quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Cristóvam, um traidor do último Círculo

Dizem que ele tirou "golpe" da primeira versão da Carta da Dilma...
publicado 31/08/2016
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Dante e Virgílio contemplam a execução do traidor
O traidor da Pátria ou de um partido político foi condenado ao mais cruel Círculo do Inferno, de Dante, na Divina Comédia.
O Nono Circulo, o mais fundo, mais trevoso e o mais frio.
Lá, há uma sub-divisão.
O pior dos círculos dentro do Nono Circulo é para onde vão os cristóvãos:
Esfera da Antenora: Aqui são punidos os traidores de sua pátria ou partido político. As almas ficam submersas no nível do pescoço, com apenas suas cabeças fora do gelo. O nome foi tirado de Antenor, o príncipe troiano que traiu o seu país ao manter uma correspondência secreta com os gregos.

Brito, os corvos e os gambás

Filhos da p... como o Lacerda
publicado 31/08/2016
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Conversa Afiada reproduz artigo de Fernando Brito, no Tijolaço:
O corvo e os gambás
Não costumo falar grosseiramente de pessoas, inclusive de adversários políticos.
Não sei se por herança de meu avô, com quem não se sentava à mesa de camisa aberta ou se falava palavrões, em sua casa no Iapi de Realengo.
Mas recordo-me de um dia, em que ele me levava a passear – meus pais já moravam no Méier – e por um acaso havia um pequeno comício de inauguração da “Radial Oeste”, avenida que continuaríamos a chamar de Rua Hermengarda.
E no palco, falava Carlos Lacerda, governador da Guanabara, anos antes algoz de Getúlio Vargas.
Pela primeira vez vi os olhos de meu avô vidrarem-se e as palavras saíram entre dentes: Corvo filho da puta!
Hoje senti algo semelhante. Não por todos os que foram dar seu tiro na cambaleante democracia brasileira. 40 anos de política já não fazem novidade para mim os tipos assim.
Mas por dois homens que apoiei ou defendi em alguma época na vida: Cristovam Buarque e Telmário Mota.
O odor que se desprende de suas atitudes é nauseante.
E eles próprios encarregaram-se de mostrar, com seus votos, o quanto são falsos, sorrateiros, oportunistas.
E covardes, ao ponto de nem sequer assumirem os negócios e arranjos que justificaram sua sabujice.
Ao votarem contra a aplicação da pela de afastamento da função pública de Dilma Rousseff fizeram aflorar sua própria podridão.
Se Dilma não merece ser punida – como é razoável que fosse – com a pena a quem atenta contra a Constituição, como é que pode ser afastada do cargo que ocupa pela vontade do eleitor e que só naquele caso, legalmente, poderia perder?
Não tiveram “pena” da Presidenta, tiveram um gesto de suposta piedade por si mesmos.
O remorso põe a perder o traidor, o assassino, que acha que flores ao enterro podem mitigar sua perfídia e faze-los parecer doloridos ante o cadáver.
Veio à memória a sinceridade daquele “Corvo filho da puta” que ouvi aos seis, sete anos de idade.
Embora reconheça que amos não são corvos.
São e serão, para todo sempre, gambás.
Figuras nauseantes aonde quer que suas miseráveis existência os levem, seja aos confortos da Unesco, seja aos cargos de Roraima.

O PMDB que o Traíra odeia

Eles mantiveram os direitos da Dilma
publicado 31/08/2016
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Numa catastrófica reunião com os supostos ministros, o Traíra desfilou ódio contra os senadores do PMDB que ressuscitaram a Dilma.
Esses peemedebistas se acanalharam no Golpe.
Mas, com medo da Dilma e do eleitorado feminino, deixaram ela colocar a faca nos dentes:
Edison Lobão - PMDB - MA
Eduardo Braga - PMDB - AM
Hélio José - PMDB - DF
Jader Barbalho - PMDB - PA
João Alberto Souza - PMDB - MA
Kátia Abreu - PMDB - TO
Raimundo Lira - PMDB - PB
Renan Calheiros - PMDB - AL
Rose de Freitas - PMDB - ES

