segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Mercado prevê PIB abaixo de 1% em 2012 e inflação em alta

Do UOL, em São Paulo
O mercado encerrou o ano estimando pela primeira vez que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012 ficará abaixo de 1%. Os analistas também elevaram, pela quarta semana seguida, a projeção para a inflação no ano.

Os dados constam da pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central nessa segunda-feira (31).

Os analistas consultados na pesquisa preveem que o PIB vai crescer 0,98% em 2012. A estimativa, na semana passada, era de um crescimento de 1%. Com relação a 2013, a perspectiva foi mantida em 3,3%.

Os analistas preveem que o IPCA, o índice de inflação usado oficialmente pelo governo, tenha alta de 5,71% em 2012. A estimativa anterior era de 5,69%. Já a expectativa para a inflação em 2013 é de alta de 5,47%.

A pesquisa Focus mostrou ainda que os analistas mantiveram a previsão de que a Selic encerrará 2013 nos atuais 7,25% ao ano, mesmo percentual estimado para a taxa básica de juros em janeiro.

Analistas elevam projeção para o câmbio

Ainda segundo a pesquisa Focus, as projeções do mercado financeiro para o câmbio ao fim de 2013 foram elevadas de R$ 2,08 para R$ 2,09. Para 2012, a última estimativa disponível é a da semana passada, de R$ 2,08.

Os analistas do mercado financeiro reduziram a projeção de déficit em conta corrente deste ano, de US$ 54 bilhões para US$ 53,56 bilhões, mas mantiveram a expectativa de investimento estrangeiro direto (IED) em US$ 60 bilhões.
A estimativa para o déficit em conta corrente em 2013 também caiu de US$ 64 bilhões para US$ 63 bilhões. Para o IED em 2013, a estimativa foi mantida em US$ 60 bilhões.

A projeção para a dívida líquida do setor público em 2012 ficou estável em 35,01% do PIB e, para 2013, se manteve em 34% do PIB. Já a estimativa para o superávit da balança comercial subiu de US$ 19,25 bilhões para US$ 19,30 bilhões em 2012. Em 2013, a expectativa de saldo positivo caiu US$ 15,52 bilhões para US$ 15,22 bilhões.
(Com informações da Reuters e do Valor)

Brasileiros vão pagar mais de R$ 1,5 trilhão em impostos em 2012

Do UOL, em São Paulo
O valor pago pelos brasileiros em impostos em 2012 deverá chegar, à meia-noite desta segunda-feira (31), à marca de R$ 1,56 trilhão. A estimativa é da Associação Comercial de São Paulo e foi feita com base no Impostômetro.
A ferramenta contabiliza os impostos municipais, estaduais e federais pagos pelos brasileiros desde o primeiro dia do ano é mantida por meio de uma parceria com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT).
Na última sexta-feira (28), o Impostômetro já havia alcançado a marca de R$ 1,5 trilhão por volta das 19h. Em 2011, essa mesma marca havia sido atingida um dia mais tarde (em 29 de dezembro).
O Impostômetro foi inaugurado em 20 de abril de 2005 e pode ser acompanhado pela internet.

Natal cancela queima de fogos em Ponta Negra por falta de segurança

Aliny Gama
Do UOL, em Maceió
Após a determinação judicial de que três quilômetros do calçadão da praia de Ponta Negra, em Natal, deveriam ser isolados para garantir a segurança das pessoas que fossem assistir à queima de fogos no local, o governo do Rio Grande do Norte anunciou, no fim da manhã desta segunda-feira (31), que cancelou o evento por não ter tempo hábil para cumprir a liminar.
O juiz federal Mário Azevedo, plantonista do fim de semana, determinou ainda, na noite deste domingo (30), que caso o governo do Estado descumprisse as ações para isolar o calçadão haveria a aplicação de uma multa de R$ 1 milhão para os cofres do Estado e R$ 1 milhão para a governadora Rosalba Ciarlini (PSDB).
A capital potiguar terá agora apenas queima de fogos na ponte Newton Navarro e shows artísticos num palco montado na praia do Meio, próximo ao forte dos Reis Magos. A festa vai custar R$ 300 mil e será paga pelo governo, após a Prefeitura de Natal anunciar, há cerca de 15 dias, que não teria verba para pagar a queima de fogos.
O calçadão da praia de Ponta Negra vem sendo destruído com a erosão marinha e o avanço do mar desde julho, quando foi registrada a mais alta maré de 2012. Há seis meses, a Prefeitura de Natal está recuperando o local, mas as obras ainda não foram concluídas.
O aparato que estava sendo montando em balsas no mar de Ponta Negra parou de ser construído, e, agora, o governo vai ver com a empresa se devolverá os fogos ou se guardará para utilizar em outros eventos.
"Se fosse apenas os trechos que estão com erosão e danificados poderíamos tentar fazer o isolamento, mas em menos de 12 horas não dá para isolar três quilômetros. Sem contar que teríamos de montar uma estrutura de acesso à praia, pelo Morro do Careca, para que as pessoas tivessem acesso a areia da praia para ver os fogos", disse o procurador geral do Estado, Miguel Josino Neto.
O assessor de comunicação do Governo do Estado, Alexandre Mulatinho, afirmou que seriam usados 300 PMs (Policiais Militares) para garantir a segurança de quem fosse a Ponta Negra e ressaltou que a queima de fogos na Ponte Newton Navarro continuará com a mesma duração de 20 minutos.
"Não temos como transferir os fogos que estavam sendo colocados em Ponta Negra para lá, mas a festa terá o mesmo brilho, que é tradicional nas capitais do País existir queima de fogos na virada do ano", disse Mulatinho, destacando que este ano, devido a problemas financeiros que a Prefeitura de Natal enfrenta, o governo do Estado é quem está arcando com todas as despesas d

