domingo, 28 de agosto de 2022

 

A campanha do “aprovo” e a conquista das maiorias

Como é possível ver, no campo do “aprovo” as coisas não têm sido fáceis. Os resultados das pesquisas que semana após semana dão o “rechaço” como vencedor, somados à constatação do nível de penetração alcançado pelas mentiras instaladas e o medo que existe em amplos setores populares foram duros golpes de realidade. Nas periferias e territórios onde a campanha começou a se desenrolar, se respirava desconfiança, decepção e altos níveis de desinformação. Lá percebeu-se que a corrida começava em desvantagem e que uma campanha massiva de educação política deveria ser lançada para reverter a tendência e evitar a derrota. No entanto, o problema de começar com essa desvantagem é que muito tempo teve que ser dedicado a desmontar as mentiras do “rechaço” a partir de uma posição defensiva, o que impediu tomar a iniciativa e instalar agenda e narrativas próprias. Passar do estupor à ação, da retaguarda para a dianteira, tem sido um exercício difícil.

Nos últimos dois meses, as forças do “aprovo”, agrupadas em dois comandos nacionais – o ApruebaxCHile, que reúne os partidos oficiais, organizações sociais, artistas e intelectuais, e o comando dos Movimentos Sociais Aprovar Nova Constituição, liderado pela Coordenadora Feminista 8M e Modatima e composto por mais de cem de organizações em nível nacional – foram implantados em diferentes escalas: em territórios com milhares de pessoas percorrendo bairros, de porta em porta, e realizando oficinas e atos político-culturais; e nos meios de comunicação de massa e nas redes sociais. Esta combinação de ações em nível comunicacional e territorial procura combater a desinformação, evidenciar os aspectos centrais do novo projeto de Constituição e transmitir a confiança e a certeza de que a aprovação deste novo projeto de Constituição é o caminho mais seguro para alcançar o bem-estar e a paz social.

Entre as forças do “aprovo” há a consciência das enormes dificuldades que enfrentam e que a vitória está muito longe de ser assegurada. Há também a consciência, especialmente nos grupos de esquerda, de que a chave para vencer esta eleição está no voto das maiorias populares, principalmente mulheres e jovens, setores que foram decisivos na vitória de Gabriel Boric sobre o ultradireitista José Antonio Kast e que, agora, já não são eleitores seguros para o “aprovo”.

Independentemente do que digam as pesquisas, está claro que a trilha é árdua e que para vencer será preciso conquistar as maiorias sociais que hoje não parecem convencidas de que votar “aprovo” é garantia de melhoria de suas condições de vida. Nesse elo está boa parte do desafio das forças do “aprovo”. Mostrar como esta proposta é a melhor alternativa para concretizar o desejo de viver com dignidade que foi o motor da revolta popular. Alcançar isso seria um caso bem-sucedido de pedagogia política em relação às massas.

Por enquanto, nos dias que restam até o fim da campanha legal, somos milhares de pessoas engajadas em todo o país, trabalhando para conquistar a maioria social necessária para ter sucesso. Para as forças da esquerda e dos movimentos sociais, é muita coisa o que está em jogo. Não é uma eleição a mais. O resultado do plebiscito marcará o fortalecimento da direita e dos setores que se opõem às transformações ou a abertura do caminho de saída do neoliberalismo e o começo de um ciclo liderado por novos interesses sociais excluídos da política por décadas. Por isso, consciente de nossa responsabilidade histórica, no Chile, a esquerda social e política está dando tudo.

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