segunda-feira, 25 de julho de 2022

 

Caso 1

A discente da publicação do DCE conta que desenvolveu herpes-zoster, conhecida popularmente como cobreiro. Ficou afastada por alguns ensaios e o coordenador falou que ela havia mentido. “(…) me constrangeu, a herpes voltou, porque está muito ligada ao estresse, e quando eu pedi pra sair me disseram pra repensar. Dois dias depois cancelaram minha bolsa, que era meu único meio de renda e depois disso começaram a retaliar, a minar meu campo acadêmico, a falar com professores. A irmã dele, que é aluna e do grupo, começou a me atacar, me chamar de louca, dizer que eu estava criando situação. Eu decidi não me calar por mim, também por outras mulheres”, resumiu.

A graduanda narra uma sequência de assédios que parece ter começado com uma reclamação sobre o casaco que ela, que tem asma, usava virado para trás para se proteger melhor do frio da sala de ensaios. Dizia que isso interferia na passagem de ar pelo pescoço, porque o tecido ficava encostado. Depois a proibiu de sair da sala para beber água ou ir ao banheiro durante os longos ensaios, que vão das 16h até pelo menos 18h30, podendo se estender até as 19h, três vezes por semana.

Em outra situação, a deixou em um “buraco” musical, isolada do seu naipe (grupo de instrumentos ou vozes) no coral. “As pessoas do mesmo naipe precisam ficar juntas pra ouvir o colega e poder ‘timbrar’. Eu me senti extremamente constrangida. Isso atrapalha a execução. E depois disso em hora nenhuma eu consegui falar com ele, porque quando tentei ele me deu as costas. Tentei falar no WhatsApp, mas eu sou bloqueada”.

Foto: Kat Smith

Caso 2

Outra estudante denunciou Erickinson Bezerra de Lima ao Ministério Público Federal em 2018 por assediá-la moral e sexualmente. A despeito de provas que ela disse ter anexado, o processo foi arquivado há cerca de um mês. Com a companhia da mãe, já havia tentado a Reitoria (sem resposta), Delegacia da Mulher (onde foram mal atendidas) e a Polícia Federal (onde riram).

Essa estudante passou a fazer parte do Madrigal no mesmo ano que o professor substituto assumiu a coordenação do grupo, em 2017. Era o primeiro ano de faculdade, e a partir de então construíram uma amizade para além da sala de ensaio. Ele a incentivava na pesquisa e na regência, área de seu maior interesse. Escreveram artigos juntos.

“Chegou um determinado momento que eu tava escrevendo sozinha e ele só colocava o nome. O primeiro a gente fez juntos mesmo, o segundo foi sobre o Madrigal e a relevância que ele tinha pra universidade e a sociedade. Nesse ele só colocou o nome e nem leu”.

No terceiro, ela respondeu que estava cansada, com muitas atividades da graduação e que não fazia sentido ele só colocar o nome. Com isso, as palavras de motivação do professor começaram a mudar de tom. Ele lhe disse para continuar escrevendo, para “encher o Lattes”, e que se dedicasse mais aos estudos, sugerindo que parasse de andar com os amigos. “A gente tá no meio e não sabe que isso também é assédio”.

A jovem só percebeu que ali tinha começado o assédio, quando as coisas pioraram. A relação acadêmica continuou. Até que no início de 2018, ela foi aluna dele do Pronatec de Regência e viu mudança na postura. “Uma cobrança maior. Muita pressão. ‘Sopranos cantem direito, não estão afinando’”, ela lembra o tom irritadiço dele.

“Uma vez eu tava com febre e depois ele disse que eu deveria restaurar a minha dignidade e fazer algo que preste. Ser mulher e cantar bem e afinar”.

Segundo ela, fazia ameaças: “Batia em cima de uma tecla que me incomodava muito: ‘ou vocês rendem ou a gente corta a bolsa de vocês’. Eu comecei a perceber que isso era errado. Teve uma vez que eu tava regendo a música, perdi o tempo, e ele pegou com força no meu pulso, de forma violenta”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário