinalizando que a preservação das regras constitucionais é elemento constitutivo da integração e do Mercosul, como vem sendo reafirmado desde 1996, quando foi assinado o Protocolo de Ushuaia, que estabelece a "cláusula democrática".
Os atores que criticam ativamente a integração situam-se em parte dos estratos dominantes na sociedade. Têm significativa capacidade de fazer-se ouvir. Como escreveu Félix Peña em artigo de maio de 2015, essa crítica tem crescente eco em âmbitos governamentais.
O ministro de Relações Exteriores do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, vem usando o termo sinceramiento, como a indicar que seria necessário pactuar novamente a integração, de forma a possibilitar duas velocidades e mesmo permitir a flexibilização dos mecanismos de negociação comercial do bloco.
Essas posições têm analogia com a orientação existente em alguns ministérios brasileiros e, segundo Peña, "incluso con el gobierno argentino". Ao menos pelo que sabemos, esses temas, especialmente o da “dupla velocidade" nas negociações internacionais, na reunião de Brasília não apenas não foram tratados pelos presidentes, mas tampouco estiveram claramente presentes nas reuniões prévias, de ministros e de outros altos funcionários.
Essas questões, porém, aparecerão novamente no momento de discutir-se a continuidade da negociação com a União Europeia e outras relações extrarregionais. Nesse caso, as bases do Tratado de Assunção estarão em causa.
Os 74 itens do comunicado conjunto distribuem-se em três partes, uma refere-se ao Âmbito do Mercosul, outra ao Âmbito Regional, da América Latina e do Caribe e a última ao Âmbito Multilateral. A maioria dos itens tratam de temas gerais, ou de recomendações sem estabelecer vínculos precisos. Alguns pontos reportam formulações e diretrizes importantes, como a defesa da democracia, o estímulo às políticas sociais e de combate à pobreza, procedimentos conjuntos nos âmbitos de saúde pública, meio ambiente, posicionamentos internacionais coordenados, etc.
Concluímos com uma questão da maior importância para o Brasil, nestes tempos não valorizada. A área com quem o Brasil tem um comércio de melhor qualidade continua sendo o Mercosul, a América do Sul, a área ALADI. Significa que a parte de produtos de valor agregado comercializados dirige-se à América Latina e do Sul, tendo o Mercosul um papel estruturador.
Para termos em conta na avaliação do papel da integração para o Brasil, no ano de 2014, produtos manufaturados correspondiam a aproximadamente 77% do total das exportações brasileiras para o Mercosul. Enquanto para os outros principais parceiros os produtos manufaturados representam: China, 4%; União Europeia, 37%; Estados Unidos 55%.
Em conclusão, a 48ª Reunião Ordinária do Conselho do Mercado Comum não se realizou num contexto favorável para novos avanços. Isto não torna irrelevante o papel que a integração regional tem para os Estados participantes, inclusive para o Brasil. Cabe avançar no seu conhecimento, de forma que a sociedade e o Estado possam dotar-se de instrumentos para definir sua política no tocante ao tema.
*Tullo Vigevani é professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Estudos dos Estados Unidos (INCT-INEU). Faz parte do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais/GR-RI.

Ditadores brasileiros, cães de guarda do anticomunismo

por Rodrigo Martins publicado 29/07/2015 04h23
O regime militar cogitou invadir o Uruguai para evitar uma vitória da esquerda

El Popular
anti-comunismo
Segundo documentos dos EUA, a invasão ocorreria se a Frente Ampla ganhasse as eleições de 1971.
A correspondência integra um lote de 538 documentos secretos dos anos 70 que tiveram o sigilo desclassificado total ou parcialmente pelo governo de Barack Obama, em decorrência da recente visita de Dilma Rousseff aos EUA. A maioria dos papéis foi produzida pelo Departamento de Estado, especialmente pelas embaixadas e consulados no Brasil. São telegramas, memorandos e relatórios. O acervo revela que os americanos estavam muito bem informados sobre as mortes e graves violações aos direitos humanos nos porões da ditadura, mas optaram por esconder os pecados de seu principal aliado na luta contra os movimentos de esquerda no continente.
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Menos de um mês após o desaparecimento de Rubens Paiva, Washington foi informada de que o ex-deputado não havia resistido ao interrogatório dos agentes da repressão. Temia-se que o episódio viesse a público e comprometesse a imagem do presidente Richard Nixon, aliado do regime brasileiro. Da mesma forma, os Estados Unidos souberam que Virgílio Gomes da Silva, mentor do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em 1969, morreu sob a custódia do Estado. E jamais acreditaram na versão oficial sobre o atentado no Riocentro, tramado pelos próprios militares.
