POR: CÍCERO PEDROSA NETO
Segundo a pesquisadora Victoria Isaac, são as espécies mais valorizadas pelo mercado que se encontram sob maior risco. Entretanto, alerta, a falta de estudos e a diminuição dos investimentos em pesquisas dificultam a dimensão do problema.
“Isso que eu estou dizendo são pesquisas pontuais, baseadas em estudos antigos, de 2007. Estamos em 2022, são 15 anos sem registros”, reflete a pesquisadora.
Victoria elenca as espécies mais afetadas pela pressão das atividades humanas no Salgado Paraense: a lagosta, o pargo, o camarão e a pescada-amarela são, para a pesquisadora, os casos mais evidentes de como a pesca industrial, com barcos maiores, com mais autonomia e mais eficiência, afeta a reprodução dessas espécies. E por motivos distintos: “Cada recurso depende muito da sua estratégia de vida, qual é a sensibilidade, a vulnerabilidade que ela tem à sobre-exploração. Quanto mais lento o crescimento e mais longo o ciclo de vida, mais vulnerável elas são”, explica a bióloga.
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Para a lagosta, a pesca industrial veio subindo desde o Nordeste, e, como o animal vive mais de 30 anos, Victoria estima que ela esteja sendo sobre-explorada desde os anos 1960. Quanto ao pargo, que é um pouco menos longevo que a lagosta, a mesma situação. Conforme os estoques declinaram no Nordeste, a pesca predatória avançou para o Atlântico na região Norte.
A pressão sobre a pescada pode ser sentida não apenas na diminuição dos estoques, mas também no tamanho: “Elas são grandonas. Ou melhor, deveriam ser grandonas, pois são peixes que crescem até quase 1 metro. Mas com o tempo o tamanho médio das capturas vem reduzindo, porque o bicho está cada vez mais escasso”, diz Victoria.
“Se você olha em termos de renda, são os peixes que mais dão dinheiro. Então, se ele está diminuindo, de fato o pescador está se sentindo prejudicado por isso.”
Por fim, alinhados ao impacto nessas espécies, estão os efeitos devastadores causados pela pesca de camarões. Embora a espécie tenha um ciclo de vida curto, e não esteja sobre-explorada, a forma pela qual o camarão é pescado, com redes de arrasto, causa enorme dano ambiental. Segundo a pesquisadora, o arrasto do camarão leva consigo uma série de outras espécies.
“Em geral é de um para cinco, ou de um para dez: para cada quilo de camarão que você come, foram jogados mais ou menos 5 quilos de peixe ao mar, porque era peixe que não tem valor econômico, que não tinha lugar no porão do barco”, explica. Trata-se, para a pesquisadora, de uma mortalidade que não serviu para nada, além dos danos causados pelo próprio arrasto, que impactam diretamente a vida de famílias que dependem da pesca artesanal e dos pescados desprezados.
Um outro problema envolvendo a produção de camarão é o impacto dos projetos de criação de camarões em mangues, que desmatam a vegetação. Além disso, a pressão de construções civis e estradas acaba por desmatar o manguezal.
O sedimento que o mangue exporta tem importância ecológica e, levado ao mar, explica Victoria, serve de alimento para as espécies marítimas. E com os manguezais, novamente, é possível observar a diminuição no tamanho dos animais. No caso, os caranguejos, que se tornaram principal fonte de alimento para muitas comunidades em que os peixes estão sobre-explorados: “Isso já é um indicador que estão cada vez explorando uma população mais jovem, e que não dá tempo dos caranguejos, digamos, crescerem o suficiente”, reflete.
Cícero Pedrosa Neto/Agência PúblicaA pesca é uma atividade central na região Amazônica, impactando moradores e o meio ambiente
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sexta-feira, 26 de agosto de 2022
ESPÉCIES AMEAÇADAS
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