As conquistas e as derrotas que o consumidor teve ao longo de 2012

Comentários 1
Em 2012, o consumidor brasileiro passou por diversos ataques aos seus direitos, principalmente em setores como telecomunicações (ressaltando a telefonia celular e a internet banda larga), além dos problemas com o descaso de planos de saúde. Frente a este cenário, a coordenadora institucional da Associação de Consumidores Proteste, Maria Inês Dolci, conta que o brasileiro tem reclamado mais, no entanto explica que este avanço foi mais significativo nas redes sociais.
Para ela, é preciso que o consumidor registre suas insatisfações e reinvidique seus direitos através de três canais principais: órgãos de defesa do consumidor, redes sociais e diretamente no call center da empresa responsável pelo produto/serviço.
Veja como foi o ano para a relação dos direitos dos consumidores em alguns segmentos, de acordo com dados da Proteste.
Telefonia móvel
Dentro das telecomunicações, o setor de telefones celulares foi o que mais recebeu queixas. O ano foi marcado por quedas das ligações, dependendo do tempo em que os usuários permaneciam conectados. Uma das grandes conquistas do consumidor é que, a partir de fevereiro, se a ligação cair, uma nova será isenta de cobrança.
Além disso, ao identificar erros na fatura, o usuário terá até 90 dias para reclamar junto à operadora e não precisará pagar a conta até ter uma posição. Caso o erro não se confirme, poderá pagar a conta sem multa. Se o equivoco for da própria prestadora e o cliente tiver efetuado um pagamento superior ao que deveria ter feito – a diferença deverá ser ressarcida pela operadora (com correção monetária e juros de 1% ao mês).
Para Maria Inês, muitas normas ainda são frouxas e, devido à isso, as empresas se aproveitam dos clientes com altos preços e má qualidade dos serviços. "O mercado fica incentivando o cliente a possuir dois ou três chips, para quê o consumidor precisa pagar por tantos serviços diferentes para usar o telefone?", questiona ela.
Planos de Saúde
Em outubro de 2012, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) precisou suspender 300 planos de saúde de 38 operadoras por irregularidades, principalmente no que diz respeito à qualidade no atendimento, não atendendo assim às regras da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que fixaram prazos máximos de atendimento.
Apesar disso, o consumidor conseguiu alguns avanços em seus direitos como o fato de ter se tornado obrigatória a divulgação da rede assistencial das operadoras em seus sites, além de ser incluídos novos procedimentos como cobertura obrigatória dos planos.
Empresas aéreas
De acordo com a Proteste, desde 4 de junho deste ano, conforme a Resolução 218 da (Agência Nacional de Aviação Civil), todas as empresas aéreas devem enviar o histórico de atrasos e cancelamentos em relação ao mês anterior e disponibilizar as informações nas páginas de vendas de passagens e balcões dos aeroportos. Pela norma, as companhias aéreas são responsáveis pela informação acerca de qualquer vôo.
Bancos
A instauração da portabilidade bancária representou um ponto positivo, no entanto, para Maria Inês, os bancos estão dificultando a medida e os clientes não estão conseguindo trocar de instituição bancária facilmente.
Fora isso, vale lembrar a questão da redução dos juros e dos spreads bancários (diferença entre o que o banco paga na captação do dinheiro e o que cobra no empréstimo). Maria Inês diz que ainda é preciso muito avanço pois, cada vez mais pessoas das classes D e E estão virando correntistas –  mas sem o conhecimento necessário de como funcionam os bancos.
Inadimplência
Ligando o caso dos bancos, é possível associá-los à inadimplência do consumidor. A cooderadora institucional da Proteste comenta as transformações que o consumidor está tendo no cenário brasileiro. Para ela, um dos maiores desafios para os órgãos de defesa do consumidor é fazer com que as pessoas tenham mais conhecimento a fim de diminuirem seu grau de inadimplência.
"Em 2012 as famílias brasileiras estão muito endividadas, em média cada consumidor possui duas dívidas ativas", diz ela citando levantamentos da Proteste. Ela complementa o caso das contas atrasadas falando que muitas pessoas quando vão renegociar suas dívidas não percebem que pagam até mais do que deveriam. "Se você tem dívida é porque você é mal orientado", explica ela finalizando que cada vez mais as pessoas estão consumindo, no entanto, sem conhecimento dos seus direitos.

10 direitos que muitos consumidores não conhecem

Foto 1 de 11 - Indenização por atraso na entrega do imóvel, devolução de valores pagos a mais em dobro, suspensão do serviço de TV a cabo por até 120 dias. Especialistas listam a seguir estes e outros direitos do consumidor que muita gente desconhece Arte/UOL

Veja mais

AS PRIVATIZAÇÕES

Em 1997 foi aprovada lei pela câmara que autorizava as empresas exploradoras de petroleo a explorar o subsolo brasileiro e pagar 10% do valor que que era extraído, enquanto que nos  outros paises o Estado fica com 80%.
Durante a descoberta do pré-sal esta lei foi modificada, dando um percenutal maior para o Estado, lembrando que esta lei  de 1997 foi no governo de Fernando Henrique, e a nossa imprensa não noticiou esta entrega do subsolo brasileiro as empresas estrangeiras pelo governo do PSDB.

ECONOMIA FICA MAIS SÓLIDA,MAS VIVE HOJE PIOR MOMENTO


Publicidade
 
GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA
Em outubro de 2002, enquanto Lula vencia pela primeira vez a eleição presidencial, as expectativas de inflação para o ano seguinte saltaram de 5,5% para 8%.
Impensável nos dias de hoje, a escalada repentina das projeções dá uma ideia do terror então inspirado pelo candidato petista entre analistas de mercado, empresários, investidores e especuladores.
Afinal, chegava ao poder o partido que havia sido contra o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o pagamento da dívida externa --basicamente, a tudo que mantinha o precário equilíbrio monetário e financeiro do país.
Nos anos seguintes, o PT patrocinaria de fato mudanças na condução da economia. Mas a condução da economia mudou muito mais a teoria e a prática do partido.
Foram abandonados slogans como "Fora, FMI" e promessas mirabolantes como a de dobrar o poder de compra do salário mínimo em quatro anos --não cumprida nem dez anos depois.
A adesão aos pilares da política execrada nos anos de oposição tranquilizou os mercados. E, com o início de um período de rara prosperidade internacional, a administração petista tirou de cena as principais fragilidades que assombraram o governo FHC.
Graças ao crescimento das exportações e dos investimentos estrangeiros, o governo assegurou o cumprimento dos compromissos externos.
A dívida pública despencou para 35% do PIB, afastando os riscos de insolvência.
A lua de mel com a ortodoxia acabou com o fim da bonança externa. Desde 2009, o controle dos gastos foi afrouxado, a preocupação com a alta de preços diminuiu e recrudesceu o intervencionismo estatal na tentativa de estimular o crescimento.
Os liberais deixaram a equipe econômica, agora quase inteiramente composta por egressos da escola desenvolvimentista, ao gosto do PT. Mas, na falta de opção, mantêm-se ao menos no papel as metas fiscais e inflacionárias.
Neste ano, o Brasil deixou de ser um favorito do mercado global e o PIB estagnado virou piada na imprensa especializada. Mas o PT ainda pode se apegar à indiscutível redução da pobreza, da desigualdade e do desemprego.
Como em quase toda a América Latina, os indicadores sociais melhoraram rapidamente desde a década passada, devido à combinação de transformações no mercado de trabalho e ao impacto de programas sociais.
No Brasil, recordista de gasto público na região, a queda da miséria ficou acima da média, e o programa Bolsa Família se tornou a principal marca doméstica e internacional da gestão petista.

