sexta-feira, 23 de setembro de 2022

MONITORAMENTO CRIMINOSO


Então secretário executivo de Inteligência do Amazonas no governo de Wilson Lima, Samir Freire foi preso na Operação Garimpo Urbano, em julho de 2021, sob suspeita de roubar ouro de garimpos ilegais usando a estrutura de pessoal e tecnologia da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM). 


O delegado, que ocupava um dos cargos de maior confiança na SSP-AM e no governo do Amazonas, é suspeito de integrar uma organização criminosa que monitorava garimpos e transportadoras que atuavam na ilegalidade. O monitoramento não era para coibir o crime, e sim para cometer ilícitos, roubando o ouro, segundo informações do Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM). 


O ouro ilegal virou uma das opções de diversificação de lucro do crime organizado no Amazonas. O caso do secretário de Inteligência entrelaça crimes ambientais, facções criminosas, violência urbana e suspeitas sobre autoridades que deveriam coibir as ilegalidades. O governador se calou sobre o escândalo. Na ocasião, quando questionado a respeito da prisão de seu secretário, respondeu que as investigações devem ser feitas e quem tiver responsabilidade deve ser punido. 


No mesmo período em que o secretário caiu, uma comitiva de deputados estaduais e a cúpula do MP-AM se reuniram para tratar da suspeita de grampo ilegal de parlamentares pela estrutura coordenada por Samir Freire.  


O deputado Delegado Péricles (União Brasil) requisitou uma auditoria no Guardião, equipamento utilizado para interceptar conversas telefônicas de pessoas investigadas que ficava sob a responsabilidade da Secretaria de Inteligência. A suspeita do deputado era que, além de desvios para cometimento de roubo de ouro, a estrutura do estado estivesse sendo usada também para perseguição política. A investigação ainda não foi concluída, e o parlamentar, que se apresenta como independente e presidiu a CPI da Saúde que investigou o governo Wilson Lima, hoje é cotado como parte da base aliada do governador do Amazonas. 


A prisão de Samir Freire ocorreu na sequência de uma acusação grave que ilustra o descontrole da segurança pública no Amazonas: existiria uma milícia organizada na estrutura do Estado. A denúncia foi feita pelos próprios criminosos por meio de uma onda de ataques a Manaus, em junho de 2021, organizada pelo CV. 


Na ocasião, delegacias, bancos, comércios e patrimônios públicos foram alvo de tiros como recados às autoridades de segurança do estado. Foi a primeira vez que a cidade foi alvo de ações sistemáticas de uma facção criminosa. 


Candotti explica que, sem registros de mortes, esses “salves”, como são chamos os comunicados do CV, foram apresentados como resposta ao assassinato de um traficante “que estaria sendo extorquido por uma ‘milícia’ policial montada para roubar drogas e ouro de traficantes”.


Avener Prado/Agência Pública

Grupos criminosos disputam Amazonas

“Uma coisa que precisamos chamar a atenção é o aumento da tensão entre polícia e crime. É algo que a gente não via no começo da década passada. A gente não chegou a ter ataques à cidade no passado. Aquilo é indício de que tem um conflito muito sério. Atacaram sem morte nenhuma e como resposta veio a Força Nacional de Segurança. E, na sequência, foi um dos meses que mais morreu gente, com a Força Nacional de Segurança aqui”, diz o pesquisador.


Para Candotti, o aumento dos homicídios num momento em que uma facção domina o estado também pode ser resultado do tensionamento da relação entre polícia e crime não só por ações de combate, como demonstra a operação que prendeu o secretário de Inteligência. 


“O registro de crescimento [de mortes violentas] é o maior salto da década. As mortes não são explicáveis pelas dinâmicas narcotráfico e facções. O que efetivamente é essa violência e por que essas pessoas estão morrendo? Essa pergunta fica mais forte com esses números que aumentam mesmo quando há uma facção muito majoritária [CV]. Os conflitos entre facções não parecem justificar um aumento desse tamanho”, declara.

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