segunda-feira, 3 de outubro de 2022

DEUS E O DIABO NA TERRA DO VOTO

 


REPORTAGEM

Deus e o diabo na terra do voto

Amanda Miranda/Agência Pública

Dados analisados em 127 discursos revelam como os presidenciáveis usaram a religião na campanha


1 de outubro de 2022

09:00

Bruno Fonseca, Mariama Correia

Eleições 2022

religião

“Por que eu cheguei à presidência? E essa é uma missão de Deus, que está salvando o nosso Brasil”, disse Bolsonaro, na embaixada brasileira em Londres, em 18 de setembro. “É o Deus da verdade, é o Deus do amor, não é o Deus do ódio, é o Deus do carinho, é o Deus da fraternidade. Eu acho que o meu Deus não é o Deus do Bolsonaro”, discursou Lula, em ato no Maranhão, no início do mês.


As duas falas não poderiam expressar melhor como os dois principais candidatos a presidente tratam de Deus nos seus discursos. Com o voto evangélico em disputa, termos relacionados à fé cristã e que se conectam com um arcabouço moral conservador ganharam destaque nas falas dos presidenciáveis. “O discurso religioso e o nome de Deus foi ativado muito mais nestas eleições do que em pleitos passados”, considera Paolo Demuru, doutor em Semiótica pela Universidade de Bologna e Pesquisador de Centro de Pesquisas Sociossemióticas da PUC-SP, que estuda comunicação e discursos políticos. Mas as mesmas expressões podem conter significados variados, a depender de como são empregadas, lembra o estudioso da comunicação.


Enquanto Bolsonaro afirma que a presidência é uma missão de Deus, reforça sua fé cristã e repete o lema “Deus, Pátria, Família” em quase todas as suas falas, Lula geralmente recorre a termos religiosos quando questiona o comportamento do rival à luz da moral cristã, rebate mentiras relacionadas a ele — como a de que fecharia templos — e acena a fiéis de outras religiões que não às católica e evangélica. 


Para chegar a essas conclusões, a Agência Pública em parceria com a empresa de análises de dados Novelo analisou 127 discursos dos quatro candidatos melhor colocados na corrida presidencial deste ano. Avaliamos como termos como Deus, temas religiosos e comportamentos morais ligados à religião aparecem na fala dos políticos.


A análise considerou discursos feitos do começo da campanha oficial, em 16 de agosto, até 22 de setembro. Além de Lula e Bolsonaro, a reportagem analisou discursos de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB). Com Ciro, o discurso sobre Deus não apareceu com destaque nas falas analisadas. Já Tebet aplica valores religiosos associados a grupos tradicionais, como a família e a figura da mulher como mãe.

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