quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Católicos podem interpelar Bolsonaro por vídeo


Jornal GGN – A Igreja Católica poderá questionar o presidente Jair Bolsonaro por disseminar vídeos que convocam manifestações de apoio a ele e contra o Legislativo. A afirmação foi feita pelo secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Joel Portella Amado.
“A Igreja estará apoiando as iniciativas que preservem a democracia. Qualquer outra nós precisaremos ouvir, conhecer e até quem sabe interpelar”, disse dom Joel Portella, também bispo auxiliar do Rio de Janeiro, durante o lançamento da Campanha da Fraternidade 2020.  “Existe a corresponsabilidade de cada cidadão e a responsabilidade daqueles que pelo voto foram investidos”, disse, segundo informações do jornal O Estado de São Paulo.
A cúpula dos bispos ainda deve ser reunir para avaliar seu posicionamento a respeito da convocação feita pelo presidente da República para a manifestação de 15 de março, cujo alvo é o Congresso Nacional e os “políticos de sempre”.
Outros materiais de divulgação do protesto contra o poder Legislativo, de cunho “conservador e patriota”, também exibem fotos de generais do Exército que “aguardam ordens de povo”, numa alusão à intervenção militar. Apoiadores de Bolsonaro dizem que o ato será em defesa dele, apresentado como “única esperança” e um presidente “trabalhador, incansável, cristão, patriota, capaz, justo, incorruptível”.
Dirigida pela ala progressista do clero, a CNBB pode complicar ainda mais o já tenso relacionamento entre a cúpula católica e o governo – Bolsonaro chegou a delegar a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) para ser a interlocutora do governo junto à conferência, como forma de tentar desfazer o histórico de atritos entre a entidade e Bolsonaro, que vêm desde a campanha eleitoral.

O vídeo de Bolsonaro à luz do impeachment, por Rafael Mafei

Jornal GGN – Rafael Mafei R. Queiroz, professor do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da USP – Largo São Francisco, utilizou seu twitter para discorrer de pontos legais e jurídicos a respeito da conduta do presidente Jair Bolsonaro, que usou suas redes sociais para disseminar conteúdo convocando seus seguidores para uma manifestação em 15 de março pelo seu governo e contra o Congresso.

