segunda-feira, 29 de agosto de 2022

 

Fidel, Barbarroja e a invasão ianque ao Panamá

por:outrasmidias

A única coisa que se sabe sobre a pessoa que serviu de ligação entre o Eme e Cuba durante a década de 1970 é seu apelido, com toques soviéticos: Gari. Esse homem foi o responsável de fazer a espada chegar a Havana, supostamente em uma mala diplomática, em meados da década de 1980. Fidel Castro, ciente da operação, confiou seus cuidados a Manuel Piñeiro, o comandante Barbarroja.

Piñeiro ostentava o cargo formal de chefe do Departamento para a América do Partido Comunista de Cuba. Sob essa cobertura, se encarregava das relações com as organizações revolucionárias de todo o continente, entre elas as colombianas, que já haviam recebido treinamento militar na ilha. Por ordem de Fidel, a espada de Bolívar ficou a cargo de Barbarroja, que cuidou dela com tanto zelo que a manteve durante anos em seu escritório privado, sob sua custódia pessoal.

Tempos depois, em novembro de 1985, o M-19 realizaria sua ação mais audaz: a tomada do Palácio da Justiça, com todos os membros da Suprema Corte dentro. A resposta militar se transformou em um massacre. Antes da ação, Álvaro Fayad pediu aos cubanos que enviassem a espada ao Panamá porque queriam tê-la mais próxima, mais perto das mãos. A jornalista Patricia Lara, que investigou o caso, deduz que o Eme pensava em sair triunfante do Palácio da Justiça e, nessa ideia de vitória, talvez quisessem empunhar a mítica espada em uma caravana triunfal. Mas o certo é que a ação terminou em tragédia, e o M-19 foi duramente golpeado. Fayad, o homem que mais tinha se ocupado da espada, caiu morto em um enfrentamento em março de 1986.

A espada permaneceu parada em um cofre da embaixada de Cuba no Panamá, até o momento da invasão norte-americana em 1989. De Havana, Barbarroja acompanhava com atenção a resistência do povo panamenho. Ao ver as consequências da ocupação militar ianque, decidiu que a arma de Bolívar corria risco. Pediu que a enviassem de novo à ilha, para retomar o controle pessoal de sua segurança.

Conhecedor dos mecanismos de espionagem que os EUA estavam pondo em prática, falou em códigos com seu agente no país invadido: “Mande-me esse garfo pra cá”. A caminho do aeroporto, o veículo que transportava o “garfo” foi vasculhado pelos marines, que já tinham tomado o controle da cidade. O objeto, envolto em mantas simples, passou despercebido. Como havia ocorrido anos atrás com o presidente Michelsen na casa do poeta Greiff, outra vez a espada de Bolívar conseguiu burlar seus inimigos e manter-se clandestina, em mãos rebeldes.

Em 1990, após as eleições constituintes que prenunciaram a passagem à vida política do M-19, um integrante da bancada dessa força informou ao governo cubano que havia condições para que a espada voltasse à Colômbia. Fidel Castro respondeu que só a entregaria a Antonio Navarro Wolf, a principal autoridade da força política na qual o Eme havia se convertido, a Aliança Democrática – M-19.

Como a Colômbia e Cuba não tinham relações diplomáticas, a espada foi enviada a Caracas. Ali o embaixador cubano a entregou a Navarro Wolf, que convidou García Márquez a presenciar esse momento. O então presidente da Venezuela, Carlos Andrés Pérez, informado do fato, também quis estar presente.

Após seu regresso da Venezuela, Navarro Wolf entregou a espada do Libertador ao presidente colombiano César Gaviria. O fez em um ato sem muita pompa, na mesma Quinta de Bolívar de onde havia sido retirada 17 anos atrás.

A espada foi deixada em um cofre do Banco da República durante alguns anos. Esteve na Casa do Governo durante outros períodos, para o gozo exclusivo da elite política do país. Até o domingo, 7 de agosto de 2022, quando Petro ordenou que fosse apresentada à multidão, durante seu ato de posse presidencial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário