II– PROPONDO UMA NOVA
ESCOLA RURAL
1.
Teoria do conhecimento
Se, até agora, a
escola não discutia o meio ambiente local e esse estava se deteriorando sempre
mais, era chegada a hora de conhecer melhor o problema, identificar pistas de
solução e fazer algo para a sua recuperação. Se até agora a escola não tinha
valorizado o trabalho na agricultura, era a hora de aprender com os pais e
valorizar o seu trabalho, para que a criança não migrasse logo depois de fazer
18 anos e para que houvesse o desenvolvimento da comunidade.
Se, até agora, a
escola pensava-se simplesmente como repassadora de conhecimentos e do código
escrito de leitura, desconhecendo outras formas de construir saberes, era
chegada a hora de identificar os conhecimentos que os familiares possuíam sobre
a vida e o trabalho. E, se quisesse fazer assim, era preciso interagir com
esses conhecimentos. Era necessário rever a concepção do conhecimento,
perguntando-se para que ele está servindo? A quem tem servido até hoje? E se do
jeito que ele tem sido usado, está servindo às pessoas, às comunidades? Como
mudar isso?
Um conhecimento para servir às pessoas do
meio rural, das periferias das cidades, aos grupos excluídos, teria de ser
instrumento de inclusão para essas mesmas pessoas, teria de ser construído a
partir da vida real, das potencialidades locais, dos recursos humanos,
naturais, econômicos, culturais. Os conhecimentos sobre as comunidades rurais
não estão sistematizados ainda nos livros didáticos, nem se apresentam acabados
e universais. Precisam, então, ser construídos. A professora vai sobrar e
sentir-se incapaz para mexer com esse tipo de conhecimento. Então, vai aprender
com quem tem e quem mexe, que são as pessoas do lugar, os próprios familiares
dos alunos.
Ela vai descobrir que
precisa continuar estudando depois de formada, que precisa pesquisar a
realidade como é, como se transforma. Vai sentir necessidade de outros
instrumentais didáticos e pedagógicos, porque começa a sentir que o
conhecimento que estudou na Faculdade não trata do lugar onde sua escola se
localiza ou onde as pessoas vivem; não ilumina os problemas reais, nem inspira
solução, não descobre aí as potencialidades. Fica só nas carências, nas
dificuldades. Para os alunos e os familiares entenderem essas novas dimensões
do conhecimento, ela vai sentir necessidade de pessoas e grupos que reflitam
com ela qual é esse novo caminho, esse novo papel e esse novo tipo de
construção do saber.
MOURA,
Abdalaziz de. In: BAPTISTA, F. M. e BAPTISTA N. de Q. (org). Educação Rural: sustentabilidade do campo.
Feira de Santana: MOC/SERTA/UEFS, p. 19-29, 2003.
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