O vídeo de Bolsonaro à luz do impeachment
 por Rafael Mafei
Thread originalmente publicada no twitter @RMafei
Sobre o vídeo compartilhado pelo presidente @jairbolsonaro, algumas observações à luz do impeachment – seja da teoria, seja do nosso desenho para o instituto no Brasil. O fio ficou longo, mas acho que o caso vale um desenvolvimento cuidadoso.
De cara, uma observação sobre reações à fala: acho um erro procurar para este caso um crime de responsabilidade à parte em lugar de enxergá-lo como mais uma ocorrência do crime que caracteriza a conduta de Jair Bolsonaro desde sempre: indignidade, desonra e quebra de decoro.
Há uma resistência a encarar o crime de indignidade, desonra e quebra de decoro porque ele não é tão fácil de se concretizar em exemplos teóricos. Parece abstrato demais. Mas está na lei e é crime: ser de difícil teorização não nos desobriga de lhe dar significado.
Se o festival de indignidade política promovido por Jair Bolsonaro enquanto presidente servir de algo, é para dar substância a esse crime. Se a conduta de Bolsonaro não caracteriza quebra de decoro e indignidade presidencial, podemos riscar o crime da lei.
Impeachment lida com abusos de poder presidencial que (i) são perigosos para instituições democráticas e (ii) não podem ser eficazmente contidos por mecanismos ordinários de freios e contrapesos constitucionais.
As palavras e o comportamento de um presidente, em qualquer momento, e por qualquer meio (inclusive Twitter ou WhatsApp) são formas de exercício de poder, político e retórico. Ele influencia comportamentos reais de seguidores nas ruas e nas instituições.
Quando Bolsonaro fala contra cientistas, ONGs, jornalistas, STF e Congresso, seus deputados, os PMs e militares de baixa patente que o têm como líder, seus seguidores difusos nas ruas, gente que aspira ascender no governo, todos, enfim, ouvem o seu chamado. E agem.
Agem através de linchamentos virtuais, ofícios ameaçadores, retaliações administrativas, constrangimentos de toda sorte etc. Geram autocensura, agridem liberdades. Atiçam, nas instituições, a turba que quer mostrar serviço ao “mito!” Tudo incentivado pelo próprio Presidente.
Por isso, a lei impõe limites àquilo que presidentes podem dizer: (o presidente) não pode utilizar seu direito ao discurso político e à liberdade para falar às suas bases, para incentivar comportamentos que possam constranger ou inviabilizar o funcionamento de instituições democráticas.
“Decoro” exprime justamente a ideia de um limite que o discurso presidencial não pode ultrapassar. Como o discurso presidencial é inerentemente uma forma de exercício de poder, a linha vermelha é cruzada quando o PR incita emparedamento de instituições e de seus membros.
Assim, o vídeo de ontem não é algo diferente do ataque à jornalista Patrícia Campos Mello, (@camposmello), à Ordem dos Advogados do Brasil (@CFOAB) e seu presidente Felipe Santa Cruz (@felipeoabrj), ONGs; não difere do vídeo das hienas. É o mesmo crime em todos os casos: abuso de poder retórico e de liderança política para produzir pressão sobre instituições que “incomodam” Bolsonaro.
Além da quebra de decoro, há a quebra de “dignidade”: violação de um valor inerente àquilo que se é (neste caso, presidente). O prestígio e a liderança inerentes à Presidência são indispensáveis em uma democracia funcional, e não podem ser vilipendiados impunemente.
Rebaixar a Presidência a um comportamento vil, indiferente a qualquer padrão de civilidade política, tem consequências de longo prazo *para a própria instituição da Presidência da República*. O jogo de freios e contrapesos não funciona sem uma Presidência apta a liderar.
Por tudo isso, é errado rebaixar o comportamento de Bolsonaro a meros “maus modos”. Uma coisa é falar de boca cheia; outra é usar o peso e a importância incomparáveis do cargo para tentar constranger juízes, jornalistas, professores e parlamentares. Aí é crime de responsabilidade.
Ao lado disso, porém, há um juízo de conveniência que cabe ao Congresso fazer. Um presidente sabidamente criminoso pode ser poupado do impeachment se se avaliar que os traumas do afastamento serão grandes demais para serem suportados.
Mas esse juízo de prudência deve levar em conta todos os fatores, não apenas ganhos políticos/econômicos de curto prazo. Precisam ter clareza de que normalizar um Presidente que sobrevive de atacar as instituições é um enorme preço a ser pago, e essa conta um dia chega.
Se, como dizem, vingança é um prato que se come frio, o juízo histórico de responsabilidade política é prato que se come ainda + gelado. Só no futuro poderemos dizer se Rodrigo Maia (@RodrigoMaia) e Davi Alcolumbre (@davialcolumbre) terão sido omissos em relação às incansáveis quebras de decoro de Jair Bolsonaro.
Finalizando (tem alguém aqui ainda?): para quem tiver interesse, dois textos recentes meus sobre crimes de responsabilidade na era do bolsonarismo:

Ministros do STF se manifestam após vídeo de Bolsonaro

Gilmar Mendes exige que instituições sejam respeitadas; Marco Aurélio minimizou questão e diz que país “tem problemas mais sérios a serem tratados”

Enquanto ministro Gilmar Mendes (esq.) pede respeito às instituições, ministro Marco Aurélio Mello minimiza questão.

Jornal GGN – O vídeo que o presidente Jair Bolsonaro disseminou em suas redes sociais – onde seus apoiadores são conclamados a participar de manifestação pró-governo e contra o Congresso em 15 de março – foi alvo de críticas e ponderações por parte dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
O ministro Gilmar Mendes foi um dos que se manifestou a respeito. Ele divulgou em suas redes sociais uma mensagem pedindo a defesa das instituições e a separação dos Poderes.
“A CF88 [Constituição Federal de 1988] garantiu o nosso maior período de estabilidade democrática. A harmonia e o respeito mútuo entre os Poderes são pilares do Estado de Direito, independentemente dos governantes de hoje ou de amanhã. Nossas instituições devem ser honradas por aqueles aos quais incumbe guardá-las”, escreveu Gilmar no Twitter.

