segunda-feira, 19 de setembro de 2022

LIDERANÇAS TEMEM NOVOS ATAQUES

 Lideranças temem novos ataques

O clima na região é de tristeza pela morte de Gustavo e medo de novos ataques, relataram lideranças Pataxó à reportagem. “Estou sem dormir a noite toda esperando os bandidos chegarem para atacar a gente”, disse uma delas, que pediu para não ser identificada por temer represálias.


A liderança explica ainda que, com a demora na demarcação, seus territórios estão sendo degradados, o que cria entre os indígenas uma urgência ainda maior para as retomadas. “As matas estão sendo devoradas; a biodiversidade, que é rica aqui, está sendo destruída também. Estamos perdendo nosso alinhamento, nossa força, porque para nós essa terra é nossa carne, essas águas são nosso sangue e essa floresta é nosso espírito. Se acabar isso, acaba tudo para nós, Pataxós. Então estamos resistindo, lutando. E sendo perseguidos por isso”, destaca.


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Na última terça-feira (13), uma força-tarefa criada pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia se reuniu em Porto Seguro, a cerca de 200 km de Prado, para planejar ações com o objetivo de “ampliar as ações ostensivas nas aldeias” e “apoiar na identificação e prisão dos envolvidos” na morte de Gustavo, de acordo com nota do órgão. No mesmo dia, lideranças Pataxó estiveram em Brasília e entregaram uma denúncia à 6ª Câmara do Ministério Público Federal (MPF), que atua junto aos povos indígenas e comunidades tradicionais, solicitando sobretudo a presença da Polícia Federal (PF) nos territórios. Na quinta-feira (15), junto a indígenas de outros povos, os Pataxó participaram de uma marcha na capital federal contra a escalada da violência em seus territórios – além de Gustavo, desde o início do mês, três Guajajara foram mortos no Maranhão.


Nos dias seguintes ao assassinato, outro áudio de autor desconhecido rodou pelos grupos de WhatsApp da região com o seguinte conteúdo: “[Invadiram a fazenda] que é de Nem Gomes. Ele botou mais bala pra dentro, e vai matar mais gente, porque Nem Gomes não tem piedade, não, o que Nem Gomes tem é dinheiro, gado no pasto e pistoleiro. É o ramo dele mandar matar”.


Procurado pela reportagem, Nem Gomes deslegitimou o movimento de retomadas, argumentando que em sua propriedade há apenas “uns malandros se passando por indígenas”. Ele se referiu ao ataque que vitimou Gustavo como “uma disputa de território” entre os ocupantes da fazenda. “Tem outra [fazenda] invadida do outro lado [referindo-se à Santa Rita III]. Uns queriam ficar do lado de cá, outros do lado de lá, e dizem que brigaram”, narrou. Quando pedimos mais explicações, ele orientou que fizéssemos contato com seu advogado, que não respondeu às nossas mensagens até o fechamento desta reportagem.


Cimi

Lideranças Pataxó pediram justiça por Gustavo em manifestação em Brasília na quinta-feira (15)


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