SUSPEITO DE FRAUDE ACUSA PRESIDENTE DA AGÊNCIA DE ÁGUAS


Publicidade
 
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DE SÃO PAULO

Acusado de ser um dos lideres de um esquema de venda de pareceres no governo federal, o ex-diretor da ANA (Agência Nacional de Águas) Paulo Vieira enviou no dia 20 ofício à ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, com acusações contra o atual presidente da agência.
Preso na Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, Vieira acusa o chefe da Ana, Vicente Andreu Guillo, de uma série de infrações administrativas, como o uso irregular de jatos da FAB. Ele não apresentou provas.
No ofício, de três páginas, Vieira cita primeiro as críticas que recebeu de Guillo em sessão do Senado, no dia 6 deste mês. Guillo disse que o ex-diretor é pessoa "complexa e ambiciosa" que usou o cargo "para delinquir".
O ex-diretor da ANA estaria disposto a fazer acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal sobre supostos crimes apontados pela PF, o que lhe daria benefícios como redução da pena, caso condenado.
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Vieira já havia acusado a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, de beneficiar um grupo empresarial suspeito de participar do esquema. A ministra nega.
ACUSAÇÕES
No ofício à Casa Civil, o ex-diretor da ANA atribui a Guillo infrações como o uso irregular de jatos da FAB para viajar a Campinas (SP), o pagamento de salários mais altos que o permitido a um assessor e o repasse de dinheiro para órgãos privados sem licitação.
Também afirma que Guillo não se desligou da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), uma empresa privada, antes de assumir a presidência da ANA.
Segundo a CPFL, Guillo, que entrou na ANA em janeiro de 2010, ficou até setembro daquele ano "cedido sem vencimentos".
Em outro item do ofício, Vieira afirma que o presidente da ANA continua no conselho de uma empresa da Petrobras, a Termobahia, o que seria irregular.
Segundo a empresa, ele deixou o posto em 28 de maio de 2010.
Em entrevista, Guillo afirmou que Vieira o considera "seu inimigo" porque foi barrado em suas planos na ANA. "Aqui na agência ele não conseguiu os mesmos procedimentos irregulares que em outros órgãos."
O presidente da ANA afirmou que vai primeiro se defender na Controladoria-Geral da União e no ministério. "Depois, vou rebater essas acusações pessoais não a ele, mas pela imprensa."
Em sua fala no Senado, Guillo, que é do PT, afirmou ser amigo do ex-ministro José Dirceu há muito tempo, mas disse aos congressistas que o ex-ministro não conhecia Vieira.
O ex-diretor da ANA chegou ao cargo por indicação de Rosemary Noronha, ex-chefe do gabinete da Presidência em São Paulo.
Também indiciada pelo Ministério Público sob acusação de participar do esquema, ela é amiga de Dirceu.
A assessoria da ministra Gleisi não comentou as acusações contra Guillo. Informou somente que o ofício foi enviado à CGU e ao Ministério do Meio Ambiente, ao qual a ANA é ligada.

PIOR GOVERNO DO PAÍS ACABA COM DIVIDA DE R$ 200 MILHÕES


Publicidade
LUIZA BANDEIRA
DE SÃO PAULO

O pior governo do país chega ao fim com a prefeita afastada, dívida superior a R$ 200 milhões, pilhas de lixo pelas ruas, ano letivo suspenso nas escolas e saúde em estado de calamidade.
Única prefeita eleita pelo PV em 2008, Micarla de Sousa atingiu o maior índice de rejeição já registrado pelo Ibope, de 92%, em pesquisa feita em setembro, enquanto comandava a Prefeitura de Natal. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), por exemplo, teve 47%.
Reprodução/Twitter/Micarladesousa
Prefeita afastada de Natal, Micarla de Sousa
Prefeita afastada de Natal, Micarla de Sousa

Pouco depois, em outubro, Micarla foi afastada do cargo pela Justiça por suspeita de participação em um esquema de desvio de verbas.
Segundo o Ministério Público, a prefeita usou recursos públicos para comprar joias, fazer supermercado e pagar funcionários de sua casa. Ela nega as acusações.
Desde o afastamento de Micarla, Natal já teve dois outros prefeitos --e, nesta semana, chegou a ficar sem comando por dois dias.
Micarla se elegeu em 2008 com o mote da mudança, após ganhar popularidade como apresentadora de TV -- ela é dona da TV Ponta Negra, afiliada local do SBT.
Chegou ao auge de influência política em 2010. Coordenou a campanha de Marina Silva (ex-PV, sem partido) à Presidência no Nordeste.
Em 2011, investigada pela Câmara de Natal por suspeita de irregularidades, enfrentou protestos que ficaram conhecidos como "primavera potiguar".
Mas foi neste ano que a situação piorou. O lixo começou a se acumular nas ruas após a suspensão do pagamento das empresas que fazem a coleta.
As aulas foram suspensas neste mês por falta de pagamento de funcionários, após a saída de Micarla do cargo. Cerca de 15 mil alunos não terminaram o ano letivo.
No mês passado, foi decretado estado de calamidade pública na saúde por falta de profissionais e material para atendimento em unidades.
CONSTRANGIMENTO
A gestão causou constrangimento a aliados. Após o afastamento de Micarla, o presidente nacional do PV, José Luiz Penna, disse que a sigla "não perdoa deslizes em relação a verbas públicas".
O senador José Agripino Maia (DEM), que a apoiou em 2008, também não sai mais em sua defesa. "Não tenho contato com ela há dois anos", diz, atribuindo o rompimento ao apoio da ex-afilhada a Dilma em 2010.
Micarla disse que "a política é uma página virada" em sua vida. "A história não termina de ser escrita em 31 de dezembro. Lá na frente as pessoas vão saber o que foi feito, o que valeu a pena."
O prefeito eleito, Carlos Eduardo Alves (PDT), afirma que a prioridade inicial de seu governo será solucionar os problemas na saúde, educação e coleta de lixo.
Para equilibrar as finanças, Alves diz querer extinguir órgãos da administração e revisar contratos.

TIROTEIO EM FAZENDA DO GRUPO DE DANIEL DANTAS DEIXA AO MENOS UM FERIDO NO PA


Publicidade
 
AGUIRRE TALENTO
DE BELÉM

Um tiroteio entre trabalhadores sem-terra e seguranças de uma das fazendas ligadas ao banqueiro Daniel Dantas no sudeste do Pará deixou um segurança baleado na noite do último sábado (29), de acordo com a Polícia Civil do Estado.
Sem-terras também teriam sido baleados e estão desaparecidos, de acordo com relatos de integrantes do movimento à polícia, que ainda investiga se houve mais feridos. Até agora só foi confirmado o segurança baleado no braço e na perna por arma de cano longo.
O conflito ocorreu na fazenda Itacaiunas, da Agropecuária Santa Bárbara (ligada ao grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas), localizada em Marabá (684 km de Belém).
Um grupo de sem-terra da Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura) estava acampado do lado de fora da Itacaiunas desde julho deste ano. Há 15 dias, eles invadiram o local e ocuparam a entrada da fazenda, segundo a polícia.
De acordo com o delegado Rodrigo Paggi, os sem-terra passaram a impedir a entrada e saída de funcionários da agropecuária após a invasão.
No sábado, os seguranças levaram um dos funcionários para fora da fazenda, por uma saída alternativa. Quando voltaram, enfrentaram uma tocaia dos sem-terra, diz Paggi.
"Quando voltaram pela outra saída, a porteira estava fechada. Um funcionário foi abrir e, quando os seguranças entraram, viram uma arma apontada em direção a eles. Aí os seguranças jogaram o funcionário no chão, os sem-terra começaram a disparar e os guardas revidaram", relatou o delegado.
A Fetagri afirma que o grupo de sem-terra foi resgatar um trabalhador rural que havia saído para coletar castanhas e fora cercado pelos seguranças da fazenda, quando estes deram início ao confronto contra o grupo. Segundo Antônio Gomes, integrante da organização, um trabalhador rural foi baleado no braço e outro recebeu um tiro no rosto e está desaparecido.
A polícia vai ouvir nesta semana os demais vigilantes e os líderes sem-terra que estão na fazenda.
BARRIL DE PÓLVORA
Conflitos com sem-terra envolvendo fazendas do grupo Opportunity na região sudeste do Pará têm sido frequentes.
Em junho, uma tentativa de invasão do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) a uma outra fazenda, a Cedro (entre Marabá e Eldorado do Carajás), terminou com 12 sem-terra feridos por disparos de armas de fogo.
No caso da fazenda Itacaiunas, eles pressionam pela desapropriação para reforma agrária depois que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) declarou a propriedade improdutiva.
A Santa Bárbara diz que tenta provar na Justiça que a fazenda é produtiva e que sua finalidade é reprodução de gado em um projeto de melhoramento genético.
Sobre o conflito, a agropecuária afirmou que "repudia as ações criminosas dos invasores".

