Eleições americanas: traições doem mais do que mentirasQuando se anunciou que os Estados Unidos teriam como candidata à presidência uma mulher negra, o teólogo Ronilso Pacheco alertou: “É um erro essa ideia de uma identificação automática com a Kamala Harris pela comunidade negra. Ela sempre teve muita dificuldade de diálogo com a comunidade negra, por causa do histórico dela como procuradora”.
E explicou: “De maneira geral, para a comunidade negra, onde o encarceramento é em massa, há violência policial, e todos esses temas são muito caros, ela tem um histórico controverso que é um pouco difícil de ser absorvido”.
As urnas parecem dar razão a Ronilso no que se refere ao eleitorado negro. Kamala Harris perdeu 11 pontos percentuais na preferência entre homens negros e 5 pontos percentuais entre as mulheres negras em relação a candidata democrata em 2016, Hillary Clinton, e um pouco menos em relação a Joe Biden.
Sim, os democratas continuam tendo a preferência do eleitorado negro: Kamala teve 84 pontos de vantagem entre as mulheres e 56 pontos entre os homens negros. Mas a perda de pontos onde ela poderia ter crescido contribuiu para sua derrota (os afro-americanos representam 11% do eleitorado), principalmente entre os jovens.
Nas eleições de 2020, por exemplo, a vitória nas eleições da Geórgia impulsionada pelo voto negro foi crucial para Joe Biden - e Kamala Harris foi derrotada neste ano. Harris perdeu ainda mais popularidade entre os latinos: enquanto Biden obteve 33 pontos a mais do que Trump, Harris conseguiu apenas 6 pontos de vantagem nesse eleitorado.
Acho apressado, porém, o argumento, difundido na imprensa americana e papagueado por aqui, de que esse resultado apontaria para uma redução do peso da questão racial para os eleitores negros e latinos (aliás, também não concordo com análises que colocam no mesmo saco grupos étnicos com histórico e questões bem diferentes).
Recorrendo novamente a Ronilso Pacheco, a questão racial é primordial nas eleições americanas, e parte do poder de atração de Donald Trump vem de seu identitarismo racista, branco, masculino e cristão, abraçado por seus seguidores - majoritariamente brancos, é bom frisar. |
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