VITÓRIA DA CANALHA

CONSUMADO A VITÓRIA DA CANALHA DO REI, CERTO VOCÊS VENCERAM: AGRIPINO,GARIBALDI,RENAN,AECIO, ALOISIO,SERRA,,ANA AMÉLIA,ROMÁRIO,CRISTOVAM, ALOISIO NUNES,GERESSATI,ALVARO DIAS, CORRUPTOS DE ALTA ESTIGMA, ESTAMOS MERGULHADOS NO DOMINIO DE UMA LAMA ENROLADA DE POLITICOS CORRUPTOS, QUE AMORDAÇAM OS SONHOS DOS/AS BRASILEIROS/AS.

Racismo

"Vai trepar muito no quartinho": Paes e a desumanização da mulher negra

O Brasil é o país da cordialidade violenta, onde homens brancos se sentem autorizados a aviltar uma mulher negra e dizer que foi só uma brincadeira
por Djamila Ribeiro — publicado 29/08/2016 15h53
Ricardo Cassiano/ Prefeitura
Eduardo Paes
A atitude de Paes não é algo isolado, é tão somente o modo pelo qual essa sociedade vem historicamente tratando as vidas negras: com desprezo e desumanidade.
Na última sexta feira 26, circulou pela internet um vídeo com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB-RJ), fazendo uma entrega de imóveis. Sem data e local não identificados, Paes faz piadas de cunho sexual, ofendendo uma mulher negra visivelmente incomodada com a situação. Ao ser chamada para receber as chaves do imóvel, o prefeito carioca e a mulher entram na casa.
Ao chegarem no quarto, Paes diz: “Vai trepar muito aqui nesse quartinho”. Não satisfeito, pergunta se a moça é casada e emenda: “Vai trazer muito namorado pra cá. Rita faz muito sexo aqui”. Como se a humilhação não fosse suficiente, Paes, do lado de fora, grita para os vizinhos da moça que acompanhavam a entrega. “Ela disse que vai fazer muito canguru perneta aqui. Tá liberado, hein. A senha primeiro”. Visivelmente envergonhada, a moça se afasta e diz que vai trancar a porta de casa.
Esse comportamento de Paes diz muito sobre o discurso autorizado e como o político se sente confortável em reduzir um ser humano ao seu corpo. Mulheres negras são sexualizadas e tratadas como objetos sexuais numasociedade racista e machista como a brasileira. Desde o período colonial, as mulheres negras eram estupradas e violentadas sistematicamente deflagrando uma relação direta entre colonização e cultura do estupro.
Mulher negra não é humana, é a "quente", a "lasciva", "a que só serve pra sexo e não se apresenta à família”. O grupo de mulheres que mais são estupradas no Brasil porque essas construções sobre seus corpos servem para justificar a violência que sofrem. "Qual o problema em passar a mão? Elas gostam".
Qual o problema em humilhá-la dizendo "Vai trepar muito aqui nesse quartinho " e gritar para o público "ela disse que vai fazer muito canguru perneta", quando a mulher se tranca com aquele olhar de só quem passa por isso sabe?
Eduardo Paes racismo.png