POLICIA COMEÇA A DESOCUPAR VILAREJO DE POSSEIROS EM TERRA INDIGENA DE MT


Publicidade
 
FÁBIO GUIBU
DE RECIFE

Policiais federais e da Força Nacional de Segurança deflagraram na manhã deste domingo (30) uma ação em Posto da Mata, distrito de Alto da Boa Vista (MT), onde posseiros de uma área indígena resistem a uma ordem judicial de desocupação.
Segundo moradores da área, os policiais detonaram bombas de efeito moral nas ruas, enquanto um helicóptero sobrevoava a região.
"Fizeram isso para nos intimidar", disse o comerciante Antonio Mesquita, 44, que mora há 20 anos no local com os pais, a mulher e uma filha de 6 anos.
Segundo ele, os policiais pediram para que os moradores permanecessem em suas casas e aguardassem a chegada de um oficial de Justiça, que os orientaria sobre o processo de desocupação. Isso não havia ocorrido até então.
"Ficamos prisioneiros em nossas próprias casas", disse Mesquita. De acordo com ele, a ação policial começou por volta das 6h e assustou os moradores.
A área possui 165 mil hectares e foi reconhecida em novembro passado como terra indígena xavante Marãiwatsédé.
Posseiros ocupam a área desde 1992. A terra indígena foi homologada em 1998 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
No último dia 28, um caminhão do governo federal carregado com cestas básicas foi saqueado e incendiado em Posto da Mata.
No início do mês, posseiros armaram uma emboscada frustrada para os agentes federais de segurança que atuam na operação de retirada.

POSSEIROS QUE RESISTEM À DESOCUPAÇÃO DE TERRA INDIGENA EM MT RECEBEM ULTIMATO


Publicidade
 
FÁBIO GUIBU
DE RECIFE

Sob clima tenso, posseiros que ocupam uma área indígena em Posto da Mata, distrito de Alto da Boa Vista (MT), receberam prazo para deixar o local até a próxima sexta-feira (4).
Segundo o comerciante Antonio Mesquita, 44, que mora na área há 20 anos, o aviso foi dado por um oficial de Justiça, que acompanha a ação de despejo que alcançou a área no domingo (30), com a presença de policiais federais e da Força Nacional de Segurança.
O distrito é o principal foco da resistência de não índios à ordem judicial de retirada da região. Moradores chegaram a confrontar forças de segurança neste mês em protesto contra a saída forçada.
"Eles avisaram que nós deveríamos sair, ou então seríamos presos", disse Mesquita. De acordo com ele, alguns moradores já deixaram o local, enquanto outros aguardam a chegada de caminhões para transportar seus pertences.
Os posseiros, que vinham resistindo à ordem judicial, estão se deslocando para cidades vizinhas, como Alto da Boa Vista, localizada a 30 quilômetros de Posto da Mata, e Bom Jesus do Araguaia.
No último dia 28, um caminhão do governo federal carregado com cestas básicas foi saqueado e incendiado no local.
No início de dezembro, moradores armaram uma emboscada frustrada para os agentes federais de segurança que atuam na operação de retirada.
A área que está sendo desocupada possui 165 mil hectares e foi reconhecida em novembro passado como terra indígena xavante Marãiwatsédé. É também uma das áreas indígenas na Amazônia com maior índice de desmatamento.
Os posseiros ocupam o local desde 1992. A terra indígena foi homologada em 1998 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

OS NOVOS ATORES POLÍTICOS

Vladimir Safatle

Antítese

28.12.2012 09:00

153
Um dos fatos mais relevantes de 2012 foi a transformação dos juízes do Supremo Tribunal Federal em novos atores políticos. Já há algum tempo o STF virou protagonista de primeira grandeza nos debates políticos nacionais, ao arbitrar grandes questões ligadas à vida nacional em um ambiente de conflito. Por tal razão, vemos hoje um fato absolutamente inédito na história nacional: juízes do STF reconhecidos por populares.
Durante décadas, a Suprema Corte era um poder invisível para a opinião pública. Ninguém via no Supremo a expressão de um poder que poderia reverberar anseios populares. Hoje é inegável que algo mudou, principalmente depois do julgamento do chamado “mensalão”, no qual o tribunal procurou traduzir em ações as demandas sociais contra a corrupção. Nesse contexto de maior protagonismo do STF, algumas questões devem ser colocadas.
Fala-se muito da espetacularização do Judiciário, que seria sensível aos apelos da mídia e de setores da opinião pública. Isto principalmente depois da criação de um canal de televisão, a TV Justiça, pelo qual é possível acompanhar julgamentos do STF. Se levado a sério o argumento, teríamos de afirmar que tal espetacularização é um fenômeno a atingir a democracia como um todo, e não apenas um de seus poderes. Na verdade, melhor isso do que os momentos nos quais juízes do Supremo podiam dizer que julgavam “de costas para a opinião pública”. A democracia exige o regime da máxima visibilidade dos entes e processos públicos.
Segundo, que juízes se vejam como atores políticos não deveria ser visto como problema. Só mesmo um positivismo jurídico tacanho acreditaria que a interpretação das leis pode ser feita sem apelo à interpretação das demandas políticas que circulam no interior da vida social de um povo. Interpretar uma lei é se perguntar sobre o que os legisladores procuravam realizar, qual o núcleo racional por trás das demandas que se consolidaram através da enunciação de leis. Que juízes se vejam, atualmente, com tais incumbências, eis algo que não deveria nos preocupar.
Há, porém, duas questões urgentes que merecem nossa atenção diante deste novo momento do Judiciário. Primeiro, a tripartição dos poderes foi feita com vistas à possibilidade de constituir um sistema de mútua inspeção. Um poder deve ter a possibilidade de servir de contrapeso aos demais. Para isso, todos os três poderes devem ter o mesmo grau de legitimidade e todos devem ter mecanismos simétricos de controle.
O único fundamento de legitimidade reconhecido pela democracia é a soberania popular. Ela se manifesta na escolha do Poder Executivo e do Legislativo. Mas está completamente ausente no interior do Poder Judiciário. O sistema de escolha e nomeação dos integrantes do STF, com suas indicações do Executivo e sabatina do Legislativo, é completamente opaco e antidemocrático. Haja vista as recentes inconfidências do ministro Luiz Fux a esse respeito. Nem sequer procuradores do Ministério Público são escolhidos por deliberação popular. Um poder que deseja um protagonismo político respeitado deve se abrir para a participação popular direta. Há uma criatividade institucional necessária que deve ser mobilizada para sairmos de um sistema “monárquico” de constituição do Judiciário, com suas indicações por compadrio ou “serviços prestados”, seus cargos sem tempo fixo de mandato.
O problema do controle do Judiciário não deve, no entanto, ser posto necessariamente na conta de tentativas de amordaçamento. Todos os poderes têm mecanismos de controle. Por exemplo, podemos aplicar impeachment em um presidente, cassar o mandato de um deputado, mas o que fazer quando um juiz do STF demonstra-se inapto ao cargo? Um poder democrático é aquele que deixa claro seus mecanismos de entrada e de saída, ou seja, como ele escolherá seus integrantes e como afastará quem se demonstra inabilitado para o cargo. Nos dois casos, nosso Judiciário tem muito no que avançar.
É necessário que a sociedade brasileira tenha a serenidade para discutir mecanismos de reforma do Judiciário, principalmente agora que compreendemos a importância de sua função. A democracia tem muito o que construir no que diz respeito à legitimidade popular de seus juízes.

