A suspensão do Twitter afetou a desinformação eleitoral? Pablo Marçal parece ter derretido, Ricardo Nunes se consolidou entre o público bolsonarista; o segundo turno parece ter se definido nas últimas duas semanas. E isso, só em São Paulo. A campanha eleitoral está a toda, e com os recentes acenos do X – que passou a respeitar as decisões do STF, indicando uma advogada como representante legal e suspendendo as contas investigadas – parece que a empresa de Elon Musk percebeu que é um mau negócio ficar fora do ar neste momento.
Mas qual foi o impacto até agora dessa suspensão histórica da rede social durante a corrida eleitoral? Procurei quatro especialistas em desinformação e fact-checking para me ajudar a entender a resposta.
(Alô Alexandre de Moraes: para deixar claro, os pesquisadores seguem monitorando a rede através de contas no exterior)
“É impressionante que o volume de desinformação nas temáticas que a gente monitora de desinformação, que são campanhas permanentes ligadas à extrema-direita brasileira, não diminuiu em nada. Isso nos surpreendeu bastante”, diz Marie Santini, diretora do Netlab (Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais da UFRJ).
Mas, para ela, embora o volume seja o mesmo, a suspensão do Twitter reduziu a velocidade com que essas campanhas desinformativas se espalham.
“O Twitter tinha essa característica de rede social muito veloz, que de alguma forma colocava pautas e questões e informações erradas no debate público e atingia muitas pessoas muito rapidamente, pela lógica do algoritmo da plataforma”, explica. Por outro lado, a presença massiva da imprensa e de políticos ajudava a acelerar o ciclo da desinformação.
“A suspensão do Twitter teve esse duplo efeito, desacelerou a disseminação de desinformação e essa desaceleração está dando um tempo para a imprensa chegar com as informações confiáveis, íntegras. Isso deixa o debate público um pouco mais saudável”, diz ela.
Natália Leal, diretora da Lupa, agência de fact-checking que também faz treinamentos, afirma que a suspensão não afetou o fluxo de fake news: “Os usuários seguem ativos em outras plataformas e mantêm o mesmo comportamento de espalhar informações falsas”, diz. “Muitas contas que tradicionalmente publicam desinformação sobre o processo eleitoral seguiram ativas no X, através de VPN, e, sem acesso ao aplicativo, não conseguimos monitorar esse movimento e checar essas informações”.
Já Sérgio Lüdke, coordenador do projeto Comprova, que reúne dezenas de redações para fazer verificação em tempo real, lamenta a suspensão do Twitter, dizendo que “faz bem à saúde mental não conviver com o ódio na plataforma, mas é também lamentável ter que deixar para trás todo o estoque de inteligência que ela é capaz de gerar e conservar”.
Para ele, o maior impacto da suspensão do Twitter foi impedir a avaliação do fluxo de desinformação, pois a plataforma funcionaria como um “entreposto” onde campanhas de fake news são trazidas de outras plataformas.
“É muito difícil dimensionar a redução da circulação da desinformação com as barreiras impostas ao X”, diz ele. “Mas a atividade ainda é grande. Somente uma das postagens que usou fotos manipuladas da Tabata Amaral há alguns dias alcançou perto de 200 mil visualizações”.
Tai Nalon, fundadora e diretora do Aos Fatos, uma organização que promove soluções tecnológicas originais para monitorar e combater desinformação, lembra que o monitoramento já estava mais difícil desde a aquisição da empresa por Elon Musk. “Desde que a API do Twitter passou a ser paga, no ano passado, estamos sofrendo com um apagão de dados que nos impede de fazer diagnósticos mais precisos sobre o que está acontecendo na plataforma. E como Musk mudou fundamentalmente alguns de seus principais atributos, como a timeline cronológica e a distribuição gratuita de conteúdo, fica ainda mais difícil dimensionar se a experiência que eu e o Aos Fatos vínhamos tendo no X é a mesma de outras pessoas”.
Segundo a jornalista, ainda, a principal ferramenta de combate à desinformação, havia sido “cooptada por grupos políticos desde a origem”. “Há estudos que mostram que essa ferramenta sozinha não combate a desinformação e, por falta de transparência e mecanismos de controle, pode até aumentar seu alcance”, explica.
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