'Ela disse que vai fazer muito canguru perneta aqui', diz Eduardo Paes, no vídeo, para as pessoas que estão na rua (Reprodução)
O Brasil é o país da cordialidade violenta, onde homens brancos se sentem autorizados a aviltar uma mulher negra e depois dizer que foi só uma brincadeira. Ou se esconder na pecha de “carioca é desbocado”. O País, último do mundo a abolir a escravidão, mas que se a população negra denuncia o racismo é chamada de violenta. É necessário definir violência aqui. O país onde todos adoram samba e carnaval, mas onde se mata mais negros no mundo.Que se louva a miscigenação, mas não se fala que ela surgiu como fruto de estupros. O brasileiro não é cordial. O brasileiro é racista.
A atitude de Paes não é algo isolado, é tão somente o modo pelo qual essa sociedade vem historicamente tratando as vidas negras: com desprezo e desumanidade. Mulheres negras são pessoas, sujeitos, e reduzir um ser humano a um objeto é retirar sua humanidade. Uma mulher branca de classe média seria tratada da mesma forma? Fora que o fato do prefeito se referir ao quarto da moça como “quartinho” também mostra o racismo institucionalizado.
Imóveis para pessoas de baixa renda comumente são bem pequenos. É como se dissessem “pra quem não tinha nada está bom”, sem mencionar que essas pessoas não têm nada justamente porque o Estado é omisso em relação a elas. Só deixam explícito que a população pobre merece migalhas e não dignidade.
Inadmissível o modo pelo qual essa mulher foi tratada. Um jornal de grande circulação definiu a atitude de Paes como “gafe”. Gafe seria se ele tivesse quebrado um vaso ou tropeçado no seu assessor depois de errar o nome de alguém. O que o prefeito fez tem nome: racismo. Paes cumpre à risca seu papel ridículo e violento de herdeiro da Casa Grande.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Análise

Gilmar Mendes recria a velha máxima: Aos amigos, a lei

A repentina indignação do ministro do STF com vazamentos da Lava Jato leva à suspensão da delação de Léo Pinheiro, para o júbilo dos tucanos
por Rodrigo Martins — publicado 25/08/2016 13h29
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Gilmar Mendes
Ao ver o colega de toga citado na delação de Léo Pinheiro, Mendes partiu para o ataque
Na corroída tubulação da Lava Jato, os vazamentos de informações classificadas pela Justiça como sigilosas são tão frequentes e volumosos que é preciso certa licença poética no emprego do termo. A torneira está aberta há mais de dois anos, mas só agora começou a incomodar próceres do Judiciário. Ao que parece, a água suja bateu em pés santificados.

“É preciso colocar freios”, pontificou o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, ao externar a sua repentina aversão à prática. A indignação é tão forte, tão arrebatadora, que contagiou o procurador geral da República, Rodrigo Janot. Pela primeira vez na história da operação, ele decidiu romper a negociação de uma colaboração premiada.

A suspensão não atinge uma delação qualquer. Janot abre mão das revelações feitas por Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, o mesmo empreiteiro que, segundo relatos vazados à mídia, estaria disposto a incriminar dois caciques do PSDB: o chanceler do governo provisório, José Serra, e o senador mineiro Aécio Neves, presidente nacional da legenda.

A decisão foi anunciada pela PGR após o constrangimento causado a um integrante do STF por mais um vazamento da delação. O nome de José Antônio Dias Toffoli teria sido mencionado nas conversas entre Pinheiro e procuradores da Lava Jato, e logo foi parar na capa da revista Veja do último fim de semana. Uma história prosaica, desprovida de qualquer indício robusto de crime que possa ser atribuído ao magistrado.

Segundo a publicação da Editora Abril, Pinheiro relatou aos investigadores que engenheiros da OAS fizeram uma vistoria na casa de Toffoli, após ele se queixar de problemas de infiltração. O ministro do STF teria contratado uma empresa indicada pelo empreiteiro para fazer a reforma. Toffoli garante ter pago a obra do seu próprio bolso. Eis o resumo.

Ao ver o colega de toga citado, Mendes partiu para o ataque. “É preciso colocar freios nisso, nesse tipo de conduta. No caso específico do ministro Toffoli, provavelmente entrou na mira dos investigadores por uma ou outra decisão que os desagradou”, afirmou, na terça-feira 23. “Isso já ocorreu antes no Brasil. O cemitério está cheio desses heróis”.
Toffoli
O nome de Toffoli teria sido mencionado nas conversas entre Pinheiro e procuradores da Lava Jato (Foto: Lula Marques/Agência PT)
A linguagem ameaçadora não chega a surpreender. Em 2009, durante uma discussão no plenário da Corte, o ex-ministro Joaquim Barbosa chegou a reagir ao estilo agressivo de Mendes: “Vossa excelência não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar”. O que causa assombro é a tardia – e conveniente – indignação com os vazamentos da Lava Jato, que vertemimpunemente desde 2014.