Segundo o jornal Folha de São Paulo, o decano do STF, ministro Celso de Mello, encaminhou nota à coluna da jornalista Mônica Bergamo onde diz que, caso a conclamação seja confirmada, ela mostra “a face sombria de um presidente da República que desconhece o valor da ordem constitucional, que ignora o sentido fundamental da separação de Poderes, que demonstra uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que exerce e cujo ato de inequívoca hostilidade aos demais Poderes da República traduz gesto de ominoso desapreço e de inaceitável degradação do princípio democrático!!!”.
Por outro lado, a questão foi minimizada pelo ministro Marco Aurélio Mello. Para ele, diante do conteúdo avaliado, pode-se dizer que Bolsonaro não fez convocações para as manifestações.
“Não chamou, não chamou (manifestações). Você vendo o que se veiculou, hora alguma, ele, de viva voz chamou para estar na rua; Vamos dar um desconto e ser positivos, que o Brasil tem problemas mais sérios”, disse o ministro em entrevista ao jornal Correio Braziliense, ressaltando que existem assuntos de maior relevância a serem tratados no momento.

O dia em que a PM descer atirando e não for carnaval, por Luis Nassif

São Paulo foi pragmático, ao fechar um acordo com o PCC. Até que vieram os massacres de maio de 2006, a pior mancha na história de São Paulo e da PM, que a justiça e a mídia varreram para baixo do tapete

Por Luis Nassif

Confesso que houve uma época em que eu sentia orgulho da ”nossa Polícia Militar”. E dizia “nossa” de boca cheia.
O país saía da ditadura, entrava nos anos 90 com impulsos modernizantes. De minha parte, tornei-me um entusiasta dos planos de gestão. No meu espaço na Folha – e se os colegas soubessem a relevância de um espaço de jornal para disseminar as boas causas! – várias vezes difundi os programas de qualidade do setor público, da Justiça e da Polícia Militar.
Na PM paulista havia um grupo empenhado na modernização, em métodos modernos de gestão, recorrendo a modernas políticas de segurança, ao invés da Rota e outros péssimos exemplos das polícias da ditadura.
Discutia-se o policiamento de vizinhança, o policial se responsabilizando por uma área, tornando-se amigo do comércio e dos moradores, com capacidade de acionar rapidamente viaturas em casos de emergência.
Havia um programa da PM de visitar bairros sendo precedida da Banda marcial. Era tão envolvente o som da Banda da PM que até ousei enviar um dobrado, que recebeu um arranjo belíssima. Era o “Dobrado das Raças do Brasil”, uma apologia ao que parecia ser a democracia racial a caminho.
O que fizeram com as PMs? Hoje são odiadas, temidas, vaiadas. E tudo pela responsabilidade exclusiva de governadores que fizeram da violência contra o crime a panacéia para quem não conseguia combater o crime com metodologia.
A culpa não é de agora. É de Geraldo Alckmin quando foi na conversa de Saulo, seu secretário da Justiça implacável, que ousou invadir a Assembleia Legislativa levando uma tropa de PMs a tiracolo. Era o próprio Alckmin, emulando o discurso com que Paulo Maluf encantava uma classe média paulistana desinformada e revanchista da vida. E tudo isso era mal menor, perto do que ocorreu no Rio de Janeiro com governadores corruptos montando políticas de segurança tortas, e juízes punitivistas sendo eleitos com apoio das milícias.
Afinal, São Paulo foi pragmático, ao fechar um acordo com o PCC, entregando a ele o controle de vastas regiões da cidade. Aliás, pelo que se sabe, eles têm um sistema de justiça mais transparente que a de São Paulo formal.
Até que vieram os massacres de maio de 2006, a pior mancha na história de São Paulo e da PM, que a justiça e a mídia varreram para baixo do tapete. Mais de 600 pessoas assassinadas, quase todos jovens, negros e pobres, grande parte sem registro policial, muitos indo à escola. E a PM tornou-se definitivamente uma instituição maldita.
Qual a vida de um PM hoje em dia? No trabalho, os policiais não tem o estímulo do reconhecimento por parte da população. No final do dia, o PM volta para sua casa, tendo no caminho sempre a possibilidade de uma vendetta por parte das suas vítimas, em uma guerra estimula da exclusivamente por seu chefe maior, o governador do Estado.
Os que são apanhados cometendo ilicitudes amargam punição, expulsão e prisão. Só aí entendem que a tal retaguarda prometida pelo governador era mentira. E, na verdade, o governador não está nem aí para o destino dos que foram ingênuos em acreditar em suas promessas de recompensa. No máximo, defenderão genericamente os massacres cometidos, as chacinas da Candelária, de Paraisópolis. E, nos bares da vida, os policiais  erguerão um brinde em homenagem ao capitão Adriano, que soube usar a função para seus próprios objetivos.
Enquanto isto, os governantes abrigam-se nos palácios de governo, devidamente protegidos por sua guarda pessoal. Antes de dormir farão uma última live, celebrando alguma bala na cabecinha.
A última previsão de Nostradamus pode ter sido a cena dantesca do dia em que a PM descer atirando. E não for na periferia.


