segunda-feira, 22 de agosto de 2022

 

Considerações finais

O centro da questão é a percepção ajustada das realidades locais e internacionais e o papel do Brasil nesse contexto. É possível imaginar duas estratégias que se localizam em campos opostos: de um lado, subordinação e alinhamento ao imperialismo seguindo as diretrizes internacionais; de outro, a busca por autonomia, protagonismo e investimento na construção de uma nova ordem internacional na qual o Brasil e a América do Sul podem ocupar outro papel. Olhando para a estratégia dos candidatos, a de Lula – e talvez Ciro (o julgamento de sua estratégia é prejudicado pela falta de informações sobre o que pretende fazer em termos de relações internacionais) – estariam mais próximas de uma busca de autonomia. Ambos vislumbram a recuperação do papel do Estado, de seus mecanismos de intervenção pública, das empresas estatais e setores estratégicos que podem atuar para diminuir a vulnerabilidade e a necessidade de subordinação do Estado aos interesses estrangeiros, pelo menos na medida em que isso for possível para um país dependente como o Brasil. Lula, em especial, pretende usar o multilateralismo e as relações Sul-Sul como forma de contornar as assimetrias internacionais.

Já os planos de Tebet e Bolsonaro estariam localizados em maior medida na vertente da subordinação e alinhamento ao imperialismo. Ambos possuem uma visão de Estado pautada no neoliberalismo e que internacionalmente visa agir em conformidade com o sistema internacional vigente. Merece menção, contudo, o fato de que o plano de Tebet prevê menor conformidade internacional do que Bolsonaro, ao propor a uma atuação do Brasil enquanto liderança na agenda ambiental, multilateral e na América do Sul.

Por fim, cabe salientar que a política externa não deve ser vista como uma área secundária dentro dos programas de governo, apesar de ocuparem pouquíssimo espaço neles, pois ela se conecta intimamente às demais políticas (econômica, social e ambiental) e se pauta por uma visão estratégica de inserção internacional, de soberania e desenvolvimento do país. 

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