Às vésperas do segundo turno das eleições daquele ano, a mesma revista Veja estampou em sua capa as fotos de Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, com a chamada “Eles sabiam de tudo”, amparadas em trechos da delação do doleiro Alberto Youssef, pinçados para a finalidade pretendida. O hoje indignado ministro do STF silenciou.

Mendes também não viu problemas na divulgação das conversas entre Lula e Dilma, interceptadas fora do período autorizado pela Justiça. Ao contrário, considerou a revelação do grampo ilegal como “correta”. Mais do que isso: declarou que o importante era o conteúdo, e não hesitou em usá-lo como argumento para suspender a posse de Lula como ministro.

“Aos amigos tudo, aos inimigos a lei”, diz a velha máxima. Magistrado de indisfarçáveis suas predileções tucanas, Mendes decidiu recriar o adágio, bem ao seu peculiar estilo: “Aos amigos, e somente a eles, a lei”.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Opinião

Tempos de agosto: suicídio, legalidade e impeachment

A ofensiva contra Dilma, como as que vitimaram Getúlio e Jango, também é um golpe de classe
por Lindbergh Farias — publicado 23/08/2016 15h11
André Tambucci / Fotos Públicas
Protesto
Ato contra Dilma: o movimento atual é a reedição de algo que o Brasil já viu

