quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

FORMAÇÃO POLITICA

 Por: Lenilson

O que falta de uma boa formação politica, por meio dos princípios não faz......

você meu bom leitor, há de constatar comigo, de onde saíram essas nossas vossas figuras da política atual em nosso município de São Tomé/RN? Francisco Estrela chegou com pouca experiência e poucas condições financeiras, a atuando como médico, conquistou a confiança da população e , depois enveredou-se na política de São Tomé. logo cresceu seu patrimônio; Babá, cria e testa de ferro de Estrela, é o exemplo do aluno que superou o mestre.  veio de da comunidade rural da Barra em São Tomé e em meio à gente simples, entrou para a política e se fez dela, e por não ter tido uma boa formação em princípios, prendeu-se a apoiar justamente os que criam mais dificuldades para os mais pobres;  Naro é um caso a parte, gente da gente, de família humilde e trabalhadora. por não ter um ideal na sua formação e , sim, apenas um projeto pessoal , não suportou o papel de fazer oposição e sucumbiu diante das vantagens que o lado da situação oferece-lhe.

É isso que penso e é isto que tento passar aos que, assim como eu, tem um ideal.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

 

Carnaval é coisa séria

Eram 23h da terça-feira de carnaval e um termômetro de rua na Avenida Chile, centro do Rio de Janeiro, marcava 30°C enquanto o tradicional bloco Cacique de Ramos encerrava seu desfile. Mais cedo, a cantora Ludmilla encerrou seu bloco, também no Rio, antes do previsto, por conta do calor. Outros blocos menores anunciaram que sairiam mais tarde, também por conta da temperatura. Na Sapucaí, foram realizados mais de mil atendimentos médicos nos dois dias de desfile do Grupo Especial, segundo informações da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro. O calor foi apontado como um dos principais motivos dos atendimentos.

Nossa chefe da cobertura socioambiental, Giovana Girardi, já falou em sua coluna desta semana sobre os efeitos do calor extremo no carnaval deste ano e como os responsáveis pelo planejamento urbano das cidades precisam se preparar para os extremos climáticos. Alguns desses responsáveis estavam, inclusive, curtindo o carnaval e sabem que logo ali tem eleição.

Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, foi recebido com vaias no sambódromo do Anhembi; o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), foi presença constante nos desfiles da Sapucaí, com direito a cumprimentar o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Imperatriz Leopoldinense em plena avenida. O prefeito do Recife, João Campos (PSB), que tem se tornado um fenômeno no TikTok, publicou diversos vídeos mostrando as atrações carnavalescas da cidade e curtindo os shows. O pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), também participou de blocos de rua no centro da cidade, onde no pré-carnaval não era difícil ver pessoas com adesivos e tatuagens temporárias com desenhos de bolo, em alusão à sua candidatura. 

Se por um lado o carnaval foi uma espécie de termômetro para as eleições municipais de outubro, com prefeitos e pré-candidatos testando sua popularidade no meio da multidão, por outro – como sempre – os foliões, com criatividade e bom humor característicos dessa época do ano, também deram seu recado. Pelos blocos do Rio, vi diversas placas improvisadas sobre uma possível prisão de Jair Bolsonaro durante o carnaval e um grupo que, após a operação Tempus Veritatis ser deflagrada na última quinta-feira, correu para fazer fantasias de passaporte apreendido do ex-presidente para usar no sábado.

Eu acho incrível como fantasias podem ser só fantasias, mas também podem ser comentários críticos, irônicos, gritos de resistência. Me emocionei com uma moça fantasiada de palhaça que homenageava Julieta Hernandez, a palhaça Jujuba, vítima de feminicídio nos primeiros dias de janeiro. Assim como me emocionei ao ver o Salgueiro celebrar o povo e a cultura Yanomami, a Portela apresentando o livro “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves e a Vai Vai celebrando o hip hop. Esta última, incomodou policiais e políticos de direita ao retratar a tropa de choque da Polícia Militar com chifres, representando a repressão policial. 

Como disse o professor Luiz Antônio Simas, o carnaval afronta a decadência da vida em grupo e fortalece pertencimentos. Que a gente leve isso para o restante do ano. 



Marina Dias
Diretora de Comunicação da Agência Pública

marinadias@apublica.org

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

 

O caminho que leva Bolsonaro à prisão

Mauro Cid, o assessor mais íntimo do ex-presidente, coordenou a preparação do golpe. Como sua prisão abriu caminho para desvendar a trama. As provas já reunidas e o que pode surgir. Os generais enredados. O que vem agora

Foto: Adriano Machado/Reuters
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Em 3 de maio de 2023 o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, foi preso preventivamente e conduzido para prestar depoimento à Polícia Federal. A decisão que autorizou a prisão foi assinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, por se tratar de um fato relacionado ao inquérito das milícias digitais, sob relatoria do magistrado.