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Aumentar o caos até um conflito armado?, por Francisco Celso Calmon

A destruição da plataforma civilizatória para dar assento ao caos é a forma de fortalecer e inflar o Estado policial.

Aumentar o caos até um conflito armado?

por Francisco Celso Calmon

Destituíram uma presidenta sem crime de reponsabilidade; com tantos fatos e indícios de crimes de responsabilidade o atual presidente seguirá incólume?
Bolsonaro sendo um mitômano inveterado não tem credibilidade quando se desdiz, e quando faz manifestações a favor da afronta ao Congresso e de um novo AI5, mesmo se desdizendo, já cometeu, no mínimo, terrorismo político e psicológico à nação.  Criando um ambiente de insegurança política, desestimulando investimentos no país e o turismo.
Um presidente não pode alegar que está falando em nome pessoal, não existe essa separação; tudo que for público afeta a dignidade do cargo, mesmo no privado, muitas vezes, afeta também o exercício da presidência. Senão seria um deboche à sociedade, falar asneiras e dizer que era em nome pessoal.
Bolsonaro jamais fora um militar honrado, sempre fora um terrorista e ganancioso por dinheiro. Se o inquérito do atentado ao Riocentro tivesse sido honesto, seria provável encontrar suas digitais.
A promiscuidade de parcelas do Exército com o Esquadrão da Morte (Scuderie Le Cocq) data de 1965. Sob a proteção da ditadura, militares, policiais (civis e militares) e alguns civis, não se desfizeram dos laços, mantiveram uma espécie de irmandade e muitos estão nas milícias. 
A PM, organizada para combater o inimigo interno, é força auxiliar do Exército, e durante a ditadura tanto o secretário de segurança dos estados com o comandante geral da PM eram escolhidos pela Exército. Se um ou outro govenador consegue ter a PM sob controle, é exceção.
A destruição da plataforma civilizatória para dar assento ao caos é a forma de fortalecer e inflar o Estado policial.
O plano de desestabilizar os governadores, especialmente os de esquerda, com motins de policiais, visto que greve por categorias que usam armas não é permitida pela Constituição, faz parte do projeto global do bolsonarismo nazifascista.
A não destruição dos entulhos da ditadura militar, fez surgir uma democracia incubada de vermes e germes do autoritarismo. 
As recomendações da Comissão Nacional da Verdade, entre elas a da desmilitarização da polícia, cujas implementações pelo Estado foram negligenciadas, e o preço que a nação brasileira está pagando está sendo caro demais para um povo que que tem nos 21 anos de ditadura um trauma nacional. 
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Vale recordar que foi o juizeco, na época, Sergio Moro e seus áulicos do MP de Curitiba os primeiros a confrontarem com o Judiciário e o Executivo, nada aconteceu com eles, além de suaves reprimendas e escusas pelos jornais, o exemplo segue como modelo.

Art 85: “São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: II – o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação”.
Denunciar a quem, recorrer a quem? Qual a instituição que não está comprometida com o golpe de 2016 e com o golpismo decorrente?
Até o momento que fechei o artigo, apenas o ministro decano do SFT se pronunciou e o fez bem: ato de Bolsonaro pode configurar crime de responsabilidade, e disse mais“ Essa gravíssima conclamação, revela a face sombria de um presidente da República que desconhece o valor da ordem constitucional, que ignora o sentido fundamental da separação de Poderes, que demonstra uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que exerce e cujo ato de inequívoca hostilidade aos demais Poderes da República traduz gesto de ominoso desapreço e de inaceitável degradação do princípio democrático!!!”.
Se o mandatário máximo da nação cometeu crime de responsabilidade, cabe averiguar, mas o ministro do GSI, general Heleno, que tem contas a ajustar por sua participação na ditadura militar, cabe ser exonerado imediatamente, pois nascera de sua verve destemperada o acinte ao Legislativo. Mantê-lo é avalizar suas palavras.
 Anistia, diretas já, impeachment do Collor, foram movimentos que ganharam força no chão das ruas, mas as ruas que foram ocupadas durante o carnaval e as mensagens das escolas e blocos carnavalescos foram muitas com o foco crítico na realidade, reforçando a tendência, que já vem há uns três anos, contribui para a formação, mas parece não mexer no tabuleiro para o curto prazo. 
AS centrais sindicais, a FPB, FPSM, começam a reagir, mas falta a juventude, com sua ousadia e coragem, seguir o Papa, o Lula e demais líderes, e ocuparem as ruas na perspectiva revolucionária de varrer o bolsonarismo nazifascista do país.
A ocupação das ruas pode gerar, como efeito colateral, no plano institucional e partidário uma frente de defesa da democracia e um BASTA ao presidente miliciano.
Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017).

