segunda-feira, 25 de julho de 2022

 

O Vaticano e a depressão

Ia para o ensaio muito triste, constrangida e sentia o clima pesado no coro. Pediu para sair e lhe foi dito que esperasse porque o grupo se apresentaria no Vaticano junto com a Orquestra Filarmônica da UFRN, regida por André Muniz, a quem também é atribuída responsabilidade pela organização da viagem.

“Alimentaram sempre que eu ia. Eu fui a primeira a tirar o passaporte, gastei dinheiro com documentação e roupa de frio, porque diziam que estava certo”. A mãe da estudante, em contato com a reportagem, lembra que a filha chegou a tirar as medidas para a roupa do show.

Ela entra nessa história não só como mãe. É costureira. Chegou a fazer algumas roupas para Erickinson se apresentar e já tinha desenhado um modelo para a esperada apresentação no Vaticano. Mas foi cortada, junto com a filha.

A mulher denuncia que o Madrigal não deu a devida transparência aos recursos dessa viagem. Isso porque arrecadaram junto ao governo federal e ao Vaticano, com show no Teatro Riachuelo e patrocínio do Hospital do Coração, segundo a mulher. E que mesmo justificando limite de investimentos na viagem, levou pessoas que não pertenciam ao coral, algumas que não estava no Brasil, e ex-integrantes que não participaram da seleção, cuja personagem dessa história foi reprovada.

“Era importante para o currículo. E ele só liberou a relação de quem foi aprovado, sem nota e sem ordem de classificação. Tinha critérios a serem seguidos. Disse que quem se sentisse incomodado solicitasse a nota real”.

A estudante questionou o resultado do processo e recebeu um documento em que os nomes e notas das outras pessoas estavam ocultados. A dela era: 5,8889 – “uma coisa que não fazia nem sentido”.

“Eles nunca postaram as notas reais de todo mundo. Foi um vexame que a gente passou. Foi ali que eu abandonei o Madrigal e denunciei no MPF. Eu era tida como louca, barraqueira, que denunciou porque não conseguiu nada”.

A mãe acredita que quem estava cantando nos shows para arrecadação de recursos deveria ser incluído na viagem e cita outro caso: “Um dia falei com um rapaz que era uma das peças fundamentais do coro e chegou a ser convidado também. Ele não quer falar, mas foi injusto com ele também não ir. Um dia fiz um barraco no hall da Escola de Música, falei pra todo mundo ver e ouvir. Ainda me arrependo de não ter falar mais. O professor ficou calado. Ele sabia que o que eu tava falando era verdade”.

Apresentação no Vaticano:

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Egressa da universidade, a vítima acredita que continuou sendo prejudicada pela influência de Erickinson. Procurou universidade em estado vizinho para tentar mestrado e foi mal recepcionada pelo professor, que lhe recomendou voltar para o Madrigal.

“Tive uma depressão profunda. Quantas vezes eu quis trancar esse curso. A sala de ensaio me dava agonia. As últimas vezes que o vi, me dava como se fosse um choque, como se não soubesse andar, me dava uma crise de ódio. Comi o pão que o diabo amassou e sozinha. Só com o apoio da minha mãe, mas não me bastava. Eu queria justiça ao mesmo tempo que me sentia humilhada, suja. Hoje sei que a culpa nunca foi minha”.

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