A acusação contra Cid dizia respeito à inclusão de dados falsos sobre vacinação contra a covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde. O objetivo era fraudar cartões de vacina dele, de sua esposa, das três filhas do casal e de Bolsonaro e sua filha. Na mesma operação, o ex-presidente e a ex-primeira-dama, Michelle, também foram alvos de buscas e apreensões, com os agentes levando o celular de Bolsonaro.

À época, Mauro Cid deixou em alerta o entorno bolsonarista, inclusive do próprio ex-chefe. Não à toa. Tratava-se de uma pessoa muito próxima a Bolsonaro, cujas tarefas iam muito além daquelas reservadas a um ajudante de ordens. Em março de 2021, reportagem de O Globo o chamava de “conselheiro-geral” do ex-presidente, apontando que a proximidade entre ambos despertava ciúmes de outros colaboradores.

Outra matéria, do Estadão, de setembro de 2020, pontuava que Cid “sempre teve livre acesso ao gabinete presidencial, ao Palácio da Alvorada e até mesmo ao quarto ocupado pelo chefe do Executivo nos hospitais, após cirurgias às quais ele se submeteu no ano passado”.

Filho do general Lorena Cid, que estudou com Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras, ele também gozava de prestígio dentro do Exército. Tanto que foi o pivô da saída do comandante da força, Júlio César Arruda, no início do governo Lula. O general, que havia sido promovido ao cargo pelo critério de antiguidade, insistiu em manter a efetivação de Cid como chefe do 1º Batalhão de Ações e Comandos, o que gerou sua demissão do cargo.

Outra prova do prestígio de Mauro Cid na caserna se deu em suas idas à CPI na Câmara Legislativa do Distrito Federal e na CPMI que investigou os atos golpistas do 8 de janeiro. Em ambas as ocasiões ele apareceu fardado, relembrando sua ligação com o Exército, obviamente, com a autorização da instituição.

A mesma sorte não teve o coronel do Exército Jean Lawand Junior, que teve que ir à CPMI justamente por mensagens trocadas com Cid.. Mesmo sendo militar da ativa, foi de terno ao depoimento, orientado pelo próprio Exército, para não relacionar as mensagens golpistas captadas no celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro aos quartéis.

Homem-bomba

Bem relacionado, Mauro Cid recebeu a atenção de seus pares. Logo na primeira semana após ter sido preso, trocou de advogado, substituindo Rodrigo Roca por Bernardo Fenelon, tido como especialista em crimes do colarinho branco e colaboração premiada. Mas, em agosto do mesmo ano, Fenelon deixou a defesa apos documentos levantados pela CPMI terem mostrado que o ex-ajudante de ordens participou da negociação de um Rolex presenteado ao governo brasileiro pela Arábia Saudita, trazendo nova complicação jurídica que também atingiu Bolsonaro. O advogado Cezar Bittencourt assumiu o caso, dizendo-se contra delações premiadas, mas mandando recados pela imprensa de que o ex-presidente poderia ser implicado em depoimentos de seu ex-assessor.

Àquela altura, em junho de 2023 a PF já havia encontrado no celular de Mauro Cid mensagens e documentos relativos ao planejamento de um golpe de Estado. Mas ainda faltava um conjunto de provas mais robusto para atestar não só a intenção de promover uma ruptura institucional, já que os dados e as relações do ex-ajudante de ordens evidenciavam isso, mas sim que o plano já estava em execução.

Acuado com diversas acusações e indícios de mais de um crime contra si, em setembro do ano passado Mauro Cid teve homologado o seu acordo de colaboração pelo Supremo. Como mostra um texto anterior sobre o tema, a Polícia Federal não seguiu os ditames consagrados pela Lava Jato e não se contentou com aquilo que dizia o colaborador de Bolsonaro. Precisou cruzar informações, a partir de seu depoimento mas também de todos os dados apreendidos em celulares e computadores dele e de outros investigados para aprofundar linhas de apuração. Assim, a PF chegou a seis núcleos operacionais de preparação do golpe, descritos na decisão de Alexandre de Moraes que autorizou os mandados da Operação Tempus Veritatis.

O andamento do golpe

Dos seis núcleos relatados pela Polícia Federal, Mauro Cid fazia parte de quatro, segundo as investigações. E não era mero participante: atuava como coordenador e dava ordens em diversas ocasiões.

A prisão do major Rafael Martins de Oliveira, por exemplo, integrante de um dos seis núcleos – o de “Apoio às Ações Golpistas”, conforme denominação do relatório – é fundamentada nos atos que ele promove por meio da interlocução com o então ajudante de ordens de Bolsonaro “na coordenação de diversas estratégias adotadas pelos investigados para execução do Golpe de Estado”.

