segunda-feira, 25 de julho de 2022

 

O assédio sexual

A mesma aluna conta que a roupa que geralmente usava para ir à universidade era calça jeans, tênis e camiseta. Um dia foi de blusa de alça (nada que mostrasse o corpo, ressalta) e uma calça mais solta de viscose, um tecido mole.

No intervalo das aulas, na lanchonete, Erickinson chegou na mesa que ela estava com os colegas e disse: – Levanta aí rapidinho pra eu ver um negócio.

“Eu pensei que realmente ele tava querendo ver alguma coisa. Levantei e ele pediu pra girar. Quando eu rodei, percebi. Queria me enfiar num buraco no chão, fiquei calada. Comecei a evitar ele, falar o estritamente necessário. Toda vez que eu me afastava ele falava ‘você não quer mais saber de mim’, como se fosse pra criar um peso na minha consciência”.

Antes, achava que a relação mais direta que firmava com as coralistas era por amizade. Mas viu que não. E lembra outra situação. No Pronatec, foi escolhida para representar a turma e pegar o diploma em nome dos demais. “Ele me abraçou pra tirar a foto e ficou um clima esquisito ali, tanto pra gente quanto pra quem estava de fora, no auditório da Escola de Música. Foi uma coisa muito evidente”.

O Madrigal da UFRN | Foto: Divulgação

“O auge da humilhação da minha existência”

Apesar de tudo isso, o estopim foi quando ela pediu pra que o ensaio terminasse 15 minutos mais cedo por causa da primeira aula da noite. “Fui muito humilhada”.

“As aulas começam às 18h45 e ele sempre estendia o ensaio até as 19h. A gente perdia 15 minutos de aula. Eu estava pagando uma disciplina que exigia mais da minha atenção. Pedi que me liberasse nesses 15 minutos, até porque eu precisava me alimentar antes e queria passar uma água no rosto”.

“Ele disse que não faria isso, que eu era mole. Disse pra arranjar outro momento pra comer e pra ir pra aula. Mas ele sabia que não tinha outro momento, porque o ensaio começava às 16h. O intervalo é curto e quando a gente come e canta é muito ruim”.

De acordo com ela, nem para as provas ele queria liberar. “Fui falar com a orientadora da minha turma. Ela disse que conversaria com ele. No ensaio seguinte, aconteceu o auge da humilhação da minha existência. A gente ensaiou e quando terminou o ensaio ele pediu pra o coro não sair”.

Ele expôs a aluna que havia reclamado dele por “segurar” o ensaio e os colegas começaram a dizer que “a pessoa” que havia feito isso deveria sair do coral, que era frouxa, não tinha noção musical, não tinha noção de nada.

“Foram palavras que ouvi de pessoas que hoje estão sendo assediadas por ele. Criaram um cenário esquisito, mas muito humilhante pra mim. As pessoas falaram muitas coisas horríveis sobre a pessoa, no caso eu, e ele tinha falado meu nome. Desci chorando, me tremendo, uma coisa que eu não vou esquecer nunca. As coisas pioraram muito pro meu lado.”

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