quarta-feira, 3 de agosto de 2022

BELÉM

 Belém
Dividida entre o continente e 42 ilhas que ocupam cerca de dois terços do seu território, Belém está às margens da Baía do Guajará e do Rio Guamá e tem o justificado título de capital mais chuvosa do Brasil, com média pluviométrica anual de 2085 mm – enquanto a média do país varia entre 1250 e 2000 mm. A cidade possui 125 áreas de risco, que, apesar de ocuparem 5% de seu território, abrigam 11,5% da população – 173 mil pessoas, segundo dados da pesquisa.

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Cerca de 99% dos 193.557 domicílios em favelas estão localizados em encostas e 1% em margens de rios, lagos ou córregos. Mulheres de baixa renda, com até um salário mínimo, e chefes de família são mais afetadas: representam 21% das moradias em áreas de risco — taxa que desce para 16% na média da cidade.

Os dados também mostram que a porcentagem de pessoas negras é inversamente proporcional à renda média: nos domicílios que se encontram em área de risco, a renda familiar tem a média de R$1,7 mil, valor 32% menor que a média geral da cidade, de R$2,5 mil.

Arquivo pessoal
Waleska Queiroz, moradora de Belém e ativista climática
A engenheira sanitarista e ambiental Waleska Queiroz, de 28 anos, trabalha há mais de 10 anos em projetos socioambientais. Assim como muitos de seus vizinhos, ela foi remanejada de sua casa na Avenida Perimetral, próxima à Universidade Federal do Pará, para que a via fosse duplicada. Sua família e muitas outras foram realocadas em um conjunto de prédios de habitação social próximo à margem do rio Tucunduba.

Lá ela se sente frequentemente ameaçada: “A minha grande preocupação morando próximo ao [rio] Tucunduba é que vai haver um momento com toda essa questão de mudança do clima, mudança no índice pluviométrico, com chuvas mais fortes, mais intensas, que vai chegar um momento em que esse rio não vai suportar essa carga. Até porque a drenagem do local já está toda impermeabilizada, então não tem por onde a água escoar. E aí conciliado à questão dos resíduos, que estão ali entupindo vias e tudo mais, esse processo fica ainda mais significativo.”

Parte da Rede Jandyras, grupo de mulheres que pautam a questão climática em busca da construção de políticas públicas mais efetivas na capital, ela ressalta o papel do racismo ambiental na sua realidade. “Quando eu falo disso, quando eu falo desse ambiente não saudável e concilio com a pauta climática, eu entendo que eu estou sofrendo um processo de racismo ambiental. Eu sofri desde o momento em que eu saí do meu território, [em] que eu construí a minha história, a minha identidade. Me tiraram dali à força, sem entender a minha história, e me colocaram em um ambiente que está totalmente degradado”, conta Waleska.

Waleska Queiroz
Rio Tucunduba. Do lado direito, onde estão as palafitas, fica o bairro da Terra Firme e o Residencial Liberdade. Do lado esquerdo está um residencial construído pela Caixa na beira do rio

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