No caso do Uruguai, o telegrama de Rountree lança luzes sobre um episódio tratado por muitos anos como teoria conspiratória. Desde 1964, o país era observado com muita atenção pelos militares nativos. Além da posição geográfica estratégica na região platina, o vizinho abrigava grande número de exilados, entre eles, o ex-presidente João Goulart e o ex-governador gaúcho Leonel Brizola, observa Ananda Simões Fernandes, do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. A historiadora sustenta que o plano de intervenção emergiu logo após a formação da Frente Ampla, em 1971. Para o governo dos EUA e a ditadura brasileira, havia o temor de a esquerda conquistar o poder, a exemplo do ocorrido no Chile dois anos antes, com a vitória da Unidade Popular, de Salvador Allende.
“O Brasil arquitetou um plano de invasão a Montevidéu, que ficou conhecido, nos meios militares, como Operação Trinta Horas. Tal plano seria executado em caso de vitória da Frente Ampla nas urnas”, afirma a pesquisadora. O jornalista Paulo Schilling, assessor e braço direito de Brizola, foi o primeiro a denunciar a trama, ainda no início dos anos 1970, nas páginas do semanário uruguaio Marcha. Desacreditado por sua militância de esquerda, Schilling viu suas denúncias serem corroboradas em meados dos anos 1980 pelo coronel brasileiro Dickson Grael, oficial que apoiou o golpe de 1964, mas, desiludido com os rumos da ditadura, registrou em livro um detalhado depoimento sobre o episódio.
Segundo Grael, a Operação Trinta Horas foi montada no III Exército. À época, o coronel era oficial do Estado-Maior do Quartel-General da 2ª Divisão de Cavalaria, sediada em Uruguaiana, fronteira com a Argentina. Novas declarações vieram a público em janeiro de 2007, quando, em um programa de tevê gaúcho, o general Ruy de Paula Couto, ex-chefe do III Exército, afirmou ter sido o então presidente uruguaio Jorge Pacheco Areco quem solicitou apoio das tropas brasileiras. A coalização de esquerda saiu derrotada da disputa presidencial, mas elegeu cinco senadores, 18 deputados e 51 vereadores. Com o golpe de 1973 no Uruguai, a intervenção foi definitivamente descartada.
“A Frente Ampla se espelhava na Unidade Popular do Chile, com forte discurso anti-imperialista. À época, Allende era a principal ameaça aos EUA no continente, pois chegou ao poder pelo voto, desmistificando a tese de que o socialismo era incompatível com a democracia”, avalia a historiadora Fernandes. “O Brasil insere-se, nesse contexto, como o principal aliado da administração Nixon na América do Sul. Não por acaso, a ditadura brasileira participou ativamente do golpe na Bolívia em 1971 e financiou grupos extrema-direita no Chile para derrubar Allende. Esse telegrama revelado agora mostra como o Brasil exerceu ingerência sobre o Uruguai.”
No informe, Rountree observa um esfriamento das relações entre Brasil e Uruguai por causa do fracasso nas negociações pela libertação do cônsul brasileiro Aloysio Gomide, sequestrado pelos tupamaros em 1970. O diplomata só seria libertado após sete meses de cativeiro, mediante pagamento de resgate pela família. Embora considerasse improvável uma intervenção direta no Uruguai, o diplomata pondera que o Brasil poderia patrocinar um golpe preventivo de Pacheco. “A ajuda provavelmente se daria na forma de armas, treinamento, assistência financeira etc.”
Sobre o desaparecimento de Rubens Paiva, um memorando, datado de 11 de fevereiro de 1971 e assinado pelo diplomata John W. Mowinckel, é taxativo: “Paiva morreu durante o interrogatório, de ataque cardíaco ou de outras causas”. No texto, ele pede ao embaixador para “convencer” o governo brasileiro a “punir ao menos alguns desses responsáveis”. Embora destacasse o episódio como mais um exemplo das táticas “irresponsáveis” da ditadura, Mowinckel parecia mais preocupado com a repercussão do crime nos Estados Unidos. “Quando os fatos vierem à tona, não será possível varrê-los para debaixo do tapete”, observa. “Os pecados do governo brasileiro respingarão sobre nós, causando assim mais um problema no Parlamento e na imprensa para a administração Nixon.”
