sábado, 27 de abril de 2019

No Rio: Milícias já oferecem serviços como aterros e consultas médicas

Publicado em 27 abril, 2019 8:29 pm
Desabamento atinge dois prédios na comunidade da Muzema, na Zona Oeste do Rio — Foto: Reprodução/ TV Globo
A queda de dois prédios na Muzema, no dia 12 de abril, escancarou ainda mais para o Brasil o crescimento de negócios paralelos ou imobiliários das milícias no Rio de Janeiro. Os imóveis que desabaram estavam irregulares, e a polícia suspeita de que não só ele, mas centenas de outros tenham o envolvimento dos milicianos.

Fonte de renda primária das milícias, a venda de segurança à população há muito deixou de ser o principal sustentáculo financeiro de tais grupos. A exploração de serviços como transporte alternativo, venda de gás e acesso à tevê e internet por assinatura também ficou para trás.
Os negócios se expandiram, e há espaço para venda não apenas de imóveis, mas também cigarros, taxas de pesca, consultas em hospitais, serviços de peões-de-obras, barris de chope adulterados, seguros de carros e até lixo.
Em comunidades da zona oeste, os milicianos dominam o mercado de cestas de alimentação com a venda de carnes comercializadas a preços bem menores do que os praticados no mercado.
Em Rio das Pedras, a reportagem encontrou frangos assados inteiros sendo vendidos em padarias por R$ 12, menos da metade do preço que normalmente é encontrado. Questionado sobre a procedência, o dono do estabelecimento disse que o animal “é de um fornecedor local”, mas não quis prolongar a conversa.
“Só Deus sabe onde são produzidas essas carnes. São linguiças, carnes e tudo o mais onde não há como saber onde são processadas, se estão sendo estocadas de forma correta para o consumo humano, não se sabe a validade, o tempo que está em exposição e em que condições está sendo exposta”, disse José Claudio Souza Alves, sociólogo que estuda as milícias ha 26 anos, autor do livro “Dos Barões ao extermínio: a história da violência na Baixada Fluminense” e professor de sociologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
O setor de bebidas e cigarros é outro que está em domínio das milícias. Em julho, a Polícia Civil prendeu 12 milicianos acusados de trazer cigarro contrabandeado do Paraguai. Só com essas vendas, o faturamento do bando superava R$ 1 milhão por mês.


Em novembro, a polícia apreendeu barris de chope adulterados que eram revendidos na mesma região. Em vários deles, os comerciantes eram obrigados a vender os produtos dos milicianos.
“A notícia desses grupos paramilitares, vulgarmente denominados de milicianos, começou a surgir depois que o transporte alternativo se instaurou, cresceu e começou a ser uma fonte de lucro muito grande. O que gerou, em razão do volume arrecadado, um poderio muito grande e brigas, porque onde há muito dinheiro envolvido começa a gerar brigas”, relatou o promotor do Ministério Público Estadual, Jorge Magno, em oitiva para CPI das Milícias.
Há relatos também de taxas por mototáxis -muito usados em comunidades mais humildes do Rio-, criação de empresas de proteção e seguro a automóveis, revenda de água, comércio ilegal de camarões fora da época de produção, aterros clandestino para a colocação de lixo e outros.
Os milicianos constroem aterros e depois enterram o lixo de quem pagar. O preço médio é de R$ 1 mil por caminhão. Os aterros também são abordados em investigação do Ministério Público. O órgão pede que a Justiça determine que o município “adote medidas necessárias e suficientes de fiscalização para impedir qualquer movimentação adicional de terra, qualquer lançamento de aterro”.
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