sexta-feira, 29 de julho de 2022

DEPOIMENTOS

 Tempo incerto

“A nossa observação na roça é que a distribuição do tempo de chuva e do tempo da seca era bem distribuído. Agora não é que acontece, às vezes tem verão no mês de setembro ou não tem, chega setembro e a água está grande ainda e não tem assim o sol nem durante sete dias. Esquenta dois dias, depois chuva. Então não dá para queimar a roça nesse período que era para ser de seca e começa a ter pouca produção, a banana nasce bem um cacho pequeno.”

Carine Viriato da Silva, indígena do povo Baniwa, moradora da comunidade Yamado, rio Negro, TI Alto Rio Negro

Inverno no verão?

“Na antiguidade, os mais velhos acompanhavam nossos processos de tempo anual, tempos de secas, cheias e verão. Então eles sabiam em que tempo deviam começar a roçar, derrubar para poder pegar bem direitinho. Só que hoje em dia a gente vê que tudo isso mudou. Então a gente vê inverno quando não era para ser inverno, a gente vê verão só um pouquinho. E a gente vê as consequências do desmatamento. Acho que não nosso, né? Porque no nosso sítio a gente continua trabalhando de forma tradicional, o jeito que a gente vinha fazendo sempre, como nossos antepassados.”

Florinda Lima Orjuela, do povo Tuyuka, agricultora, técnica em turismo, mãe de família, moradora de São Gabriel da Cachoeira

Saberes perdidos

“Antigamente, os benzedores, no início do ano e ao final de cada ciclo, a cada três meses, ele sente que vai acontecer a doença, como vai ficar ano, se vai chover direto ou fazer verão. Aí o benzedor vai fazer o trabalho, consegue equilibrar todas as épocas das frutas, aquele tempo da fruta na natureza, seja açaí, buriti, seringa, ucuqui. Aí as frutas floresciam normalmente, em seu tempo. Com o sol muito quente hoje em dia, as frutas não carregam muito não. O especialista em benzimento sabe tudo, o benzedor sabe o que fazer. Mas hoje em dia muito desse conhecimento não tem mais, acabou.”

Cipriano Marques Lima, do povo Tuyuka, agricultor e benzedor, morador de São Gabriel da Cachoeira

 Histórias como essa precisam ser conhecidas e debatidas pela sociedade. A gente investiga para que elas não fiquem escondidas por trás de interesses escusos. Se você acredita que o jornalismo de qualidade é necessário para um mundo mais justo, nos ajude nessa missão. Seja nosso Aliado


Essa reportagem é resultado das Microbolsas Alimentação e Mudanças Climáticas realizada pela Agência Pública, Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e a Cátedra Josué de Castro. A 14ª edição do concurso selecionou jornalistas para investigar os diferentes aspectos desse tema no Brasil.

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