Eleições nos EUA e os conflitos mundiais: o que muda com Trump ou Kamala?Livre docente em relações internacionais na PUC-SP, o professor Reginaldo Nasser recorre a fatos históricos e documentos para desfazer medos e esperanças sobre o futuro dos principais conflitos mundiais conforme o resultado das eleições nos Estados Unidos nesse próximo 5 de novembro.
Para Nasser, que também é pesquisador dos conflitos do Oriente Médio e sobre os Estados Unidos, nem Donald Trump nem Kamala Harris vão atuar para que Israel cesse os bombardeios na Faixa de Gaza e no Líbano - que mataram mais de 40 mil civis em um ano. Nesse sentido, “a diferença entre os dois candidatos é zero”, segundo o professor, embora o resultado das eleições americanas tenha impacto significativo na guerra na Ucrânia.
Nasser também desmente teses bastante difundidas sobre a atuação internacional dos dois principais partidos dos Estados Unidos - e de seus candidatos nas atuais eleições -, como o suposto isolacionismo dos republicanos ou a força do lobby de Israel nos Estados Unidos como fator principal para que os democratas continuem apoiando Benjamin Netanyahu. “O lobby existe, claro, mas para os Estados Unidos, Israel é um instrumento de seus interesses no Oriente Médio”, diz. “Nesse caso, republicanos e democratas mantêm o mesmo tom”.
Já a Ucrânia, de fato, será tratada de forma diferente por Trump e Kamala. Enquanto a democrata deve manter o apoio ao país, tal como vem fazendo o presidente Joe Biden, Trump provavelmente cortará a ajuda a Volodymyr Zelensky que já consumiu mais de 64 bilhões de dólares no governo Biden. Recursos que, segundo Trump, deveriam ser usados internamente, privilegiando o que ele chama de “interesses nacionais”.
É por esses motivos, além da conhecida proximidade de Trump com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que Nasser acredita que “é quase líquido e certo” que, se eleito, o republicano, cortará o apoio ao país comandado por Volodymyr Zelensky, enquanto Kamala Harris deve continuar seguindo a linha da Otan.
Mas isso não se deve a um suposto isolacionismo dos republicanos, apontado pelos democratas e pela imprensa em geral, nem a um desvio de Donald Trump em relação ao comportamento dos líderes de seu partido, que desde a Guerra Fria evitam entrar nas áreas de influência da Rússia por considerar o risco grande demais para os americanos. Nesse sentido, “Trump não é um ponto fora da curva, embora ele mesmo goste de dizer que é diferente de todos”, diz o professor.
“Os Estados Unidos vivem do comércio e das finanças internacionais. Como vão se isolar? Como um mega empresário corporativo como Trump pode ser isolacionista?”, questiona, citando exemplos de atuação internacional de Trump, como os acordos com a Coreia do Norte e com o Talibã, que deram início à retirada dos Estados Unidos do Afeganistão. |
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