domingo, 9 de outubro de 2022

 

Nascido politicamente na ditadura, José Agripino atinge a velhice abraçado com o time de Lagartixa e Lagartão

Agripino entrou para a política pela via autoritária e vai encerrando trajetória tolerando intolerantes 

Por Daniel Menezes

Derrotado em 2018 e após um período sabático, o ex-senador José Agripino reapareceu liderando o partido União Brasil. Em entrevista há alguns meses, disse que Jair Bolsonaro estava transformando o país num pária internacional e fez um conjunto de críticas pelas mortes causadas por Bolsonaro durante a pandemia. Foi uma grata surpresa e este blogueiro fez elogios públicos em suas redes sociais e aqui no blog. A análise se revelou precipitada.

Poxa, José Agripino é da velha guarda, sabe o que é a fina arte de Maquiavel e o mal que o militar expulso das forças armadas por indisciplina está fazendo ao Brasil. Ele mesmo disse com suas próprias palavras. E entende perfeitamente bem porque FHC, Pedro Malan, os economistas do plano real, Simone Tebet e tantos outros declararam voto em Lula contra Jair Bolsonaro, hoje aglomerado com fundamentalistas, militares, defensores da tortura, loucos de youtube e o pior da classe política nacional. O Maia em pauta é uma pessoa muito rica e já passou por todos os cargos possíveis na sua carreira política. Na minha ingenuidade, imaginei que ele iria se levantar contra o orçamento secreto, esta corrupção institucionalizada e generalizada criada nas contas governamentais. Achei que já chegando aos 80 anos iria defender a democracia junto com a frente ampla formada. Mas não: deu marcha à ré e declarou apoio a Bolsonaro, o mesmo que ele desancou do ponto de vista político e até humanitário.

Agripino surgiu para a política na ditadura a partir de sua nomeação para prefeito biônico pelo seu primo, Lavoisier Maia, que era governador indicado na década de 1970. Apelidado de galego do Alecrim, venceu Aluízio Alves em 1982 para o governo numa eleição precedida por uma reforma eleitoral em cima da hora, para que ele e outros candidatos da ditadura não perdessem a disputa. Depois de 50 anos, era chegada a hora dele encerrar a sua biografia com altivez e demonstração de que sua adesão à democracia foi sincera. Maia, no entanto, preferiu tentar levar com Bolsonaro para amanhã indicar meia dúzia de cargos e ter alguma ascendência política, algo que não fará qualquer diferença na sua história, na sua carreira política ou em sua situação financeira.

O José Agripino da entrevista sobre quem é Jair Bolsonaro durou apenas alguns meses. Voltou aquele velho conhecido de sempre. Não deveria espantar. Agripino nasceu politicamente no regime ditatorial e atinge a velhice com um governo que, se eleito, promete abertamente – pela própria boca de Jair Bolsonaro – dominar o judiciário, alterando a composição do Supremo Tribunal Federal, de 11 para 16 e antecipando a aposentadoria de parte dos magistrados, para obter uma maioria artificial sobre a mais alta corte do país. A ação é exatamente a mesma feita pela ditadura militar através de AI-2.

A política sempre tem um ensinamento a nos passar. E o dado no caso é que, de onde menos se espera, é de lá que nada irá sair mesmo. Agripino, que já foi uma das pessoas mais poderosas do RN, vai terminar a vida política abraçado com o time de lagartixa e lagartão.

*É professor da UFRN e editor do Blog O Potiguar.

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