Flávio atesta a culpa de Jair com censura sobre uso de dinheiro vivo
Ao pedir (e conseguir) a censura de reportagens do UOL que revelaram a compra pelo clã Bolsonaro de 51 imóveis usando dinheiro vivo, o senador Flávio Bolsonaro emite um atestado de culpa para o pai a nove dias do primeiro turno. Na decisão, a Justiça chamou de "fato" a aquisição de patrimônio pela família usando grana em espécie.
O desembargador Demetrius Cavalcanti, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, determinou a retirada das reportagens "Metade do Patrimônio do Clã Bolsonaro foi comprada em dinheiro vivo" e "Clã Bolsonaro: as evidências de dinheiro vivo em cada um dos 51 imóveis", de Juliana Dal Piva e Thiago Herdy, porque, em sua avaliação, elas utilizaram informações sigilosas que estavam em inquérito anulado pela Justiça.
A defesa de Flávio Bolsonaro diz que as suspeitas de que a origem dos valores que compraram os imóveis viria dos desvios de salários de servidores públicos dos gabinetes da família (as famosas "rachadinhas") estavam nessas investigações.
Traduzindo: a censura não ocorre porque a Justiça diz que a compra de imóveis com dinheiro vivo não aconteceu, pelo contrário, o magistrado chega a chamar isso de "fato". Mas porque a origem do dinheiro da família, revelada por toneladas de reportagens e investigações nos últimos anos, não foi "submetida ao crivo do Judiciário".
"Tais matérias foram veiculadas quando já se tinha conhecimento da anulação da investigação, em 30/08/2022 e 09/09/2022, o que reflete tenham os requeridos excedido o direito de livre informar. A uma, porque obtiveram algumas informações sigilosas contidas em investigação criminal anulada e, a duas, porque vincularam fatos (compra de imóveis com dinheiro em espécie), cuja divulgação lhes é legítima, a suposições (o dinheiro teria proveniência ilícita) não submetidas ao crivo do Poder Judiciário, ao menos, até o momento", afirma em sua decisão.
É direito dos cidadãos ter acesso à informação sobre seus governantes tanto quanto é dever do jornalista de informar e da Justiça brasileira garantir que a informação chegue a todos para que tomem decisões sobre o seu destino e o de sua comunidade. Quem quiser votar em Jair mesmo sabendo como ele construiu o patrimônio da família, ótimo. Mas outras pessoas têm o direito a poder contar com essa escolha.
A reportagem fez com que a campanha de Jair Bolsonaro entrasse em parafuso nas últimas semanas ao expor as entranhas de uma operação familiar que tem rabo, focinho e pata de lavagem de dinheiro obtido de forma ilegal.
A informação sobre os inquéritos das rachadinhas usada na reportagem já era de conhecimento de todos. Se a Justiça tem algo com isso que reclame com o Ministério Público, não com a imprensa. A informação é de interesse público e, portanto, deve ser divulgada. Ou seja, se os jornalistas omitissem a informação aí é que estariam agindo de forma irregular.
A decisão não fará com que o escândalo volte para dentro do armário, uma vez que os eleitores tiveram acesso a um farto material que comprova que transparência e DOC, TED e PIX não são os fortes da família. Mas será instrumentalizada pela campanha do presidente para produzir peças para seu horário de rádio e TV e, principalmente para os aplicativos de mensagens e redes sociais, tentando vender a ideia de que a Justiça disse que não houve compra de imóveis com dinheiro vivo - o que não é verdade.
Os "fatos" citados pelo desembargador nunca foram desmentidos pela família. Pelo contrário, Jair teve que inventar uma história daquelas bem infantis de que não foi dinheiro vivo, mas moeda corrente. Precisava de uma resposta qualquer para saciar seu público e evitar defecções. Agora, aposta novamente que o povo é trouxa para cair em uma nova desculpa.
Que a censura seja levantada em breve, pois já basta um presidente ameaçando a democracia.
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