quarta-feira, 10 de setembro de 2014

EDUCAÇÃO DO CAMPO

II– PROPONDO UMA NOVA ESCOLA RURAL
1. Teoria do conhecimento


Se, até agora, a escola não discutia o meio ambiente local e esse estava se deteriorando sempre mais, era chegada a hora de conhecer melhor o problema, identificar pistas de solução e fazer algo para a sua recuperação. Se até agora a escola não tinha valorizado o trabalho na agricultura, era a hora de aprender com os pais e valorizar o seu trabalho, para que a criança não migrasse logo depois de fazer 18 anos e para que houvesse o desenvolvimento da comunidade.
Se, até agora, a escola pensava-se simplesmente como repassadora de conhecimentos e do código escrito de leitura, desconhecendo outras formas de construir saberes, era chegada a hora de identificar os conhecimentos que os familiares possuíam sobre a vida e o trabalho. E, se quisesse fazer assim, era preciso interagir com esses conhecimentos. Era necessário rever a concepção do conhecimento, perguntando-se para que ele está servindo? A quem tem servido até hoje? E se do jeito que ele tem sido usado, está servindo às pessoas, às comunidades? Como mudar isso?
Um conhecimento para servir às pessoas do meio rural, das periferias das cidades, aos grupos excluídos, teria de ser instrumento de inclusão para essas mesmas pessoas, teria de ser construído a partir da vida real, das potencialidades locais, dos recursos humanos, naturais, econômicos, culturais. Os conhecimentos sobre as comunidades rurais não estão sistematizados ainda nos livros didáticos, nem se apresentam acabados e universais. Precisam, então, ser construídos. A professora vai sobrar e sentir-se incapaz para mexer com esse tipo de conhecimento. Então, vai aprender com quem tem e quem mexe, que são as pessoas do lugar, os próprios familiares dos alunos.
Ela vai descobrir que precisa continuar estudando depois de formada, que precisa pesquisar a realidade como é, como se transforma. Vai sentir necessidade de outros instrumentais didáticos e pedagógicos, porque começa a sentir que o conhecimento que estudou na Faculdade não trata do lugar onde sua escola se localiza ou onde as pessoas vivem; não ilumina os problemas reais, nem inspira solução, não descobre aí as potencialidades. Fica só nas carências, nas dificuldades. Para os alunos e os familiares entenderem essas novas dimensões do conhecimento, ela vai sentir necessidade de pessoas e grupos que reflitam com ela qual é esse novo caminho, esse novo papel e esse novo tipo de construção do saber.

MOURA, Abdalaziz de. In: BAPTISTA, F. M. e BAPTISTA N. de Q. (org).  Educação Rural: sustentabilidade do campo. Feira de Santana: MOC/SERTA/UEFS, p. 19-29, 2003.

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