Em mensagens registradas no celular de Cid em 11 de novembro, quando os acampamentos começavam a se intensificar, Oliveira, conhecido como “Joe”, solicita “orientações” ao auxiliar do presidente quanto aos locais para realização das manifestações, questionando se as Forças Armadas garantiriam a permanência das pessoas no local. Ele recebe resposta positiva e, no dia 12, o ajudante de ordens de Bolsonaro pede a ele uma estimativa de custos com hospedagem, material e alimentação, calculados por Oliveira como aproximados R$ 100 mil.

O trecho é relevante não só para a responsabilização do major, como também por apontar o contato com possíveis financiadores, uma linha de apuração fundamental para saber quem tramou contra o arranjo democrático brasileiro.

Junto a outros elementos de informação, de acordo com a PF, a investigação atestou que Oliveira “atuou diretamente, direcionando os manifestantes para os alvos de interesse dos investigados, como STF e Congresso Nacional, além de realizar a coordenação financeira e operacional para dar suporte aos atos antidemocráticos”.

Outro militar que teve cumprido mandado de prisão nesta quinta-feira (8) também tem sua participação na organização do golpe apurada a partir de sua relação com Mauro Cid. Trata-se do coronel do Exército Marcelo Câmara, acusado de ser “responsável por um núcleo de inteligência não oficial do Presidente da República, atuando na coleta de informações sensíveis e estratégicas para a tomada de decisão de Jair Bolsonaro”, conforme o relatório,

Uma troca de mensagens entre os dois, também captada no aparelho móvel do ex-ajudante de ordens, aponta que Câmara estaria a par das movimentações e deslocamentos do ministro Alexandre de Moraes. Para a PF, a conversa “demonstra que o grupo criminoso tinha intenções reais de consumar a subversão do regime democrático, procedendo a eventual captura e detenção do Chefe do Poder Judiciário Eleitoral”.

Também o coronel do Exército Bernardo Romão Correa, apontado como integrante do que é descrito como Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas, é investigado a partir de diálogos travados com o ex-auxiliar de Bolsonaro. Ele teria tido participação ativa em um encontro “com a presença dos oficiais, com formação em forças especiais, assistentes dos Generais supostamente aliados na execução do golpe”. As conversas encontradas no celular de Cid mostram que o coronel “intermediou o convite para reunião e selecionou apenas os militares formados no curso de Forças Especiais (os chamados “Kids Pretos”), o que demonstra planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as técnicas militares para consumação do Golpe de Estado”, segundo a PF.

Se a prisão dos outros três tem como base material apreendido com Mauro Cid, a do quarto, o ex-assessor especial para Assuntos Internacionais Filipe Martins, é a única em que fica explícita, segundo a Polícia Federal, a relação direta com a delação premiada do ex-ajudante de ordens, como descreve o relatório: “Os elementos fornecidos pelo acordo de colaboração demonstram que FILIPE MARTINS levou ao então Presidente JAIR BOLSONARO, no mês de novembro de 2022, um documento que detalhava diversos ‘considerandos’ (fundamentos dos atos a serem implementados) quanto a supostas interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo e ao final decretava a prisão de diversas autoridades’. Trata-se da minuta do golpe, apresentada por Martins junto com o advogado Amauri Fers Saad e que depois teria sido ajustada por Bolsonaro.

O vídeo da reunião ministerial de 5 de julho de 2022 que, como ressalta o relatório, “revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo”, também foi encontrado em um computador de Mauro Cid.

É provável que, a partir dos resultados da coleta de dados derivados dos mandados de busca e apreensão executados na quinta-feira, a Polícia Federal descubra novos envolvidos ou mais elementos probatórios que deem mais robustez ao que já se revela como um golpe em andamento. Mas Mauro Cid deve prestar um novo depoimento às autoridades policiais em virtude dos novos dados. Caso minta ou omita fatos, pode até mesmo perder o benefício de sua colaboração.

O ex-auxiliar segue como um homem-chave para desbaratar uma organização criminosa que buscou atentar contra as instituições e o Estado Democrático de Direito. Pelo nível de relações que mantinha, pode citar nomes não só do entorno político e militar do ex-presidente, mas também apontar quem seriam os grandes financiadores, por exemplo, dos acampamentos golpistas. Mas, à medida que as apurações avançam, aquilo que sabe pode perder valor de face.

PS: o vídeo da reunião de Bolsonaro com seus ministros tem falas abertamente golpistas e autodenúncias de ilegalidades pretendidas ou cometidas. Os outros integrantes daquele encontro, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, serão questionados pela mídia comercial a respeito?

 

Operação Tempus Veritatis: Coronel investigado por que estava nos EUA volta para o Brasil e é preso

História por Gabriel de Sousa  • 3d


BRASÍLIA - A Polícia Federal (PF) prendeu na madrugada deste domingo, 11, o coronel do Exército Bernardo Romão Correa Neto. Ele era o único dos quatro alvos que tiveram a prisão preventiva decretada na Operação Tempus Veritatis que ainda não estava sob a custódia da Justiça brasileira. O coronel é acusado de integrar um grupo de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que incitavam militares a aderir a um golpe de Estado após as eleições de 2022.