COTAS ÉTNICAS E IGUALDADE

Pedro Estevam Serrano

25.04.2012 16:11

 

Nossa Constituição, como bem explana Ricardo Marcondes Martins, conta com um plano ideológico próprio, ou seja estipulou originalmente um conjunto de valores que foram positivados como normas do maior status hierárquico em nosso sistema jurídico.
Dentre este valores, transformados em princípios constitucionais, temos o da igualdade formal entre os cidadãos e também o da busca de maior igualdade material entre os mesmos.
Nossa Constituição adotou claramente o modelo de Estado social, ou seja a de um Estado que intervém através da lei e outros atos estatais nas relações jurídicas entre as pessoas para realização de uma maior justiça social,ou seja para realização de uma vida social com menor diferença entre as classes e demais grupos sociais no campo econômico, afetivo, sócio-ambiental, etc.
Esta intervenção estatal ocorre no mais das vezes em colisão com o principio da igualdade formal, chamado de isonomia pelos juristas.
Como é cediço na contemporânea doutrina de direito constitucional princípios constitucionais por trazerem em seu conteúdo valores, ou seja, virtudes  humanas e sociais que o constituinte quis ver realizadas na vida  social, em geral tendem a colidir entre si.
Aristóteles já havia, há séculos, identificado este caráter colidente das virtudes humanas. A coragem é uma virtude mas a prudência também. Coragem e prudência colidem entre si, sendo necessário ponderar entre ambas, de acordo com a circunstância fática, para que uma prepondere  em detrimento da outra.
De um soldado em guerra exige-se mais coragem pois é obrigado a enfrentar tiros do inimigo pondo sua vida em risco constantemente, mas sem eliminação total da prudência para que não morra bobamente. De um piloto de avião exige-se mais prudência para que não ponha em risco sua vida e a dos passageiros, mas sem eliminação total da coragem se não o avião não sai do chão.
Pois nossa Constituição, como conjunto de normas superiores de uma sociedade democrática hiper-complexa, determina que se observe na vida social uma série de virtudes ou valores que obviamente tendem a colidir entre si. Essas normas os juristas chamam de princípios.
Assim nossa Carta Magna  determina que as pessoas tenham liberdade individual, mas ao mesmo tempo que tenham segurança ou observem medidas de preservação da saúde pública, por exemplo. A liberdade  individual é colidente com o valor da  segurança, que exige para sua realização de normas restritivas  daquela. Conforme a circunstância fática um ou outro princípio deve preponderar, tendo-se sempre em vista o plano ideológico da Constituição (não o pessoal do intérprete). Legisladores, juízes e autoridades administrativas têm de realizar tais ponderações, em abstrato ou em concreto, no cotidiano de suas decisões.
Pois o Estado social ao realizar o valor da justiça social, intervindo na relação entre as pessoas, normalmente o faz tendo de  preponderar tal valor em detrimento da igualdade formal.
O princípio da igualdade formal determina, por exemplo, que os particulares que travam um contrato devem ser tidos como iguais perante a lei e às clausulas contratuais.
Ocorre, entretanto, que se tal contrato tem como parte um particular em nítida desvantagem econômica em relação ao outro contratante, o Estado através da lei intervém rompendo a igualdade entre as partes estabelecendo normas intransigíveis pelas partes com vistas a proteção da parte mais fraca, do chamado hipossuficiente.
Isto ocorre nos contratos de trabalho, nos de consumo, etc. CLT e Código de Defesa do Consumidor são exemplos de intervenções estatais na relações privadas com vistas a promoção de uma maior justiça social em detrimento da noção de igualdade formal para obtenção de uma maior igualdade material.
No Estado social é assim mesmo. Em geral para realização de uma maior igualdade material temos de restringir a igualdade formal. Ambos os valores entram em tensão e pelo plano de valores de nossa Constituição a busca de maior igualdade material deve preponderar na maior parte das situações, mas sem eliminar por completo a igualdade formal, restringindo-a no mínimo necessário para que a igualdade material prevaleça.
Pois é esta situação a que ocorre na questão das cotas raciais em nossas universidades.
Durante um bom pedaço de nossa história os negros não eram tidos como pessoas por nossa ordem jurídica, eram coisas, escravos!
A escravidão gerou graves distorções sociais. Existem brancos pobres, mas esses são minoria entre os pobres. Existem negros ricos, mas esses são minoria entre os ricos.
Etnia no Brasil, por conta de nossos antecedentes históricos, é fator profundamente relacionado as desigualdades sociais. Racismo aqui é forma de garantia dos interesses econômicos de nossa elite euro-descendente.
Não é segredo para ninguém que estudo significa ascensão social.
Cotas para negros em nossas universidades é medida eficaz não apenas de compensação de um passado vergonhoso para nossa nação. Mas forma atual de realização da justiça social.
Tentar fazer que a igualdade formal prepondere sobre o valor da justiça social é postura ideológica própria do liberalismo. Não há problema algum em  defender tal ponto de vista no plano politico, realizar o livre  debate.
Mas no plano jurídico não. Nossa Constituição adota o modelo do Estado social, não o do Estado mínimo liberal. Justiça social em nosso pais é norma constitucional. Comando a ser obedecido e não apenas tema para debate.
Obviamente o debate democrático poderá no futuro resultar em termos uma Constituição liberal, que estipule um Estado mínimo, mas até lá temos que cumprir a Constituição posta em 1988. É o que se espera do STF no julgamento do constitucionalidade das cotas, Estado de Direito significa governo das leis, não governo dos juízes.

