sexta-feira, 23 de setembro de 2022

AMAZONAS VIVE DESCONTROLE NA SEGURANÇA PÚBLICA - MAS TEMA PASSA LONGE DA ELEIÇÃO.

 Amazonas vive descontrole na segurança pública — mas tema passa longe da eleição

Isac Nóbrega/PR

Ex-apresentador de programa policial, bolsonarista Wilson Lima tenta reeleição contra ex-gestores do sistema que herdou


23 de setembro de 2022

06:00

Rosiene Carvalho

 ESPECIAL: EMERGÊNCIA CLIMÁTICA

Durante a pandemia, mortes violentas cresceram 53,8% no estado 

Crise une crimes ambientais, violência urbana e suspeitas sobre autoridades 

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Gestada por décadas, a escalada de violência no Amazonas chegou ao seu ápice no governo do ex-apresentador de programa policial Wilson Lima, do União Brasil, de 46 anos, que neste ano concorre à reeleição enfrentando ex-gestores do sistema que herdou. 


Em seu programa, na eleição passada, Lima desafiava a bandidagem e exigia solução do Estado para a violência que fazia o sucesso da sua audiência. Na campanha, adotou o slogan “Agora, a bronca é comigo”. No Executivo, a barbárie em homicídios pôs em evidência o descontrole da segurança pública no estado de maior extensão territorial do país e da Amazônia brasileira.  


Com a gestão marcada por crises e uma campanha morna, Lima chegou à liderança nas intenções de voto no estado na reta final com quase o dobro de rejeição do segundo colocado, o ex-governador Amazonino Mendes (Cidadania), de 82 anos. O senador e ex-governador Eduardo Braga (MDB), de 62 anos, que também disputa o governo, aparece em terceiro lugar, conforme pesquisa Ipec divulgada no último dia 17. 


Wilson Lima apresentava o programa “Alô Amazonas”, da TV A Crítica, quando se candidatou pela primeira vez e recebeu a maior votação da história do Amazonas, em 2018, na mesma onda que levou o presidente Jair Bolsonaro, de quem é aliado, ao Planalto. Em quatro anos, teve quatro secretários presos — três da Saúde, em plena pandemia — e foi alvo da Operação Sangria, da Polícia Federal (PF), que o tornou réu no Superior Tribunal de Justiça por suspeita de desvio de recursos com a compra de respiradores em uma loja de vinhos. 


Alan Santos/PR

Wilson Lima é aliado político do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro

Enfrentou também uma CPI no estado e foi indiciado na CPI da Covid, no Senado, como um dos responsáveis pela falta de oxigênio que resultou em mortes de pacientes com covid por asfixia em hospitais do estado.


A chegada de Lima terminou com um revezamento no poder de quase 40 anos dos grupos políticos ligados a Amazonino, que governou o estado três vezes, e Braga, que teve dois mandatos como governador. O próprio Amazonino chegou na disputa como líder nas pesquisas, mas perdeu posicionamento durante a campanha. 


Cardíaco, diabético e dependente de hemodiálises semanais, o ex-governador tem problemas na saúde e no condicionamento físico que fragilizam sua imagem a cada aparição ou fala pública. Na convenção do seu partido, interrompeu o discurso e pediu uma cadeira para sentar. As falas em entrevistas e debates são atravessadas por pigarros e cansaço. A falta de apoio deixou Amazonino sem campanha no interior do Amazonas, onde se concentram cerca de 46% do eleitorado. Em Manaus, circulou de carro poucas vezes.


Alan Santos/PR

Ex-governador Amazonino Mendes (Cidadania), segundo colocado na disputa pelo estado

O crescimento da criminalidade no estado alimentou o sucesso de programas como o “Alô Amazonas”. A exploração da vulnerabilidade social como entretenimento em programas de TVs locais e como trampolim político para apresentadores, porém, não é inovação de Lima. 


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Antes dele, outros apresentadores de programas sensacionalistas tiveram votações expressivas para cargos proporcionais como vereador, deputado estadual e deputado federal, o que alçava os nomes deles a aliados dos governantes desde a década de 1980.


O grupo empresarial dos ex-patrões de Wilson Lima é dono também do canal que reproduz no Amazonas a RedeTV! e transmite em rede nacional o programa “Alerta Nacional”, de Sikêra Júnior. O apresentador foi levado ao Amazonas pela emissora e se tornou campeão de audiência, em um dos programas preferidos do presidente Jair Bolsonaro, que praticamente todas as vezes que pisa no estado vai ao estúdio da emissora. 


Para o pesquisador Wilson Nogueira , que chefiou por décadas redações de jornais impressos no Amazonas, os programas sensacionalistas são postos na grade com a intenção de criar candidaturas com viabilidade eleitoral. A população se identifica porque o roteiro apresentado dá a falsa sensação de que esses apresentadores estão preocupados com seus problemas e com a segurança pública. “As empresas de comunicação já colocam aqueles programas pensando nisso. Não é coisa aleatória, não. Se insinua popular e essa pessoa vai para política. Faz parte de um programa. Cada partido e candidato desses têm por trás deles grupos econômicos”, diz Nogueira. 

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