quinta-feira, 14 de julho de 2022

"NUNCA AVISAM E AINDA FALAM QUE NÃO É VENENO; MAS A GENTE NÃO SABE". DIZ MORADORA

 “Nunca avisam e ainda falam que não é veneno, mas a gente não sabe”, diz moradora

Pelas regras do Ministério da Agricultura, não é permitido um avião aplicar agrotóxicos em áreas situadas a uma distância de menos de 500 metros de povoações, cidades, vilas e mananciais de captação de água.


A empresa é vizinha ao assentamento e algumas residências ficam muito próximas da fazenda. “Você vê o eucalipto quase dentro de casa”, resume uma moradora. Os assentados relatam que todos os anos os aviões passam pulverizando a fazenda e causam impactos na saúde, nas plantações e nos animais. 


“Quando a gente procura, eles [a empresa] alegam que não é veneno, que é adubo”, diz a líder comunitária. A mesma normativa do Ministério da Agricultura aponta que, no caso da aplicação aérea de fertilizantes, é obrigatório o comunicado prévio aos moradores de áreas situadas à distância inferior a 500 metros de moradias. 


Todos os trabalhadores entrevistados pela reportagem afirmaram que não foram informados sobre as pulverizações. “Eles nunca avisam e ainda falam que não é veneno, mas a gente não sabe. Eu tinha uma horta e morreu tudo: o pimentão caiu do pé, os pés de mamão apodreceram e ficaram pintados de preto, as folhas das laranjeiras caíram, o pé de goiaba morreu”, disse uma das moradoras. 


O Grupo Alterosa atua em siderurgia, fundição e cogeração de energia elétrica por meio da Siderúrgica Alterosa S/A e em silvicultura, carvoejamento, agricultura e pecuária por meio da Sorel – Sociedade Reflorestadora S/A e da Florestas Ipiranga S/A. Essa última é a empresa na qual a Fazenda Rio Velho está cadastrada junto à Receita Federal.


A reportagem entrou em contato com a empresa e fez questionamentos sobre a denúncia da pulverização aérea de agrotóxicos na plantação de eucalipto no dia 23 de junho, sobre se estavam cientes dos sintomas apresentados por moradores e se havia encaminhamentos a respeito. Por meio da assessoria de imprensa, o Grupo não respondeu diretamente aos questionamentos. “Quaisquer denúncias ou reclamações recebidas pelo Grupo Alterosa são rigorosamente analisadas, com a adoção das cautelas e providências cabíveis. Além disso, a Alterosa está sempre à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos. Contudo, informações atinentes a apurações só são publicamente divulgadas após exame criterioso dos fatos”, informou a assessoria.


De acordo com o site do Grupo Alterosa, um dos principais objetivos para os próximos anos inclui o investimento na área de plantio e exploração de florestas de eucalipto. O Grupo possui cerca de 45 mil hectares de terras, com áreas de plantação de eucalipto distribuídas em 14 municípios mineiros. A plantação de eucaliptos teria reduzido “substancialmente a necessidade de área plantada para atingir a autossuficiência da Siderúrgica Alterosa em carvão vegetal, além de possibilitar a venda do carvão excedente para outras empresas”, informa o site.


A fazendo Rio Velho aparece em vídeo veiculado no site e na página do Facebook da prefeitura de Pompéu, em setembro de 2021. “Estou aqui visitando o Grupo Alterosa que está investindo em nova tecnologia na produção de carvão trazendo mais renda e emprego para toda a população”, diz o prefeito Ozéas da Silva Campos (Republicanos). O vídeo mostra os eucaliptos ao fundo e fornos de fundição da siderúrgica. Funcionários da empresa explicam que a construção na Fazenda Rio Velho terá ao menos 14 fornos com capacidade produtiva de cerca de 350 m³ por mês.


Reprodução Facebook

Publicação na página da prefeitura de Pompéu

Há outras publicações em páginas oficiais da Prefeitura que apontam proximidade com a empresa. Em janeiro, o Grupo Alterosa disponibilizou funcionários para trabalhar no município após as fortes chuvas na região. Em abril, a Prefeitura divulgou que a empresa foi parceira em uma operação para tapar buracos em rodovia. Em maio, a logomarca do Grupo Alterosa aparece como um dos patrocinadores da Semana do Meio Ambiente, promovida pelo poder municipal.


A prefeitura foi questionada sobre a relação com a empresa e sobre o que seria feito a partir da denúncia dos moradores do assentamento, mas não respondeu até a publicação da reportagem.


Reprodução Prefeitura de Pompéu

Vídeo da prefeitura de Pompéu mostra propriedade do Grupo Alterosa na Fazenda Rio Velho

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