Por unanimidade, STF legaliza as cotas raciais nas universidades


Luiz Fux, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes durante o julgamento. Os três votaram a  favor das cotas. Foto: José Cruz / ABr
Luiz Fux, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes durante o julgamento. Os três votaram a favor das cotas. Foto: José Cruz / ABr
O Supremo Tribunal Federal (STF) tomou nesta quinta-feira 26 mais uma decisão histórica, ao decidir, por unanimidade, que as cotas raciais estabelecidas por universidades públicas são constitucionais. O julgamento se dá após anos de debates sobre o tema e deve colocar fim à insegurança jurídica a respeito da reserva de vagas para determinados grupos.
O Supremo tomou a decisão ao julgar duas ações diferentes. A primeira era uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 186), de autoria do Democratas (DEM), contra a Universidade de Brasília (UnB), que reserva 20% das vagas do vestibular para estudantes negros. O argumento do partido, defendido principalmente pelo senador Demóstenes Torres, hoje mergulhado em um escândalo de corrupção, era de que as cotas raciais ferem o princípio da igualdade. A outra ação é um Recurso Extraordinário (RE 597285) de um estudante gaúcho que foi eliminado do vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) embora tivesse obtido notas superiores às dos cotistas. Isso ocorreu porque a universidade reserva 30% das vagas para quem estudou na rede pública, sendo que metade dessa cota é destinada aos candidatos que se declararem negros na inscrição.
O ministro Ricardo Lewandowski era o relator dos dois processos e, ainda na quarta-feira 25, proferiu seu voto favorável à constitucionalidade das cotas raciais. Lewandowski afirmou que os programas de ação afirmativa têm como finalidade acabar com o sentimento de discriminação por pertencer à determinada raça. “Não basta não discriminar. É preciso viabilizar. A postura deve ser, acima de tudo, afirmativa. É necessária que esta seja a posição adotada pelos nossos legisladores. A neutralidade estatal mostrou-se, nesses anos, um grande fracasso”, disse.
Nesta quinta-feira, os ministros Luiz Fux, Rosa Maria Weber, Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa, Cezar Peluso, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e o presidente da corte, Carlos Ayres Britto, acompanharam o voto de Lewandowski. O ministro Dias Toffoli se declarou impedido de participar do julgamento porque, na condição de advogado-geral da União, teve de se pronunciar sobre o tema.
Para Fux, a raça pode e deve ser critério político de análise para ingresso na universidade, como ocorre em diversos países democráticos. “A construção de uma sociedade justa e solidária impõe a toda coletividade a reparação de danos pretéritos perpetrados por nossos antepassados”, disse.
A ministra Rosa Weber acredita que o sistema de cotas visa a garantir aos negros mais oportunidades de acesso à universidade e, assim, equilibrar as oportunidades sociais. “Se os negros não chegam à universidade, não compartilham a igualdade de condições com os brancos”. Para ela, quando o negro se tornar visível na sociedade, “política compensatória alguma será necessária”.
De acordo com a ministra Cármen Lúcia, as políticas compensatórias garantem a possibilidade de que todos se sintam iguais. “As ações afirmativas não são as melhores opções. A melhor opção é ter uma sociedade na qual todo mundo seja livre par ser o que quiser. Isso é uma etapa, um processo, uma necessidade em uma sociedade onde isso não aconteceu naturalmente”.
Joaquim Barbosa afirmou que ações afirmativas são políticas públicas voltadas à concretização da neutralização dos efeitos perversos da discriminação racial, de gênero, de idade e de origem. “É natural que as ações afirmativas sofram um influxo de forças contrapostas e atraiam resistência da parte daqueles que historicamente se beneficiam da discriminação de que são vítimas os grupos minoritários”, disse o ministro.
Cezar Peluso, cujo voto, o sexto, garantiu a legalidade do sistema de cotas nas universidades públicas, seguiu os colegas, mas fez um alerta a respeito de defeitos que o sistema tem. “Não posso deixar de concordar com o relator que a ideia [cota racial] é adequada, necessária, tem peso suficiente para justificar as restrições que traz a certos direitos de outras etnias. Mas é um experimento que o Estado brasileiro está fazendo e que pode ser controlado e aperfeiçoado”, disse Peluso.
Para o ministro Celso de Mello, as ações afirmativas estão em conformidade com a Constituição e com as declarações internacionais às quais o Brasil aderiu. O último ministro a se manifestar, Carlos Ayres Britto, disse que a política compensatória é justificada pela Constituição. Para ele, os erros de uma geração podem ser revistos pela geração seguinte. “O preconceito é histórico. Quem não sofre preconceito de cor já leva uma enorme vantagem, significa desfrutar de uma situação favorecida negada a outros”, explicou Britto.
Ressalvas
Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello também fizeram ressalvas. Ambos pediram critérios objetivos para definir quem deve ou não ser incluído nas vagas separadas pelas cotas. Para
Para Mendes, é necessário fazer uma revisão no modelo da Universidade de Brasília, pois o modelo pode tender à inconstitucionalidade posteriormente. “Todos podemos imaginar as distorções eventualmente involuntárias e eventuais de caráter voluntário a partir desse tribunal [racial da UnB], que opera com quase nenhuma transparência”, disse o ministro. De acordo com Mendes, a adoção de critérios objetivos de referência socioeconômica seriam mais razoáveis. “Se conferiu a um grupo de iluminados esse poder que ninguém quer ter de dizer quem é branco e quem é negro em uma sociedade altamente miscigenada”, disse. A referência de Mendes era a um episódio ocorrido em 2007, quando dois irmãos gêmeos tiveram resultados diferentes, um sendo aprovado para uma vaga pelas cotas e outro rejeitado.
Para o ministro Marco Aurélio Mello, as autoridades públicas devem se pautar por critérios objetivos para definir quem serão os beneficiários das cotas. “Uma sociedade que tolera práticas discriminatórias não pode ser tida como democrática. Se é evidente a situação [de desigualdade] do negro no mercado de trabalho, parece possível indicar aqueles que devem ser favorecidos pela política inclusiva”, disse Mello.
*Com informações da Agência Brasil