Bernardo Romão Correa Neto é apontado como intermediador de reunião que planejou golpe militar após as eleições de 2022 Foto: @CPORPAExercito via Facebook© Fornecido por Estadão

Correa Neto estava nos Estados Unidos desde o fim do governo Bolsonaro, quando foi designado para uma missão do Exército no exterior com término em junho de 2025. A ida do coronel para o território americano antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi um dos motivos apontados para a sua prisão preventiva. O Estadão busca contato com a defesa do militar, que ainda não se manifestou.

Segundo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que autorizou a deflagração da operação da PF na quinta, a saída de Correa Neto do Brasil mostrou “fortes indícios de que o investigado agiu para se furtar ao alcance de investigações e consequentemente da aplicação da lei penal”.

Segundo a PF, Correa Neto chegou no Aeroporto Internacional de Brasília nesta madrugada, onde já havia uma equipe da Polícia Federal à sua espera. Depois dos procedimentos iniciais, o coronel foi entregue para a Polícia do Exército e teve três passaportes e seu celular apreendidos.

A operação já havia prendido Filipe Martins, ex-assessor especial de Jair Bolsonaro, e os militares Rafael Martins, tenente-coronel do Exército, e Marcelo Câmara, coronel da reserva e também ex-assessor do ex-presidente. Os três, assim como Correa Neto, eram alvos de mandados de prisão preventiva.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também foi detido na quinta-feira, quando buscas em sua casa mostraram posse de uma arma irregular. Ele foi solto na noite de sábado, 10. Segundo Moraes, “algumas circunstâncias específicas devem ser analisadas, uma vez que o investigado é idoso, tendo 74 (setenta e quatro) anos, e não teria cometido os crimes com violência ou grave ameaça”.

Coronel é apontado como intermediador entre militares que planejavam golpe

Segundo o relatório da PF, Correa Neto era um “homem de confiança” do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e estava envolvido no planejamento do golpe de Estado. Ele teria sido o intermediador de uma reunião entre militares que planejavam uma medida golpista em novembro de 2022, logo após a derrota do ex-presidente nas eleições.

“Os diálogos encontrados no celular de Mauro Cid demonstram que Correa Neto intermediou o convite para reunião e selecionou apenas os militares formados no curso de Forças Especiais (Kids Pretos), o que demonstra planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as técnicas militares para consumação do Golpe de Estado”, afirma a decisão de Alexandre de Moraes.

Segundo a investigação, o golpe planejado por Correa Neto e outros militares e aliados de Bolsonaro previa o impedimento da posse de Lula e a prisão de autoridades como o próprio Moraes, que chegou a ser monitorado por um dos núcleos da organização criminosa. O processo envolveria também o decreto de estado de sítio por Bolsonaro, o que abriria brechas para uma intervenção militar.


Para a PF, a prisão de Correa Neto se justifica pela posição do coronel como um intermediador entre militares golpistas, o que poderia ser prejudicial ao prosseguimento das investigações, com riscos de destruição de provas.

CAMPANHA DE BOLSONARO PAGOU PAI E AUTOR DE DOSSIÊ QUE TENTOU LIGAR STF AO PCC

 
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REPORTAGEM
Campanha de Bolsonaro pagou pai de autor de dossiê que tentou ligar STF ao PCC
Produtora de vídeo foi paga pela campanha de Bolsonaro; filho é investigado por associar Alexandre de Moraes ao PCC

9 de fevereiro de 2024
04:00
Por Amanda Audi, Alice Maciel
PODER
Bolsonaro desinformação Justiça política STF
A campanha de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição em 2022 contratou os serviços da produtora de vídeo do pai de um dos alvos da Operação da Polícia Federal “Vigilância Aproximada”, que investiga a suspeita de espionagem ilegal usando a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Segundo a PF, o advogado Ricardo Wright Minussi teria participado da elaboração de um documento apócrifo que associava ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo Alexandre de Moraes, e parlamentares, com a facção criminosa PCC. 

Apesar da Minussi Filmes estar registrada na Receita Federal no nome de Ricardo Minussi (pai de Ricardo Wright), o endereço que consta na nota fiscal emitida pela empresa à campanha do ex-presidente é o mesmo do escritório de advocacia do seu filho, investigado pela PF: a Wright Minussi Sociedade Individual de Advocacia, localizada em Brasília.

A reportagem esteve no endereço, mas informaram na portaria que a sala encontra-se vazia. Segundo o funcionário do Edifício Business Point, a Minussi Filmes mudou do local há pouco mais de um ano. Ele disse ainda não se recordar de ter funcionado o escritório de advocacia – apesar de ser o endereço oficial da empresa de Ricardo Wright.

