segunda-feira, 22 de agosto de 2022

 

Essa tal pop-rua… 

Mendigos, vadios, vagabundos, indigentes, andarilhos, loucos de rua, habitantes de rua, povo de rua, sofredores de rua, trecheiros, sem-teto, moradores de rua, população de rua, população em situação de rua e… pop-rua. Ao longo do tempo, vários termos foram usados para defini-los. Porém, a Política Nacional para a População em Situação de Rua, instituída pelo Decreto Presidencial 7.053, de 2009, uma das principais conquistas do Movimento Pop-rua, enfim criou uma definição:

grupo populacional heterogêneo que possui em comum: pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular e que utiliza os locais públicos e áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória”

“Entendemos que não há moradores na rua ou em situação de rua. É uma situação transitória, e para outras pessoas significa até a morte”, explica Darci Costa. “É tirar a culpabilização. Tirar o estigma de mendigo, maloqueiro, homem do saco. E também o estigma da Lei de Vadiagem da Ditadura Militar, que ainda está presente na mentalidade de várias instituições. Chama-se população em situação de rua ou só pop-rua.”

Darci começou a atuar no MNPR em 2013, após participar por dois anos de formações e cursos realizados pelo movimento. Queria respostas para o problema que vivia – e, para isso, estudou muito.

“Viver na rua não é uma coisa que aconteceu hoje, é uma coisa que muitos podem ter percebido só hoje, mas acontece desde a Roma Antiga, desde Luís XV, desde a escravidão, quando a Princesa Isabel libertou todo mundo no dia 13 e não se lembrou do que ia acontecer com eles no dia 14. São séculos e séculos de história!”, explica ele. “O Charles Dickens escreveu vários livros sobre as pessoas que viviam nas ruas da Inglaterra do século 19. O Victor Hugo mostrou a hipocrisia dos ‘crimes de vadiagem’: Jean Valjean, em Os Miseráveis, furta um pão e o Estado francês cai em cima dele pra massacrar. É ou não é atual?”.

Darci, entusiasmado, prossegue: “tem a história do Diógenes, pai da filosofia da ociosidade. Ele viveu na Grécia Antiga e quando Alexandre, o Grande, o procurou, depois que ele se recusou a ir ao encontro do rei, perguntou: Diógenes, o que você quer? Pode me pedir qualquer coisa. Ele falou: apenas saia da minha frente. Você está atrapalhando o sol”.

“Mas falando assim até dá uma sensação romântica de viver nas ruas – e não de algo mais do sistema que empurra as pessoas pras ruas…”, questiono.

“Tem o desemprego. A especulação imobiliária. A dependência química. A falta de estrutura familiar. Mas também não podemos deixar de pensar como essa sociedade massacra as pessoas. Tem gente que quer isso. Tá desempregado, fuma crack e vai consciente: a vida não é só pressão. Mas temos que ter em mente também: Sozinho a gente vai pra rua, mas juntos podemos sair dela. É um lema que temos”.

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