CUIDADO: PODE SER O OVO DA SERPENTE

Roberto Amaral

“O direito de defesa vem sendo arrastado pela vaga repressiva que embala a sociedade brasileira. À sombra da legítima expectativa de responsabilização, viceja um sentimento de desprezo por garantias fundamentais.”
Márcio Thomaz Bastos
“Nós entregamos aos nossos juízes – individualmente considerados—  e aos tribunais, mais poder do que eles precisam para exercer suas funções.”
Sérgio Sérvulo
O ministro Joaquim Barbosa declara em sua entrevista de final de ano — a primeira de seu recém iniciado mandato,  que não há Poder após o Judiciário (e, aparentemente, nem antes…) e que suas decisões são  inapeláveis. Esqueceu-se de dizer, porém, que isso não as livra, as decisões, de corrigenda, quando se trata de matéria criminal.  É o caso da anistia (C.F. arts. 21, XVII e 48, VIII), e é o caso do indulto e da comutação da pena pelo presidente da República (C.F. art. 84, IX). E não é só, pois o ministro Joaquim Barbosa e seus colegas não estão acima do bem e do mal, eis que podem ser processados, julgados e condenados pelo Senado nos crimes de responsabilidade   (C.F. art. 52, II).  Podem, até, perder a toga.
Também os poderes do STF são susceptíveis de revisão. O Congresso Nacional pode emendar a Constituição (o que, aliás, tem feito com excessiva desenvoltura) e nela, até, alterar os poderes tanto dele próprio quanto do Executivo e do Judiciário. E pode ainda, o Congresso, legislar na contramão de um julgado do STF, e, assim, torná-lo sem consequência. Os poderes do Judiciário (como os do Legislativo e do Executivo), não derivam, na democracia, da ordem divina que paira, autoritária, sobre os Estados teocráticos, ou da ordem terrena das ditaduras. Atrás dos nossos Poderes,  não está um texto de dicção divina, ou um texto datilografado por um escriba do tipo Francisco Campos ou Gama e Silva, mas um texto derivado de uma Assembleia, esta sim um Poder, o único,  acima dos demais. Foi exatamente este Poder que,  armado da força constituinte oriunda da soberania popular,  ditou-lhe, ao STF,  existência e a competência.
Não obstante, o Supremo brasileiro se atribui hoje o poder de dizer a primeira e a última palavra. O modelo é a Corte dos EUA, mas, se esta tem a ‘última palavra’ do ponto de vista jurídico, ela a pronuncia dentro dos estritos parâmetros que lhe são fixados pelo poder político, na legislação judiciária. Na Alemanha, na Espanha, em Portugal – adverte o jurista Sérgio Sérvulo – a suprema corte não tem regimento interno: o exercício de sua atividade é pautado em lei, e, com isso, se estabelece seu vínculo umbilical com o poder político.
Pouco entendendo de direito (convido o leitor a levantar os nomes dos dez últimos presidentes da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal), e, talvez por isso,  votando ao STF um temor reverencial, nosso Congresso fica de cócoras ante o Judiciário, aprovando tudo o que se lhe pede (inclusive aumentos salariais): excrescências como as súmulas vinculantes e repercussões gerais, contra as quais tanto se bateu Evandro Lins e Silva.
De outra parte, esse mesmo Supremo deixou de exercer sua principal função – o controle difuso de constitucionalidade – liberando com isso as mãos dos tribunais e juízes ao arbítrio.
Não trago à discussão tema irrelevante, uma vez que (e dessa verdade muitos se descuidam) as consequências das decisões do STF, de especial nos julgamentos criminais,  dizem respeito a todos os cidadãos, e não só aos julgados e condenados. Daí, para horror do pensamento autoritário, a sucessão de instâncias julgadoras e a sequência de recursos e apelações e agravos, que sugerem impunidade, mas que simplesmente atendem à necessidade de assegurar a todos ampla defesa. Na democracia só se condena com provas.
É que essas precauções inexistem no caso do STF, pois ele age, no mesmo julgamento, como primeiro e último grau, como promotor e juiz,  e suas decisões constroem jurisprudência a ser observada por todos as demais instâncias.  Assim, por exemplo, se, em uma determinada ação criminal, o  desconsiderar a presunção de inocência (transformada em “presunção de culpabilidade”), estará condenando todos os acusados de todos os processos vindouros a provar a própria inocência, e não a simplesmente refutar a acusação; se em um determinado caso, o STF considerar dispensável a prova material para caracterizar a culpabilidade de determinado réu, estará dispensando a prova em todos os demais julgamentos..
Uma coisa, desejada, aplaudida, é a sadia expectativa de punição dos chamados ‘crimes de colarinho branco’; outra é a degeneração autoritária do direito criminal.
As decisões do STF, seja  no caso da Ação Penal 470 decretando perda de mandato de parlamentares (competência privativa da respectiva Casa legislativa, C. F. art. 55), seja, à mesma época,  intervindo na organização da pauta do Congresso mediante decisão monocrática em ordem liminar, assustam o pensamento democrático, que, cioso da importância da separação dos Poderes, reage ao papel de moloch autoritário que a direita quer emprestar ao Poder Judiciário brasileiro. Um dos mais perigosos movimentos desse autoritarismo que começa a quebrar a casca do ovo em que foi gerado,  é a  judicialização da política, a qual, se  atende à fome voraz do Judiciário, é também acepipe que sai do forno dos partidos e do Congresso, seja pela omissão desse, seja pelo vício anti-republicano das oposições, das atuais e das anteriores (PT à frente) de recorrerem ao Judiciário, para a solução de impasses que não souberam resolver no leito natural da política.
De outra parte, a omissão legiferante do Congresso  abriu lacunas legais ou criou impasses que foram levados ao Judiciário que, assim, ‘legislou’ e legislou (não discuto o mérito), por exemplo, no julgamento das cotas para negros nas universidades, na descriminalização do aborto de fetos anencéfalos e na legalização da união civil entre homossexuais. E legislou, então à larga, o STF sancionando decisões do TSE, que se auto-incumbiu de fazer a reforma política que o Legislativo postergou. Esse mesmo TSE se especializou em cassar mandatos.
No fundo a questão é esta: não há vazio de poder.
Na mesma entrevista citada no início deste artigo, o presidente do STF condena as promoções de juízes por merecimento, pois isso, diz ele,  enseja a comprometedora corrida dos interessados atrás de apoios políticos. É verdade, mas não é a verdade toda, posto que  não se aplica, apenas, à primeira instância. Em grau muitas vezes mais grave o ‘beija mão’ tem matriz na nomeação dos ministros dos tribunais superiores, principalmente do STF, com os candidatos em ciranda pelos  vãos e desvãos do Executivo e do Senado à procura de apoios trocados por promessas de favores futuros.
Pede a democracia um Congresso revigorado, talvez o da próxima Legislatura  – apto para realizar as reformas de que o Brasil necessita e uma delas é a reforma do Judiciário, livre da vitaliciedade monárquica, obrigado a trabalhar onze meses por ano, sujeito ao controle externo, como todos os demais Poderes republicanos.

