quarta-feira, 3 de agosto de 2022

SÃO PAULO

 São Paulo
São Paulo, por sua vez, possui 1314 áreas com risco de desastres ambientais. São áreas que ocupam 17,3 milhões de m², o equivalente a 1,2% do território da cidade, e envolvem 370 mil pessoas, 3,3% da população.

Dos 355.756 domicílios localizados em favelas, 38% se encontram em encostas e 25% em margens de rios, lagos ou córregos. Na cidade, 8,4% das famílias são chefiadas por mulheres com renda de até um salário mínimo — valor que sobe para 12,6% nas áreas de risco.

A média do rendimento das famílias que vivem em áreas de riscos ambientais é de R$1,6 mil, enquanto a média da cidade é consideravelmente maior: R$3,5 mil.

Amanda Costa, de 25 anos, é ativista climática, formada em Relações Internacionais, e fundadora do Instituto Perifa Sustentável, que luta pela justiça climática a partir de educação socioambiental.

Moradora da Brasilândia, bairro periférico da capital, explica que a população passa por situações de desastres climáticos com frequência: “Sempre que chove. Já aconteceu de eu ficar presa no ônibus, esperando a água baixar. Já aconteceu de, quando chove muito, cair a energia e só voltar depois de um dia.”

Ela lembra que, quando era criança, havia infiltração na sua antiga casa, e toda a cozinha ficava alagada. “Eu lembro de uma visão, minha mãe tirando todas as comidas do armário, chorando porque perdeu muita coisa. Estar na periferia é conviver diariamente com esses desafios.”

Ivan Pacheco
Amanda Costa, moradora de São Paulo e fundadora do Instituto Perifa Sustentável
Segundo Amanda, a origem do racismo ambiental está na política. “Passa por todo esse contexto histórico, social, ambiental e econômico, que vai afetando principalmente os grupos mais vulnerabilizados”. A vulnerabilidade social, segundo ela, não é ocasião do destino. “Foi feito um projeto político para que uma galera ocupasse o poder, um grupo que tem os recursos que detém as tomadas de decisão, que decide esses ambientes políticos, que não representa a massa populacional”.

“Não restam dúvidas de que a injustiça socioambiental e o racismo ambiental também se manifestam através do próprio planejamento urbano, cuja má distribuição de infraestruturas de serviços básicos é definidora das desigualdades estruturantes e vulnerabilidades aos eventos climáticos”, afirma o estudo. “A privação do acesso à água potável, a ausência de esgotamento sanitário, assim como as ocorrências de inundações, alagamentos e deslizamentos, também colaboraram com a reprodução das desigualdades urbanas, sociais e raciais nas cidades”.

Para Amanda, as dificuldades da luta popular em relação ao próprio território ocorrem em razão da falta de representatividade, “esse contexto social, histórico, que nos afastou de lugares de protagonismo, de liderança, de visibilidade, de comunicação”.

Ela destaca: “A transformação é coletiva”, e conta que somente com um grupo de pessoas mobilizadas e engajadas atuando no coletivo é que haverá mudança e justiça social.  Histórias como essa precisam ser conhecidas e debatidas pela sociedade. A gente investiga para que elas não fiquem escondidas por trás de interesses escusos. Se você acredita que o jornalismo de qualidade é necessário para um mundo mais justo, nos ajude nessa missão. Seja nosso Aliado

*Esta entrevista faz parte do especial Emergência Climática, que investiga as violações socioambientais decorrentes das atividades emissoras de carbono – da pecuária à geração de energia. A cobertura completa está no site do projeto.

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Karina Tarasiuk
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