quinta-feira, 14 de julho de 2022

TRABALHADORES/AS RURAIS DENUNCIAM INTOXICAÇÃO POR AGROTÓXICO E ATAQUE A TIROS EM MG

 Um avião passou por cima da minha casa soltando uma água branca e no outro dia eu estava passando muito mal”, conta uma moradora do assentamento Queima Fogo, em Pompéu, município a 168 km de Belo Horizonte, em Minas Gerais. “A boca arrebentou toda por dentro, queimava como fogo. Eu tossia até agachar o corpo, até quase deitar no chão de tanto tossir. Dava falta de ar, de fôlego, e vômito”, descreve. A trabalhadora rural, que preferiu não se identificar, vive perto de uma plantação de eucaliptos da fazenda Rio Velho, propriedade do Grupo Alterosa, que atua na área de siderurgia, silvicultura e agricultura.


Segundo moradores, a empresa teria pulverizado agrotóxicos no dia 23 de junho e a deriva  — quando o produto desvia do local onde deveria ser aplicado por causa do vento —, teria deixado ao menos sete pessoas com sintomas de intoxicação. 


Poucos dias depois, os moradores denunciaram o caso ao Fórum Mineiro de Combate aos Agrotóxicos e ao Ministério Público do Trabalho (MPT). No dia 5 de julho, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) instaurou um inquérito para investigar a denúncia. Dez dias após a pulverização, a casa da presidente da associação comunitária foi alvo de cinco tiros durante a madrugada.


“Ouvi o barulho do avião e quando cheguei em casa tive febre”, diz moradora

“Ouvi o barulho do avião passando e quando cheguei em casa tive febre, mal-estar e ânsia de vômito”, relatou uma segunda moradora ouvida pela reportagem. Outro morador conta que ele e a esposa sentiram dores nas costas e na cabeça, além de enjôo. 


Em 30 de junho, uma semana após a pulverização, a procuradora do trabalho Adriana Augusta de Moura Souza enviou um despacho urgente. Nele, a procuradora requisitou a investigação de intoxicação por agrotóxicos por parte da Vigilância Sanitária Municipal, o encaminhamento das pessoas intoxicadas para realização de exames, além de um levantamento pela Secretaria Municipal de Saúde sobre a pulverização nas fazendas do Grupo Alterosa, com a identificação do produto usado e o nome da empresa aérea que prestou o serviço. No entanto, de acordo com a procuradora, não houve resposta de nenhum órgão até o momento. “O MPT instaurou uma Notícia de Fato para apurar a denúncia relativamente aos trabalhadores da própria fazenda do Grupo Alterosa na Procuradoria do Trabalho no município de Divinópolis, que tem atribuição territorial em Pompéu”, acrescentou Souza.


Na madrugada do dia 3 de junho, a casa da presidente da associação comunitária Tatiane de Menezes foi alvo de disparos com arma. Ela conta que foram cerca de cinco tiros por volta das 3 horas da manhã. “Não sei se foi coincidência ou não, mas sei que na noite de sábado para domingo foram efetuados vários disparos na porta da minha casa, inclusive uma bala ficando cravada na parede da chegada da minha casa”, relatou.


Arquivo pessoal

Marca de disparo na casa de presidente da associação que denunciou a pulverização

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) abriu um inquérito para apurar a pulverização aérea de agrotóxicos e também a origem dos disparos. “Sabemos que existiu um fato que gerou danos à saúde, também à propriedade com alguns animais e plantas que foram envenenadas, mas ainda não sabemos se foi efetivamente o que estamos suspeitando que seja: uma propagação irregular de agrotóxicos e de outras substâncias para controle de pragas e ervas daninhas”, informou o promotor que atua em Pompéu, Guilherme Hack.


O MPMG também acionou a Polícia Civil, que abriu inquérito para investigar os disparos. “Aconteceu em um mesmo contexto, foi próximo ao dia da notícia da contaminação e envolveu uma das partes que está diretamente envolvida. Portanto, existe suspeita que tenha envolvimento com a questão da contaminação”, disse o promotor.


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“Nunca avisam e ainda falam que não é veneno, mas a gente não sabe”, diz moradora

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