POR QUE ISSO IMPORTA?
A reportagem revela que a produtora de vídeos Minussi Filmes, que prestou serviços para a campanha de Jair Bolsonaro, é comandada pelo pai de Ricardo Wright, apontado pela PF como responsável pelo documento que tentou associar ministros do STF ao PCC.
Segundo prestação de contas de Jair Bolsonaro à Justiça Eleitoral,a Minussi Filmes recebeu R$ 36,8 mil “para eventos de promoção da candidatura” no dia 27 de outubro de 2022, às vésperas do segundo turno das eleições, que ocorreu em 31 daquele mês.

Minussi Filmes, do pai Ricardo Minussi , está registrada no mesmo endereço do escritório de advocacia Wright Minussi, do filho Ricardo Wright, investigado pela PF na operação do uso ilegal da Abin
A nota diz que a produtora fez a transmissão de uma live do ex-presidente no Facebook e Instagram, fotos, um vídeo para as redes sociais e um vídeo institucional de até sete minutos. Naquela data, Bolsonaro fez uma live de 45 minutos em que atacou o Partido dos Trabalhadores (PT) e citou a suposta denúncia de que rádios do Norte e Nordeste deixaram de veicular propagandas dele.

Na época, o então ministro das Comunicações, Fábio Faria, e o ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação, Fábio Wajngarten, afirmavam que a campanha de Bolsonaro havia sido prejudicada porque inserções de rádio não teriam sido veiculadas conforme a lei. Uma apuração do Aos Fatos de 2022 mostrou que o relatório elaborado pela campanha de Bolsonaro e enviado ao Tribunal Superior Eleitoral a fim de provar uma suposta “fraude eleitoral” tinha mais de 9,7 mil inserções a mais do que as rádios citadas haviam veiculado.

Em suas redes sociais, a produtora informa que faz cobertura jornalística; conteúdo para parlamentares; documentários; fotografia; transmissões ao vivo; vídeo institucional; vídeo para web, tv e cinema; vídeo publicitário e imagens aéreas. “A Minussi está diariamente no Congresso Nacional produzindo conteúdo personalizado de atividades e projetos parlamentares”, destaca. 

Conforme levantamento feito pela Agência Pública no portal da Transparência do Senado, a Minussi Filmes recebeu o total de R$ 105 mil de cota parlamentar em serviços prestados para o senador bolsonarista Alan Rick (PL/AC), no período de 2020 a 2023. E não foi só o patriarca da família que recebeu recursos oriundos da verba do gabinete do político acreano.

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A ex-companheira de Ricardo Minussi , Lia Noleto Rachid, foi contratada em 2023 como chefe de gabinete de Alan Rick; e seu filho, Ricardo Wright, está lotado desde 2023 como assistente parlamentar também no gabinete de Alan Rick. Além disso, há registros no portal da transparência da Câmara e do Senado que ao menos desde 2018 os dois prestam serviços de consultoria para o parlamentar como “pessoa jurídica”, e que são pagos pelo Legislativo. O casal se separou em meados do ano passado.

O advogado Ricardo Wright foi apontado pela Polícia Federal como autor do documento nomeado como “Prévia Nini.docx”, “cujo conteúdo remete à tentativa de associar deputados federais, os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, e outros parlamentares, à organização criminosa PCC”.  Para Moraes, relator do processo, este seria um forte indício de que a agência foi instrumentalizada para fins políticos, conforme ressaltou em sua decisão.

Wright, segundo a PF, supostamente teria atuado em um grupo apelidado de “Portaria 157”, composto por três servidores da Abin e duas pessoas de fora do órgão — incluindo ele — com o objetivo de encontrar conexões de desafetos do ex-presidente ao crime organizado. O advogado foi alvo de busca e apreensão autorizada pelo ministro do STF na mesma decisão que atingiu o ex-diretor da Abin, o deputado federal Alexandre Ramagem.

A Operação Vigilância Aproximada apura a utilização do sistema de inteligência First Mile pela Abin, durante a gestão de Ramagem, no monitoramento de dispositivos móveis, sem a necessidade de interferência e/ou ciência das operadoras de telefonia e sem a necessária autorização judicial. A Polícia Federal identificou a existência de uma organização criminosa com intuito de monitorar ilegalmente pessoas e autoridades públicas, invadindo aparelhos e computadores, além da infraestrutura de telefonia.


Ricardo Minussi com Eduardo e Carlos Bolsonaro em Israel em 2016
Relações familiares
O advogado Ricardo Wright e seu pai, Ricardo Minussi, se aproximaram da família Bolsonaro por meio de Lia Noleto Rachid. Mineira de Belo Horizonte, ela chegou a ocupar, em 2020, um cargo no gabinete do senador Flávio Bolsonaro.

