quarta-feira, 3 de agosto de 2022

RECIFE

 Recife
Já em Recife o estudo mapeia 677 áreas de risco, que ocupam 8% do território da cidade e, assim como em Belém, abrigam uma quantidade bem maior de pessoas – 16,3% da população da capital (251 mil pessoas).

Das 102.392 moradias localizadas em favelas mapeadas pela pesquisa, 65% estão em encostas e 12% em margens de rios, lagos ou córregos.

Grupo Espaço Mulher
Enchentes na periferia de Recife em maio de 2022
Cerca de 55% da população da cidade é negra. Nas áreas com risco de inundação a taxa sobe para 59%, e onde há risco de deslizamento o valor sobe para 68% de pessoas negras.

Enquanto na cidade 19,7% das moradias são chefiadas por mulheres que ganham até um salário mínimo, o valor aumenta para 22,1% nas áreas com risco de inundação e para 26,8% nas áreas com risco de deslizamento.

A renda média familiar nas regiões com risco de inundação é de R$2,1 mil — valor que desce para R$1,1 mil nas regiões com risco de deslizamento. A média da cidade é de R$2,7 mil.

Segundo o relatório, os riscos ambientais de Recife “estão vinculados tanto a perigos hidrológicos, de inundação dos rios, quanto a perigos geológicos, de deslizamentos de terra em áreas de maior declividade”.

Arquivo pessoal
Ediclea Santos, moradora de Recife e integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco
No atual cenário de emergência climática, o aumento do nível dos mares é um processo que afeta principalmente cidades costeiras — é o caso da capital pernambucana. “Seus impactos podem ter proporções ainda inestimáveis, mas certamente ameaçam ainda mais as populações atualmente expostas a riscos hidrológicos e cujo grau de resiliência é muito limitado”, informa o relatório.

Edicleia Santos mora há 24 anos na comunidade de Passarinho, que fica na periferia de Recife. Ativista, participa da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, onde denuncia a falta de políticas públicas na sua comunidade.

Viu as transformações da natureza que o bairro sofreu: o verde foi se extinguindo e o rio também. “A gente tinha um rio maravilhoso, no final de semana o pessoal ia pra beira do rio, tomava banho, a água [era] limpíssima. A mata era linda e maravilhosa, e hoje a gente não tem mais. O rio foi-se embora”, relata. Sem a mata nativa, o solo fica mais frágil e mais propenso a sofrer desastres como enchentes e deslizamentos.

Ela conhece famílias que tiveram perdas com as chuvas de maio: “[Com] a chuva de maio quase que Passarinho foi parar embaixo d’água”, diz. O rio que existia na região foi transformado em uma vala quando a prefeitura implementou o saneamento básico, e hoje se tornou praticamente uma fossa.

“Quando a chuva vem, vem e inunda a maioria das casas que estão na beira do rio. E esse ano foi a pior chuva que teve, porque inundou uma grande parte da comunidade e muita gente perdeu tudo. Foi um caos, a água chegou no teto das casas”, relata a moradora.

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