segunda-feira, 29 de agosto de 2022

 

O novo governo e a espada

Para Gustavo Petro, assim como para toda sua geração militante, a espada de Bolívar é um símbolo potente.

Em uma entrevista realizada há 35 anos, em 1987, um jovem com um diminuto bigode oitentista cobre seu rosto parcialmente com um boné azul para não ser visto por completo. Com a bandeira do M-19 ao fundo, denuncia o desaparecimento de militantes de sua organização. Quando o jornalista o pergunta sobre a espada de Bolívar, o jovem – que com os anos todo mundo saberá tratar-se de Gustavo Petro – responde: “Será apresentada publicamente. Está na Colômbia, em mãos do M-19, em mãos do povo colombiano, até que neste país se conquistem os objetivos do Libertador, os objetivos de justiça social, de paz para todos e de uma verdadeira democracia”.

Assista aqui a entrevista

Mas em 1987 a espada estava no Panamá e não na Colômbia, como diz em entrevista o jovem porta-voz da guerrilha. Podemos tomar a imprecisão como uma obrigação da clandestinidade.

Durante o ato de posse de Petro houve outro gesto de reivindicação do M-19: o resgate da figura de Carlos Pizarro, comandante desta organização e candidato à presidência, assassinado em plena campanha eleitoral em abril de 1990. Não foi uma piscadela nostálgica, com odor de tempo passado. Pelo contrário, a homenagem veio das mãos de uma jovem militante feminista, a artista plástica e senadora Maria José Pizarro. Foi ela, a filha do líder do M-19, a escolhida para pôr em Petro a faixa presidencial.

A Senadora Maria José Pizarro põe a faixa presidencial em Gustavo Petro (esquerda) e seu pai, o comandante Carlos Pizarro, bordado em sua roupa (direita).

Desde que ganhou as eleições, a equipe de Gustavo Petro começou a requisitar ao governo cessante a autorização para que a arma do Libertador estivesse presente no ato de posse. As negociações estavam encaminhadas até que, no último momento, Iván Duque levantou algumas desculpas: que não havia seguro para a espada sair da Casa de Governo, que não se podia abrir a urna que a continha. A incerteza sobre a forma em que se resolveria a queda de braço se manteve até o momento do juramento presidencial.

Há 217 anos, em outro juramento, um jovem Bolívar prometeu a seu professor Simón Rodríguez, em Monte Sacro, que a espada não seria embainhada até que seu povo fosse libertado. Petro, que costuma se referir a esse fato, diz que ela continuará assim. Desembainhada, em atitude de combate, até que a paz e a justiça social prevaleçam na Colômbia.

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