Quis o destino que, por uma destas inexplicáveis artimanhas do tempo histórico, esta semana de agosto, de possível consumação do impeachment golpista da presidenta Dilma no Senado, coincidisse com duas outras datas históricas fundamentais. Agosto no Brasil costuma ser um mês quente.
Nesta semana, no dia 24, rememoramos o trágico suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas – o principal estadista construtor da contraditória obra de formação do Brasil moderno. 
Já no dia 25 de agosto de 1961, sete anos depois da morte de Vargas, Jânio Quadros renunciou, para surpresa geral de muitos (na verdade, ele tramava uma espécie de golpe bonapartista), após uma solenidade alusiva ao “Dia do Soldado”. Abriu-se uma crise; os ministros militares não aceitavam a posse do vice-presidente constitucional, João Goulart
Havia contra Goulart um veto das forças do capital, que expressava uma posição de classe. O capital não perdoou o que o Jango ministro defendera: um aumento real que dobrou o valor do salário mínimo quando ministro do Trabalho de Vargas. Teve de pedir demissão em fevereiro de 1954.
Numa daquelas manobras de seu jeito matreiro de fazer política, Vargas aceitou a demissão de Goulart; por outro lado, bancou o aumento real do salário mínimo nas comemorações do primeiro de maio de 1954. Em agosto, o presidente morreu.
Ato contínuo à insubordinação militar, Brizola chamou de Porto Alegre a “Cadeia da Legalidade”. À diferença do terrível desfecho da crise de 1954, na de 61, resultado da massiva mobilização popular, Jango tomou posse – conquanto a solução de conciliação do parlamentarismo, proposta por Tancredo, enfraquecesse o presidente. A avaliação do movimento da legalidade encerra uma lição: nas crises políticas, quando as forças populares estão unidas e defendendo firmes a democracia, as condições de vitória se elevam. 
São por demais conhecidas as circunstâncias trágicas do suicídio de Vargas, recentemente narrada, por exemplo, na excepcional e definitiva biografia de Lira Neto. O presidente recolheu-se aos aposentos no Palácio do Catete, já alta madrugada, após dirigir uma tensa reunião de ministros na qual se discutia as propostas de o presidente se licenciar ou renunciar ao mandato. Na prática, a sentença já estava dada: emparedado pelas forças conservadoras, Vargas não retornaria mais ao Catete. 
Havia em Vargas, naquele momento-limite, uma mistura do sentido de honra pessoal e compromisso político e a convicção de que jamais aceitaria viver o resto dos anos sob o estigma da indignidade. Optou por uma virada trágica. No começo da manhã, uma servidora do Palácio encontra o presidente deitado na cama, com manchas vermelhas no peito e um revólver abandonado no criado mudo. Morreu Vargas e com o gesto de radicalidade máxima de pôr fim à própria vida adiou por 10 anos – até 1964 –, apesar das renitentes tentativas, o êxito da trama do golpe de Estado das "forças reacionárias”, como se dizia à época.
O suicídio fora um ato político planejado. Tanto que o ex-presidente deixou uma Carta Testamento, escrita dias antes a quatro mãos com o jornalista José Soares Maciel Filho, assessor do ex-presidente. A carta trata-se de um manifesto-programa dirigido diretamente ao povo brasileiro e às forças progressistas. Vargas encerra a carta mandando um recado de redenção aos algozes:
"E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.”
É de se perguntar pela atualidade da Carta Testamento. Total, apesar das particularidades de contexto histórico, caso pensarmos na crise política que se instalou no país desde quando a oposição do PSDB e aliados não aceitaram o resultado das eleições presidenciais de 2014, cuja vitória foi da presidenta Dilma Rousseff.
Lá, como aqui, a crise foi conspirada entre quatro paredes. Já na campanha presidencial de 1950, escrevia Carlos Lacerda, em sua coluna no jornal Tribuna da Imprensa: "O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.”
Igualmente o PSDB, tão logo a presidenta Dilma foi proclamada eleita, entrou com um pedido de auditoria das urnas eletrônicas, alegando fraude. Malograda a tentativa, partiu para fazer uma oposição sem trégua e desleal, que se consumou pela adesão a este desmoralizado impeachment de Dilma, um impeachment sem crime de responsabilidade – decretos e “pedaladas” são meros pretextos desmoralizados pela nossa defesa e os melhores especialistas – tramado por Eduardo Cunha
Dilma e Cunha
Dilma e Cunha em fevereiro: ele deu andamento a um projeto iniciado em 2014, quando o PSDB não aceitou o resultado das eleições (Foto: Wilson Dias / Agência Brasil)
A oposição sem trégua nem regras democráticas que se fez a Vargas em 1954 e a tentativa inconstitucional de impedir a posse de Jango em 1961 não aconteceram contra os eventuais defeitos de ambos – não se deve esquecer que Vargas foi ditador (defeito máximo) entre 1937 e 1945 –, mas pelas qualidades dos dois personagens. Do mesmo modo, busca-se hoje afastar Dilma pelas qualidades, não pelos defeitos.  
