segunda-feira, 25 de julho de 2022

 

CULTURA

Um coro em silêncio: professor é acusado de assediar integrantes do Madrigal da UFRN

Um homem muito educado, a priori calmo e que apoia as causas das mulheres. Sedutor. Tem o que chamam de lábia: envolve as pessoas estabelecendo amizade. Passa confiança, assertividade e segurança ao ensinar. Essa é a reunião de características atribuídas pelas estudantes ouvidas nesta reportagem ao professor substituto da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN) Erickinson Bezerra de Lima. Mas apenas nas primeiras impressões – opinião que se desfaz com um pouco de convivência, que culmina em assédios morais e até sexuais.

Segundo elas, o professor “de repente muda”. O típico abusador, conhecido por muitas mulheres em diferentes relacionamentos, sejam afetivos ou profissionais. “O homem que chega na sua vida como o príncipe encantado e depois se mostra a pior pessoa do mundo”.

E não basta romper o vínculo, porque nessa posição de poder, ele consegue interferir nas carreiras delas dentro e fora da academia: “Ele mina o nosso caminho acadêmico, nos deixa pensando que somos burras e a maior parte das pessoas que ele atinge são mulheres e homossexuais. Pra mim isso tem um quê de perversidade”.

Os assédios na UFRN não são novidade. O Diretório Central do Estudantes chamou atenção mais uma vez para o tema ao relatar, na quinta-feira (21 de julho), o caso de uma estudante que depois de uma denúncia à Ouvidoria perdeu a bolsa do Madrigal, o coro mais antigo do Rio Grande do Norte, criado em 1966, e um projeto de extensão respeitado por toda a comunidade. O maestro, desde 2017, é Erickinson, com quem a Agência Saiba Mais tentou contato, mas não obteve resposta. De acordo com o DCE, pelo menos cinco coralistas são perseguidas por ele.

Durante entrevista, uma delas lembra que, historicamente, esse padrão de mestre costuma aparecer na música, sobretudo na regência. O modelo Terence Fletcher, do filme “Wiplash” (2014), não existe só na ficção. Chega a mencionar que o maestro não é o único doutor com comportamento reprovável na Escola de Música: regente de orquestra e professores de flauta e violino seguem a mesma cartilha. “Todo mundo comenta. Comentam tanto que já virou banal. É tosco”.

Segundo os relatos, muitos do Madrigal se incomodam, mas o grupo permanece em silêncio. Duas vozes dissonantes resolveram colocar luz no que acontece sob aquela batuta. A conduta mais corriqueira é a de constranger publicamente. Faz cobranças que excedem as de um professor que respeita o aprendizado dos alunos. Exige e expõe na frente dos demais o que considera erros, principalmente das alunas, até o adoecimento delas.

Erickinson Bezerra. Foto Cícero Oliveira – Agecom UFRN

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