quarta-feira, 24 de agosto de 2022

DE VITIMAS A CULPADOS

POR: BRUNO FONSECA
As primeiras mensagens sobre o desaparecimento surgiram logo após o final de semana em que os dois foram dados como desaparecidos, no dia 5 de junho. Inicialmente, foram compartilhados links de sites jornalísticos, como o The Guardian, mas também de sites desinformativos, como o Pleno News, que relatavam o ocorrido.

Já nos primeiros conteúdos — nos quais havia algumas poucas reações de tristeza através de emojis — usuários questionaram as motivações dos desaparecidos. Houve quem chamasse o desaparecimento de fake news. “Seria uma desculpa para uma invasão da Amazônia Brasileira pelos estrangeiros?”, escreveu um usuário.

É no dia 8, contudo, que se consolida o primeiro argumento que tenta responsabilizar as vítimas pelo crime — e ele surge através de um conteúdo da Jovem Pan. A emissora, que se tornou um braço do bolsonarismo, como mostrou investigação da revista Piauí, publicou uma afirmação do presidente da Funai, Marcelo Xavier, de que Bruno e Dom não teriam autorização da entidade para entrar na região.

Reportagem da Pública mostrou que várias testemunhas afirmaram que a dupla não cruzou o ponto máximo a partir do qual estranhos sem autorização da Funai não poderiam seguir em frente, em contraponto às afirmações de Xavier. Além disso, o assassinato ocorreu fora de território indígena — onde não é preciso ter autorização para circular — quando Bruno e Dom voltavam para Atalaia do Norte.

A acusação de que os dois entraram sem autorização também foi compartilhada no grupo de empresários bolsonaristas, o que demonstra como as mesmas narrativas transitam entre várias redes sociais. “Ele [Phillips] fazia uma reportagem, sem autorização legal da Funai, Ibama e sem o conhecimento do governo estadual e federal em reservas indígenas”, enviou Marconi Souza, segundo o Metrópoles.

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Na entrevista, Xavier disse ainda que Bruno teria conflitos com os povos locais, o que levou usuários a insinuar que os próprios indígenas seriam responsáveis por assassinar os dois homens. Neste ponto, os emojis de tristeza deram lugar aos de dúvida e até de palmas. “A atitude impensada destes dois, em se enraizar em local, onde tensões estavam ocorrendo… deu nisto”, escreveu um membro do grupo.

Outra narrativa usada em grupos bolsonaristas foi a de associar o desaparecimento de Bruno e Dom à história de Marielle — na tentativa de afirmar que ambos os crimes seriam utilizados politicamente pela esquerda. “Mais dois marieles pra eles se aproveitarem dos cadáveres… É impressionante o esforço que eles fazem para tirar o presidente, inventam fazer qualquer coisa desde que isso de alguma forma possa atingi-lo”, escreveu um usuário. A associação também foi compartilhada em uma mensagem por Marconi Souza.

Reprodução
Bolsonaristas associaram assassinato de Bruno e Dom ao PT

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