Leia mais em www.ramaral.org.br

REAÇÕES ÁS COTAS SUBESTIMAM O RACISMO

Matheus Pichonelli

A melhor definição que conheço de racismo não está nos livros acadêmicos nem no voto dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Está no romance autobiográfico “À Mão Esquerda”, de Fausto Wolff (1940-2008).
Foto: Luliexperiment/Flickr
É uma patada no estômago: em certo momento do livro, Wolff escreve sobre o dia em que o pai, barbeiro, atendeu uma família de negros em seu salão em Santo Ângelo (RS). Foi um fiasco: parecendo nervoso, o pai errou o corte, provocou talhos, falhas, picotou orelhas e se mostrou bem pouco simpático.
Ao ver os clientes sair, Wolff, ainda menino, comentou que nunca o vira trabalhar tão mal. Era proposital, explicou o pai. Era necessário tratar mal essa clientela, ainda que não fosse (jurava) racista.
A lógica era: se eles gostassem do serviço, voltariam; em pouco tempo, o salão ficaria marcado por ser um espaço aberto para negros; e os brancos que tinham dinheiro, grosso da clientela, ficariam incomodados, pois não gostariam de frequentar um lugar assim; e, se os brancos fugissem, o barbeiro não teria dinheiro para colocar o prato na mesa da família. Simples assim.
Ou seja: o racismo dos outros justifica a discriminação preventiva, ainda que todos sejam iguais perante a lei. E como provar que o serviço mal prestado era motivado por racismo? Impossível. Nas esferas do micro-poder, a discriminação é sutil, mas opera violentamente.
Num país de 190 milhões de habitantes, é humanamente impossível vigiar os processos de exclusão manifestados contra grupos minoritários (sempre considerando como “minorias” os grupos que tiveram negados, ao longo da História, o acesso à totalidade dos direitos civis, sociais, políticos). Mas é dever do Estado criar regras para garantir acesso a lugares públicos, como a universidade.
Imagino, enquanto escrevo este post, quantas pessoas deixaram uma hora dessas as barbearias com as orelhas podadas por tesouras a zelar pela reputação do recinto. Não duvido que sejam muitos. Nas barbearias, nos shoppings centers, nos aeroportos, nas delegacias, nos bancos.
Luiz Fux, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes durante o julgamento. Os três votaram a favor das cotas. Foto: José Cruz / ABr
Luiz Fux, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes durante o julgamento. Os três votaram a favor das cotas. Foto: José Cruz / ABr
O Brasil, como a Argentina, as Coréias e o Afeganistão, é um país de preconceitos. Preconceitos de classe, de origem, de orientação sexual e de raça. O que significa: o sujeito pode ser honesto, talentoso, até endinheirado, mas levará sempre um “porém” ao lado do nome. “É um sujeito inteligente, mas bicha”. Esse “porém” é uma tesoura a serviço do boicote.
Por aqui, ao longo dos anos, tentou-se de todo modo, com leis, campanhas educativas e regras de convivência, banir o preconceito nas relações pessoais. Ainda assim, em pleno ano 2012, a exclusividade do acesso a determinados nichos e espaços mostra apenas que só o discurso foi atingido, quando muito. Admitir ideias pré-concebidas sobre determinado grupo pode soar mal, criar embaraço, constrangimento, e até problemas com a lei. Mas não elimina a ideia pré-concebida (quando muito, apenas a manifestação pública dela. Quando muito mesmo). E a ideia pré-concebida é só a etapa inicial de uma ação perversa.
O julgamento no STF sobre a legalidade dos sistemas de cotas nas universidades públicas foi uma dessas oportunidades de se colocar em discussão e evidência a herança de séculos de injustiça justificada aos olhos da lei.
Não que o sujeito a se posicionar contra as cotas seja necessariamente racista. Mas é fato que o racista será contra quaisquer formas de inclusão e pluralidade. Para ele o preconceito simplesmente não existe, e só não estuda ou trabalha quem é vagabundo.
Os ministros do STF não pensam assim. Por unanimidade, decidiram pela legalidade da cota, com direito a discursos belíssimos que podem ser guardados nas paredes das grandes citações.
Foi só um primeiro (e necessário) passo: o reconhecimento das distorções ainda latentes de um país de privilégios. As reações vieram em sequencia: “mas e os outros grupos minoritários?”; “A decisão jogou para escanteio os brancos pobres”; “Estamos criando um tribunal racial no Brasil”; “Estamos criando privilégios para combater desigualdades”; “E o mérito?”; “E o estigma sobre os estudantes”.
Como estes, é possível usar vários argumentos com muito sentido para reagir à norma recém-referendada. Foi o que fez o DEM, que não é exatamente conhecido como um combatente das oligarquias e privilégios de um Brasil arcaico, ao contestar o sistema em vigor na UnB – uma experiência bem-sucedida, frise-se.
Foto: Agência USP
A reação ao sistema de cotas joga no ar a impressão de que a existência de muitos problemas é só um impeditivo para se corrigir outros; como se a soma de vetores apontando para cada injustiça no País devesse resultar unicamente na imobilidade.
De fato, é possível apontar uma série de problemas no sistema de cotas, como em vários sistemas que envolvam subjetividade e leis. O que preocupa, a esta altura do campeonato, não é a desconfiança sobre uma medida considerada paliativa. É o conforto com a ausência de propostas melhores.
Uma alternativa para as cotas raciais na universidade seriam as cotas sociais, que levariam em conta critérios como a origem e condição social do estudante. É uma possibilidade interessante. Ainda assim, a meu ver, subestima um outro fator: a manifestação de preconceito racial dentro desses lugares de origem.
Existem várias portas de saída para a pobreza. Nem todas estão imunes a boicotes: quem precisa de um financiamento, por exemplo, precisa ter a sorte de encontrar um gerente que vá com a sua cara. E é desnecessário lembrar que o Brasil não vai com a cara de negros – basta ver nas filas para adoção de bebês qual o perfil buscado pelos futuros papais.
O simples lance (o hipotético pedido de empréstimo ou de emprego) pode ser determinante garantir recursos para estudos, livros, cursos de língua, transporte e moradia (porque estudo dos filhos não se faz só com a matrícula). Ninguém chega à escola nem à universidade por simples vontade: há uma série de complicadores, como vergonha e perseguições, a pesar para uns e não para outros. Ninguém fica minimamente à vontade num lugar onde é chamado de “macaco” de tempos em tempos por colegas, vizinhos, professores, diretores, seguranças.
Durante décadas, o Brasil que pensou na libertação das correntes da escravidão ignorou as outras formas de exclusão de grupos que ficaram à margem na própria história.
A herança escravocrata é uma ferida aberta num país em que brancos e negros cometem os mesmos crimes, mas só uns são maioria nas prisões, e outros, maioria nas universidades – o topo de uma estrutura cujo caminho pede, muito mais que esforço, igualdade de condições para se alcançar. Muitos ficaram pelo caminho, e não foi por falta de esforço nem talento.
Foto: Agência Brasil
Só não vê quem não quer. Ou quem se esforça negando o racismo citando a profusão de mestiços num país onde todos se relacionam com todos – o que catalisou nossa identidade, diria Gilberto Freyre. Certo? Pois a Casa Grande segue inacessível. E, para reconhecer a Casa Grande, basta um passeio pelos lugares frequentados apenas por uma elite histórica – aconselho, inclusive, um passeio por redações de jornais e revistas.
No País da miscigenação, é parte da paisagem ver herdeiros da escravidão servindo ou pedindo para engraxar os sapatos. Quando acontece o contrário, são logo considerados “suspeitos”.
A capacidade de se indignar com um país de lugares cativos é um alento insuficiente para que as coisas mudem. Com as cotas, as coisas começam a mudar. Talvez não na estrutura, já que o preconceito é um dom inacabável.
Nos próximos anos, o sistema de cotas pode se mostrar insuficiente. Mas hoje é uma solução viável num contexto complexo, injusto, cheio de nuances e sofismas para justificar o injustificável.
É papel do Estado arbitrar sobre as injustiças nos espaços onde consegue alcançar – e o Supremo se mostrou sensível a esta constatação. Não é uma solução definitiva, mas um aceno para o futuro: como resumiu a ministra Rosa Weber, ao declarar seu voto, quando o negro se tornar visível na sociedade “política compensatória alguma será necessária”.
Ao decidir pela legalidade da cota hoje e agora, ela e os demais ministros do Supremo fizeram algo mais do que alimentar polêmicas restritas à dualidade “a favor” ou “contra”. Eles pavimentaram uma ponte em direção a uma realidade possível.