A Cooperativa Agropecuária de São Tomé (RN); abençoada por Frei Damião


Venerado pelos nordestinos, Frei Damião abençoou, em 1939, a fundação da Cooperativa Agropecuária de São Tomé, na região Potengi do estado. A Cooperativa, que viveu dias de prosperidade beneficiando uma safra recorde de 6 mil toneladas de algodão em 1982, hoje está afundada em dívidas que, segundo seus antigos gestores, são incalculáveis. No período áureo da produção algodoeira, a Usina Potengy figurou na 18ª posição na lista dos maiores contribuintes de ICMS no Rio Grande do Norte. A unidade foi responsável pelo beneficiamento de algodão produzido em 42 municípios e que, após o desencaroçamento, era distribuído para todo o país.
Declínio deixou rastro de dívidas
“Aqui existiam filas de caminhões 24 horas por dia. Nós estávamos entre as três maiores cooperativas do Nordeste. Ninguém via o chão do pátio, com tantos fardos de algodão empilhados”, relembra Rainel Pereira, que foi diretor e gerente administrativo da Cooperativa por 20 anos. Os frutos colhidos pelos cooperados eram tantos que, em 1981, quase todo o parque de beneficiamento do algodão foi modernizado com recursos próprios da Cooperativa.

Até a cidade de São Tomé, distante 101 quilômetros de Natal, se desenvolveu a partir da expansão da produção algodoeira na região. Foi durante o funcionamento da Usina Potengy que o Banco do Brasil e o extinto Bandern instalaram agências no município. Com a paralisação das atividades na usina, as agências bancárias fecharam as portas e jamais reabriram unidades na cidade.
“Foi o fim do poder econômico da região. Acabaram-se os empregos, os bancos foram embora”, rememora Joacy Mafra, que atuava como assessor da diretoria da Cooperativa. As perdas, porém, não se restringiram à saída dos bancos da cidade. Os cooperados, a maior parte deles pequenos produtores, contraíram empréstimos que jamais foram quitados.
Com maquinário e prédios empenhados junto ao Banco do Nordeste, maior financiador da Potengy, os ex-gestores afirmam que não há possibilidade de reativação. “Não temos como competir com Mato Grosso, o maior produtor do país. Nos faltaram subsídios, ajuda governamental”, diz Rainel Pereira.
Uma fibra da qual nada se perde. Quando beneficiada se transforma em linha, roupa, lençol. E, do caroço, se extrai alimento para o gado e óleo para a confecção de sabão em pedra e até de combustível. Assim é o algodão.

O “ouro branco” que, entre as décadas de 60 e 80 teve picos de produção no Rio Grande do Norte e alavancou a economia do estado no cenário nacional, chegou a responder por 40% da arrecadação de ICMS no RN nos anos 70. Enricou produtores, proporcionou a ascensão de pequenas comunidades a municípios prósperos, movimentou rodovias com o vai e vem de caminhões, implementou 600 quilômetros de trilhos de Natal a Macau e de Macau a Nova Cruz. Empregou milhares de potiguares.
Hoje, porém, o cenário das vastas plantações que chegaram a ocupar 500 mil hectares em todo o estado, em nada lembra os algodoeiros que mais pareciam nuvens em pleno solo, dada a vastidão nas plantações.

Durante dois dias, a TRIBUNA DO NORTE visitou pólos produtores e beneficiadores da fibra no Rio Grande do Norte. Foram quase 700 quilômetros percorridos entre Afonso Bezerra, Pedro Avelino, Angicos, São Tomé e João Câmara. Em comum, os municípios visitados guardam a lembrança de um passado glorioso, hoje empoeirado e quase esquecido diante dos prejuízos herdados pela devastação das plantações causada pela “praga do bicudo”.

Com a perda dos campos produtores para o besouro, os produtores se viram diante de uma situação irreversível. Sem subsídios governamentais e duelando com a concorrência externa, cuja produção em larga escala dispõe de ajuda dos governantes e juros baixos, coube aos plantadores e empresários instalados em solo potiguar fecharem suas usinas. Hoje, o maquinário enferrujado e esquecido nos galpões construídos na segunda metade do século passado enterra aquela que um dia foi a principal base da economia norte-riograndense.







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