sexta-feira, 26 de agosto de 2022

QUINZE PREFEITURAS DE ALAGOAS CONTRATARAM EMPRESAS SUSPEITAS DE DESVIO NA SAÚDE E EDUCAÇÃO

 
REPORTAGEM
Quinze prefeituras de Alagoas contrataram empresas suspeitas de desvio na saúde e educação
Divulgação Prefeitura Rio Claro
Municípios receberam recursos do orçamento secreto; parlamentar que mais indicou emendas foi Arthur Lira (PP), que tem aliados em diversas prefeituras

21 de agosto de 2022
17:00
Alice Maciel
Segundo a PF, esquema com duas empresas envolveria desvio de recursos de fundos da saúde e educação
Empresa sem funcionários registrados ganhou contratos milionários
Junto a prefeitos, Lira pede apoio a Bolsonaro por repasses de emendas
Quinze municípios de Alagoas contrataram as duas empresas investigadas pela Polícia Federal por participarem de um suposto esquema de desvio de recursos públicos federais na prefeitura de Rio Largo — a Litoral Construções e Serviços e a Reauto Serviços e Comércio de Peças Automotivas. Dados obtidos pela Agência Pública revelam que, entre 2019 e 2022, essas prefeituras pagaram R$11,8 milhões às empresas.

Além disso, desde 2020, todas as 15 prefeituras receberam recursos de emendas do orçamento secreto, as chamadas emendas de relator. Segundo a reportagem apurou, o parlamentar que destinou a maior quantidade de dinheiro para esses municípios foi o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP). Ao todo, ele indicou R$ 58,5 milhões em emendas para 11 das 15 prefeituras.

Na prefeitura de Rio Largo, segundo investigação da PF, o esquema funcionava da seguinte forma: contratadas pelo município, as duas empresas seriam pagas com recursos federais da saúde e educação. O dinheiro era sacado na boca do caixa por representantes da Litoral e entregue dentro de pacotes aos seguranças pessoais do prefeito Gilberto Gonçalves (PP), em um beco, à luz do dia, conforme flagrado pelos agentes.

A polícia identificou 185 saques na boca do caixa das contas das firmas no valor de R$ 49 mil cada um, entre 2019 e 2022. Essa seria uma forma, de acordo com a PF, de “driblar” a regra do Banco Central que prevê que todas as retiradas acima de R$ 50 mil são comunicadas automaticamente ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Alguns desses saques teriam sido realizados imediatamente após repasses de recursos públicos efetuados pelo município de Rio Largo.

As informações do inquérito, às quais a Pública teve acesso, foram publicadas em 28 de julho na reportagem “Aliado de Lira favorecido por orçamento secreto teria desviado verba da saúde e educação”. Só neste ano, Lira indicou R$ 8,9 milhões de emendas do orçamento secreto para o Fundo Municipal de Saúde de Rio Largo. Ao todo, ele admitiu ter destinado R$ 16,7 milhões para o município, como mostrou a Revista Piauí: foram R$ 3,7 milhões em 2020 e R$ 4 milhões em 2021.

“O deputado Arthur Lira, assim como todos os deputados e senadores, liberam emendas para todas as prefeituras que justificam as necessidades. Isso traz benefícios para o povo, que é o mais importante. Cabe aos órgãos de controle a fiscalização eficiente para o bom uso dos recursos”, informou a assessoria de imprensa do presidente da Câmara. A prefeitura de Rio Largo não respondeu às perguntas encaminhadas pela reportagem.

O prefeito Gilberto Gonçalves, também conhecido como GG, é um antigo aliado de Arthur Lira. Os dois foram alvos da Operação Taturana, em 2007, acusados de desviar verbas da Assembleia Legislativa de Alagoas. Eles foram indiciados e Lira condenado por improbidade administrativa – o parlamentar ainda recorre da sentença no Superior Tribunal de Justiça (STJ). As redes sociais de GG estão abarrotadas de postagens em agradecimento ao “apoio” do deputado federal e outdoors foram espalhados nas ruas da cidade para divulgar a parceria com o presidente da Câmara.

No último dia 11, o prefeito de Rio Largo foi novamente alvo da PF, na operação batizada de “Beco da Pecúnia”, em referência ao local onde ocorria o pagamento da propina, conforme flagrante dos investigadores. Assustado com a chegada dos agentes, Gilberto Gonçalves jogou seu celular por cima do muro. O aparelho foi encontrado pelos policiais no terreno vizinho. Ele e outros quatro secretários municipais foram afastados por 60 dias de seus cargos por decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região.

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Ao todo, a PF cumpriu neste dia 36 mandados de busca e apreensão em seis municípios alagoanos e em um endereço de São Paulo.

Divulgação Polícia Federal
A PF divulgou imagem do celular que foi arremessado pelo prefeito Gilberto Gonçalves. Agentes cumpriam mandatos da operação Beco da Pecúnia, que investiga desvio de recursos na prefeitura

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