No início do governo Bolsonaro, Rachid foi alçada a postos no Executivo. No começo de 2019, foi chefe de gabinete da Subchefia de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, que na época era comandada por Abraham Weintraub. Em seguida, virou assessora especial de Álvaro Antônio, que acabara de ser nomeado ministro do Turismo, cuidando do relacionamento com o Congresso.

Em maio de 2020, Rachid passou a ocupar a função de assessora da Terceira Secretaria do Senado, na época comandada pelo senador Flávio Bolsonaro. Depois, foi lotada diretamente no gabinete do filho do então presidente. Ela também prestou serviços de consultoria a deputados.

Rachid é sócia de um escritório de advocacia que recebeu R$ 72 mil por serviços jurídicos para Alan Rick entre 2018 e 2019, pagos através da cota para o exercício da atividade parlamentar. Ela também recebeu R$ 72 mil de Marcelo Álvaro Antonio em 2018, também pela cota do deputado. Ele era então presidente do PSL em Minas Gerais e, segundo a investigação da PF, teria destinado parte das verbas de campanha para candidaturas laranja e empresas de fachada.

Indicado por Rachid, em março de 2019, aos 25 anos, Ricardo Wright abriu uma empresa de advocacia e também passou a atender os deputados Alan Rick, Marcelo Álvaro Antonio e o ex-deputado Márcio Labre. No mesmo período em que teria ocorrido a chamada “Abin paralela”, ele circulava pelos gabinetes de apoiadores do ex-presidente.

Ao todo, Ricardo Wright, seu pai e a ex-companheira dele receberam R$ 685,5 mil de serviços prestados aos três deputados federais entre 2018 e 2023, pagos com recursos públicos da cota para atividade parlamentar. A maioria do valor recebido, ou R$ 579,7 mil, foi por serviços de consultoria e pesquisa.


Outro lado
A Agência Pública entrou em contato com todos os citados nesta reportagem. “O escritório foi contratado legalmente pelo gabinete, onde os serviços prestados eram exclusivamente à minha atividade parlamentar e muito bem executados por sinal”, disse o ex-deputado Márcio Labre. “Desconheço as relações contratuais e comerciais desta empresa fora do escopo dos serviços prestados ao meu mandato”.

Marcelo Álvaro Antonio afirmou que “Ricardo [Wright] prestou serviço como consultor legislativo, ou seja, na elaboração de proposições e análises sobre matérias em pauta no Congresso Nacional durante o mês de março de 2021, em meu mandato anterior.”.

O Senador Alan Rick declara que teve conhecimento dos episódios mencionados apenas por meio da imprensa. O político afirmou, em nota, que “considera inaceitável que reportagens façam ilações e pré-julgamentos como se o parlamentar tivesse alguma responsabilidade sobre um serviço prestado por seu assessor quando este não fazia parte de sua equipe”. O senador disse que ainda que “as funções exercidas pelo seu assessor não permitem ingerências em suas decisões parlamentares”, que “não compactua com qualquer tipo de ilegalidade e que sua conduta perante a situação será pautada em fatos concretos, assim que estes forem plenamente esclarecidos”. Por fim, o senador enfatizou “seu profundo respeito e deferência a todas as instituições republicanas” e disse que é essencial aguardar a conclusão das investigações e espera que a verdade prevaleça.

Edição: Bruno Fonseca | Dados: Bianca Muniz
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 REPORTAGEM

Operação Tempus Veritatis mira, sobretudo, o alto escalão militar que atuou para interferir no processo democrático

9 de fevereiro de 2024
17:00
Por Caio de Freitas Paes
MILITARES PODER
bolsonarismo militares Polícia Federal política
Até um mês atrás, na marca de um ano do fatídico 8 de Janeiro, havia mais dúvidas do que certezas quanto ao papel militar na crise golpista entre o fim do governo Bolsonaro e o início do governo Lula. O cenário mudou com a operação da Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (8), centrada em oficiais de alta patente das Forças Armadas.

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) expõe as digitais militares em toda a crise golpista. Havia, segundo as investigações, um “núcleo de Inteligência Paralela” com a presença do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro, general Augusto Heleno, atuando no período.

Para a PF, a “Inteligência Paralela” do golpe fazia a “coleta de dados e informações”, como “itinerário, deslocamento e localização” do ministro Alexandre de Moraes e outras autoridades que seriam presas na tomada do poder.

O material também ressalta que oficiais atuaram para “manter as manifestações em frente aos quartéis militares, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das Forças Especiais”, seguindo a linha, por exemplo, do presidente do Superior Tribunal Militar, brigadeiro Joseli Camelo, que disse em entrevista à Pública que os chefes militares “toleraram” os antros de golpismo.

A decisão do STF também menciona o financiamento de “empresários do agro” e do repasse, via tenente-coronel Cid, de R$ 100 mil a militares envolvidos na trama.

As investigações também sugerem o envolvimento de militares na “produção, divulgação e amplificação de notícias falsas” sobre as eleições, para “estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o golpe”.

