sexta-feira, 23 de setembro de 2022

EXTERMINIO COMO POLÍTICA DE SEGURANÇA

 Extermínio como política de segurança

Além das questões com seu secretário de Inteligência, a atual gestão do governo do Amazonas tem registro de três chacinas em operações policiais. 


A primeira e mais violenta, no final de 2019, deixou 17 mortos no bairro Crespo, em Manaus. Entre os mortos, foram executados três adolescentes, um de apenas 14 anos. Após o banho de sangue, o então secretário de Segurança Louismar Bonates afirmou que a polícia não mata, mas intervém tecnicamente e que “quem vai chorar serão as famílias de quem atira”. O governador Wilson Lima, por sua vez, disse que não iria sossegar enquanto a população não se sentisse segura.


Quase um ano depois, relatório assinado pelo promotor da 61ª Promotoria de Justiça Especializada no Controle Externo da Atividade Policial, João Gaspar, concluiu que as mortes tinham fortes indícios de chacina, com relato de disparos fatais a curta distância, pessoas mortas sem terem pego em arma de fogo, retirada de cadáveres da cena da chacina e montagem de narrativa para dar “licitude aos crimes”.


A segunda chacina ocorreu em agosto de 2021 no rio Abacaxis, próximo ao município de Nova Olinda do Norte, no sul do Amazonas. Foram cinco mortos e três desaparecidos, entre eles dois indígenas Munduruku moradores do Projeto de Assentamento Agroextrativista Abacaxis 2.


A operação policial no rio Abacaxis se iniciou com uma ordem pública de Lima, que exigiu “uma resposta dura” após a morte de dois policiais na região. A ordem foi dada em um evento público da SSP-AM. 


Por causa da truculência da ação, a Justiça Federal determinou que o governo federal oferecesse proteção a indígenas e ribeirinhos da região, ameaçados pelos policiais militares. Os cinco assassinatos também “ajudaram” a colocar o Brasil em posição de destaque no ranking dos países que mais matam defensores ambientais. As informações constam no relatório da organização internacional Global Witness divulgado em setembro de 2021. 


Com  20 assassinatos registrados, o Brasil aparece hoje como o quarto país no planeta e terceiro na América Latina entre os que mais matam pessoas que atuam em defesa do ambiente e de seus territórios.


A terceira chacina foi a de Tabatinga, em que familiares e testemunhas acusam PMs de tortura e execução de ao menos sete jovens na cidade, em represália ao assassinato de um sargento da PM. 


Depois da terceira chacina no governo Wilson Lima, a Associação Brasileira de Antropologia emitiu nota exigindo apuração célere e punição dos culpados, além de afirmar que o governo do Amazonas adotava o extermínio de pessoas pobres como política de segurança pública.  


“Quando me lembro, meu corpo se arrepia. Não acredito que haja na Terra uma pessoa capaz de torturar tanto um ser humano, um jovem, e um jovem que não tinha nada que ver. Nada, nada, nada”, declarou o empresário Antônio Rengifo Baldino, de 50 anos , pai do ex-soldado peruano Antonio Rengifo Vargas, 20, um dos sete jovens mortos em Tabatinga.


Nenhuma das investigações das execuções teve desfecho. “Nos sentimos sozinhos. Sem apoio”, diz Rengifo.


No último dia 31 de agosto, Lula esteve em Manaus, prometendo soluções para o Amazonas: acabar com o garimpo em conjunto com governadores e prefeitos e reforçar a segurança e o controle da fronteira. Para o pesquisador Fábio Candotti, a solução simplista assusta mais do que dá esperança.


“Mais homens armados com treinamento de guerra para um problema que é muito mais complicado e que não vai solucionar com a presença de um monte de homem armado”, disse.   


Dii Ferrazz

Comando Vermelho domina bairros periféricos e também atua dentro dos presídios do AM

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