quarta-feira, 3 de agosto de 2022

MÃES DE BAIXA RENDA E CHEFES DE FAMÍLIA SÃO MAIS AFETADAS POR DESASTRES AMBIENTAIS


Região alagada de Recife em 2022 - Clauber Cleber Caetano/PR
Estudo do Instituto Pólis comparou dados sobre as populações mais expostas a inundações, enchentes e deslizamentos em Belém, Recife e São Paulo

3 de agosto de 2022
15:10
Karina Tarasiuk
 ESPECIAL: EMERGÊNCIA CLIMÁTICA
Áreas com mais risco de desastres são as que mais concentram pessoas negras, indígenas e quilombolas
Dados mostram como o racismo ambiental acontece na prática
Com o aumento da temperatura, a tendência é que eventos extremos se tornem cada vez mais comuns
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No final de maio, 128 pessoas morreram e ao menos 6 mil ficaram desabrigadas devido às fortes chuvas que atingiram Recife e a região metropolitana da capital pernambucana. Já a cidade de São Paulo teve o mês de julho mais seco de sua história, após passar 47 dias sem qualquer sinal de chuva.

Com o aumento da temperatura, a tendência é que extremos como esses  se tornem cada vez mais comuns. E com eles o número de pessoas atingidas. A medida como esses desastres afetam as cidades, porém, segue uma lógica conhecida: os que mais sofrem com isso são pessoas negras, de baixa renda e que habitam regiões periféricas, em especial mães chefes de família, como mostra relatório do Instituto Pólis ao qual a Agência Pública teve acesso.

O estudo “Injustiça socioambiental e racismo ambiental” observou três capitais brasileiras — Belém, Recife e São Paulo — e encontrou padrões que se repetem no resto do país. A partir dos dados, é possível enxergar como o racismo ambiental, que entende que as consequências das degradações ambientais se concentram em territórios periféricos, regiões com maior presença de pessoas negras, indígenas e quilombolas e menos acesso a recursos e serviços ambientais básicos como água limpa, saneamento e tratamento de lixo, acontece na prática.

Em Belém, que tem 64% da população negra, 75% das pessoas que moram em áreas de risco são negras, mostra o estudo. Em Recife, 55% da população é negra, mas nas regiões com risco de inundação o valor sobe para 59%, e atinge 68% onde há risco de deslizamento. Em São Paulo, apenas 37% da população é negra — em comparação com a média brasileira de 54%. Mas 55% das pessoas que vivem em regiões de risco são negras.

TV Brasil

Clauber Cleber Caetano/PR

Regiões afetadas por fortes chuvas em Recife, em 2022. Áreas com mais risco de desastres são as que mais concentram pessoas negras, indígenas e quilombolas
“Os impactos ambientais nas cidades são socialmente produzidos: não são apenas fruto de eventualidades climáticas. No entanto, a distribuição de suas consequências se dá de forma desigual no território urbano. Esse desequilíbrio é, em parte, a expressão da injustiça socioambiental e do racismo ambiental nas cidades”, afirma o relatório.

De acordo com o estudo, as áreas de risco não têm valor para o mercado formal e estão fora das frentes de interesse do setor imobiliário. “Sua ocupação por famílias de baixa renda ocorre pela total falta de alternativas habitacionais. As condições financeiras das famílias de baixa renda são insuficientes para arcar com os custos da moradia no mercado formal – seja para aquisição ou para locação”.

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