A PF aponta ainda o envolvimento do comandante de Operações Terrestres do Exército (Coter) até novembro passado, general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, e de um de seus assistentes diretos no Coter nas tratativas do golpe. O general ficou no cargo até o fim do primeiro ano de governo Lula, no comando do “maior contingente de tropas do Exército”.

A partir de diálogos no telefone do tenente-coronel Mauro Cid, a PF aponta que o general Estevam “teria consentido com a adesão ao golpe”, sendo o “responsável operacional pelo emprego da tropa caso a medida de intervenção [militar] se concretizasse” – o Comando de Operações Terrestres, por ele comandado, reunia “o maior contingente de tropas do Exército”.

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Ao todo, a operação de ontem revelou a presença de pelo menos 18 oficiais do Exército e da Marinha entre os suspeitos de envolvimento na tentativa de golpe.

Destes militares, três tiveram pedido de prisão preventiva decretado pelo STF: o coronel Bernardo Romão Correa Neto, o major Rafael Martins de Oliveira e o coronel da reserva Marcelo Costa Câmara, todos do Exército.
Os coronéis Correa Neto, Câmara e o Major Rafael tiveram pedido de prisão preventiva decretado pelo STF
Um deles segue livre: o coronel Correa Neto, tido como “homem de confiança” do tenente-coronel Mauro Cid e responsável por agrupar os oficiais das Forças Especiais envolvidos na trama. Ele está em missão em Washington, nos Estados Unidos, desde dezembro de 2022, fim do governo Bolsonaro, no Colégio Interamericano de Defesa.

Questionado pela Pública sobre a presença de oficiais da ativa e da reserva entre os suspeitos de envolvimento na trama golpista, o Exército Brasileiro disse que “as investigações acerca do assunto estão a cargo de inquérito determinado pelo Supremo Tribunal Federal e conduzido pela Polícia Federal”. Em nota, o Exército disse que “prima pela legalidade e pela harmonia entre os demais entes da República” e que “vem colaborando com as autoridades policiais nas investigações conduzidas”.

Já a Marinha do Brasil afirmou que “não se manifesta sobre processos investigatórios em curso, sob sigilo, no âmbito do Poder Judiciário” e disse ainda que “que pauta sua conduta pela fiel observância da legislação, valores éticos e transparência”.

A “Inteligência Paralela” do general Heleno
Uma das bases da investigação seria o registro em vídeo de uma reunião convocada por Jair Bolsonaro em 5 de julho de 2022. Nela, estavam o vice na sua chapa, general Walter Braga Netto (PL), os ministros da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e da Justiça, Anderson Torres. O então ministro do GSI, general da reserva Augusto Heleno, também estava no encontro.

De acordo com a investigação da PF, a certa altura, o general Heleno contou para todos que tinha conversado com o então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Victor Felismino Carneiro sobre “montar um esquema para acompanhar o que os dois lados estão fazendo” nas eleições daquele ano.

À época, Carneiro havia assumido interinamente a Abin após a saída do delegado Alexandre Ramagem (PL) – na mira de outra investigação da PF atualmente, a da “Abin Paralela”. Carneiro tem trânsito na caserna: ele foi capitão do Exército antes de entrar na Abin e é filho do atual presidente do Clube Militar, o general da reserva Sérgio Tavares Carneiro – que, segundo o jornalista Lúcio de Castro, esteve envolvido em supostas fraudes milionárias.

Porém, antes do general Heleno contar o que conversou com o diretor da Abin, o ex-presidente Bolsonaro interrompeu o ministro do GSI, pedindo para que conversassem “em particular, na nossa sala” sobre a atuação da inteligência do governo nas eleições.

Segundo a PF, o general Heleno e outros dois militares – o tenente-coronel Mauro Cid, e o coronel Marcelo Câmara, ex-ajudante de ordens e ex-assessor especial de Bolsonaro, respectivamente – formavam a “Inteligência Paralela” do grupo. Cid foi solto mediante o uso de tornozeleira eletrônica em setembro de 2023, enquanto o coronel Câmara foi preso neste dia 8 de fevereiro.

Para a PF, a “Inteligência Paralela” do general Heleno coletava “dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões” de Jair Bolsonaro na condução do golpe, vigiando a localização dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD), e de outras autoridades, para “captura e detenção” quando o golpe fosse consumado.

Vale lembrar: a Pública revelou que o GSI do general Heleno recebeu uma série de acampados golpistas e até mesmo um dos bolsonaristas presos pelo quebra-quebra no 8 de janeiro pouco após as eleições, durante a crise dos acampamentos, ainda em 2022.

