sexta-feira, 29 de julho de 2022

COORDENADOR ADMINISTRA E APOIA AS EQUIPES QUE FAZEM A VIGILÂNCIA DO TERRITÓRIO

 

O coordenador da Frente é responsável pelas atividades de cinco bases da Funai instaladas na terra indígena: Ituí, Quixito, Jandiatuba, Figueiredo e Coari. A base do rio Curuçá está sob responsabilidade da coordenação regional do órgão em Atalaia. Além disso, é preciso dar atendimento a um acampamento, perto do rio Coari, de indígenas Korubo contatados em 2019 por uma expedição liderada por Bruno.


As tarefas de um coordenador da Frente envolvem proteção e monitoramento de ameaças aos indígenas isolados, localização de novas evidências, gerenciamento administrativo e articulação com outros órgãos públicos, como o Ministério da Saúde.


Por tabela, contudo, o coordenador da Frente e os servidores da Funai nas bases também enfrentam as constantes invasões ao território indígena, uma vez que caçadores e pescadores ilegais podem levar doenças ou atacar os isolados. O coordenador tem o papel de administrar e apoiar as equipes que fazem a vigilância do território.


José Medeiros/Agência Pública

Sede da Funai em Atalaia do Norte (AM) abandonada por falta de estrutura

De 2018 a 2019, a base da Funai na confluência dos rios Ituí e Itaguaí – a maior e mais próxima da cidade de Atalaia do Norte (AM), que fica na “boca” da entrada da terra indígena – foi atacada a tiros pelo menos cinco vezes. De acordo com as investigações das polícias Civil e Federal e com a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal, foi um grupo de pescadores que assassinou e ocultou os restos mortais de Bruno Pereira e Dom Phillips.


Na decisão que acolheu a denúncia, o juiz federal de Tabatinga (AM) Fabiano Verli escreveu a respeito do crime: “Com o tempo, hipóteses de rixa, desentendimento estritamente pessoal, interesses estritamente pessoais, tudo isso foi esmaecendo. Foi se fortalecendo cada vez mais a hipótese de atritos envolvendo pesca, caça, circulação, interesses etc, em terras no entorno de terras indígenas e dentro das próprias terras indígenas. Tudo sempre ligado aos índios enquanto tais. Bruno e Dom não eram representantes de empreendimentos lucrativos ou de interesses econômicos diretos, específicos. Bruno, mesmo licenciado, trabalhava como consultor em assuntos indigenistas. Nunca se afastou disso e era visto, talvez mais ainda, como encarnação do Poder Público na sua face voltada para o gerenciamento da convivência entre índios e o resto da comunidade nacional – objeto da Funai. No mínimo, um ativista de causas coletivas. Ativista é aquele que age. E agir é perigoso. Vários exemplos trágicos no Brasil mostram isso”.


Para dar proteção aos servidores da Funai na região, após os assassinatos de Bruno e Dom e sob pressão dos servidores e de duas comissões externas criadas pelo Congresso Nacional, o governo federal reforçou a presença da FN (Força Nacional) na região. Contudo, conforme apurou a Pública, a ação atribuída à FN é pontual: seus soldados permanecem dentro de duas, das quatro bases e evitam sair das unidades para, por exemplo, apreender e destruir os equipamentos dos pescadores e caçadores clandestinos. O papel principal da FN é resguardar os servidores e o patrimônio público. Nas cidades da região, às quais devem ir de tempos em tempos, os servidores da Funai circulam sem proteção policial. Foi num momento como esse o assassinato de Maxciel Pereira, a tiros, numa rua em Tabatinga.


A assessoria de comunicação da Funai, em Brasília, foi procurada pela Pública, mas não havia se manifestado até o fechamento deste texto. Caso se pronuncie, o texto será atualizado.  Histórias como essa precisam ser conhecidas e debatidas pela sociedade. A gente investiga para que elas não fiquem escondidas por trás de interesses escusos. Se você acredita que o jornalismo de qualidade é necessário para um mundo mais justo, nos ajude nessa missão. Seja nosso Aliado

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