Vargas adiou o golpe com o suicídio porque teve a virtude de se constituir no principal demiurgo prático do Brasil industrializado e moderno. Ou seja, apesar de também ser um homem das classes dominantes (ele costumava dizer que “eu estou tentando salvar esses burgueses burros e ele não entendem”), o ex-presidente, na tentativa de execução do projeto nacional-desenvolvimentista, teve que se voltar contra o atraso das elites brasileiras, especialmente setores da oligarquia política – representados, no plano dos partidos, principalmente pela UDN
Tais setores não aceitavam a extensão dos diretos de cidadania aos trabalhadores através da Consolidação das Leis do Trabalho (a CLT, de 1943). Muito atrasados, eram contrários à indução estatal no processo de industrialização – a exemplo do economista Eugênio Gudin, defendiam a ideia esotérica de que a “vocação econômica” do Brasil era agrário-exportadora, uma herança da colônia e do escravismo.
Tudo que cheirasse a autonomia do Brasil, a exemplo da criação da Petrobras e de empresas estatais, era veementemente repudiado em campanha sem trégua. A visão de mundo ideológica desses que se consideram "donos do Brasil” por herança patrimonial se completava, à época, com a defesa de uma política de alinhamento servil aos interesses norte-americanos nas relações internacionais. Qualquer semelhança com o governo interino de Michel Temer não é mera coincidência. 
Vargas estava na contramão do projeto do Brasil atrasado e pagou muito caro por isso.
Diferente da história de outros países, como França, Estados Unidos, Alemanha e Japão, a burguesia brasileira – salvo honrosas exceções – jamais teve um projeto nacional de nação. Esta questão, vinda diretamente do debate político dos anos 50 e 60, reaparece hoje com força.
A construção interrompida de Vargas e de tantos outros mártires recomeçou a despontar como projeto político de Estado nos governos Lula e Dilma. Nossas classes dominantes sempre foram avessas, no essencial, em promover ou aceitar reformas no sistema de privilégios. Em consequência, nunca tiveram, antes e hoje, compromisso com as regras da democracia. 
Os anos recentes foram tempos de formidável afluência social. É verdade, no âmbito das classes sociais, os vários segmentos da burguesia brasileira — principalmente a financeira, industrial e agrária — beneficiaram-se por um tempo da explosão de consumo das classes populares, do boom internacional das commodities e da manutenção da economia política dos juros altos.
Aconteceu por um curto tempo uma espécie de “ganha-ganha”, pela qual a burguesia ganhou e os trabalhares e os pobres ganharam. Mas, quando sobreveio a crise do ciclo das commodities e as taxas de lucro se tornaram rarefeitas, a burguesia novamente mostrou as garras. O trunfo é paus – os trabalhadores que paguem pela crise. 
No Brasil, fantasmas do passado, que pareciam mortos, reapareceram. Passou a pesar contra os governos de Lula e Dilma um veto semelhante – embora o Brasil e o mundo sejam outros – aos de Vargas e Jango. Não suportam os direitos do trabalho, a economia nacional independente e a política externa soberana
Vargas criou a Petrobras após uma grande campanha cívica, contrariando a combinação nefasta dos interesses geopolíticos dos Estados Unidos e das multinacionais do petróleo. Novamente, como demonstram fartamente os comunicados vazados pelo WikiLeaks de espionagem na Petrobras e até nos celulares da Presidência da República, interesses geopolíticos inconfessáveis se acostam nas determinações do processo de impeachment. Tem sido pouco comentado, mas um dos comunicados vazados pelo WikiLeaks flagra o presidente interino Temer na vergonhosa condição de “informante” dos Estados Unidos
Pretendem acabar com os legados da era Vargas (CLT), da "Constituição Cidadã” de Ulysses Guimarães e as políticas sociais de Lula e Dilma. Para efetuar este programa do grande capital, Dilma é um obstáculo; teria, portanto, de ser afastada do Planalto para assumir o poder um governo golpista não eleito.
Para resumir, num único exemplo, a ofensiva burguesa contra os direitos trabalhistas. Ela foi expressa, sem constrangimento, na declaração de Benjamin Steinbruch, dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e vice-presidente da Fiesp: para ele, o trabalhador brasileiro possui o “privilégio” de “ter uma hora de almoço”.
Este é o cenário e o enredo da crise permanente em que se transformou o segundo mandato da presidenta Dilma, até chegar à votação do impeachment no Senado.
Em pleno Brasil do século XXI, às vezes meio às cegas, e mais por empirismo que por construção teórica, nossos governos do PT, Lula e Dilma, promoveram a ascensão social de dezenas de milhões de pobres e fomentaram o desenvolvimento nacional. No plano das relações internacionais, em seguida aos anos de subserviência dos tucanos aos interesses dos Estados Unidos, praticaram uma política externa independente. Por isso querem que Dilma pague muito caro.
De fato, se fala muito em Temer, Cunha e outros protagonistas políticos do golpe. Mas existe também um sujeito de oculto deste movimento: trata-se de nossas elites dominantes, principalmente a burguesia brasileira, coadjuvado por extratos de nossa classe média alta. Neste aspecto, o presente golpe, como foram os golpes do passado, também constitui em golpes de classe
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