POR QUE ISSO IMPORTA?
Novos diálogos e mídias não apenas comprovam de forma mais evidente o intuito golpista discutido durante o governo Bolsonaro, como implica o ex-presidente e seus apoiadores militares de alta patente.
Suspeito de golpismo se manteve no Alto Comando no governo Lula
Último general a entrar para a reserva entre os alvos da operação de ontem, Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira comandou o Comando de Operações Terrestres (Coter) do Exército por quatro anos, de novembro de 2019 até dezembro passado. Suspeito de envolvimento no caso, ele foi suspenso do Exército por decisão do STF nesta quinta-feira (8).

Segundo as investigações, o general Estevam faria parte do “Núcleo de Oficiais de Alta Patente com Influência e Apoio a Outros Núcleos” do grupo – formado por militares acusados de usarem seu prestígio na caserna para “incitar apoio” ao golpe junto ao Exército.

Fracassado o plano, porém, Cid ficou apreensivo com seu destino e compartilhou com o general Estevam, ainda no início de 2023, uma notícia que sugeria a possibilidade de ser preso. Segundo diálogo entre os dois obtido pela PF, o general do Coter teria respondido ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro: “fique tranquilo, Cid, vou conversar com o Arruda hoje. Nada lhe acontecerá”.

O teor da conversa sugere que Arruda seja Júlio César de Arruda, comandante do Exército do início do governo Lula, demitido com menos de um mês no cargo após rumores de leniência com militares envolvidos no 8 de Janeiro.

Um dos motivos por trás da queda do general Arruda teria sido sua recusa em “cancelar a designação de Mauro Cid ao comando do 1º Batalhão de Ações de Comandos, justamente o setor do Exército que seria encarregado de cumprir semanas antes a prisão do ministro Alexandre de Moraes” no fracassado golpe – segundo a própria PF.

Filho do general-de-brigada Manoel Theophilo Gaspar de Oliveira Neto, que era da cúpula verde-oliva durante a Ditadura Militar, o general Estevam é irmão de Guilherme Theophilo – general da reserva, ex-candidato ao governo do Ceará em 2018 e ex-secretário de Segurança Pública do Ministério da Justiça de Sérgio Moro (União).

Como já lembrado pela Pública no último 8 de janeiro, o general Estevam teria tentado centralizar a elite do Exército sob seu comando, já no governo Lula – ideia que esbarrou em resistências internas na própria caserna.

Além dele, os ex-ministros Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira, os coronéis Laércio Virgílio, da mesma turma do general Estevam na Academia Militar dos Agulhas Negras (AMAN), e Mário Fernandes, hoje lotado no gabinete do general Eduardo Pazuello (PL) na Câmara, fariam parte do “núcleo de Alta Patente” do golpe.

Tido há meses como um dos grandes entusiastas da trama, o ex-almirante Almir Garnier dos Santos é o único representante da Marinha no “núcleo de alta patente”.

Forças Especiais do Exército fariam o ‘trabalho sujo’
As investigações destacam o papel dos “Kids Pretos”, como são chamados os membros das Forças Especiais do Exército, nas maquinações golpistas antes do 8 de Janeiro.

Coordenado pelo tenente-coronel Mauro Cid, o grupo formava o “Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas”, responsável por ‘sujar as mãos’ num eventual golpe. Eles teriam se reunido em sigilo em Brasília, durante a crise pós-eleições, com suspeita de repasse de R$ 100 mil para manutenção e organização dos acampamentos golpistas, de acordo com a investigação.

Reprodução da conversa entre Coronel Romão e o Ajudante de Ordens Mauro Cid
O “núcleo operacional” do golpe tinha somente oficiais da ativa no Exército: os coronéis Bernardo Romão Correa Neto, então assistente do Comandante Militar do Sul, e Cleverson Ney Magalhães, assistente do comandante do Coter, em Goiânia (GO); os tenente-coronéis Alex de Araújo Rodrigues, Hélio Ferreira Lima, hoje comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus (AM), e Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, atualmente no Comando Militar do Oeste; além do então major Rafael Martins de Oliveira, que subiu de posto após passar pelo Comando de Operações Especiais, também em Goiânia.

Vale lembrar que o coronel Cleverson Ney Magalhães era assistente direto do general Estevam no Comando de Operações Terrestres, “unidade cuja adesão seria fundamental” para o golpe, segundo as investigações.

De acordo com a PF, estes oficiais “atuavam em reuniões de planejamento e execução de medidas no sentido de manter as manifestações em frente aos quartéis militares, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das forças especiais em Brasília”. 

Dos quatro pedidos de prisão preventiva expedidos para a operação de ontem (8), apenas um não foi efetivado: o do coronel Bernardo Romão Correa Neto. Segundo o jornal O Globo, o Exército vai determinar o retorno dele ao Brasil.

A Pública tenta contato com os representantes legais ou diretamente com os militares citados nesta reportagem. Este espaço será atualizado conforme houver manifestações individuais dos envolvidos na investigação.

Colaboração: Ananias Queiroga de Oliveira Filho | Edição: Ed Wanderley | Infografista: Matheus Pigozzi
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Caio de Freitas Paes
 
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