sexta-feira, 23 de setembro de 2022

UM ESTADO COM TAMANHO DE REGIÃO

 Um estado com tamanho de região

Com os recentes escândalos da saúde e a dificuldade dos ex-governadores de fazerem campanha sem a máquina administrativa que usavam para sufocar adversários, a agenda da segurança pública acabou ficando à margem. Tanto em propostas como em cobranças, o que surpreende em um estado que, na contramão do país, registrou crescimento de mortes violentas em plena pandemia. 


Entre 2021 e 2022, o Amazonas registrou crescimento de 53,8% no indicador, enquanto o país teve queda de 6%, o menor patamar em 11 anos, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022.  


De tempos em tempos, o estado vira destaque no noticiário por registros de barbárie. Exemplos recentes são os massacres em presídios de Manaus em 2017 e 2019 e o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, no dia 5 de junho deste ano, no Vale do Javari, em Atalaia do Norte, próximo a Tabatinga, região da tríplice fronteira com a Colômbia e o Peru. 


Avener Prado/Agência Pública

Assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips deixou marcas no estado, já castigado pela violência

Os dois países são os principais produtores de cocaína do mundo e Tabatinga, uma das principais entradas de cocaína e skank no país, o que a coloca, com a capital Manaus, como epicentro da crise de segurança no estado, que se alastra para comunidades rurais e indígenas. Para se ter uma ideia, o Amazonas é maior que a região Nordeste, com a diferença de que apenas sete municípios do interior têm ligação direta por estrada com Manaus. 


Durante as buscas por Dom e Bruno, como de praxe, Wilson evitou holofotes que o levassem a contrapor a postura de Bolsonaro, de quem foi fiel aliado no mandato. 


O contexto da criminalidade no Amazonas é completamente diferente do de outros estados pela forma de funcionamento das facções criminosas que atuam no tráfico de entorpecentes e pelo fator Amazônia, explica o sociólogo Fábio Candotti, coordenador do grupo de pesquisa Ilhargas — Cidades, Políticas e Violências, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e membro do Fórum de Segurança Pública. 


A região envolve uma extensa faixa de fronteira, floresta, populações indígenas, algumas em isolamento voluntário, e presença precária ou vazio de instituições, entre outras características. Diferentemente de outros estados, no Amazonas não há estabilidade de domínio de um grupo criminoso, apesar de, no momento, os dados apontarem para a consolidação do Comando Vermelho (CV), que cresceu com o enfraquecimento da facção local Família do Norte (FDN). 


Em 2020, com foguetórios vistos de cima em toda a Manaus, O CV anunciou que era a facção majoritária. Desde então, os episódios se incorporaram à rotina do manauara nas comemorações do grupo criminoso.  


Para o sociólogo, os crimes registrados no contexto de Tabatinga, na fronteira, e na capital Manaus demonstram a diversidade dos problemas de segurança no estado e a falta de aprofundamento dos dados que ajudem a compreender melhor o que ocorre nesta região do país.

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