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Autogolpe não, impeachment!, por Marcelo Uchôa

Hoje, no apagar das luzes do carnaval de 2020, brasileiras e brasileiros são tomados de espanto pela notícia de que o Presidente da República estaria compartilhando, por sua conta de WhatsApp, convocatória de manifestações de apoio a si
Foto Folha
Autogolpe não, impeachment!

por Marcelo Uchôa

Em 19 de março de 1964 saiu às ruas de São Paulo, sob motes patriótico e de enfrentamento à (suposta) desordem do governo João Goulart, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, movimento cujo desfecho resultou no golpe civil-militar no dia 1º de abril (para os militares, 31 de março), o qual, por sua vez, deu margem para o estabelecimento de uma ditadura profundamente cruel e desonesta no país, por mais de duas décadas. 
Hoje, no apagar das luzes do carnaval de 2020, brasileiras e brasileiros são tomados de espanto pela notícia de que o Presidente da República estaria compartilhando, por sua conta de WhatsApp, convocatória de manifestações de apoio a si (subliminarmente, contra as instituições em geral, especialmente o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal). À mensagem, em que se registra “15 de março. General Heleno/Capitão Bolsonaro. O Brasil é nosso, não dos políticos de sempre”, segue vídeo com imagens e narrativa melodramáticas, que finaliza com o chamado “Dia 15.3 vamos mostrar a força da família brasileira. Vamos mostrar que apoiamos Bolsonaro e rejeitamos os inimigos do Brasil. Somos sim capazes, e temos um presidente trabalhador, incansável, cristão, patriota, capaz, justo e incorruptível. Dia 15/03, todos nas ruas apoiando Bolsonaro”. Em redes sociais circulam panfletos de convocação atentando mais explicitamente contra as instituições, assinados por “movimentos patriotas e conservadores”. Na semana passada, o próprio General Heleno foi flagrado em áudio achincalhando o Congresso. Em suma, aventa-se algo similar ao que moveu aglomerações nas ruas em março de 1964, o interesse de setores reacionários da sociedade brasileira, autointitulados cristãos, defensores da família, patriotas e incorruptíveis, de surrupiar a democracia e sequestrar a já combalida ordem institucional. 
Em 1964, o golpe contou com o apoio civil. Dirigentes da FIESP, por exemplo, ajudaram no custeio das mobilizações; a grande mídia (Folha, O Globo, etc.) na força-tarefa de divulgação; por fim, o parlamento, com legitimação do STF, em ato indubitavelmente irregular, declarou vago o cargo de Presidente da República, entregando o poder pro forma ao presidente da Câmara Ranieri Mazzilli (de fato, a uma junta militar), dias depois empossando como Chefe de Estado o desleal Castello Branco. 
Todos conhecem os resultados da ditadura: fechamento do Congresso, intervenções noutras instituições, cerceamento do direito de voto, censura, perseguições e violações sistemáticas a direitos humanos, precarização laboral, colapso econômico, corrupção sistêmica. A dúvida agora é saber se o poder econômico e a mídia turbinarão o autogolpe insuflado pelo Presidente e se o Congresso Nacional e o STF tolerarão esta afronta institucional. Caso se oponham, recomenda-se dar seguimento à medida pressuposta pelo art. 85, II, da Constituição, o impeachment presidencial:
“Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: 
(…)
II – o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação”.
Marcelo Uchôa – Advogado e Professor Doutor de Direito. Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) – Núcleo Ceará.

