segunda-feira, 19 de setembro de 2022

 


 

15 dias para derrotar o candidato do colapso 

A depender dos eventos da última semana, o clima de violência política e eleitoral tende a se acirrar, como debatemos ontem no Spaces da Agência Pública no Twitter, o que inclui ataques mais constantes à imprensa, sobretudo às jornalistas mulheres.

Como os autoritários de plantão sabem que sem jornalismo não há democracia, eles tentam calar a informação de interesse público, seja com fake news, seja com sigilo de 100 anos, seja questionando o sistema eleitoral — a lista é grande, sabemos.

Nesta semana, novamente, a jornalista Vera Magalhães foi hostilizada por um bolsonarista.O ataque partiu do deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos) que se escorou no discurso do presidente da república para assediar a jornalista durante o fim do debate eleitoral dos candidatos a governador de São Paulo na sede da TV Cultura, na capital paulista. Filmando com o celular, Garcia repetiu novamente a fala de Bolsonaro de que Vera é “uma vergonha para o jornalismo brasileiro”. 

Outras jornalistas mulheres já foram atacadas pelo clã Bolsonarista, o que inclui filhos, advogados, apoiadores — caso de Miriam Leitão, Patrícia Campos Mello, Juliana Dal Piva, para citar alguns casos. 

Também durante a cobertura do 7 de setembro em Copacabana, onde um guindaste exibiu a foto de Vera Magalhães, em mais uma agressão ao trabalho da imprensa e da jornalista, a equipe da Pública, também de mulheres, foi hostilizada por apoiadores do presidente. "Foi uma situação muito tensa porque a gente estava presa em um local onde não tinha escape. Ou seja, se a multidão tivesse se inflamado contra a gente, estávamos lascadas", me contou a repórter e editora Mariama Correia. 

Felizmente, nada de mais grave ocorreu.

Se não está claro para muita gente o que está acontecendo, é preciso ficar. 
Jair Bolsonaro é o incentivador do caos e da violência. É o candidato do colapso. Ele usa o medo como arma e o ódio como discurso, manipulando assim os receios do povo e promovendo desinformação.

Neste cenário, o discurso do presidente é justamente o botão que dá o start aos seus soldados fascistas para que cometam violências diversas. Por exemplo: o presidente vem deslegitimando pesquisas eleitorais desde que os primeiros levantamentos começaram a apontar uma vitória de Lula. No 7 de setembro, citado explicitamente por Bolsonaro — "aqui não tem a mentirosa Datafolha, aqui é o nosso data povo" —, a situação gerou hostilidade aos profissionais do instituto de pesquisa nas ruas. 

Apenas na última terça-feira (13), houve dez intercorrências com pesquisadores em diferentes regiões do país. Em Goiânia, um entrevistador chegou a ser empurrado por um homem que se identificou como bolsonarista e que disse não querer o profissional nas redondezas. Esse mesmo Datafolha mostra que a maioria dos eleitores diz ter medo de sofrer agressões por motivos políticos — 67,5% dos entrevistados.

Há muito o que se refletir sobre o Brasil e os riscos que estamos correndo, por isso resgato aqui uma entrevista da ex-presidenta Dilma Rousseff, que voltou a viralizar nas redes. Perguntada se havia chorado no impeachment, ela diz: "Eu não sou uma pessoa que chora, não significa que eu não me emociono. Eu não choro porque uma parte da minha vida eu não podia chorar. Não é necessário chorar pra sofrer", disse. 

Dilma se referia ao período em que foi presa e torturada na ditadura. Na mesma entrevista, ela comentou sobre o voto de Bolsonaro durante seu impeachment, em 2016: "o voto do deputado Bolsonaro é cruel com o Brasil. Por incrível que pareça, é a maior pergunta em todas as minhas entrevistas internacionais. Porque não entendem como é possível na casa que é a casa da democracia alguém votar pela ditadura. Pela tortura. E pelo que um torturador é capaz de produzir em alguém". 

A história nem sempre se repete, mas pode ser boa conselheira. 
Lembre-se: estamos a 15 dias das eleições.



Thiago Domenici
Diretor e editor da Agência Pública

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