Riocentro-diplomacia
Em nenhum momento a versão oficial para as bombas do Riocentro convenceu a diplomacia dos EUA. Créditos: Otavio Magalhães/AG. O Globo

Luiz Antônio Dias, chefe do Departamento de História da PUC de São Paulo, observa que o documento foi produzido menos de um mês após a prisão e o desaparecimento de Paiva. À época, o Exército divulgou a versão de que ele havia sido resgatado por um grupo de terroristas durante sua transferência para uma unidade militar. “Ninguém jamais acreditou nessa falácia. Mas, naquele momento, a família ainda tinha esperanças de encontrá-lo vivo. Preso e possivelmente submetido à tortura, mas vivo.”
Somente 15 anos depois surgiram as primeiras revelações sobre o real destino de Paiva, brutalmente assassinado sob a guarda do Estado. Em 1986, o tenente-médico do Exército Amílcar Lobo confirmou à Polícia Federal ter atendido o ex-deputado às vésperas de sua morte. Em seu relato, ele enfatiza que o preso chegou aos seus cuidados em situação deplorável, “na condição de abdome em tábua, o que em linguagem médica pode caracterizar uma hemorragia abdominal”.
Outro telegrama, datado de 30 de setembro de 1969, confirma a prisão de Virgílio Gomes da Silva por agentes da Operação Bandeirante (Oban). Segundo o texto, produzido pelo consulado dos EUA em São Paulo, o militante da Ação Libertadora Nacional “morreu enquanto estava sendo questionado”. A correspondência ressalta que “possivelmente a polícia vai não dar conhecimento público de que ele foi preso”.
Silva havia sido assassinado no dia anterior, aos 36 anos, após ser preso em uma emboscada na Avenida Duque de Caxias, na capital paulista. Encapuzado, foi encaminhado diretamente à sala de tortura, de onde sairia morto após 12 horas de suplício, concluiu a Comissão Nacional da Verdade. Vários presos políticos presenciaram os maus-tratos sofridos por ele e as denunciaram em auditorias militares. Apesar das significativas evidências que atestam as circunstâncias de sua morte, os órgãos de segurança até hoje não se posicionaram de forma clara sobre o caso.
Um relatório do Ministério do Exército, emitido pelo CIE em outubro de 1969, afirma que Silva teria se “evadido” após a prisão. O Serviço Nacional de Informação de São Paulo emitiu outro documento, em 3 de outubro de 1969, afirmando que o “terrorista” Virgílio Gomes da Silva, vulgo “Jonas”, teria falecido após resistir à prisão. Já o Relatório dos Ministérios Militares, emitido em 1993, o aponta como “desaparecido”.
Os EUA também tinham conhecimento da farsa montada pelos militares no atentado do Riocentro, em 1981. “De nosso ponto de vista, não há dúvida de que tanto o sargento Guilherme Pereira do Rosário, morto, e o capitão Wilson Luís Chaves Machado, gravemente ferido, eram os pretensos autores e não as vítimas de um ataque à bomba”, diz um relatório, preparado para o Departamento de Defesa.  “Parece claro que os dois indivíduos, como membros do DOI-Codi, agiam sob ordens oficiais no momento em que a bomba acidentalmente explodiu no carro deles.”
Os norte-americanos nem sequer cogitaram aceitar a versão oficial: “Porta-vozes militares de alta patente anunciam continuamente que os socialistas/comunistas tentam comprometer a abertura política e frustrar os esforços do presidente para desenvolver uma democracia. Isso tem sido repetido tantas vezes que alguns estão começando a acreditar, mesmo que não haja nenhuma evidência para apoiar a acusação”.
Os documentos desclassificados comprovam que os Estados Unidos jamais deixaram de monitorar a situação no Brasil, e sua influência não ficou restrita ao golpe de 1964, avalia Dias: “A violência praticada pelo Estado foi percebida pelos americanos. E eles sabiam que não eram casos isolados perpetrados por alguns ‘desajustados’ dentro do sistema repressivo montado. Por mais que recriminassem os excessos da ditadura, pareciam satisfeitos com o papel desempenhado pelo Brasil na contenção aos movimentos de esquerda, dentro e fora das fronteiras”. 
*Uma versão desta reportagem foi originalmente publicada na edição 859 de CartaCapital, com o título "Os cães de guarda da ditadura"