Governo Temer isentou produtores rurais em R$ 10 bilhões no acesso a agrotóxicos

Mesmo com a isenção fiscal desenfreada, há tendência em liberar mais produtos como pesticidas
do Brasil do Fato 

Governo Temer isentou produtores rurais em R$ 10 bilhões no acesso a agrotóxicos

por Ana Paula Evangelista, de São Paulo (SP) 
O governo brasileiro isentou os produtores rurais em R$ 10 bilhões em impostos sobre o acesso a agrotóxicos, em 2017. O dado é do relatório Uma política de incentivo fiscal a agrotóxicos no Brasil é injustificável e insustentável, divulgado em fevereiro de 2020, pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) foi a principal fatia na isenção, representando 63,1% do total.
Segundo Guilherme Franco Netto, coordenador do Grupo Temático Saúde e Ambiente da Abrasco e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, o valor de isenção fiscal mostra uma contradição entre a Constituição Federal de 1988 e a realidade brasileira.
Ao mesmo tempo em que existe a proteção ao meio ambiente e à saúde integral da população, existem “medidas que agem em função dos interesses econômicos de grupos que controlam parte do mercado que têm uma facilitação da circulação e do uso desses produtos muito grande”.
Para Netto, “no caso de agrotóxicos é uma coisa muito aberrante: nós temos uma isenção quase que integral sendo que o imposto em que mais existe essa isenção é sobre ICMS, ou seja, uma fonte importante de arrecadação dos estados”.
Além do valor “aberrante” em isenção fiscal, ele também destaca a liberação da quantidade de agrotóxicos desde o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), que vem ocorrendo em uma curva “acentuada”. Para o coordenador da Abrasco, mesmo com a isenção fiscal desenfreada, há a tendência em liberar mais produtos. No último dia de governo de Temer, em 2018, atingiu-se o recorde de agrotóxicos liberados, cerca de 450. Em 2017, foram 405.
Netto afirmou que o relatório pode servir de apoio para o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5553, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que questiona a isenção fiscal sobre agrotóxicos e que está para ser julgada desde junho de 2016. “Obviamente que esse relatório nosso tem um sentido completamente contrário ao da indústria do agronegócio e a todos os subsidiários.”
A ADI pede que a parte do Convênio nº 100/97, do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) – um acordo entre as secretarias estaduais da Fazenda – que autoriza a isenção em 60% em cima do ICMS sobre pesticidas e outros insumos agrícolas se torne ineficiente. O PSOL também solicitou que o Decreto 7.660/2011 que zera a cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos agrotóxicos seja considerado inconstitucional.
Na ação, o partido argumenta que, além de intensificar o uso de pesticidas, a isenção fiscal concedida pelo Estado fere o direito fundamental ao meio ambiente equilibrado, previsto no artigo 225 da Constituição Federal.
A sigla alega também que o incentivo dado pelo Estado aos agrotóxicos não teria sustentação quando se comparam as questões de essencialidade e capacidade contributiva, pelo fato de as indústrias beneficiadas com a isenção fiscal serem de grande porte e terem “ampla capacidade de arcar com a carga tributária regular”.
Os argumentos dialogam com o parecer apresentado em 2017 pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a respeito da ação. Na época, ao considerar como procedente o pedido da legenda, ela afirmou que “o incentivo fiscal endereçado aos agrotóxicos traduz prática contrária aos ditames constitucionais de proteção ao meio ambiente e à saúde, sobretudo dos trabalhadores”.
Do outro lado, o governo federal argumenta que a desoneração levanta a competitividade entre os produtores melhorando a qualidade do produto. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estima que o fim da isenção fiscal pode representar uma transferência de R$ 12 bilhões aos produtores rurais.

Edição: Leandro Melito

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Bolsonaro à beira de um ataque de nervos

Tom nas grosserias contra jornalistas e receio com a perícia nos telefones de Adriano Nóbrega é quadro típico de quem sabe que pode ser descoberto
O tom a mais nas grosserias contra jornalistas, o receio com a perícia nos telefones de Adriano Nóbrega é um quadro típico de quem sabe o que fez e sabe que pode ser descoberto.
Seus últimos tuítes mostram um presidente à beira de um ataque de nervos, com medo de que suas ligações com o miliciano sejam expostas através da perícia nos celulares.
Os poderes da República vão continuar assistindo, inerte, o espetáculo dantesco de um Presidente da República diretamente envolvido com um miliciano que comandava um Escritório do Crime? Cujos pistoleiros foram contratados para executar a vereadora Marielle Franco? As Forças Armadas continuarão dando respaldo a um Presidente sujeito a tal nível de suspeita?
Em outros momentos, Bolsonaro já passara recibo sobre o que poderia vir pela frente, ao alertar sobre “mentiras” que poderiam aparecer.
É possível que a verdade prevaleça. E que todos os que contribuíram para instalar o império do crime no comando do país assumam sua responsabilidade, a começar pelo Supremo Tribunal Federal.