O Brasil enfrentará, nos próximos 26 dias, um dos períodos mais decisivos da sua história. A extrema direita está fortalecida no Congresso Nacional e Jair Bolsonaro, embora com desvantagem de mais de 5 milhões de votos, não está derrotado. Outra Saúde, veículo parceiro da Frente pela Vida, reforça sua posição: a única maneira de evitar um desastre é eleger Luiz Inácio Lula da Silva presidente. Bolsonaro, que hoje afirma ser responsável pela chegada das vacinas no Brasil, trabalhou ativamente para atrasar sua compra. Foi contra o isolamento social, o uso de máscaras e o auxílio emergencial – embora hoje use o utilize como arma eleitoral. Acelerou o desmonte do SUS, com cortes no orçamento. Só no último mês, tirou dinheiro da Farmácia Popular, da Saúde Indígena, do DataSUS e do controle de câncer. Está inviabilizando a ciência brasileira. O Brasil conta os dias para viver tempos menos brutais. Lula precisa ser eleito, em 30 de outubro. Mas, a partir de 2023, ele terá um desafio monumental pela frente: além da persistência do bolsonarismo na política, terá de enfrentar todo o desmonte imposto ao Brasil por políticas conduzidas em parceria entre o neoliberalismo e o neofascismo. Mas há de se refletir, desde já, de quais mudanças o SUS precisa. O primeiro obstáculo é o financeiro, aponta Rosana Onocko-Campos, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, em entrevista ao Outra Saúde. Ela aponta o aumento do investimento no setor como necessidade incontornável diante do legado de morte e destruição deixado por Bolsonaro. “É preciso elevar o investimento em saúde para 6% do PIB ao longo dos próximos quatro, cinco anos. Isto é importante, é necessário”, frisa ela. “Conseguimos colocar a expansão do financiamento do SUS na agenda política num momento em que há consenso de muitos setores de que se deve revogar o teto de gastos e acabar com algumas desonerações fiscais”. Expandir o SUS, questão reconhecida até por candidatos e analistas liberais, é a resposta urgente que o Estado deve dar. Uma sociedade civil disposta a lutar por seus direitos será aliada fundamental, até para afastar os ventos golpistas e privatistas. Mas habilidade política para encontrar as brechas possíveis à urgentíssima reorganização do país será necessária em doses superiores às aplicadas nas duas primeiras gestões de Lula. E entender o campo da saúde como estrada para pavimentar o rumo de um país mais digno e respirável será essencial. Por fim, Lula também terá a tarefa de entender a saúde como parte de um projeto verdadeiramente desenvolvimentista, gerador de emprego e renda, pedra de toque de qualquer discurso de qualquer grupo político. “Vamos trabalhar muito nessa linha do complexo industrial, da inovação atrelada à questão da soberania nacional e da autonomia ao Brasil, que tem um bom parque industrial e conseguiria expandir e retomar produção de uma série de insumos estratégicos, além de outros que podem vir a ser desenvolvidos. Mas isso também precisa ser pensado de uma forma alinhada à questão da soberania”, afirma Rosana. É necessário também pensar no futuro, em firmar bases para que as conquistas alcançadas não sejam destruídas, como ocorreu nos últimos seis anos: “Precisamos ter uma equipe técnica concursada e estável. Se tem algum aprendizado é que devemos proteger e blindar esse o ministério da Saúde em futuros governos, pois Bolsonaro conseguiu paralisá-lo e desconstruí-lo sem editar uma única lei. A situação da Anvisa evidenciou isso com muita clareza. Por conta da estabilidade e proteção a seus funcionários, a agência pode tomar decisões mais independentes da vontade do governo”. Lula e sua futura equipe, que começa por um vice-presidente médico, precisam interpretar esse campo como altamente estratégico, tanto para salvar vidas, após um governo que fez da morte um experimento político de alta intensidade, como para satisfazer necessidades materiais básicas da população. E o papel do SUS na pandemia oferece uma efetiva cartada nesse sentido. Leia a entrevista completa com Rosana Onocko em nosso site. |
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